Os Templários – História – (16)
Posted by Thoth3126 on 25/09/2016
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES GUERREIROS DE MANTOS BRANCOS COM CRUZES VERMELHAS
Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos:
Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros Templários apresentam particularidades estranhas.
Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.
Primeira Parte em:
ENIGMAS DO TEMPLO NO TERRENO
Para terminarmos esta exploração dos mistérios da Ordem dos Cavaleiros Templários, vamos visitar três locais que ficaram marcados pelo selo da Ordem. Iremos ao planalto de Larzac, onde ainda podemos visitar importantes vestígios que testemunham o poderio do Templo, e encontraremos lá um culto curioso pelo qual os Templários poderiam ter-se interessado. Depois, iremos a Arginy, no vale do rio Ródano, onde alguns investigadores esperam descobrir, um dia, o tesouro do Templo. Veremos que todas as pistas estão longe de ter sido exploradas a fundo, nesta região. Por fim, acabaremos em Gisors, cujo nome também está associado ao fabuloso (mas talvez lendário) tesouro dos Templários.
Castelo Templário de Arginy, no vale do rio Ródano, França
Ali, veremos que existiu efetivamente uma herança do Templo e que parece terem-nos sido deixadas mensagens cifradas, esculpidas na pedra por iniciados que tiveram conhecimento dessa herança. Três locais entre centenas de outros que poderíamos ter escolhido. Três sítios onde se sente uma presença, onde podemos, talvez melhor do que em qualquer outro lugar, compreender o que foi a Ordem dos Cavaleiros Templário. Três locais onde temos a impressão de que ela poderia renascer, de súbito, com toda a riqueza das suas diferentes facetas. Três pistas que nos iniciam no conhecimento, mesmo que possam deter-se, para nós, à entrada do subterrâneo, mesmo que nos deixem na orla dos mistérios do Templo. Depois, cada um que realize a sua própria busca.
OS MISTÉRIOS TEMPLÁRIOS DO LARZAC
O domínio sobre toda uma região
O planalto de Larzac, situado na junção dos departamentos de Aveyron e de Hérault, estende-se por cerca de 1000 quilômetros quadrados. É rodeado por verdadeiras falésias de rochedos, que o transformam numa ilha no meio das terras. Uma ilha de solo calcário onde o cultivo se faz sobretudo em pequenas planícies protegidas e nas colinas que permitem conservar a umidade suficiente. A aridez do planalto farnos-ia pensar numa região seca. Na verdade, chove frequentemente em Larzac, mas o solo calcário deixa passar essa água sem a reter. No entanto, não se perde porque jorra em abundância nos pequenos vales que rodeiam o planalto e onde os Templários souberam praticar uma cultura intensiva de cereais.
Foi em 1140 que os monges-soldados começaram a instalar-se na região, na sequência de uma doação do senhor de Luzençon. Parece que decidiram muito cedo pôr a mão em toda a região. Com efeito, aproveitando as dificuldades financeiras com que se debatia a abadia de Saint-Guilhem-le-Désert, compraram-lhe a igreja de Sainte-Eulalie du Cernon, em redor da qual viria a desenvolver-se a sua primeira implantação templária importante. Outras doações se seguiram, mas os Templários também não se coibiram de comprar, trocar e até forçar um pouco a barra daqueles que se recusavam a ceder-lhes as suas terras. Racionalizaram a exploração econômica da região, baseando a sua produção na criação de bovinos e, sobretudo, de ovinos e cavalos, bem como na cultura de cereais, nomeadamente da aveia necessária aos milhares de cavalos que, depois, eram enviados para a Palestina, nos navios do Templo.
