Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
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Em Veneza, numa gôndola no
Valentine's Day, em 2010. |
A história grega e sua mitologia nascem juntas com a
migração dos quatro povos que constituem a comunidade grega. Os historiadores
costumam de denominar pela expressão Grécia Antiga ao período da história que
inicia no Período Pré-Homérico, com a Civilização Minoica e a Civilização
Micênica, chegando, então, ao glorioso Período Homérico, a que se seguem o
Período Arcaico e o Período Clássico e entra em decadência, para não mais se recuperar
no Período Helenístico, em que cai sob o jugo Romano para nunca mais se
recuperar.
O Período Pré-Homérico, que abrange o período de 2000 a 100
a. C., distingue-se pela chegada dos indo-europeus à Grécia: primeiramente os
aqueus (2000 a 1200), depois os eólios e os jônios (1700), com a Civilização
Minoica e a Civilização Micênica, e, por fim, chegam também os dórios (1200 a.
C.).
O Período Homérico desenvolve-se entre 1100 e 800 a. C., tem
como elementos fundamentais a formação dos genos,
ou seja, clãs familiares, onde o trabalho era coletivo; mas o importante desse
período foi o surgimento das obras homéricas, Ilíada e Odisseia.
Segue-se o Período Arcaico, de 800 a 500 a. C., em que se
aperfeiçoa o idioma grego e cresce o
comércio e a indústria dos povos gregos.
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ACRÓPOLE DE MICENAS |
Vem, então, o Período Clássico, conhecido também como Século
de Péricles ou Período Áurea da cultura grega, de 500 a 338 a. C., que é auge
da cultura grega e, ao mesmo tempo, a origem do seu fim. Ocorre o grande conflito
externo, com as guerras Médicas, e o grande conflito interno, com a guerra do
Peloponeso.
Por fim, então, o Período Helenístico, com o domínio da
Grécia pelos reis Macedônios Filipe II e Alexandre Magno e a breve expansão
pelo mundo do Mediterrâneo, sob as mãos de Alexandre e, finalmente, a ruína sob
o domínio do poderio Romano.
Pois, no Período Pré-Homérico é que acontece a Guerra de
Troia, que vai levar o aedo Homero a escrever suas grandes obras, as quais serão
o fundamento da paideia fundamental na Grécia daí por diante. Neste período,
gestam-se os mitos e a religião grega. Surge, então, na poderosa cidade de
Micenas, a família dos Átridas, os filhos de Atreu, Agamenon e Menelau. Este
último, marido de Helena, e o primeiro, será o chefe das tropas gregas na
guerra de Troia. Sua dinastia tem princípio em Tântalo, que gera Pélops, que
gera Tieste e Atreu, sendo que Atreu gera os Átridas: Agamenon e Menelau. Teria
Atreu deposto seu irmão Tieste, e assumido o trono de Micenas, sendo sucedido
por seu filho primogênito Agamenon. O segundo filho, Menelau, teria casado com
Helena, filha de Tíndaro, rei Esparta, e assumido esse trono em substituição ao
sogro. Essa mesma Helena seria, depois, o motivo da Guerra de Troia.
ÁTRIDAS – MITOLOGIA
Segue-se o texto de Junito Brandão que se encontra na obra
Mitologia Grega I, em que esse autor faz uma minuciosa análise desse período
fundamental da história grega, cujos fundamentos levarão a todo o processo da
formação da Hélade.
Os Aqueus e a Civilização Micênica: a maldição dos Átridas
1
Por volta de 1600-1580 a. C, a Hélade recebe nova onda de
invasores indo-europeus: trata-se dos Aqueus, nome genérico que Homero, logo
nos dois primeiros versos da Ilíada, estendeu a todos os Gregos que lutaram em
Troia. Embora pouco numerosos, esses novos invasores eram aguerridos e
rapidamente conquistaram o Peloponeso, empurrando os Jônios para a costa
asiática, onde se instalaram à margem do Golfo de Esmirna. Na Grécia continental,
os Jônios permaneceram, ao que parece, apenas na Ática, na ilha de Eubéia, em
Epidauro e Pilos, de onde, mais tarde, sairiam os Nelidas (nome proveniente de
Neleús, pai de Nestor) para colonizarem a Jônia. Falavam um dialeto grego muito
semelhante ao jônico, o que pressupõe um habitat comum para Jônios e Aqueus, ao
longo de sua lenta peregrinação em direção à Grécia.
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MICENAS - ACRÓPOLE - RECONSTRUÇÃO |
Teria sido por essa mesma época que também chegaram à pátria
de Sófocles os chamados Eólios? Ou seriam estes últimos tão-somente um "ramo"
dos Aqueus, que ocuparam a Beócia e a Tessália?
Seja como for, o mapa étnico da Hélade, à época aqueia, ~
1580-1100 a., está "provisoriamente" montado: o Peloponeso, ocupado
pelos Aqueus; os Jônios, encurralados na Ática e na Eubéia; os Eólios dominando
a Tessália e a Beócia.
2
Como se viu no capítulo anterior, os Aqueus, desde ~1450 a. C,
são os senhores absolutos de Creta, sobretudo após a destruição, em ~ 1550 a. C,
dos palácios de Festo, Háguia Tríada e Tilisso. É bem verdade que também o
palácio de Cnossos sucumbiu, devorado por um incêndio, por volta de 1400 a.C,
mas ainda se ignoram as causas de tamanho desastre. O palácio foi incendiado e destruído
em consequência de uma revolta popular contra o domínio aqueu ou por um
terremoto? Até o momento nada se pode afirmar com certeza. O fato em si não
importa muito: os Aqueus, de ~1450 a ~ 1100 a. C, serão os senhores de Creta.
Dessa fusão nascerá a civilização micênica, assim denominada porque teve por
centro principal o gigantesco Palácio de Micenas, na Argólida, e durante os
dois séculos seguintes a civilização minoica, ou melhor dizendo, já agora a
civilização creto-micênica, brilhará intensamente na Grécia continental.
Após as escavações realizadas sobretudo em Tirinto e Micenas
por Heinrich Schliemann (1822-1890), continuadas mais tarde, entre outros,
pelos arqueólogos gregos Stamatákis, Tsúntas, Keramápullos, Papadimitríu e pelo
britânico Wace, abriram-se novas perspectivas para uma melhor compreensão do
mundo grego arcaico e de sua civilização.
As fontes básicas para um estudo da civilização micênica são
a arqueologia e os poemas homéricos, Ilíada e Odisseia. No tocante a estes
últimos, como "fonte histórica", é preciso levar em consideração que
Homero é antes de tudo um poeta genial e que a obra de arte possui suas
exigências internas, não se coadunando muitas vezes com relatos históricos.
Além do mais, os poemas homéricos foram "compostos" ou ao menos
reunidos, após existirem como tradição oral, sujeitos, portanto, a inúmeras
alterações, vários séculos após os acontecimentos neles relatados. Fatores,
aliás, que levaram o competente e sério Denys Page a ressaltar, talvez com
certo exagero, que os documentos escritos no alfabeto linear B demonstram que
"os poemas homéricos preservaram muito pouco do verdadeiro quadro do
passado micênico".
52-
Tomado em bloco, Homero tem em seus poemas bastante de
micênico! Com as necessárias precauções, isto sim, é possível estabelecer,
partindo-se do II canto da Ilíada, na parte relativa ao Catálogo das Naus, em
que o maior dos poetas épicos rememora os tempos heroicos da Guerra de Tróia, a
dimensão do mundo aqueu, que se estende, ao norte, desde a Tessália até o
extremo sul do Peloponeso, abrangendo, além de Creta, várias outras ilhas, como
Ítaca, Egina, Salamina, Eubéia, Rodes e Chipre. Não se trata, evidentemente, de
um império, mas de vários reinos, alguns territorialmente diminutos, mas
independentes entre si, preludiando já no século XVI a. C. o que seria a Grécia
clássica, uma Grécia fragmentada em Cidades-Estados, não raro antagônicas e que
dificilmente se congregam até mesmo contra o inimigo comum, como aconteceu nas
guerras Greco-Pérsicas. Pois bem, esses reinos, pequenos e grandes, cuja
hegemonia parece ter sido de Micenas, estão todos centralizados em grandes
palácios, como Pilos, Micenas, Esparta, Tebas... São, na realidade,
independentes, mas ligados por interesses comuns. Em sua ânsia pelo poder, o
que exige sua coalizão, aceitam, se bem que não muito de bom grado, a
autoridade do rei mais importante e poderoso entre eles, como se pode ver na
Ilíada. Agamêmnon, rei de Micenas, logo no início do poema, I,7, é chamado ánax andrôn,
o rei dos heróis, o que deixa claro ser ele o chefe supremo dos reis aqueus
confederados contra Troia, embora isto não impeça que o comandante-em-chefe
tenha por vezes que fazer valer sua autoridade contra os recalcitrantes heróis
aqueus. Aliás, os deuses homéricos, como se verá, agirão exatamente assim com
Zeus, o deus supremo do Olimpo! Os deuses homéricos se constituem, não raro, de
uma simples projeção social do mundo heroico dos micênicos.
