Os Templários – História – (15)
Posted by Thoth3126 on 18/09/2016
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES GUERREIROS DE MANTOS BRANCOS COM CRUZES VERMELHAS
Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos:
Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros Templários apresentam particularidades estranhas.
Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.
Primeira Parte em:
OS HERDEIROS DO TEMPLO
A FEIRA DE ADELO
Quem, nos nossos dias, pode reclamar legitimamente a herança espiritual da Ordem dos Cavaleiros Templários? Existe um único organismo que possa afirmar que detém os arquivos reais da Ordem, que conhece todos os seus ritos secretos e possui as chaves dos seus mistérios? Talvez, mas não o diz. No entanto, existem outros que fazem tudo para que se acredite nisso. Em 1981, a Cúria Romana realizou um recenseamento dos grupos ou associações que se reclamavam, de uma forma ou de outra, serem frutos da Ordem do Templo. Encontrou mais de quatrocentos.
A maior parte não passa de organizações charlatanescas destinadas a explorar a credulidade dos «patos», de preferência endinheirados, dispostos a pagar muito caro para respirarem mais de perto o odor do Templo. Estas pretensas ressurgências da Ordem dos Cavaleiros Templários vendem iniciações aos “patos e gansos”, concedem-lhes títulos majestosos e cevam-nos com fitas, capas com cruzes, cordões e medalhas em troca de metal sonante. Os comerciantes tomaram de assalto os pseudo-templos. Algumas dessas associações têm uma atitude mais honesta. Os seus dirigentes procuram apenas recuperar aquilo que julgam ser o espírito do Templo. Alguns por certo se julgam investidos realmente de uma missão.
Outros esperam ou julgam se comunicar com os anjos da Ordem, através dos tempos. Charlatães ou pessoas sinceras, de qualquer modo, proliferam, e os seus grupos assumem, geralmente, nomes sonantes e anunciam finalidades por vezes curiosas. Assim, os «Cavaleiros da Aliança Templária» lutam contra a violência, as drogas e a decadência moral. A «Fraternidade Joanita para o Ressurgimento Templário» ou «Ordem dos Cavaleiros do Templo de Cristo e de Nossa Senhora» baseia o seu ensinamento no modelo alquímico. A «Ordem dos Cavaleiros do Santo Templo», sediada em Corrèze, tem também um objetivo moral e procura desenvolver as virtudes com um otimismo que a sua divisa confirma: «Nada está perdido, tudo pode ser salvo.» Outras são mais discretas nos seus objetivos.
Citaremos apenas as denominações, sem mais comentários sobre todos esses grupos, por vezes “muito veneráveis”, mas que por certo teriam grande dificuldade em demonstrar a sua filiação templária. Refiramos, pois, dada a curiosidade do título a «Ordinis Supremi Militaris Templi Hierosolymitani», a «Ordem Suprema do Templo Solar», a «Ordo Militiae Crucis Templi», os «Tempelherren in Deutschland», a «Ordem dos Templários da República da Finlândia», o «Círculo do Templo e do Santo Graal», a «Ordem dos Guardiões do Templo», o «Jacob-Molay-Collegium Autonomer Tempelherren Orden», a «Ordem Renovada do Templo», etc, etc, etc….
Temos sonhadores, iluminados, pesquisadores sinceros, vigaristas e tansos, muitos patos, que povoam, em simultâneo, a maior parte desses organismos. No entanto, não é pela maior parte dos que se reclamam da Ordem do Templo não poder justificar qualquer filiação que não existe uma herança do Templo. Procuremos, pois, ver quais são os vestígios mais fiáveis que se terá podido deixar.