O esforço de racionalização passou também pela deslocamento de populações que viviam no planalto. Disseminadas originalmente, foram reagrupadas pelos Templários, em alguns locais, pequenas cidades fortificadas que foram providas de defesas. Assim, os habitantes estavam melhor protegidos, menos vulneráveis do que quando as famílias se encontravam isoladas. Isso permitia também uma melhor distribuição das tarefas. No entanto, poderemos perguntar-nos se os Templários não procuraram reagrupar as pessoas em determinados locais a fim de se protegerem das indiscrições. Simples suposição, temos de confessá-lo. Depois da compra da igreja de Sainte-Eulalie, foi toda a cidade que lhes caiu nas mãos, na sequência de uma doação de Raymond Bérenger, conde de Barcelona e príncipe de Aragão. O documento afirmava:
“Em nome de Deus, eu, Raymond de Bérenger, tio do visconde de Millau, conde de Barcelona e, pela graça de Deus, príncipe de Aragão, para remissão dosmeus pecados e a salvação da alma de meu pai que foi cavaleiro e irmão da Santa Milícia do Templo de Salomão. Doo e concedo a Deus e a ti, irmão Élie de Montbrun, mestre em Rouergue, a cidade de Sainte-Eulalie e a região chamada Larzac situada no meu condado de Millau (ficando, no entanto, a salvo os bens dos diversos possuidores) e que vos seja permitido conservar essa região perpetuamente sob vossa jurisdição e nela alargardes os vossos domínios por compra ou doação ou qualquer outra forma e nela construirdes castelos-fortes e praças de guerra, e que ninguém tenha a ousadia de perturbar ou molestar os referidos irmãos ou o seu rebanho: se alguém ousar transgredir, incorrerá na cólera de Deus e na minha… Feito no ano da graça da Encarnação do Senhor de 1159.”
A história templária de Santa Eulalia começou em 1152, quando a Abadia (São Guilhem le Desert), assolada por dificuldades financeiras, vendeu a igreja de Sainte Eulalie aos Templários em Ste Eulalie du Cernon. A Ordem do Templo, então, recebe vários presentes, incluindo o de Raymond Berenger, rei de Aragão e herdeiro do visconde Millau, que deu à Ordem todas as suas posses na região, bem como a permissão para fortificação.
O documento dizia «ficando, no entanto, a salvo os bens dos diversos possuidores». É verdade, mas os Templários iriam fazer tudo para deles se apropriarem. As doações, por vezes longamente solicitadas, afluíram. Já em 1148, Amal du Monna cedera os seus direitos sobre a herdade de Caussenuéjols e, em 1150, haviam recebido de Bernard Escoda o «Viala du Pas-de-Jeux», que se apressaram a fortificar. Não iremos citar as múltiplas propriedades que lhes foram entregues assim. Digamos apenas que, em breve, dominavam o Larzac inteiro.
Estabeleceram, é claro, os seus centros mais importantes em Sainte-Eulalie, mas também em La Cavalerie e La Couvertoirade, onde a sua primeira propriedade lhes foi oferecida, em 1181, por Ricard de Montpaon. As três comendas foram fortificadas, o que não parece ter agradado ao conde de Toulouse, que compreendeu rapidamente que toda a região estava em vias de pertencer aos Templários e ser subtraída a qualquer outro poder que não fosse o deles. Em 1249, protestou e exigiu, sem o menor êxito, que as três fortalezas lhe fossem entregues. Os Templários também não abandonaram a sua política de apropriação total. O que não lhes davam, compravam, forçando por vezes os antigos proprietários, cercados pelas terras dos Templários, a vender.
Um poderoso senhor feudal das proximidades, o senhor de Roquefeuil, cujo castelo se erguia sobre o rochedo de Saint-Guiral a 1365 metros de altitude, possuidor de inúmeras terras na região, rebelou-se contra esta política de apropriação e decidiu resolver ele próprio o caso. Possuímos uma memória redigida pelo comendador do Templo de Sainte-Eulalie a propósito dos «atos de rapina e outros crimes cometidos por Monsenhor Arnal de Roquefeuil a expensas da comenda de Sainte Eulalie» e não são poucos: roubos de ovelhas que, por vezes, atingiam mil cabeças de uma vez só, de porcos, de cavalos. Roubos de armas e instrumentos diversos, de víveres, incêndios de casas. O conflito com a casa de Roquefeuil acabou por ser resolvido em 1258, por um acordo amigável.