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ACRÓPOLE DE ATENAS - RECONSTITUIÇÃO |
Dentre os grandes palácios que fizeram da Grécia do século
XV ao XII a. C. uma soberba fortaleza, destaca-se o monumental palácio de
Micenas, "um verdadeiro ninho de águias" numa acrópole, que culmina a
278 metros de altura. Trata-se, no conjunto, de um recinto de novecentos metros
de perímetro, com poderosas fortificações de muros ciclópicos, aberto a oeste
pela Porta dos Leões, encaixada em sólido baluarte, e, ao norte, por uma saída
secreta. No interior desse formidável bastião ficava o palácio, cuja
arquitetura, como a de suas réplicas em Tirinto e Pilos, é radicalmente diversa
da de Cnossos. Ao labirinto minoico, Micenas opõe um conjunto rigorosamente
ordenado em três partes: uma vasta sala do trono, um santuário e, como elemento
básico, um mégaron (grande salão).
Também este é constituído de três compartimentos: um vestíbulo exterior, um
pródomos ou vestíbulo interior e o mégaron propriamente dito, com uma lareira
no centro.
O palácio servia apenas de residência para o rei e, segundo
se crê, para alguns dignitários. A verdadeira aglomeração humana ficava numa
cidade baixa, a sudoeste da fortaleza.
3
Com base na Linear B, nos poemas homéricos e na arqueologia,
é possível delinear um panteão micênico, embora se tenha de proceder com grande
prudência. Nas tabuinhas de argila da Linear B são pouquíssimas as informações
acerca dos deuses: estes se reduzem a poucos nomes, a meras informações
onomásticas. A Ilíada e a Odisseia, elaboradas a partir do século IX a. C, têm
que ser manuseadas com muita cautela, porque, se de um lado estampam uma
"mitologia remoçada de quatro a cinco séculos", em relação à
civilização creto-micênica, de outro, sofreram indubitavelmente adições
posteriores. Quanto aos monumentos artísticos, estes são sempre objeto de
interpretações divergentes.
Para um estudo da religião desse período há que se partir de
uma evidência: houve, sobretudo após o domínio de Creta pelos Aqueus, um
sincretismo religioso creto-micênico.
De seu mundo indo-europeu os Gregos trouxeram para a Hélade
um tipo de religião essencialmente celeste, urânica, olímpica, com nítido
predomínio do masculino, que irá se encontrar com as divindades anatólias de
Creta, de caráter ctônio e agrícola, e, portanto, de feição tipicamente
feminina. Temos, pois, de um lado, um panteão masculino (patriarcado), de
outro, um panteão, onde as deusas superam de longe (matriarcado) aos deuses e
em que uma divindade matronal, a Terra-Mãe, a Grande Mãe ocupa o primeiríssimo
posto, dispensando a vida em todas as suas modalidades: fertilidade,
fecundidade, eternidade. Desses dois tipos de religiosidade, desse sincretismo,
nasceu a religião micênica. Diga-se, de passagem, que esse encontro do
masculino helênico com o feminino minoico há de fazer da religião posterior
grega um equilíbrio, um meio-termo, muito a gosto da "paideia" grega
posterior, entre o patriarcado e o matriarcado.
Outras influências, particularmente egípcias, muito
importantes para os hábitos funerários, enriqueceram ainda mais o patrimônio
religioso creto-micênico.
Vejamos mais de perto esse sincretismo. As tabuinhas de
Pilos e Creta estampam alguns nomes de deuses e deusas
53-,
por onde se pode observar que "a fusão", por vezes, se realizou entre
elementos muito heterogêneos.
Zeus se apresenta com uma equivalência feminina
Dia
(Py. 28), que não se pode identificar com a cretense
Hera, a qual já
aparece associada a Zeus, como deusa da fertilidade, em algumas tabuinhas de
Cnossos (Kn. 02) e de Pilos (Py. 172).
Ventris e Chadwick
54-
pensaram ser
Dia uma hipóstase da
Magna Mater, a Grande Mãe cretense, isto é,
Reia,
que Píndaro
55-
saudou com o título de Ἕν ἀνδρῶν ἓν θενῶν γένος, «mãe dos deuses e
dos homens", passagem aliás "mal compreendida e mal traduzida"
56-
na excelente edição "Les Belles Lettres".
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Gaia - A deusa mãe - motherland bouguereau |
De outro lado, o mesmo
Zeus, sob denominação
desconhecida, se apresenta em Creta, muito antes do sincretismo de que estamos
falando, sob a forma de um jovem belo e sadio, cuja origem creto-oriental,
independente do Zeus grego, é defendida por Charles Picard.
57-
Trata-se do Zeus
cretágeno, isto é, originário de Creta e que vai surgir
em Roma com o nome de
Veiouis, Véjove, o Júpiter adolescente de cabelos
anelados. Além do mais, a ligação de Zeus com a Ilha de Creta, após o sincretismo,
sempre foi muito estreita. Para evitar que o pai Crono lhe devorasse também o
caçula, Reia, grávida de Zeus, fugiu para a Ilha de Minos e lá, no monte Dicta
ou Ida, deu à luz secretamente o filho, que foi amamentado pela cabra cretense
Amalteia.
Apoio aparece apenas com um de seus epítetos
clássicos, Peã (Kn. 52), o deus protetor dos guerreiros. Na mesma
tabuinha encontram-se também Atená, Posídon, Hermes, Ártemis e Eniálio, o
belicoso, cujas funções serão mais tarde inteiramente assimiladas por Ares,
cujo nome não está claramente determinado na Linear B. A cretense Ilítia,
que posteriormente se tornará hipóstase de Hera, como deusa dos partos, e Deméter,
"a terra cultivada", a Grande Mac, lá estão inteiras (Py. 114). Dioniso
(Py. 10) é outra presença importante e garantida e cujo culto já era muito
difundido em Creta, bem antes do aparecimento do deus na Ilíada de Homero.
Causa realmente estranheza a ausência de nomes de deuses
autenticamente cretenses, como Reia, Britomártis ou Dictina, Velcano,
o deus-galo, e Perséfone.
Como se vê, com a inestimável cooperação cretense, o futuro
panteão grego da época clássica, se bem que terrivelmente miscigenado, já
estava pronto no século XIV a.C. Falou-se em cooperação cretense porque, dentre
os deuses citados, são considerados como minoicos (posto que ainda se discuta a
respeito de um ou outro) os seguintes: Ártemis, Atená, Hera, Ilítia, Perséfone,
Reia; os secundários Eniálio, Velcano, Britomártis ou Dictina e talvez Hermes.
Se Dioniso e Afrodite são seguramente divindades asiáticas, sobra muito pouco
de autenticamente indo-europeu entre os futuros doze grandes do Olimpo, pois
que, acerca da origem de Apoio e Hefesto não se chegou ainda a uma conclusão
convincente, nem mesmo do ponto de vista etimológico.
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Zeus e sua esposa Hera - Carraci |
É de notar-se, todavia, como já se disse, que o sincretismo
creto-micênico fez que as divindades helênicas tivessem um caráter
essencialmente composto, miscigenado e heterogêneo, o que explica a
multiplicidade de funções e um entrelaçamento de mitos em relação a uma mesma
divindade.
O Zeus indo-europeu, deus da luz, segundo a própria
etimologia da palavra, deus da abóbada luminosa do céu, do raio e dos trovões,
irá fundir-se com o jovem "Zeus" cretense, apresentando-se, por isso
mesmo, também como um adolescente imberbe, deus dos mistérios do monte
Ida, deus da fertilidade e deus ctônio, o Zeus Khthónios de
que fala Hesíodo. Ora, o Zeus barbudo e majestoso do Olimpo, no esplendor da
idade, é inteiramente diverso do jovem deus dos mistérios cretenses e, no entanto,
se fundiram numa única personalidade.
Hermes, deus dos pastores, protetor dos rebanhos, é a
divindade por excelência da sociedade campônia aquéia. Pois bem, enriquecido
pelo mito cretense, Hermes tornou-se mais que nunca o "companheiro do
homem". Deus da pedra sepulcral, do umbral, do hérmaion e das
"hermas", guardião dos caminhos, protetor dos viajantes, cada
transeunte lançava uma pedra, formando um hérmaion, literalmente, lucro
inesperado, descoberta feliz, proporcionados por Hermes e, assim, para se
obterem "bons lucros" ou agradecer o recebido, se formavam
verdadeiros montes de pedra à beira dos caminhos. Possuidor de um bastão
mágico, o caduceu, com que tangia as almas para a outra vida, tornou-se o deus psicopompo,
quer dizer, condutor de almas, sem o que estas não poderiam alcançar a
eternidade e felicidade que a religião cretense prometia aos iniciados. Deus
indo-europeu dos pastores, cuja lenda estava ligada ao carneiro de velocino de
ouro, "verdadeiro talismã das riquezas aqueias e garantia de
fecundidade", Hermes transformou-se no mensageiro dos imortais do Olimpo,
em deus psicopompo e em deus das ciências ocultas.
Quanto às divindades femininas aqueias, todas elas são
herdeiras de deusas cretenses. Hera, a Senhora, uma pótnia therôn, a "senhora
das feras", uma deusa da fertilidade; na civilização micênica
converter-se-á na protetora de uma instituição aquéia fundamental, o casamento.
Atená, genuinamente cretense, está, em princípio, associada
à árvore e à serpente, como deusa da vegetação. Na civilização aquéia é uma virgem guerreira, como
aparece, em Micenas, numa medalha de estuque pintado, em que a deusa está com
um enorme escudo, que lhe cobre todo o corpo, e rodeada de deuses que lhe
prestam homenagem. Atená aquéia é, por excelência, a protetora das acrópoles em
que se erguem os palácios micênicos, como mais tarde será a senhora da Akrópolis
de Atenas. Seu nome duplo, Palas Atená, Atená defensora, mostra bem
o resultado do sincretismo.