REALIDADE DE UMA HERANÇA TEMPLÁRIA
Para que haja herança é necessário que tenha havido possibilidade de transmissão. Ora, essa possibilidade é incontestável, devido a todo um conjunto de razões. Em primeiro lugar, lembremo-lo, a operação levada a cabo na França não provocou uma detenção maciça e imediata nos outros países da Europa. Já podemos afirmar que, devidamente prevenidos, os Templários residentes fora de França tiveram tempo de sobra para tomar as suas disposições para transmitirem aquilo que deveria ser transmitido. Ademais, em determinados países, não foram incomodados sequer e passaram, com armas e bagagens, para outras ordens criadas especialmente para eles.
Poderíamos dizer que esses tiveram de assumir a sua própria herança. Mesmo em França, nem todos os Templários foram presos, alguns escaparam. Também eles puderam, por vezes, ser os fatores de transmissão. Eis já três boas razões para afirmarmos que os Templários não morreram com a supressão teórica da Ordem NA França. Diga-se de passagem que isso é incômodo para aqueles que guardam um gigantesco tesouro templário, escondido algures. Com efeito, se a Ordem conseguiu sobreviver, de uma forma ou de outra, os seus dirigentes deviam pelo menos conhecer o segredo do esconderijo.
Então, podem vir-nos ao espírito duas possibilidades. Ou o tesouro foi recuperado e utilizado para este ou aquele fim; ou então, que o que dele resta, aquilo que constitui o seu valor, material ou espiritual, continua escondido mas, nesse caso, deve ter sido vigiado (e administrado) ao longo dos séculos. De qualquer modo, a sua acessibilidade é duvidosa. Por outro lado, há uma quarta razão para acreditarmos na transmissão de uma herança: com efeito, é verosímil que os dignitários da Ordem tenham sido prevenidos com antecedência do golpe do rei Filipe, o Belo. A nível local, alguns funcionários reais preveniram discretamente os membros da sua família que pertenciam ao Templo. Seria espantoso que nenhum dos cavaleiros que foram advertidos não tivesse transmitido a informação.
Aliás, nos dias que precederam a detenção dos Templários, o Grão Mestre Jacques de Molay teria mandado que lhe trouxessem um grande número de livros da Ordem e tê-los-ia queimado. Não esqueçamos também que a crise estava latente e que, pouco tempo antes, quase haviam conseguido obrigar os Templários e os Hospitalários a fundirem-se. O escritor Baigent refere que um «cavaleiro que se retirou do Templo, por esta época, soube pelo tesoureiro da ordem que sair era extremamente prudente, porque estava iminente uma crise». Isto poderia explicar porque tenham sido confiscadas tão poucas coisas de valor nas comendas templárias, depois da detenção. De qualquer modo, as razões para acreditarmos na possibilidade de uma transmissão são múltiplas. Convém, agora, seguirmos as suas pistas.
OS HERDEIROS OFICIAIS
O primeiro a ser referido é, evidentemente, a Ordem dos Hospitalários de São João de Jerusalém que, em seguida, viria a converter-se em Ordem de Malta. Foi ela que recebeu oficialmente os bens do Templo, na França, isto é, aqueles de que o rei Filipe, o Belo, não tinha se apoderado. A maior parte das capelas ou comendas templárias que ainda hoje podemos ver passaram para as suas mãos e, aliás, muitas vezes as renovaram extensamente. Dado isto, seria muito espantoso que tivessem recolhido também a herança espiritual e os diversos segredos do Templo.
Outros candidatos a herdeiros oficiais: as ordens da Península Ibérica. Em Portugal, os Templários não foram perseguidos e o rei D. Dinis, o Lavrador, enviou ao papa João XXII, sucessor de Clemente V, dois emissários para negociarem manutenção da Ordem dos Cavaleiros Templários. Obteve ganho de causa e a Ordem ressuscitou ou, pelo menos, os Templários puderam entrar para uma nova ordem criada para eles, a Ordem dos cavaleiros de Cristo. Recuperaram todos os seus bens e, daí em diante, obedeceram à mesma regra monástica que os cavaleiros da Ordem de Calatrava. Continuaram a usar o manto branco com uma cruz vermelha. No entanto, uma pequena cruz branca vinha inscrever-se no coração da do Templo, sem dúvida para dar a entender que este “renascia purificado”.
