quinta-feira, 28 de setembro de 2017

"A DAMA DE SHALOTT" - POEMA DO ESCRITOR ROMÂNTICO INGLÊS LORD ALFRED TENNYSON

“É neste mundo verdadeiro das coisas de mentira que se insere o relato da Dama de Shalott.”
Sandra Jatahy Pesavento

The Lady of Shalott  by Arthur Hughes


Tela de John William Waterhouse,  representando a tragédia de "The Lady of Shalott" (1888)

"A Dama de Shalott" ou "Lady Shalott" é o título de um magnífico texto poético do escritor romântico inglês Lord Alfred Tennyson. Neste poema, publicado em 1833 e reeditado em 1842, o autor aborda o drama de uma linda jovem que vive numa torre, na ilha de Shalott, situada num rio, de onde se podia ver o encantado palácio de Camelot, morada do legendário Rei Artur.

Pesava sobre ela uma terrível maldição: estava proibida de olhar para a cidade, sob a pena de cair imediatamente morta. Restava-lhe, assim, a opção de espiar o mundo exterior através de um espelho, passando a bordar tudo o que via sobre uma tela mágica. 
Um dia, através do espelho, viu o cavaleiro Lancelot, o campeão dos Cavaleiros da Távola Redonda. Perdidamente apaixonada por ele, esqueceu sua terrível maldição. Enamorada, sai da frente do espelho que se parte, entra em um pequeno barco que repousava sob um salgueiro e solta-o na correnteza. 
Ao passar pelo castelo, o povo e Lancelot olham para o rio e surpreendem a cena da jovem morta sobre o barco que desliza sobre as águas plácidas.
E Lancelot diz:
"Oh, que magnífica visão,
Que Deus, em sua magnífica misericórdia,
Conceda-lhe a paz,
Lady de Shalott."

LADY DE SHALOTT
Poema de Lord Alfred Tennyson

De ambos os lados do rio há
Grandes campos de cevada e de centeio 
Que cobrem a planície e alcançam o céu 
E em meio ao campo há uma estrada 
Para a Camelot de muitas torres 
As pessoas andam para cima e para baixo 
Contemplando os nenúfares que flutuam 
Há uma ilha mais abaixo 
A ilha de Shalott 

Salgueiros embranquecem, álamos tremem 
Ligeiras brisas, crepúsculo e calafrio 
As águas correm eternamente 
Pela ilha no rio 
Que desemboca em Camelot 
Quatro paredes cinzentas e quatro torres cinzentas 
Num espaço de flores 
A ilha silenciosa cobre com sombras 
Lady de Shalott 

Só há camponeses que trabalham cedo 
Por entre a cevada a ser ceifada 
Ecoa a suave canção alegremente 
Que vem do rio onde venta 
Até a elevada Camelot 
E ao luar o ceifeiro cansado 
Empilhando maços em grandes amontoados 
Escuta e sussurra "esta é a fada" 
Lady de Shalott 

Na torre ela tece dia e noite 
Uma teia mágica com cores vistosas 
Mas ouve um sussurro que diz 
Que a maldição cairá sobre ela se continuar 
Olhando para baixo, para Camelot 
Não sabe que a maldição é essa 
E assim tece continuamente 
E pouco cuidado tem ela 
Lady de Shalott 

Mirando-se num espelho cristalino 
Que fica à sua frente o ano todo 
Sombras do mundo aparecem 
Através do espelho ela vê a estrada 
Vê o vento soprar sobre Camelot 
E às vezes através do espelho 
Vê os cavaleiros trotarem aos pares 
Ela não tem cavaleiro leal e verdadeiro 
Lady de Shalott 

Mesmo tecendo ela contempla 
As mágicas visões do espelho 
Muitas vezes pelas noites silenciosas 
Vê um funeral com pompas e luzes 
E a música volta-se para Camelot 
E quando a Lua brilha no alto 
Dois jovens amantes enfim se casam 
"Estou meio farta de sombras" diz 
Lady de Shalott 