A dupla formada por Deméter e Core é uma
junção muito frequente em Creta, de uma deusa mãe e de uma jovem (Core significa
jovem) filha. O rapto de Core por Plutão, rei do Hades, e a busca da filha pela
mãe relembram as cenas de rapto muito frequentes no culto cretense da
vegetação. A junção, todavia, de Core, a semente de trigo lançada no
seio da Mãe-Terra, Deméter, com a lúgubre Perséfone, rainha do Hades, é
deveras estranha, mas ambas, mercê do sincretismo, constituem a mesma pessoa
divina.
Seria inútil multiplicar os exemplos. Os deuses aqueus, por força
da herança egeia, tornaram-se semigregos e semicretenses.
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Deméter - francesco hayez rinaldo e armida |
Pierre
Lévêque
mostra de modo preciso o resultado dessa fusão: "Com um mesmo nome grego
(Zeus, Deméter), ou com um nome minoico (Hera, Atená) e, inclusive, com nome
duplo (Core e Perséfone, Palas e Atená), os deuses aqueus têm uma personalidade
complexa, híbrida, em que se fundiram elementos heterogêneos e, às vezes,
contraditórios. Não houve uma justaposição de duas séries de deuses em um
panteão único, mas sínteses estranhas propiciaram a criação de divindades que
não eram nem indo-europeias, nem minoicas, mas sim aquéias".
58
Destarte, para um estudo em profundidade dos deuses aqueus, é mister separar o
que é indo-europeu do que é cretense e oriental. Seja como for, desde o século
XIV a. C, a futura religião grega já estava delineada e inteiramente distinta
de suas coirmãs védica, latina e germânica, que puderam conservar melhor o
patrimônio comum indo-europeu, sobretudo a organização tripartite e
trifuncional da hierarquia divina, uma vez que, por motivos de ordem política e
cultural, não se deixaram contaminar tanto por elementos estranhos ao mundo
indo-europeu.
4
Se a influência cretense na elaboração do panteão helênico
foi grande e séria, mais destacada ainda foi a sua influência no que se refere
ao culto dos deuses e dos mortos.
Como acentua o supracitado Pierre Lévêque, os sacerdotes da ilha de Minos são
constantemente citados na Linear B e sua missão mais importante era a de
consagrar as oferendas, fossem elas as primícias das colheitas ou os
sacrifícios sangrentos. Num texto de Pilos faz-se menção de trigo, vinho, um
touro, queijos, mel, quatro cabras, azeite, farinha e duas peles de cordeiro
que deveriam ser sacrificados aos deuses. As peles fazem certamente parte da
vestimenta litúrgica de sacerdotes de categoria inferior, denominados diphtheráporoi,
quer dizer, "portadores de uma indumentária de pele", como se
pode ver no sarcófago de Háguia Tríada.
Os locais de culto, como em Creta, estão inteiramente
ligados à vida familiar. No santuário palatino de Micenas encontrou-se uma
pequena escultura em marfim, representando as "duas deusas", Deméter
e Core, com o "menino divino", Triptólemo, a seus pés. No de Ásina,
na Argólida, descobriram-se várias estatuetas em terracota. Nas casas particulares
havia sempre um local destinado ao culto: era a lareira, centro do culto
doméstico e que nos grandes palácios, como Micenas e Tirinto, ocupava o centro
do Mégaron. O altar, propriamente dito, em geral oco, modelo portanto do
bóthros grego (fenda, buraco onde se derramava o sangue das vítimas),
era erguido normalmente no pátio do palácio, como se pode observar em Tirinto.
Nas escavações realizadas em Micenas descobriu-se grande quantidade de
estatuetas, a maioria em terracota. Trata-se, em sua quase totalidade, de
ídolos femininos vestidos à maneira cretense; os poucos masculinos encontrados
representam um jovem deus despido. Pois bem, essas estatuetas, muito
semelhantes às cretenses, representam, na realidade, certas divindades ligadas
à Terra-Mãe, mas têm, segundo se acredita, que ser interpretadas como oferenda
aos deuses e não como objeto de culto, o que só aparecerá no século seguinte.
Também os hábitos funerários e o culto dos mortos são
relativamente bem conhecidos na época micênica, graças a numerosos túmulos
descobertos pelos arqueólogos.
As sepulturas cretenses e, posteriormente, as micênicas,
embora tenham sofrido algumas modificações e transformações no decurso do
segundo milênio, não só quanto ao local em que eram enterrados os mortos, mas
sobretudo quanto à forma das mesmas, possuem uma característica que permaneceu
inalterável: os corpos eram inumados e não incinerados. Durante o Heládico
Médio, ~ 1950-1580 a. C, os cemitérios eram construídos dentro do perímetro
urbano, junto às habitações e as tumbas tinham a forma de um cesto e
normalmente não se depositavam oferendas para os mortos. No Heládico Recente, ~
1580-1100 a. C, surgem as necrópoles separadas das aglomerações humanas e
construídas a oeste das mesmas, certamente por influência do Egito, que
considerava o ocidente como o mundo dos mortos. As covas funerárias, a
princípio, simples fossas, à imitação das sepulturas em forma de cesto,
evoluíram para um formato de habitação, um túmulo, que acabou por dar origem
aos
thóloi (rotundas, pequena construção de forma abobadada). Os corpos
eram colocados em ataúdes, junto aos quais se depositava um rico mobiliário:
máscaras, armas luxuosas, vasos, joias. . . Em Micenas encontraram-se
oficialmente,
nove thóloi, aos quais se deram nomes convencionais, como
o
Túmulo de Clitemnestra, o
Túmulo de Egisto..., destacando-se
entre todos o
Túmulo de Agamêmnon, o chamado
Tesouro do Atreu, que
representa, sem dúvida, a mais bem construída e a mais bela sala abobadada da
antiguidade. Curioso para a época é um túmulo encontrado em Mideia, na
Argólida, sem vestígio de sepultamento. Trata-se, ao que tudo indica, de um
cenotáfio,
"túmulo vazio", construído, para "atrair" a alma de
pessoas, cm tese, falecidas fora da pátria e plausivelmente não sepultadas ou
que não houvessem recebido as devidas honras fúnebres, uma vez que a psiqué só
poderia ter paz e penetrar no Hades quando 0 corpo descesse ritualmente ao seio
da Mãe-Terra. O cenotáfio linha, pois, por escopo, desde a mais alta antiguidade,
substituir simbolicamente a real sepultura, condição suficiente para descanso
da alma, o que demonstrava também a crença dos Aqueus na sobrevivência da
mesma. Se é verdade que todos os mortos tinham direito a um culto, existem
aqueles que, por circunstâncias especiais, fazem jus a honras peculiares e a um
culto singular. Trata-se dos
heróis, assunto que será desenvolvido na
última parte deste livro. Para o momento, basta acentuar que o
herói, normalmente
"senhor" de um palácio, como na época micênica, goza na outra vida de
um destino particular. Em se tratando de um culto a antepassados, outorgado
pela família reinante, a ele deve associar-se toda a comunidade, porque o
herói
acaba por tornar-se um intermediário entre os homens e os deuses. Na época
micênica, esse culto foi muito difundido e praticado, ultrapassando mesmo a
civilização que, na Grécia, viu seu nascimento.
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Zeus e o rapto de Europa |
Dentre todos os heróis micênicos vamos destacar, por ora,
apenas Agamêmnon, o grande rei de Micenas e que, como o rei de Creta,
Minos, parece ter sido um nome dinasta. O que dá relevo ao "rei dos
reis" não é apenas o fato de Agamêmnon ter sido o chefe dos exércitos
gregos congregados contra Tróia, mas sobretudo a hamartía que pesava
sobre o génos dos Atridas.
Antes de entrarmos no mito que transformou o gigantesco
palácio de Micenas num "alcáçar de crimes e horrores", uma palavra
sobre hamartía e génos.
Sem desejar entrar em longas discussões de ordem
etimológica, linguística e literária acerca do vasto campo semântico de
hamartía,
que, na realidade, tem várias "conotações" no curso do pensamento
grego, porque não é aqui o local apropriado, é melhor começar pelo verbo grego
hamartánein
que já aparece em diversas passagens da
Ilíada, V, 287; VIII, 311;
XI, 233; XIII, 518 e 605; XXII,
279... onde significa mais comumente
errar
o alvo. Dos trágicos a Aristóteles, apesar da ampliação do campo semântico
do verbo, também este sentido de
errar o alvo é encontrado, alargado com
o de
errar, errar o caminho, perder-se, cometer uma falta. . . Donde se
pode concluir que o vocábulo
hamartía, que é um deverbal de
hamartánein,
nunca poderá ser traduzido até os
Septuaginta59
por "pecado". Diga-se, aliás, de passagem, que também o latim
peccatum,
fonte de "pecado", jamais possuiu, até o Cristianismo, tal
significado:
peccatum em latim é "erro, falta,
tropeço60-,
abstração feita de culpa moral. Assim
hamartía deve-se traduzir por
"erro, falta, inadvertência, irreflexão", existindo, claro está, uma
"graduação" nessas faltas ou erros, podendo ser os mesmos mais leves
ou mais graves, como já observara Marco Túlio Cícero (106-43 a .C.).61
Acrescente-se, por último, que, na Grécia antiga, as faltas
eram julgadas de fora para dentro: não se julgavam intenções, mas reparações,
indenizações à vítima, se fosse o caso.