Os antigos dignitários do Templo conservaram a sua posição na Ordem assim reconstituída. O primeiro Grão-Mestre desta Ordem renovada, Gil Martins, foi investido a 15 de Março de 1319. Retomaram a luta contra os Mouros e, nessa atividade, conquistaram importantes territórios na África. Em breve dominaram as águas de Portugal e até mais além. Não esqueçamos que foi sob o seu pavilhão (n.T. e muito mais importante do que qualquer símbolo ou bandeira, foi através do CONHECIMENTO das terras à oeste e da engenharia náutica), que D. Henrique, o Navegador, iniciou os descobrimentos.
Acima: O Porto de La Rochele, construído e controlado pelos Templários, durante décadas, uma porta aberta para o Oceano Atlântico e “novas terras (das quais eles tinham o conhecimento da EXISTÊNCIA, as Américas) onde existia PRATA em abundância.
Na Espanha, o rei Jaime II de Aragão realizou uma operação semelhante com a criação da Ordem de Montesa. Alguns Templários não tinham esperado e já se haviam juntado às ordens de Calatrava, Alcântara e Santiago de Espada. Na Alemanha, os Templários fundiram-se geralmente na Ordem dos Cavaleiros Teutônicos. Na Itália, laicizaram-se nas fraternidades da sede Santa à qual parece ter aderido, mais tarde, Dante Alighieri. No meio deste ramalhete, as mais interessantes são, sem a menor dúvida, as ordens dos cavaleiros de Cristo e de Montesa. Com efeito, constituíram entidades completas que acolhiam, ao mesmo tempo, os irmãos e os bens do Templo, incluindo um bom número de refugiados que haviam atravessado os Pirenéus.
Entre todos esses homens, havia dignitários que deveriam conhecer uma boa parte dos grandes segredos do Templo. Alguns destes foram, sem dúvida, escondidos na arquitetura misteriosa da fortaleza de TOMAR, em Portugal. De qualquer modo, é notável que essas ordens tenham assumido o domínio dos mares com a construção de poderosas frotas navais e que as suas armas tenham enfeitado os navios que partiram, nomeadamente, à conquista do Novo Mundo. Essa viagem (para o REDESCOBRIMENTO) às Américas faria parte da herança do Templo? Por outro lado, é surpreendente verificarmos que os herdeiros «oficiais» do Templo não parecem ter veiculado, por sua iniciativa, ritos que poderiam ser alvo de suspeitas de heresia. Elementar prudência, talvez, ou então ausência de domínio desses ritos. Isso reforça em nós a convicção de que os rituais seguidos pelos Templários já não eram compreendidos por estes, no último período da Ordem.
OS TEMPLÁRIOS DE NAPOLEÃO
O imperador, para além dos vínculos particulares que possa ter tido com sociedades secretas, compreendera perfeitamente quão perigoso seria não ter em conta o jogo a que elas poderiam entregar-se. Tomara a precaução de mandar colocar o seu próprio irmão à frente da franco-maçonaria francesa e a maior parte dos seus generais aderir a ela. [Nota: Ele próprio fora iniciado como maçom, em Nápoles, quando da expedição ao Egito.] Mas facilitou também a ação de uma ordem que se dizia única herdeira legítima dos Templários. Assim, autorizou pessoalmente o doutor-pedicuro Bernard Fabré-Palaprat a organizar uma cerimônia solene, em 1808, na igreja de Saint-Paul-Saint-Antoine, em memória de Jacques de Molay.