Mas, em 13 de Julho de 1277, o conflito reacendeu-se e agravou-se porque o senhor de Roquefeuil conseguiu apoderar-se de Saint-Eulalie e pilhou a cidade. A política do Templo não era de molde a deixar felizes os senhores locais. Assim, tiveram também questiúnculas com os Jordains de Creissels, com a abadessa de Nonenques, o abade de Sylvanès, o de Saint-Guilhem, o conde de Rodez e até os habitantes de Millau. Estes últimos afirmavam ter o direito ab antiquo de levarem os seus rebanhos para o Larzac e de os abeberar nos charcos, de aí extraírem argila e de cortarem madeira e lenha nas florestas. Mas os Templários lembravam que, sendo proprietários exclusivos do Larzac por escrito público, não podiam tolerar qualquer servidão.
Vista de parte do Planalto (causse) de Larzac na França
A VISITA AO LOCAL: SAINTE-EULALIE-de-CERNON
Um dos interesses da visita a esta região reside precisamente na concentração de vestígios templários importantes, e no fato de o Larzac não ter mudado muito desde esses tempos. É bom começar passeando por Sainte-Eulalie-de-Cernon. Partindo de La Cavalerie, desce-se até lá por uma agradável estradinha sinuosa bordejada por buxos enormes e cobertos de folhas. Situada num plano inferior em relação ao planalto propriamente dito, a povoação domina uma parede rochosa que margina o Cemon. Conservou as suas muralhas e inúmeros vestígios. No entanto, o recinto murado, tal como podemos vê-lo hoje em dia, data dos Hospitalários que sucederam, no local, aos Templários.
De igual modo, a igreja deve muito às reconstruções de 1648, época em que, curiosamente, o seu sentido foi invertido, sendo rasgada uma porta na abside que dava para a praça. Antes, a entrada encontrava-se no lado oposto, isto é, mesmo no seio do castelo edificado pelos Templários. Embora tenha sofrido algumas modificações, o castelo conservou muitos elementos desse período. Entre os vestígios puramente templários, temos de citar também a «torre de Quarenta», situada no alinhamento da igreja, que servia de celeiro para o trigo, e a «torre Muda». O resto deve muito às remodelações realizadas pelos Hospitalários, no século XVI. O mistério essencial de Sainte-Eulalie-de-Cemon encontra-se, no entanto, a alguns quilômetros, ao longo de uma pequena estrada. Aí, erguem-se uma quinta e o local chama-se São Pedro. Mesmo ao lado da estrada, uma capela que remonta aos Templários.
Os habitantes da quinta, inconscientes, pelo menos assim esperamos, transformaram-na em garagem para o seu trator e reboques. Essa capela merecia ser restaurada. Para mais, de acordo com a sua situação, possui sem dúvida uma entrada subterrânea que conduzia à comenda de Sainte-Eulalie permitindo uma entrada (ou saída) discreta, ao abrigo de qualquer vigilância. Um dia, um Ministério da Cultura menos povoado por ignorantes convencidos numa procura perpétua de modernismo a qualquer preço talvez venha a tomar a medida sábia de proteger esse local e de fazer investigações que, sem dúvida, poderiam ensinar-nos mais sobre os segredos do Templo.
O VIALA-du-PAS-JEUX e LA CAVALERIE
O Viala-du-Pas-Jeux é uma quinta templária. No entanto, o imponente torreão-celeiro que ainda podemos admirar lá só foi construído perto de 1430. La Cavalerie, a igreja restaurada no século XVIII, conserva no seu interior alguns vestígios templários, mas tão escassos que mal se notam. O castelo dos monges-soldados também desapareceu e as torres, as muralhas, devem-se sobretudo aos Hospitalários. Mesmo assim, não é difícil imaginar a presença dos irmãos da Ordem que reinou sobre todo o Larzac e que vamos encontrar de novo em La Couvertoirade.