Quanto a génos pode o vocábulo ser traduzido, em
termos de religião grega, por "descendência, família, grupo familiar"
e definido como personae sanguine coniunctae,
quer dizer, pessoas ligadas por laços de sangue. Assim, qualquer falta,
qualquer hamartía cometida por um génos contra o outro tem que
ser religiosa e obrigatoriamente vingada. Se a hamartía é dentro do
próprio génos, o parente mais próximo está igualmente obrigado a vingar
o seu sanguine coniunctus.
Afinal, no sangue derramado está uma parcela do sangue e, por
conseguinte, da alma do génos inteiro. Foi assim que,
historicamente falando, até a reforma jurídica de Drácon ou Sólon, famílias
inteiras se exterminavam na Grécia. É mister, no entanto, distinguir dois tipos
de vingança, quando a hamartía é cometida dentro de um mesmo génos: a ordinária,
que se efetua entre os membros, cujo parentesco é apenas em profano, mas
ligados entre si por vínculo de obediência ao gennétes, quer dizer, ao
chefe gentílico, e a extraordinária, quando a falta cometida implica em parentesco
sagrado, erínico, de fé — é a hamartía cometida entre pais, filhos, netos,
por linha troncal e, entre irmãos, por linha colateral. Esposos, cunhados,
sobrinhos e tios não são parentes em sagrado, mas em profano ou
ante os homens. No primeiro caso, a vingança é executada pelo parente mais
próximo da vítima e, no segundo, pelas Erínias.
A essa ideia do direito do génos está
indissoluvelmente ligada a crença na maldição familiar, a saber: qualquer hamartía
cometida por um membro do génos recai sobre o génos inteiro,
isto é, sobre iodos os parentes e seus descendentes "em sagrado" ou
"em profano".
Esta crença na transmissão da falta, na solidariedade
familiar e na hereditariedade do castigo é uma das mais enraizadas no espírito
dos homens, pois a encontramos desde o Rig Veda até o Nordeste
brasileiro, sob aspectos e nomes diversos. No citado Rig Veda, o mais
antigo monumento da literatura hindu, composto entre 2000 e 1500 a. C,
encontramos esta súplica: "Afasta de nós a falta paterna e apaga também aquela
que nós próprios cometemos".
A mesma ideia era plenamente aceita pelos judeus, como
demonstram várias passagens do Antigo Testamento, como está em Êxodo 20,5:
"Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso, que vingo a iniquidade dos
pais nos filhos, nos netos e bisnetos daqueles que me odeiam".
Talvez não fosse inoportuno lembrar que há uma grande
diferença entre o homem de lá e o homem de cá: o viver coletivo e
o viver individual.
Fechado o parêntese, voltemos à machina fatalis, a máquina obrigatoriamente
fatal que, por causa da hamartía de Tântalo e da consequente maldição
familiar, há de esmagar todo o génos maldito dos Atridas, cuja ninhada
fatídica pode ser sintetizada no seguinte quadro:
Tântalo____________________________Dione
(ou Eurianassa)
Pélops,
Dáscilo, Níobe
Pélops________________________________________Hipodamia
Atreu,
Tieste, Plístene, Crisipo
Tieste____________________________________uma
Concubina
Plístene
II, Tântalo II, Pelopia
Tieste ____________________________sua
própria filha Pelopia
Egisto
Atreu______________________________________________Aérope
Agamêmnon,
Menelau
Menelau__________________________________________Helena
Hermíona,
Nicóstrato
Agamêmnon_________________________________Clitemnestra
Ifigênia
(Ifianassa), Electra (Laódice), Crisótemis, Orestes
Tudo começou com a
hamartía de Tântalo,
filho de Zeus e Plutó, o qual reinava na Frígia ou Lídia, sobre o monte Sípilo.
Extremamente rico e querido dos deuses, era admitido em seus festins. Por duas
vezes Tântalo já havia traído a amizade e a confiança dos imortais: numa delas
revelou aos homens os segredos divinos e, em outra oportunidade, roubou néctar
e ambrosia dos deuses, para oferecê-los a seus amigos mortais. A terceira
hamartía,
terrível e medonha, lhe valeu a condenação eterna. Tântalo, desejando saber
se os Olímpicos eram mesmo oniscientes, sacrificou o próprio filho Pélops e
ofereceu-o como iguaria àqueles. Os deuses reconheceram, todavia, o que lhes
era servido, exceto Deméter, que, fora de si pelo rapto da filha Perséfone,
comeu uma espádua de Pélops. Os deuses, porém, reconstituíram-no e fizeram-no
voltar à vida.
|
O suplício de Tântalo - Abraham Bloemaert Niobe |
Tântalo foi lançado no Tártaro, condenado para
sempre ao suplício da sede e da fome. Mergulhado até o pescoço em água fresca e
límpida, quando ele se abaixa para beber, o líquido se lhe escoa por entre os
dedos. Árvores repletas de frutos saborosos pendem sobre sua cabeça; ele,
faminto, estende as mãos crispadas, para apanhá-los, mas os ramos bruscamente
se erguem. Há uma variante de grande valor simbólico: o rei da Frígia estaria
condenado a ficar para sempre sobre um imenso rochedo prestes a cair e onde ele
teria que permanecer em eterno equilíbrio. O tema mítico de Tântalo, na luta
interior contra a vã exaltação, simboliza a elevação e a queda. Seu
suplício corre paralelo com sua hamartía: o objeto de seu desejo, a
água, os frutos, a liberdade, tudo está diante de seus olhos e infinitamente
distante da posse. No fundo, Tântalo é o símbolo do desejo incessante e
incontido, sempre insaciável, porque está na natureza do ser humano o viver
sempre insatisfeito. Quanto mais se avança em direção ao objeto que se deseja,
mais este se esquiva e a busca recomeça. ..
O grande poeta paulista Vicente Augusto de
Carvalho (1866-1924) nos oferece a topografia utópica dessa busca:
Velho
Tema
Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a
pena de viver, mais nada; Nem é mais a existência,
resumida, Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho
que a traz ansiosa e embevecida
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos
Existe,
sim: mas nós não a alcançamos,
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Níobe foi a primeira vítima da
hamartía paterna.
Casada com Anfíon, teve, consoante a maioria dos mitógrafos, catorze filhos:
sete meninos e sete meninas. Na tradição homérica são apenas doze
62,
mas na hesiódica são vinte. Orgulhosa de sua prole, Níobe dizia-se superior a
Leto, que só tivera dois: Apoio e Ártemis. Irritada e humilhada, Leto pediu aos
filhos que a vingassem. Com suas flechadas certeiras, Apoio matou os meninos e
Ártemis, as meninas. Uma variante mais recente da lenda narra que dos catorze
se salvaram dois, um menino e uma menina. Esta, todavia, aterrorizada com o
massacre dos irmãos, se tornou tão pálida, que foi chamada
Clóris, a
verde. Mais tarde, Clóris foi desposada por Neleu.
A infeliz Níobe, desesperada de dor e em prantos,
refugiou-se no monte Sípilo, reino de seu pai, onde os deuses a transformaram
num rochedo, que, no entanto, continua a derramar lágrimas. Do rochedo de
Níobe, por isso mesmo, corre uma fonte.
A metamorfose em rochedo, como a de Eco, Níobe…
pode ser interpretada como o símbolo da regressão e da passividade, que
podem ser um estado apenas passageiro, precursor de uma transformação. Na
realidade, Níobe é uma antiga deusa lunar asiática, mas é a lua negra, a
outra face de Leto, a lua cheia. Seus filhos são mortos por Apoio (o
sol) e por Ártemis (a lua cheia).
Pélops é apenas mais uma engrenagem da machina fatalis. . . Após sua
"recomposição e ressurreição", Pélops foi amado por Posídon, que o
levou para o Olimpo e fê-lo seu escanção. Apesar de haver retornado ao nível
telúrico, porque Tântalo dele se servia para furtar néctar e ambrosia aos
deuses e oferecê-los aos homens, o deus do mar continuou a protegê-lo,
dando-lhe de presente cavalos alados e ajudando-o na terrível disputa contra
Enômao pela posse de Hipodamia.
Após a guerra movida por Ilo, o lendário fundador
de Ílion ou Tróia, contra Tântalo, a quem acusava de ser responsável pelo rapto
de seu filho Ganimedes, Pélops deixou a Ásia Menor, onde nascera, e refugiou-se
na Hélade.
Sabedor de que Enômao, rei de Pisa, na Élida, só
daria a filha Hipodamia em casamento a quem o vencesse numa corrida de carros,
Pélops, herói que era, aceitou, como tantos outros já o haviam feito, o
desafio do rei.
Esse Enômao, que reinava na Élida, era filho de
Ares e de uma filha do deus-rio Asopo, Harpina. Como não quisesse que sua filha
Hipodamia se casasse, ou por estar apaixonado por ela ou por lhe ter dito um
oráculo que seria morto pelo genro, punha como condição que o pretendente o
ultrapassasse numa corrida de carros. Enquanto sacrificava um carneiro a Zeus,
deixava que o competidor tomasse a dianteira. Como os cavalos de Enômao fossem
de sangue divino, facilmente o rei levava de vencida o "pretendente"
e o matava, antes que atingisse a meta final, que era o altar de Posídon, em
Corinto. O rei de Pisa já havia matado doze pretendentes, quando Pélops se
apresentou. Apaixonada por ele, Hipodamia ajudou-o a corromper o cocheiro real,
Mírtilo, que concordou em serrar o eixo do carro de Enômao. Aos primeiros
arrancos dos animais, a peça partiu-se e o rei foi arremessado ao solo e
pereceu despedaçado.