Fabré-Palaprat afirmava que a sua ordem era a única que podia dizer que descendia legitimamente e em linha direta dos Templários. Baseava-se num documento de transmissão datado de 1324. O abade Gregório afirmava tê-lo tido em mãos e outros privilegiados haviam-no visto. Seria obra de um tal Jean-Marie Larménius que teria sucedido, na clandestinidade, a Jacques de Molay. Daí em diante, cada um dos Grão-Mestres que se tinham sucedido, na sombra, na chefia da Ordem, até à sua nova revelação no século XIX, ter-lhe-ia aposto a sua assinatura. A lista integrava nomes ilustres: Bertrand du Guesclin, Jean d’Armagnac, Robert de Lenoncourt, Henry de Montmorency, Filipe, duque de Orleães, Louis Henri de Bourbon, príncipe de Condé, Louis-Henri Timoléon de Cossé-Brissac, entre outros.
Uma tese bastante bem fundada afirmava que esse documento era falso (É FALSO) e fora elaborado no século XVIII, pelo jesuíta Bormani, a pedido de Filipe de Orleães. Nesse caso, Fabré-Palaprat poderia muito bem ser sincero ao julgar-se depositário do Templo. Aliás, monsenhor Ivan Drouet de La Thibauderie d’Erlon escrevia, em 1762: “De qualquer modo, é conhecido que o duque de Orleães foi eleito Grão Mestre dos Templários que se reuniram a 11 de Abril de 1705, em Versalhes, e que, a partir dessa data, podemos acompanhar a existência de uma fraternidade cavalheiresca, muito próxima dos movimentos iniciáticos e iluministas com os quais teve relações certas, embora descontínuadas.”
Na verdade, é difícil pronunciarmo-nos sobre este documento, cujo caráter apócrifo, como aliás a sua autenticidade, nunca foi claramente demonstrado. Fabré-Palaprat, nascido a 29 de Maio de 1775, em Cordes, no Tarn, fora seminarista em Cahors e, em seguida, ordenado padre. Mas em breve abandonara a sotaina para se casar e se estabelecer como médico em Paris, em 1798. Não parece ter-se comportado como vigarista e, pelo contrário, teria acreditado na sua missão. Infelizmente, essa sinceridade não bastou para provar a filiação que é reivindicada pela sua Ordem Soberana e Militar do Templo de Jerusalém, que ainda existe.
Essa ordem desenvolveu-se e internacionalizou-se. Abriu lojas, não só em Paris, mas também em Londres, Roma, Nápoles, Hamburgo, Lisboa, etc. O almirante Sidney Smith, vencedor de Bonaparte em São João de Acre, quando se fixou em Paris, em 1814, pertenceu a ela. Mandou inclusive que o enterrassem no PèreLachaise envolto no manto branco com a cruz vermelha da Ordem. Embora esta filiação nos pareça suspeita, não nos pronunciaremos sobre o assunto. Notamos apenas que se houve herança por esta via, não compreendia certamente os segredos da Ordem, ou então foram muitíssimo bem guardados e não utilizados. Teria sido mesmo por vontade do próprio Jacques de Molay que a Ordem se teria estabelecido assim na clandestinidade. Esta vontade é também invocada por outra tradição.
OS BEAUJEU E O OURO DO TEMPLO
Segundo um documento que pode datar-se aproximadamente de 1745: “Os Templários que escaparam ao suplício abandonaram os seus bens e dispersaram-se, uns refugiaram-se na Escócia, outros retiraram-se para locais afastados e escondidos onde levaram uma vida de ermitas.” O mesmo texto afirma que Jacques de Molay, inquieto com a direção que os acontecimentos estavam tomando, na sequência das prisões, pensou em confiar uma missão a um homem de confiança. Alguns dias antes do seu suplício, teria, pois, mandado chamar o conde François de Beaujeu e ter-lhe-ia pedido que fosse aos túmulos dos Grão-Mestres. Aí, debaixo de um dos caixões, encontrava-se um cofre de cristal de forma triangular montado em prata. O jovem tinha a missão de se apoderar dele e de o trazer com urgência a Jacques de Molay, o que fez.