La Couvertoirade e o culto das cabeças cortadas
La Couvertoirade é, sem dúvida, o local mais fascinante do planalto do Larzac. Esta cidade fortificada atrai, no Verão, chusmas de turistas e essa não é, por certo, a melhor época para aspirarmos no ar o perfume do Templo. Penetra-se nela pela «porte d’abal» (porta de jusante) a que se opunha a «porte d’amont» (porta de montante), hoje em dia desaparecida. Podemos visitar algumas torres, percorrer o caminho de ronda que domina as muralhas, admirar as casas, remontando as mais belas ao Renascimento. Podemos ir ver também a igreja e o castelo. Ali, o sonho medieval não está muito deteriorado. Na verdade, na época dos Templários, a cidade ultrapassava largamente o perímetro atual, como provam as ruínas da igreja de Saint-Christol, situada a oitocentos metros a leste da povoação.
La Couvertoirade
Os Templários haviam construído primeiro um torreão trapezoidal, assente numa pequena eminência calcária junto da qual construíram a sua capela particular. A igreja que, atualmente, fica ao lado dos vestígios do castelo, data dos Hospitalários que também aqui fizeram obras importantes, no século XV. Um charco ocupava uma parte da povoação e garantia, assim, uma reserva de água. Perto da igreja foram colocadas reproduções moldadas, muito interessantes, retiradas de túmulos descobertos nessas paragens. Trata-se de cruzes discoidais que parecem datar do século XIII, logo, da época em que os Templários ocupavam este local. Aliás, podem observar-se cruzes templárias esculpidas. É bastante curioso encontrá-las ali porque a pátria de eleição deste tipo de pedras tumulares é sobretudo o País Basco.
Refiramos, no entanto, que existem também algumas muito interessantes na parte provençal dos Pirenéus, nas Corbières e no Roussillon. Especialmente em plena zona de influência do catarismo. É verdade que essas estrelas discoidais poderiam encontrar a sua origem na Bulgária e estar ligadas às doutrinas dos Bogomilos que propagaram precisamente as crenças que viriam a originar o catarismo. Deveremos, pois, ligar as cruzes discoidais do Larzac templário a essa heresia? Infelizmente, levantar a questão não é resolvê-la. De qualquer modo, não se trata por certo de pedras de demarcação, como alguns decidiram afirmar. Outro mistério: a cabeça com barba esculpida que se encontra na igreja. Na verdade, provém do castelo dos Templários e podia bem lembrar o baphomet. Este último leva-nos a referir outro local muito próximo. Situa-se a cerca de seis quilômetros em linha reta, a noroeste de La Couvertoirade, mesmo sob a linha de alta tensão que passa quinhentos metros a sul da estrada provincial nº 7.
Trata-se do «poço do medo». Existe lá um poço vertical com trinta e sete metros de profundidade que desemboca num entulho muito instável. Os que o exploraramdescobriram uma azinhaga de traçado tortuoso. Depois de um percurso extremamente perigoso, foram dar a uma sala onde os aguardava uma surpresa. Numa banqueta de pedra talhada pelo homem, encontravam-se alinhados sete crânios humanos. É difícil imaginar que se tenham corrido tantos riscos para instalar uma simples necrópole num local daqueles. Manifestamente, aqueles que organizaram aquela encenação atribuíam um interesse muito especial a esse local. Deveremos considerá-lo uma espécie de gruta iniciática onde seria praticado o culto das cabeças cortadas? Deveremos, uma vez mais, ver nisso a marca da Ordem do Templo? Isso lembra os sete crânios que são mostrados aos turistas em Gavarnie, nos Pirenéus.