Pélops se casou com Hipodamia e, para silenciar
Mírtilo, o vencedor de Enômao lançou-lhe o cadáver no mar. O cocheiro real,
antes de morrer, amaldiçoou a Pélops. . .
|
Pelops and Hippodamia |
O nome de Pélops está intimamente ligado à
fundação mítica dos Jogos Olímpicos, que, a princípio, segundo parece,
limitavam-se a corridas de carros. Pélops os teria instituído, mas, como
houvessem caído no esquecimento, Héracles os ressuscitou em honra e em memória
do fundador. As competições olímpicas eram ainda não raro consideradas como
Jogos Fúnebres em memória de Enômao.
À hamartía de Tântalo somam-se agora as do
próprio Pélops e a maldição de Mírtilo. A machina fatalis tem combustível para funcionar por
várias gerações! Antes, porém, que suas engrenagens voltem a girar, uma palavra
sobre a morte do rei e sua substituição por Pélops no trono de
Élida.
Marie Delcourt, em sua obra famosa sobre Édipo
63-,
comentando e discordando de uma passagem do pai da psicanálise
64-,
opina que não se deve insistir sobre "a concupiscência
dissimulada" do menino pela mãe e, em relação ao pai, sobre o sentimento
ambivalente do mesmo, marcado de um lado pela admiração e afeição e, de outro,
pelo ódio e ciúme. Assim, consoante a autora, em lugar de se acentuar o ciúme
sexual do menino, melhor seria chamar a atenção para a impaciência com que o
filho adulto suporta a tutela de um pai envelhecido. A hostilidade entre ambos
seria provocada menos por uma
libido reprimida do que pelo desejo do
poder. Se isto é verdadeiro, pode-se perfeitamente fazer uma aproximação entre
o mito de Édipo, que mata a seu pai Laio, e outros mitologemas, como o de
Pélops, em que um pai luta contra o pretendente da filha; como os de Telégono e
Ulisses, Teseu e Egeu, em que os filhos matam direta ou indiretamente a seus
pais; como o de Perseu e Acrísio, em que a vítima é o avô, no caso em pauta,
Acrísio; como o de Anfitrião que assassina a seu sogro Eléctrion e, para não
alongar a lista, o de Admeto e Feres, em que o pai Feres, envelhecido,
"abre mão" do trono, em favor de seu filho Admeto, tendo havido, no
entanto, entre ambos, violentíssima altercação, como atesta a tragédia Alceste.
65Jean-Auguste-Dominique-Ingres-Achilles-Receiving-the-Envoys-of-Agamemnon.
|
Jean Auguste Dominique Ingres- Achilles Receiving the Envoys of Agamemnon |
Seguindo essa linha de raciocínio, o tema
essencial não é bem o duelo entre pai e filho, porque este pode ser entre sogro
e genro (Enômao e Pélops, Eléctrion e Anfitrião) ou entre avô e neto (Acrísio e
Perseu) . . ., mas um conflito de gerações.
O antagonismo, todavia, quer seja entre pai e
filho, avô e neto, ou entre pai e pretendente, é sempre um combate pelo poder,
cujo desfecho é a vitória do mais jovem. Ao que parece, essa luta, de início,
entre
pai e filho, fazia parte de um rito, o combate de morte que, nas
sociedades primitivas, permitia ao Jovem Rei suceder ao Velho Rei. Todo o
contexto familiar, com os problemas morais que o mesmo comporta, foi
acrescentado mais tarde, quando a sucessão patrilinear se tornou a norma
vigente. Assim, na luta de morte, que se travava pela sucessão, todas as
atenuantes possíveis foram introduzidas para mitigar o impacto das
"justas" primitivas. Jamais um poeta trágico pôs em cena um
parricídio consciente. Se Édipo mata a Laio, Telégono a Ulisses, Perseu a
Acrísio e Pélops a Enômao, a ação é simplesmente o resultado do cumprimento de
um oráculo, e mais: os dois primeiros ignoravam tratar-se de seus próprios pais
e Perseu não sabia que Acrísio era seu avô. Julgando que a atenuante,
oráculo,
era insuficiente, os trágicos transformaram a morte de Laio num acidente de
caminho. . . Quanto a Teseu, é bom não esquecer que foi por um erro, por um
engano fatal que o herói de Atenas se tornou o responsável pela morte de seu
pai Egeu!
|
Agamenon |
Desse modo, o parricídio ou é substituído por um
simples destronamento, ou é realizado, mas como resultante de um erro, embora
se tenha o respaldo de um oráculo. Em ambos os casos, os poetas evitam colocar
em cena o mais horrendo dos crimes aos olhos da sociedade grega. A despeito,
porém, de seu horror pelo parricídio, tiveram muitas vezes que tratar em público
de uma hostilidade de fato entre homens de gerações diferentes, o que patenteia
a importância que tinha a sucessão por morte na pré-história grega. Os
testemunhos mais curiosos desse rito arcaico se encontram, como se verá, nas
teogonias.
Para encerrar, uma pergunta: por que o Velho Rei
deve ser substituído?
Na Odisseia, XI, 494sqq., Aquiles, quando da
visita de Ulisses ao país dos mortos, mostra-se preocupado com a sorte de seu
pai Peleu e pergunta-lhe se Peleu não é desprezado pelos Mirmidões, uma vez que
a velhice lhe entorpece os membros. Na realidade, um rei envelhecido não é
apenas um soberano demissionário, mas sobretudo um ser maltratado e
menosprezado. É que a função do rei, já que o mesmo é de origem divina, é fecundar
e manter viva e atuante sua força mágica. Perdido o vigor físico,
tornando-se impotente ou não mais funcionando a força mágica, o rei terá
que ceder seu posto a um Jovem, que tenha méritos e requisitos necessários para
manter acesa a chama da fecundação e a fertilidade dos campos, uma vez que,
magicamente, esta está ligada àquela.
Na expressão de Westrup, "o mérito pessoal é
uma condição necessária para se subir ao trono dos antigos e a persistência da
energia ativa é indispensável para conservar o poder real".
66-
Donde se conclui que a sucessão por morte fundamenta-se no princípio da
incapacidade, por velhice, de exercer a função real. A razão é de ordem mágica:
quem perdeu a força física não pode transmiti-la à natureza por via de
irradiação, como deveria e teria que fazer um rei.
|
Menelaus-supporting-the-body-of-Patroclus- |
Terminada esta longa digressão, necessária para
que se possam compreender tantas sucessões violentas dentro do mito, voltemos à
violência, à hýbris das hamartíai dos Atridas.
De Pélops e Hipodamia, conforme esquema já
exposto, nasceram, entre outros, Atreu, Tieste e Crisipo.
Consoante o mito, os Persidas (filhos ou
descendentes de Perseu) foram os primeiros a reinar sobre a Argólida em geral e
sobre Micenas em particular. Esta, fundada por Perseu, foi governada depois por
seu filho Estênelo e seu neto, Euristeu. Em seguida, o poder passou para os
Pelópidas, também denominados Atridas. É que a maldição paterna empurrara Atreu
e Tieste para Micenas, onde se refugiaram. Essa maldição se deve ao fato de
Atreu e Tieste terem assassinado o irmão Crisipo. Mais uma maldição que se vai
somar a tantas outras...
Aliás, Crisipo, como engrenagem da machina, já havia contribuído
para aumentar-lhe a potência fatídica. Quando Laio, ainda muito jovem, se viu
obrigado a fugir de Tebas, porque Zeto e Anfião se lhe haviam apoderado
violentamente do trono, refugiou-se na corte de Pélops, na Élida.
Esquecendo-se dos laços sagrados da hospitalidade,
Laio deixou-se dominar por uma paixão louca por Crisipo e, com o consentimento
deste, o raptou, inaugurando, destarte, na Grécia, ao menos miticamente, a
pederastia. Pélops amaldiçoou a Laio, e Hera, a protetora dos amores legítimos,
anatematizou a ambos. O resultado dessa dupla maldição há de se traduzir também
na Maldição dos Labdácidas, com Laio, Jocasta, Édipo, Etéocles, Polinice
e Antígona...