Vê da sua torre numa disparada 
Um cavalo entre os feixes de cevada 
O sol arde ofuscando as folhas 
E queima as canelas despudoradas 
Do ousado Sir Lancelot 
É um cavaleiro que eternamente se ajoelha 
Para uma senhora em seu escudo, 
Que brilha no campo dourado
Ao lado da remota Shalott 

Seus olhos claros brilharam à luz do sol 
Com cascos polidos seu cavalo de guerra trilhou 
Debaixo do elmo esvoaçavam da cor do carvão 
Seus cachos negros enquanto cavalgava 
À medida que ia para Camelot 
Na margem do rio 
Ele apareceu no espelho cristalino 
"Tirra lirra" 
Cantou Sir Lancelot 

Ela parou de tecer, largou o tear 
Deu três passos pelo quarto 
Viu o lírio na água florescer 
Viu o elmo e a plumagem 
E se voltou para Camelot 
Voou o tear flutuando ao longe 
O espelho se quebrou ao meio 
"A maldição caiu sobre mim" 
chorou Lady de Shalott

O tempestuoso vento leste uivava 
Os bosques amarelos empalideciam 
Nas margens do rio as ondas se revolviam 
Do céu desabou a chuva fortemente 
Sobre a dominada Camelot 
Ela desceu e encontrou um barco 
Debaixo de um flutuante salgueiro partido 
E na proa deixou escrito 
Lady de Shalott 

Descendo o extenso e turvo rio 
Como algum vidente em transe 
Vendo toda a sua miséria 
Com o rosto paralisado 
Ela olhou para Camelot 
E ao fim do dia 
Soltou as correntes e se deitou 
O amplo rio levou para longe 
Lady de Shalott 

Ouvindo um hino pesaroso, sagrado 
Muito alto cantou com voz humilde 
E o sangue começou a congelar 
Os seus olhos ficaram escuros 
Voltados para a elevada Camelot 
Antes que com a maré alcançasse 
A primeira casa da costa 
Ainda cantando morreu 
Lady de Shalott 

Sob a torre e a sacada 
Do muro do jardim e do balcão 
Qual vulto cintilante ela flutuou 
Pálida morta entre altas casas 
O silêncio pairou em Camelot 
Ao distante cais todos acorreram 
Cavaleiro e burguês, lorde e dama 
E em volta da proa o seu nome leram 

"Lady de Shalott"



Quem é esta? O que faz aqui? 
Ali perto ficava o palácio iluminado 
E nele cessou o som da real celebração 
Os bravos homens tiveram medo 
Todos os Cavaleiros de Camelot 
Mas Lancelot refletiu por um tempo 
E disse: "Oh, que magnífica visão!
Deus, em sua misericórdia, 
Conceda-lhe a paz,
Lady de Shalott!"


ORIGINAL INGLÊS DO POEMA

THE LADY OF SHALOTT

PART 1

On either side the river lie
Long fields of barley and of rye
That clothe the world and meet the sky
And thro’ the fields the road runs by
To many-tower’d Camelot
And up and down the people go
Gazing where the lilies blow
Round the island there below
The island of Shalott

Willows whiten, aspens quiver,
Little breezes dusk and shiver
Thro’ the wave that runs for ever
By the island in the river
Flowing down to Camelot
Four grey walls, and four grey towers,
Overlook a space of flowers
And the silent isle embowers
The Lady of Shalott

By the margin, willo-veil’d,
Slide the heavy barges trail’d
By show horses, and unhail’d
The shallop flitteth silken-sail’d
Skimming down to Camelot
But who hath seen her wave her hand?
Or at the casement seen her stand?
Or is she known in all the land,
The Lady of Shalott?