Uma lenda afirma que se trata de templários mártires (o que não impede que sejam substituídos regularmente porque são roubados com frequência). Diz-se que, todos os anos, na data da abolição da Ordem, aparece uma figura armada que grita três vezes: «Quem defenderá o Santo Templo? Quem libertará o sepulcro do Senhor?» Então, as sete cabeças respondem em coro, três vezes: «Ninguém, ninguém, o Templo foi destruído!» Mas aqui os crânios alinhados esperavam apenas, em pleno território templário, os espeleólogos corajosos que haviam tentado a exploração. Ademais, os locais próximos do poço não deixam a menor dúvida sobre a presença de instalações templárias nas paragens. Essas cabeças cortadas e o seu culto só podem conduzir-nos à demanda do GRAAL e aos rituais que estavam associados a esta. Não esqueçamos que, nas primeiras versões, não era uma taça que se encontrava numa bandeja e representava o Graal, mas sim uma cabeça cortada.
À procura de Saint-Guiral
Quando, de La Couvertoirade, olhamos para nordeste, apercebemo-nos da linha montanhosa das Cevennes, uma espécie de fronteira natural cuja linha azulada parece impedir o acesso a um reino celeste. Era aí que os Roquefeuil tinham o seu castelo que, na verdade, se devia reduzir a uma torre, ou pouco mais. Era daí que desciam quando vinham roubar os rebanhos dos Templários, no Larzac, da montanha de Saint-Guiral. Um local espantoso que cristalizou, ao longo da História, um conjunto de crenças e ritos que têm milênios. Adrienne Durand-Tullou dedicou uma obra muito importante a esse pico pouco conhecido. Ele escreve:
“Desde os tempos pré-históricos, exerceu um verdadeiro fascínio sobre os homens que se fixaram, não só nas proximidades, mas também à beira do Mediterrâneo.”
O cume de Saint-Guiral apresenta alguns vestígios que atestam a permanência de um culto nesse local. O castelo em si mesmo apenas deixou algumas pedras que correspondem à base de uma torre e as ruínas da sua capela. Para além dos vestígios de uma muralha de grandes pedras, dos restos de mais duas capelas, de uma pequena construção em ruínas junto de um ponto de água e de degraus talhados na rocha, descobrimos, nesse cume, vestígios que datam da época Guiralcéltica ou pré-Céltica. Um antigo oppidum (n.T.:Oppidum é uma palavra latina que significa o estabelecimento principal em qualquer área administrativa da Roma antiga. A palavra é derivada do ob-pedum Latino, um “espaço fechado”, possivelmente a partir do * pedóm- proto-indo-europeu “, o espaço ocupado” ou “pegada”) rodeado de rochedos arranjados de forma a formarem um abrigo e um menir deitado no solo encontram-se ao lado das ruínas do eremitério.
O cume de Saint-Guiral
No entanto, o centro de atração dos peregrinos que passavam horas a subir a montanha era o «túmulo de Saint-Guiral». Com efeito, esse túmulo é formado por um bloco de granito que toma a forma de uma arca. Parece que deve tanto ao homem como à natureza, tendo aparentemente sido trabalhado. Foram gravados entalhes em enormes blocos de granito situados ao lado do «túmulo». Formam cadeiras, na tradição daquelas «cadeiras do diabo» por vezes ligada a antigos recintos megalíticos. Adrienne Durand-Tullou refere: “Uma espécie de terraço escavado na parede, completado por um murete que forma degraus de escada permite que se transponha uma passagem e chegar à base da plataforma.