Voltemos a Atreu e Tieste. Morto Euristeu, sem
deixar descendentes, os micênios, dando crédito a um oráculo, entregaram-lhes o
trono. Foi pela disputa do reino de Micenas entre os dois irmãos que surgiu o
ódio mais terrível, alimentado por traições, adultério, incesto, canibalismo,
violência e morte. Atreu, que havia encontrado um carneiro de velocino de ouro,
prometera sacrificá-lo a Ártemis, mas guardou-o para si e escondeu o tosão de
ouro num cofre. Aérope, que era mulher de Atreu, mas amante de Tieste,
entregara a este secretamente o velocino. No debate entre ambos diante dos
micênios, Tieste propôs que ocuparia o trono o que mostrasse à assembleia um
tosão de ouro. Atreu aceitou, de imediato, a proposta, pois desconhecia a
traição da esposa e a perfídia do irmão. Tieste seria fatalmente o vencedor,
não fora a intervenção de Zeus, que, por meio de Hermes, aconselhou a Atreu
fazer uma nova proposta: o rei seria designado por um prodígio. Se o sol
seguisse seu curso normal, Tieste seria o rei, se regressasse para leste, Atreu
ocuparia o trono. Aceito o desafio, todos passaram a observar o céu. O sol
voltou para o nascente e Atreu, por proteção divina, passou a reinar em
Micenas, expulsando Tieste de seu reino.
|
Helen of Troy - 1898, Evelyn de Morgan |
Sabedor um pouco mais tarde da traição de Aérope,
fingiu uma reconciliação com o irmão, convidou-o a participar de um banquete e
serviu-lhe como repasto as carnes de três filhos que Tieste tivera com uma
Náiade: Áglao, Calíleon e Orcômeno. Após o banquete, Atreu mostrou-lhe as
cabeças de seus três filhos e, mais uma vez, o baniu. Tieste refugiou-se em
Sicione, onde, a conselho de um oráculo, se uniu à própria filha Pelopia e dela
teve um filho, Egisto. Pelopia seguiu para Micenas e lá se casou com o próprio
tio Atreu. Egisto foi, pois, criado na corte de Atreu e como ignorasse que
Tieste era seu pai, recebeu do padrasto a ordem de matá-lo. Egisto, todavia,
descobriu a tempo quem era seu verdadeiro pai. Retornou a Micenas, assassinou
Atreu e entregou o trono a Tieste.
Agamêmnon e Menelau, filhos de Atreu
e de Aérope! Que se poderia esperar destes condenados e marcados por tantas
misérias e crimes? Agamêmnon surge no mito como o rei por excelência,
encarregado na Ilíada do comando supremo dos exércitos gregos que
sitiavam Tróia. Consoante a designação de seus ancestrais, é chamado Atrida,
Pelópida ou Tantálida. Reinava sobre Argos, Micenas e até mesmo sobre toda a
Lacedemônia. Era casado com Clitemnestra, irmã de Helena, ambas filhas de
Tíndaro e Leda. Para obter Clitemnestra, que era casada, Agamêmnon iniciou logo
sua carreira por um crime duplo: matou-lhe o marido, Tântalo, filho de Tieste,
e a um filho recém-nascido do casal. Perseguido pelos Dioscuros, Castor e
Pólux, irmãos, por parte de mãe, de Clitemnestra e Helena, refugiou-se na corte
de Tíndaro.
Desse casamento com Clitemnestra, que se ligara a
Agamêmnon contra a vontade, nasceram três filhas: Crisótemis, Laódice e
Ifianassa e um filho, Orestes. Tal é o primeiro estágio da lenda. Surge depois
Ifigênia ao lado de Ifianassa e Laódice é substituída pelos poetas trágicos por
Electra, totalmente desconhecida de Homero. Desta ninhada fatídica os trágicos
conheciam principalmente Ifigênia, Electra e Orestes.
Quando uma verdadeira multidão de pretendentes à
mão de Helena assediava a princesa, Tíndaro, a conselho do solerte Ulisses,
ligou-os por dois juramentos: respeitar a decisão de Helena na escolha do
noivo, sem contestar a posse da jovem esposa e se o escolhido fosse, de
qualquer forma, atacado, os demais deviam socorrê-lo. Quando o príncipe troiano
Páris ou Alexandre raptou Helena, Menelau, a quem ela escolhera por marido,
pediu auxílio a seu irmão Agamêmnon, o poderoso rei de Micenas, que também
estava ligado a Menelau por juramento. Agamêmnon foi escolhido comandante
supremo da armada aquéia, seja por seu valor pessoal, seja porque era uma
espécie de rei suserano, dada a importância de Micenas no conjunto do mundo
aqueu, quer por efeito de hábil campanha política. Convocados os demais reis
ligados por juramento a Menelau, formou-se o núcleo da grande armada destinada
a vingar o rapto de Helena e atacar Tróia, para onde Páris levara a princesa.
|
Cavalo de Troia - Henri-Paul Motte |
Os chefes aqueus reuniram-se em Áulis, cidade e
porto da Beócia, em frente à ilha de Eubéia. De início, os presságios foram
favoráveis. Feito um sacrifício a Apoio, uma serpente surgiu do altar e,
laçando-se sobre um ninho numa árvore vizinha, devorou oito filhotes de
pássaros e a mãe, ao todo nove, e em seguida, transformou-se em pedra. Calcas,
o adivinho da vida militar, como Tirésias o era da religiosa, disse que Zeus
queria significar que Tróia seria tomada após dez anos de luta. De acordo com
os Cantos Cí-prios, poemas que narram fatos anteriores à Ilíada, os
Aqueus, ignorando as vias de acesso para Tróia, abordaram em Mísia, na Ásia
Menor e, depois de diversos combates esparsos, foram dispersados por uma
tempestade, regressando cada um a seu reino. Oito anos mais tarde, reuniram-se
novamente em Áulis. O mar, todavia, permaneceu inacessível aos navegantes por
causa de uma grande calmaria. Consultado mais uma vez, Calcas explicou que o
fato se devia à cólera de Ártemis, porque Agamêmnon, matando uma corça,
afirmara que nem a deusa o faria melhor que ele. A cólera de Ártemis poderia se
dever também a Atreu, que, como se viu, não lhe sacrificara o carneiro de velo
de ouro ou ainda porque o rei de Micenas prometera sacrificar-lhe o produto
mais belo do ano, que, por fatalidade, havia sido sua filha Ifigênia.
Agamêmnon, após alguma relutância, terminou por consentir no sacrifício de
Ifigênia, ou por ambição pessoal, ou por visar ao bem comum. De qualquer forma,
esse sacrifício agravou profundamente as queixas já existentes e o desamor de
Clitemnestra pelo esposo. Sacrificada a jovem Ifigênia, partiu finalmente a
frota grega em direção a Tróia, fazendo escala na ilha de Tênedos. Na ilha de
Lemnos, Agamêmnon, a conselho de Ulisses, ordenou que se deixasse Filoctetes
(sem cujas flechas, herdadas de Héracles, Tróia não poderia ser tomada), de
cuja ferida, provocada pela mordida de uma serpente de Tênedos, exalava um odor
insuportável.
Nove anos de lutas diante da cidadela de Príamo,
de acordo com os presságios, já se haviam passado, quando surgiu grave
dissensão entre Agamêmnon e o principal herói aqueu, Aquiles. É que ambos,
tendo participado de diversas expedições de pilhagem contra cidades vizinhas,
lograram se apossar de duas belíssimas jovens: Briseida, que se tornou escrava
de Aquiles, e Criseida, filha do sacerdote de Apoio, Crises, foi feita cativa
de Agamêmnon.
Crises, humildemente, dirigiu-se à tenda do rei de
Micenas e tentou resgatar a filha. O rei o expulsou com ameaças. Apoio, movido
pelas súplicas de seu sacerdote, enviou uma peste terrível contra os exércitos
gregos.
É neste ponto que começa a narrativa da Ilíada.
Talvez não fosse fora de propósito dizer, e o faremos, de caminho, que a Ilíada
não narra a Guerra de Tróia, mas apenas um episódio do nono ano da luta,
exatamente a ira de Aquiles e suas consequências funestas. Quando
o poema termina, com os funerais de Heitor, Tróia continua de pé.
Vendo o exército assolado pela peste, Aquiles
convocou uma assembleia. O adivinho Calcas, consultado, respondeu ser
necessário devolver Criseida. Após violenta altercação com Aquiles, Agamêmnon
resolveu devolver a filha de Crises, mas, em compensação, mandou buscar a
cativa de Aquiles, Briseida. Aquiles irritado e como fora de si, porque
gravemente ofendido em sua
timé, em sua honra pessoal, coisa que um
herói grego prezava acima de tudo, retirou-se do combate. Zeus, a pedido de
Tétis, mãe do herói, consentiu em que os troianos saíssem vitoriosos, até que
se fizesse
condigna reparação a Aquiles. Para isso, Zeus enviou ao rei
um sonho enganador para o empenhar na luta, fazendo-o acreditar que poderia
tomar Tróia sem o concurso do filho de Tétis. Além do mais, um antigo oráculo
havia predito a Agamêmnon que a cidadela de Príamo cairia, quando houvesse uma
discórdia no acampamento dos Aqueus.
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Peter Paul Rubens - 1791 A Morte de Aquiles |
Sem Aquiles, o rei de Micenas interveio
pessoalmente no combate e muitos foram seus feitos gloriosos, mas os Aqueus, após
duas grandes batalhas, foram sempre repelidos. Diante de uma derrota iminente,
Agamêmnon, a conselho do prudente e sábio Nestor, dispôs-se a devolver Briseida
e comprometeu-se ainda a enviar presentes a Aquiles. Ájax e Ulisses foram
procurá-lo, mas o herói não aceitou a reconciliação. Face à audácia dos
Troianos, comandados por Heitor, que ousaram até mesmo chegar junto aos navios
gregos e incendiá-los, Aquiles permitiu que seu fraternal amigo Pátroclo se
revestisse de suas armas, mas somente para repelir os Troianos. Pátroclo foi
além dos limites, além do métron: quis escalar as muralhas de Tróia e
foi morto por Heitor. Somente a dor imensa pela morte do amigo e o desejo
alucinado de vingança fizeram o herói, após receber todos os desagravos por
parte do comandante dos Aqueus, voltar à cruenta refrega e não descansou
enquanto não matou Heitor. Assim, a partir do canto XVIII da Ilíada, a
figura de Agamêmnon se ofuscou diante dos lampejos do escudo e dos coriscos da
espada de Aquiles.