Only reapers, reaping early
In among the bearded barley,
Hear a song that echoes cheerly
From the river winding clearly
Down to tower’d Camelot
And byu the moon the reaper weary
Piling sheaves in uplands airy
Listening, whispers “Tis the fairy
Lady of Shalott”

PART 2

There she weaves by night and day
A magic web with colours gay
She has heard a whisper say
A curse is on her if she stay
To look down to Camelot
She knows not what the curse may be
And little other care hath she
The Lady of Shalott

And moving thro’ a mirror clear
That hangs before her all the year,
Shadows of the world appear
There she sees the highway near
Winding down to Camelot
There the river eddy whirls
And there the surly village-churls
And the red cloaks of market girls
Pass onward form Shalott

Sometimes a troop of damsels glad,
An abbot on an ambling pad,
Sometimes a curly shepherd-lad,
Or long.hair’d page in crimson clad
Goes by to tower’d Camelot
And sometimes thro’ the mirror blue
The knights come riding two and two:
She hath no loyal knight and true
The Lady of Shalott

But in her web she still delights
To weave the mirror’s magic sights
For often thro’ the silent nights
A funeral, with plumes and lights
And music, went to Camelot
Or when the moon was overhead
Came two young lovers lately wed;
“I am half sick of shadows”, said
The Lady of Shalott

PART 3

A bow-shot from her bower-eaves
He rode between the barley-sheaves
The sun came dazzling thro’ the leaves
And flamed upon the brazen greaves
Of bold Sir Lancelot
A red-cross knight for ever kneel’d
To a lady in his shield,
That sparkled on the yellow field
Beside remote Shalott

The gemmy bridle glitter’d free
Like to some Branco of Stara we see
Hung in the golden galaxy
The bridle bells rang merrily
As he rode down to Camelot
And from his blazon’d baldric slung
A mighty silver bugle hung,
As he rode his armour rang
Beside remote Shalott

All in the blue unclouded weather
Thick-jewell’d shone the saddle leather
The helmet and the helmet feather
Burn’d like one burning flame together
As he rode down to Camelot
As often thro’ the purple night
Below the starry clusters bright
Some bearded meteor, trailing light
Moves over still Shalott

His broad clear brow in sunlight glow’d;
On burnish’d hooves his war- horse trode;
From underneath his helmet flow’d
His coal -black curls as on he rode,
As he rode to Camelot
From the bank and from the river
He flash’d into the crystal mirror,
“Tirra-Lirra”, by the river “Tira-Lira,
San Sir Lancelot

She left the web, she left the loom,
She made three paces thro’ the room,
She saw the water-lily bloom
She saw the helmet and the plume,
She look’d down to Camelot
Out flew the web and floated wide;
The mirror crack’d from side to side;
“The curse is come upon me”, cried
The Lady of Shalott.

PART 4

In the stormy east-wind straining,
The pale yello woods were waning,
The broad stream in his banks complaining,
Heaily the low sky raining
Over tower’d Camelot
Down she came and found a boat
Beneath a willow left afloat
And round about the prow she wrote
“The Lady of Shalott”

And down the river’s dim expanse –
Like some bold seer in a trance
Seing all his own mischance-
a glassy countenance
Did she look to Camelot.
And at the closing of theday
She loosed thechain, and down shelay;
The broad stream bore her far away,
The Lady of Shalott

Lying, robed in snowy white –
That loosely flew to left and right –
The leaves upon her falling
the noises of the night
She floated down to Camelot
And as the boat-head wound along
The willowy hills and fields among,
They heard her singing her last song,
The Lady of Shalott

Heard a carol, mournful, holy,
Canted loudly, chanted lowly,
Till here blood was frozen slowly
And her eyes were darken’d wholly
Turn’d to tower’d Camelot
For ere she reach’d upon the tide
The first house by the water side
Singing in her song she died,
The Lady of Shalott

Under tower and balcony
By garden-wall and gallery
A gleaming shape she floated by
Dead pale between the house high
Silent into Camelot
Out upon the wharfs they came
Knight and burgher, lord and dame
And round the prow they read her name
“The Lady of Shalott”

Who is this? and What is here?
And in the lighted palace near
Died the sound of royal cheer;
And they cross’d thelselves from fear
All the knights at Camelot
But Lancelot nused a little space;
He said; “She has a lovely face;
God in his mercy send her grace,
The Lady of Shalott”.

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