Verificamos então que os enormes blocos de granito que se encontram no local permitiram a realização de um sistema de defesa titânico, por junção de outros blocos cuja deslocação e disposição devem ter levantado problemas. Panos de muralha enormes, esconderijos escavados nas paredes remontam a uma época longínqua, talvez proto-histórica.” Isto poderia ser corroborado pelo culto taurino que acompanha esse santo. Para proteger os rebanhos das doenças, levavam-se os bovinos a Saint-Guiral. Depois de terem subido à montanha, obrigavam-nos a fazer o périplo do rochedo do cume. Geralmente, um dos mais belos animais, «amiúde um preto», «ficava no local». Nunca mais o voltavam a ver.
Isto equivale a dizer que se realizava o sacrifício de um bovino, sinal de um culto antigo que se parece muito com o que encontramos em Carnac, perto de Saint-Cornely. Um local singular a que se pode aceder por percursos de grande extensão. São fáceis de localizar graças ao mapa 1/25000 do I. G. N. nº 2641 leste. O melhor é, sem dúvida, aproximarmo-nos vindos pelo desfiladeiro de Homme-Mort, onde se encontra uma rocha com cúpulas. Uma toponímia muito interessante lembrará sem dúvida alguma coisa aos que se apaixonam pelos mistérios do solo de França. Para além desse desfiladeiro do Homme-Mort, não é que descobrimos, muito perto, um Blanquefort e até, mesmo ao lado do Saint-Guiral, o monte das Trois Quilles?
Antes de vermos mais de perto quem era o santo ermita cujo nome é ostentado por este local sagrado, interessemo-nos, durante alguns instantes, pela família que tinha o seu castelo nesta eminência. São curiosos estes Roquefeuil, cujas origens alguns situam nos Pirenéus, uma região cátara. A 21 de Fevereiro de 1002, foi redigido um codicilo ao testamento de Henri, visconde de Creissel e barão de Roquefeuil. Por esse ato, decidia fundar, a expensas suas, um hospital de pobres na montanha de l’Espérou. Para tal, legava, entre outros, os rendimentos de um território chamado «de felicidade». Ora, a carta 59 do cartulário de Notre-Dame-de-Bonheur referia, em 1145, a denominação de monasterium Boni-Hominis, o mosteiro dos homens bons. O termo homens bons era também o aplicado aos perfeitos cátaros, nos Pirenéus. Pura coincidência? Curiosos, estes Roquefeuil e o seu culto a Saint-Guiral que teria feito parte da sua família.
De fato, será que esse santo misterioso existiu? Por certo que não. De qualquer modo, não encontramos o menor vestígio em parte alguma. Totalmente ausente do martirológio romano. A Igreja considera que nunca existiu o que, aliás, nunca impediu o clero local de enquadrar o culto local. Adrienne Durand-Tullou considera que o nome Guiral é a corruptela do de Saint-Géraudd’Aurillac, o que justificaria não se encontrar registado sob o nome de Guiral. Alguns exemplos recolhidos em Corrèze e no Contal pareceriam poder dar-lhe razão se Guiral tivesse a mesma história que Géraud, mas o seu culto parece específico. Logo, vamos correr o risco de avançar uma outra hipótese e, para tal, começaremos por fazer uma breve passagem pela Bretanha.
Em Langon, em Illeet-Vilaine, existe uma capela designada, em 838, pelo nome de Ecclesia sancti Veneris. Aí, venerava-se Saint-Vénier, personagem de que seria muito difícil encontrar vestígios. Ora, em 1839, ao limpar a têmpera que cobria a abóbada de dupla curvatura da abside, descobriu-se, por debaixo, um afresco. Nele via-se uma mulher nua a sair das águas e a pentear os cabelos, acompanhada por peixes e por Eros montado num golfinho. Tratava-se de Vênus-Afrodite, adorada naquele local na época romana, e o nome Vénier apenas se limitara a ocultar o da deusa cujo culto haviam feito desaparecer pouco a pouco, fazendo passar as populações do paganismo para o catolicismo de Roma. Deixemos aí a deusa do amor e voltemos a Guiral.