As epopeias posteriores ao século IX a. C.
enumeram outras gestas do rei de Micenas, após a morte de Heitor e Aquiles, e
suas intervenções na grave querela entre Ájax e Ulisses pela posse das armas do
maior dos heróis aqueus.
Na Odisseia se narra que, após a queda de
Tróia, Agamêmnon tomou como uma de suas cativas e amantes a filha de Príamo, a
profetisa Cassandra, que lhe deu dois gêmeos, Teledamo e Pélops. O retorno de
Tróada do chefe supremo dos Aqueus ensejou também outras narrativas épicas. Os Nóstoi,
ou poemas dos Retornos, contam que, no momento da partida, o eídolon,
a "imagem" de Aquiles apareceu ao esposo de Clitemnestra e
procurou retê-lo em Tróada, anunciando-lhe todas as desgraças futuras e
exigindo-lhe, ao mesmo tempo, o sacrifício de Políxena, uma das filhas de Príamo,
rei de Tróia, cuja esposa Hécuba fazia também parte, juntamente com Políxena,
do quinhão de Agamêmnon, como está na tragédia Hécuba de Eurípides.
Quando este chegou aos arredores de Micenas,
Egisto, que se tornara amante de Clitemnestra, fingindo uma reconciliação,
ofereceu ao primo um grande banquete e, com o auxílio de vinte homens,
dissimulados na sala do festim, matou a Agamêmnon e a todos os acompanhantes do
rei. Outras versões atestam que Clitemnestra participou do massacre e
pessoalmente eliminou a sua rival Cassandra.
Píndaro acrescenta que no ódio contra a raça do
esposo, a amante de Egisto quis também matar seu filho Orestes. Nos Trágicos,
as circunstâncias variam: ora Agamêmnon, como está em Homero, foi morto durante
o banquete, ora o foi durante o banho, no momento em que, embaraçado na
indumentária que lhe dera a esposa, e cujas mangas ela havia cosido, o rei não
pôde se defender.
Consoante Higino (século I a. C.), e suas
informações devem basear-se em fontes antigas, o instigador do crime foi Éax,
irmão de Palamedes, cuja lapidação havia sido ordenada por Agamêmnon. Éax teria
contado a Clitemnestra que o esposo pretendia substituí-la por Cassandra. Esta,
com afiada machadinha, assassinou não só o marido, quando o mesmo fazia um
sacrifício, mas igualmente a Cassandra.
Egisto, outro amaldiçoado, é, como já se
assinalou, filho de Tieste e da própria filha deste, Pelopia. Tieste, banido
pelo irmão Atreu, vivia longe de Micenas, em Sicione, e buscava com todas as
suas forças um meio de vingar-se de seu irmão, que lhe havia massacrado os
filhos. Um oráculo lhe anunciou que o vingador almejado só poderia ser um filho
que ele tivesse de sua própria filha. Certa noite, em que Pelopia celebrava um
sacrifício, Tieste a estuprou, 'mas a jovem conseguiu arrancar-lhe a espada e a
guardou. Sem o saber, Atreu se casou com a sobrinha e mandou procurar por
Sicione inteira a criança, que, ao nascer, Pelopia havia exposto.
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O menino foi encontrado entre pastores que o haviam recolhido e alimentado com
leite
de cabra, daí o nome de Egisto, em grego
Aígistos, uma vez
que
aíks, aigós é cabra. Aproveitemos o momento para um corte:
normalmente a criança exposta é salva e direta ou indiretamente alimentada por
um pássaro ou animal. Semíramis, a rainha da Babilônia, o foi por
pombas; Gilgamex,
por uma
águia; Ciro, por uma
cadela; Télefo, por uma
corça; Páris,
por uma
ursa; Rômulo e Remo, por uma
loba. .. Provas iniciáticas
desse tipo parecem ter por origem longínqua as denominadas
crenças
zoolátricas: prova-se que "o exposto" pertence ao clã, se o
animal do clã pode se aproximar dele, sem fazer-lhe mal. Trata-se, em todo
caso, de um duplo
ordálio (juízo de um deus): a criança sobrevive em
condições em que normalmente deveria perecer; é reconhecida por um animal do clã
e por meio dele ou diretamente pelo mesmo é alimentada. Ao sair dessa prova
dupla, o exposto está destinado a
"grandes feitos". Observe-se, portanto,
nesses ordálios menos um rito familiar que um rito político, capaz
de habilitar "o desconhecido" a ser recebido num grupo social que
normalmente o repeliria. As práticas acobertadas pelo mito da criança exposta
deviam se aplicar a pessoas que, de um modo ou de outro, eram intrusas, ou
ainda a homens que tinham que lutar para conquistar uma posição a que primitivamente
ou "aparentemente" não tinham direito algum.
Voltemos a Egisto. Criado como filho por Atreu,
este um pouco mais tarde mandou-o procurar Tieste, prendê-lo e trazê-lo à sua
presença.
Egisto cumpriu a missão e Atreu lhe ordenou que
matasse Tieste. Quando este viu a espada com que deveria ser assassinado, a
reconheceu de imediato. Perguntou a Egisto onde ele a obtivera. Respondeu-lhe o
jovem que tinha sido uma dádiva de sua mãe Pelopia. Tieste mandou chamar a
filha e lhe revelou o segredo do nascimento de Egisto. Tomando a espada,
Pelopia se traspassou com ela. Vendo a lâmina toda ensanguentada, Atreu se
rejubilou com "a morte do irmão". Egisto, então, de um só golpe, o
prostrou. Em seguida, Tieste e Egisto reinaram em Micenas. Tendo seduzido Clitemnestra,
com ela passou a viver. Após a morte de Agamêmnon, Egisto ainda reinou em
Micenas por sete anos, até que chegou o vingador...
Orestes, com todo o fardo das hamartíai de
dois génes, paterno e materno, já é conhecido desde as epopeias
homéricas como "o vingador de Agamêmnon", embora não se fale do
assassinato de Clitemnestra, praticado pelo filho. É só a partir de Esquilo e
sua Oréstia que Orestes se tornou uma figura de primeiro plano. O
primeiro episódio de sua vida situa-se na lenda troiana, quando, na primeira
expedição grega, a armada foi dar em Mísia, no reino de Télefo. Tendo
sido este ferido por Aquiles, não podia ser curado, segundo o oráculo, senão
pela lança do filho de Tétis. Algum tempo depois, quando da segunda tentativa
aquéia de navegar para a Tróada, Télefo foi ter a Áulis, em busca de cura, pois
ali estava acampado o exército grego. Preso como espião, Télefo agarrou o
pequeno Orestes e ameaçou matá-lo, se o maltratassem. Conseguiu, assim, ser
ouvido e obteve a cura.
Quando do regresso de Agamêmnon a Micenas e de seu
assassinato por Egisto e Clitemnestra, Orestes escapou do massacre graças à sua
irmã Electra, que o enviou clandestinamente para a Fócida, onde foi criado como
filho na corte de Estrófio, casado com Anaxíbia, irmã de Agamêmnon e pai de
Pílades. Explica-se, desse modo, a lendária amizade que uniu para sempre os
primos Orestes e Pílades. O mérito, todavia, da salvação de Orestes das mãos
sangrentas de Clitemnestra tem outras versões no mito: o menino teria escapado,
graças à presteza de sua ama, de seu preceptor ou sobretudo de um velho
servidor da família. Atingida a idade adulta, Orestes recebeu de Apoio, deus
essencialmente patriarcal, a ordem de vingar o pai, matando Egisto e sua
amante. Acompanhado de Pílades, Orestes chega a Argos e dirige-se ao túmulo de
Agamêmnon, onde consagra uma madeixa. Electra, que vem fazer libações sobre o
túmulo do pai, reconhece o sinal deixado pelo irmão e combina com o mesmo a
morte de Egisto e Clitemnestra. Claro está que variam bastante de um poeta
trágico para outro os sinais de reconhecimento entre os irmãos e os
estratagemas que se planejaram para o morticínio dos então reis de Micenas. Mas
tragédia é obra de arte!
Iniciando seu plano de vingança, Orestes se
apresenta como um viajante vindo da Fócida e encarregado por Estrófio de
anunciar a morte de Orestes e de saber se as cinzas do morto deveriam
permanecer em Cirra, sede do reino de Estrófio, ou ser transportadas para
Argos. Clitemnestra, livre do medo de ver seus crimes punidos, deu um grito de
júbilo e mandou, de imediato, avisar Egisto, que estava no campo. O rei
regressou pressuroso e foi o primeiro a tombar sob os golpes de Orestes.
Clitemnestra, com suas súplicas, conseguiu abalar o filho, mas Pílades
lembrou-lhe a ordem de Apoio e o caráter sagrado da vingança. Assassinando a
própria mãe, Orestes é, imediatamente, envolvido pelas Erínias, as vingadoras
do sangue parental derramado, segundo se mostrou páginas atrás, tema aliás
amplamente desenvolvido na análise que fizemos da tragédia grega.
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Orestes buscou asilo no omphalós ("umbigo",
pedra que marcava o centro do mundo), do Oráculo de Delfos, onde foi purificado
por Apoio. Essa purificação, no entanto, não o libertou das Erínias,
tornando-se necessário um julgamento regular, que se realizou numa pequena
colina de Atenas, mais tarde denominada Areópago, tribunal onde se julgavam os
crimes de sangue. Como o julgamento terminasse empatado, Atená, que presidia o
tribunal, deu seu voto, "Voto de Minerva", em favor do matricida.
Libertado "exteriormente" da perseguição
das Erínias, Orestes pediu a Apoio uma indicação do que deveria fazer a seguir.
A Pítia respondeu-lhe que, para se livrar em definitivo da mania, da
loucura, da "opressão interna" provocada pelo matricídio, deveria
dirigir-se a Táurida, na Ásia Menor, descobrir e apossar-se da estátua de
Ártemis. Acompanhado de Pílades, Orestes chegou a seu destino, mas foram ambos
aprisionados pelo rei Toas, que costumava sacrificar os estrangeiros à sua
deusa. Foram levados a Ifigênia, de quem se falará mais abaixo, a qual era a
sacerdotisa do templo e encarregada de sacrificar os adventícios. Interrogados
por Ifigênia a respeito de onde vinham e a que país pertenciam, a filha de
Agamêmnon descobriu logo de quem se tratava, pois Orestes era seu irmão.
Contou-lhe este por que motivo procurara a Táurida e qual a ordem que recebera
de Apoio. Disposta a facilitar o roubo da estátua de Ártemis, de que era
guardiã, Ifigênia planejou fugir com Orestes. Para tanto persuadiu o rei Toas
de que não se poderia sacrificar o estrangeiro, que fugira da pátria por ter
assassinado a própria mãe, sem primeiro purificá-lo, bem como a estátua da
deusa, nas águas do mar. O rei deu crédito à sacerdotisa, que se dirigiu para a
praia com Orestes, Pílades e a estátua de Ártemis. Sob o pretexto de que os
ritos eram secretos, distanciou-se dos guardas e fugiu com os dois e a estátua
no barco do irmão.
Desde menino, Orestes era noivo de Hermíona, filha
de Menelau e Helena, mas, em Tróia, Menelau prometera a filha a Neptólemo,
filho de Aquiles. No regresso de Táurida, Orestes foi para junto de Hermíona,
enquanto Neptólemo se encontrava em Delfos. Raptou a filha de Menelau e depois
matou-lhe o marido. Com ela teve um filho chamado Tisâmeno. Reinou em Argos e
depois também em Esparta, como sucessor de Menelau. Pouco tempo antes de sua
morte, uma grande peste devastou-lhe o reino.
Ifigênia, a filha mais velha de Agamêmnon e
Clitemnestra, como se viu, foi reclamada por Ártemis como vítima para que
cessasse a calmaria e a frota aquéia pudesse chegar a Tróada. No momento exato
em que ia ser sacrificada, Ártemis a substituiu por uma corça e, arrebatada,
Ifigênia foi transportada para Táurida, onde se tornou sacerdotisa de Ártemis.
O sacrifício do primogênito é um tema comum no
mito. Em todas as tradições encontra-se o símbolo do filho ou da filha
imolados, cujo exemplo mais conhecido é o "sacrifício" de Isaac por
Abraão. O sentido do sacrifício, todavia, pode ser desvirtuado: é o caso de
Agamêmnon, sacrificando Ifigênia, em que a obediência ao oráculo, por
intermédio de Calcas, dissimula, certamente, outras intenções, como a vaidade
pessoal e o desejo de vingança, camuflados sob o disfarce de "bem
comum".
O sacrifício de Abraão é inteiramente diferente.
Embora, de certa forma, Isaac fosse mais um filho de Deus que de Abraão, pois
que Sara o concebera já em idade avançada, por bondade de Deus, quando,
normalmente, não tinha mais possibilidade de fazê-lo, a exigência de Javé se
coloca em outra dimensão. Isaac foi concebido em função da fé: ele se tornou o
filho da promessa e da fé. Se bem que o sacrifício de Abraão se assemelhe a
todos os sacrifícios de recém-nascidos do mundo antigo, a diferença entre ambos
é total. Se nas culturas primitivas um tal sacrifício, não obstante seu caráter
religioso, era exclusivamente um hábito, um rito, cuja
significação se tornava perfeitamente inteligível, no caso de Abraão é um ato
de fé. O Patriarca não compreende por que um tal sacrifício lhe é
imposto, mas ele se dispõe a fazê-lo, porque o Senhor o exigiu. Por este ato,
aparentemente absurdo, Abraão inaugura uma nova experiência religiosa: a
substituição de gestos arquetípicos por uma religião implantada na fé.
Talvez valesse a pena repetir, a esse respeito, a
fórmula comovente de São Paulo:
contra spem in spem credidit, contra toda a esperança, ele
acreditou na esperança.. .
Voltando ao assunto. No mundo paleo-oriental, o
primeiro filho era, não raro, considerado como filho de deus. É que no
Oriente antigo as jovens tinham por norma passar uma noite no templo e
"conceber" do deus, representado, evidentemente, pelo sacerdote ou
por um seu enviado, o estrangeiro. Pelo sacrifício desse primeiro filho,
do primogênito, restituía-se à divindade aquilo que, de fato, lhe
pertencia. O sangue jovem restabelecia a energia esgotada do deus, porque as
divindades da vegetação e da fertilidade exauriam-se em seu esforço espermático
para assegurar a opulência do kósmos e manter-lhe o equilíbrio. Tinham
elas, pois, necessidade de se regenerarem periodicamente. Movendo-se numa
economia do sagrado, que será ultrapassada por Abraão e seus sucessores, os
sacrifícios no unindo antigo, para utilizar da expressão de Kierkegaard,
pertenciam ao geral, quer dizer, eram fundamentados em teofanias
arcaicas, cuja tônica era, tão-somente, a circulação da energia sagrada no kósmos:
da divindade para a natureza; da natureza para o homem e do homem, através
do sacrifício, novamente para a divindade, num ciclo ininterrupto.
Na época histórica esses sacrifícios reais foram
substituídos por uma "provação" como o de Isaac ou por um ato de
submissão, como o de Ifigênia, mas cuja execução não mais se consumava: Isaac
foi substituído por um carneiro e Ifigênia, por uma corça.
Trata-se, ao que tudo faz crer, de uma repressão
patriarcal: obtida a submissão, o ato se dá por cumprido e o opressor por
satisfeito.
Electra, a destemida irmã de Orestes, não é
mencionada nas epopeias homéricas. Nos poetas posteriores, sobretudo a partir
de Ésquilo, Electra substituiu de tal maneira a Laódice, que esta "filha
canônica" de Agamêmnon acabou por desaparecer do mito. Após o assassinato
do pai por Egisto e Clitemnestra, Electra, não fora a intervenção da mãe, teria
sido também eliminada pelo padrasto. Na realidade, por seu apego incondicional
ao pai Agamêmnon (o Complexo de Electra está aí para perpetuá-lo),
"a jovem indomável" odiava Egisto e não perdoava a Clitemnestra a
co-autoria no massacre de seu amado pai. Segundo algumas versões, salvou
de morte certa ao pequeno Orestes, confiando-o, em segredo, como já se viu, a
um velho preceptor, que o levou para longe de Micenas. Por tudo isto, era
tratada no palácio como escrava. Temendo que a enteada tivesse um filho, que,
um dia, pudesse vingar a morte de Agamêmnon, Egisto fê-la casar com um pobre camponês,
residente longe da cidade. O marido, todavia, respeitou-lhe a virgindade. Por
ocasião do retorno de Orestes, a jovem princesa trabalhou incansavelmente na
preparação da grande vingança e tomou parte ativa no duplo assassinato. Quando,
após a morte de Egisto e Clitemnestra, Orestes foi envolvido e
"enlouquecido" pelas Erínias, ela colocou-se a seu lado e cuidou do
irmão até o julgamento final no Areópago de Atenas. Na tragédia de Sófocles,
intitulada Aletes (que era filho de Egisto), hoje infelizmente perdida,
Electra figurava como personagem principal. Como Orestes e Pílades houvessem
partido para Táurida em busca da estátua de Ártemis, anunciou-se em Micenas que
ambos haviam perecido às mãos de Ifigênia. De imediato Aletes apossou-se do
trono de Micenas. Como louca, Electra partiu para Delfos e lá, encontrando
Ifigênia, que retornara com Orestes e Pílades, arrancou do altar de Apoio um
tição ardente e quase cegou a irmã, não fora a pronta intervenção de Orestes.
Voltando a Micenas com Orestes, cooperou mais uma vez com o irmão no
assassinato de Aletes.
Após as núpcias de Orestes com Hermíona, Electra
casou com Pílades. E a maldição dos Átridas continuou. . .
O ciclo da maldição dos Átridas serviu de banquete
trágico a nove grandes tragédias que chegaram até nós: de Ésquilo
(525-~456 a.C.): Oréstia (Agamêmnon, Coéforas, Eumênides); de Sófocles
(496 - ~ 405 a.C.): Electra; de Eurípides (~ 480-406): Electra,
Helena, Ifigênia em Áulis, Ifigênia em Táurida, Orestes.
É tempo de se voltar a Micenas. No capítulo
seguinte há de se abordar histórica e miticamente a última grande façanha de
Micenas, A Guerra de Troia, com o rapto da esposa de Menelau, Helena.
Depois, as trevas dóricas descerão sobre as ruínas da Hélade...