DESASSOSSEGOS... ANO NOVO, 2018...
Visitam-me já alguns desconfortos...
Meus temores maiores estão em perdê-los a todos...
Meu nome ainda retine pelas quebradas da encosta...
Na voz sibilante de minha mãe...
Os rochedos confrontes ainda respondem com o mesmo tom provocante e teimoso...
– Lui lui lui zi zi zi nho nho nho...
Onde estivesse, o eco me alcançaria...
Contava meus segredos para uma castanheira brava que me parecia confiável...
Descia o brejo...
Amava deixar-me acariciar pela cortina de águas gélidas que despencavam da montanha...
A cada quebrada da encosta, eram folhagens que me tocavam suavemente...
Por vezes, um acúleo escondido, rasgava minha pele macia...
O pior eram os seixos pontiagudos...
Os animais desciam antes do raiar do dia... desalojavam pontas afiadas...
Eu choramingava um pouco, como se me escutassem... fazia manha...
Agora... descendo de novo... as pernas bambas... nem penso no retorno...
Só quero revisitar o fundo...
De repente... por trás de um arbusto... vejo o barroso... aspa fina... enorme... olho mau...
A baba escorrente pelo beiço feio...
Tropeço... despenco... a aspa afiada corta meu ventre...
Um urro doido enche o ar...
– Vô... vôoo... vôooooo...
– A mãe estava aqui...
– Vô, tua mãe morreu...
– Morreu!!! Estava aqui agora...
Só temo perder o juízo... é tudo o que me resta do que fui...
– Vô, amanhã é Natal...
– Natal, o que é isso?
Quando o ano dois mil chegar... dizem que não vai precisar de motorista... Carro automático...
Todos na rua cantavam a chegada de 2018... Vai ser melhor do que esta desgraça de 2017...
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