O seu nome também poderia cobrir outro culto. Suponhamos que também ele não passe de um disfarce, não poderíamos ver em Saint-Guiral um saint G(ui)RAL? Hipótese audaciosa? Talvez! Um quadro representa o santo, na igreja de Arrigas. Dois anjos parecem velar pelo monge ocupado a ler um livro enquanto, a seus pés, um crânio parece contemplá-lo. O crânio é um motivo representado amiúde para lembrar que tudo não passa de vaidade mas, no entanto, lembremo-nos das cabeças cortadas do poço do medo. Pensemos na assimilação do crânio e da taça nos velhos cultos célticos. Pensemos também que a peregrinação a Saint-Guiral era realizada na segunda-feira de Pentecostes, dia da descida do Espírito Santo à Terra. Teremos de ver nesta ermida o culto do GRAAL? Uma lenda chamada dos Três Ermitas está ligada ao Saint-Guiral.
Três irmãos da família Roquefeuil estavam apaixonados pela mesma rapariga. Ela decidiu que deveriam partir para a cruzada e disse que, quando do regresso, casaria com aquele que se tivesse mostrado mais valoroso. Partiram, mas a donzela nunca mais os viu voltar nem teve notícias deles. Julgou que todos três haviam morrido e ela própria morreu de desgosto. Os três irmãos, regressados da Terra Santa, chegaram mesmo a tempo de se cruzarem com o cortejo fúnebre. Então, decidiram fazer-se ermitas. Segundo uma versão desta lenda, os três irmãos Roquefeuil chamavam-se Alban, Guiral e Sulpice e a bela tinha o nome de Berthe de Cantobre.
Ora, Cantobre (que pode traduzir-se por: que obra!) situa-se na plataforma rochosa que domina, do alto de uma centena de metros, a confluência entre o Dourbie e do Trévezel. Um Trèvezel que nos lembra muito o Trévizent da demanda do Graal. Detenhamo-nos um pouco neste Sulpice, que se afirma ter vivido junto de Guiral. Tinha fama de ser o «Senhor das Águas». A abadia de Nant alberga as suas relíquias na capela de Saint-Roch. Estão encerradas num cofre muito antigo que tem a forma de uma arca. Todos os anos, esse santo era festejado a 17 de Janeiro, quando de uma cerimônia que se desenrolava na «capela de Caux».
Ligam-se também Guiral e Sulpice ao Saint-Clair cuja capela domina a cidade de Sète. Esse santo, cuja cabeça foi cortada, era especialmente querido daquela família Sinclair de que falamos no capítulo anterior e que, recolheu, sem dúvida, uma parte da herança escocesa do Templo. É verdade que tudo isso pode não passar de coincidência. Ainda por cima, a montanha de Saint-Guiral não fazia parte das terras do Templo. Mas podemos perguntar-nos se os Templários e Roquefeuil não caçariam nos mesmos territórios espirituais, o que poderia explicar a teimosia dos Roquefeuil em não permitirem que os Templários se apoderassem de todo o Larzac. Os senhores do Saint-Guiral também se interessariam pelo poço do medo?
Todos poderão meditar neste ponto ao visitarem La Couvertoirade e observarem um brasão esculpido numa casa particular da pequena cidade fortificada. Para além das estrelas de cinco pontas, vê-se nele um leão (lembrando aquele que figura nas armas dos Roquefeuil) sobrepujado por uma palmeira onde estão pousadas duas pegas (gralhas, como se diz no Languedoque). Essas armas são de Jean-Antoine de Grailhe. A História apresenta coincidências que mereciam pesquisas aprofundadas. Com efeito, seria interessante saber se o culto das cabeças cortadas do poço do medo tem alguma relação com o saint-g(ui)ral e o seu crânio, e se a família de Gra(i)l(he) está ligada a esta estranha aventura.
Mais informações sobre os Templários:
Permitida a reprodução desde que mantida a formatação original e mencione as fontes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário