Catherine Kerbrat-Orecchioni afirma: "A língua diz o que eu quero dizer, mas antes a língua diz o que ela quer dizer."
CHANCE, RISCO E POSSIBILIDADE
São três termos do mesmo campo semântico: o campo significativo das ocorrências. No entanto, cada um deles tem sua especificidade. Chance tem orientação positiva. Exemplo: Ele teve muitas chances de crescer na vida. Risco, por seu lado, tem orientação negativa. Exemplo: Correu o risco de perder a perna. E, finalmente, possibilidade tem orientação neutra. Exemplos: Havia a possibilidade de ganhar na loteria, Tinha a possibilidade de ser eliminado na primeira prova.
Nesses tempos de coronavírus, é comum ouvirem-se afirmativas como esta: As pessoas obesas têm mais chance de morrer ao contrair o covid 19. Ou, a expressão jocosa: Vou apostar na Tele Sena: corro o risco de ficar rico. No primeiro exemplo, a construção mais adequada seria 'correm o risco de morrer'. Já, o humor do segundo exemplo se constrói sobre a inversão de orientação semântica do termo: Mais adequado seria dizer 'tenho chance de'.
Muitas vezes, a intencionalidade ou o ponto de vista do falante é que orientam o emprego do termo adequado. Vejam-se os seguintes exemplos com referência ao mesmo fenômeno da natureza, com expectativas semânticas diferentes: A chance de neve trouxe muitos turistas à serra gaúcha. Por outro lado: O risco de neve pôs em perigo a safra do pêssego, pois as plantas já estavam em franco processo de floração. Em ambos os casos poder-se-iam substituir os termos 'chance' e 'risco' por 'possibilidade', sem qualquer prejuízo semântico.
São saberes intrínsecos de uso da linguagem que raramente se encontram registrados em textos.
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