O GrãoMestre, agora certo de que poderia confiar nele, tê-lo-ia iniciado nos mistérios da Ordem, ordenando-lhe que a fizesse reviver e continuasse a sua obra. Teria revelado também que o cofre continha o indicador da mão direita de… São João Baptista. Depois, ter-lhe-ia entregue três chaves e revelado que o caixão sob o qual se encontrava escondido o cofre guardava uma caixa de prata bem como os anais e os segredos codificados da Ordem, sem esquecer a coroa dos reis de Jerusalém, o candelabro dos sete braços e os quatro evangelistas de ouro que ornamentavam o Santo Sepulcro. Esse sepulcro era precisamente o do Grão-Mestre precedente: Guillaume de Beaujeu.
Jacques de Molay teria confiado também ao seu jovem protegido que as duas colunas que ornavam o coro do Templo (algo que nos lembra Salomão), à entrada do túmulo dos Grão-Mestres, eram ocas. Os seus capitéis desmontavam-se e podiam assim retirar-se as colossais riquezas que aí haviam acumulado. Jacques de Molay fez jurar ao conde de Beaujeu que recolheria tudo e o conservaria para a Ordem, até ao fim do mundo. O conde certificou-se da fidelidade de nove cavaleiros que tinham conseguido escapar aos esbirros de Filipe, o Belo. Todos misturaram o seu sangue e fizeram o voto de «propagar a Ordem no globo até se encontrarem nove Arquitetos perfeitos».
Depois, o conde foi pedir ao rei autorização para retirar do túmulo dos Grão-Mestres o caixão do seu tio paterno, Guillaume de Beaujeu. Foi lhe concedida a permissão e, então, retirou o caixão e o seu muito precioso conteúdo. Aproveitou para recuperar o conteúdo das colunas e, por certo, mandou transportar tudo para Chipre. Em seguida, o conde de Beaujeu restabeleceu a Ordem mas instituiu novos ritos utilizando o emblema do Templo de Salomão e os «hieróglifos que com ele se relacionam». Após a morte do conde de Beaujeu, o testemunho fora recebido por d’Aumont, um dos Templários que se haviam refugiado na Escócia. De então para cá a Ordem nunca mais teria deixado de existir.
A FIEIRA ESCOCESA
No entanto, outra tradição faz de d’Aumont o sucessor direto de Jacques de Molay, sem passar pelo conde de Beaujeu. D’Aumont, mestre templário para a região de Auvergne, teria fugido na companhia de dois comendadores e cinco cavaleiros, disfarçados de pedreiros. A pequena hoste teria conseguido chegar à Escócia e refugiar-se numa ilha. Teriam contatado o comendador George de Harris e decidido com ele manter a Ordem. No dia de São João de 1313, quando de um capítulo extraordinário, d’Aumont teria sido nomeado Grão-Mestre da Ordem. O Templo teria então ocultado os seus rituais por detrás dos símbolos que mais tarde seriam usados pela maçonaria e os seus membros ter-se-iam feito passar por «pedreiros-livres».
A partir de 1361, a sede da Ordem teria sido fixada em Aberdeen e, depois, teria emigrado de novo, agora sob o véu da maçonaria, para quase toda a Europa. A tese de uma origem templária para a maçonaria era cara ao baronete escocês Andrew-Mitchell Ramsay que, no século XVIII, procurava raízes prestigiosas para a franco-maçonaria. Na mesma ocasião, na reunião de delegados chamada de Clerinont, foram instituídos os graus de «maçons-templários». O barão de Hund, que participou nele, parece estar na origem da história do cavaleiro d’Aumont. Esta legenda fez carreira, sobretudo na Alemanha, onde as sociedades secretas pululavam literalmente.
Munido de uma carta de mercês assinada por Charles-Edward Stuart, o barão de Hund fez com que lhe concedessem o título de Grão-Mestre dos Templários, o que não deixou de levantar algumas contestações no mundo maçônico. De qualquer modo, foi assim que o barão de Hund criou a ordem da estrita observância templária, cujo ritual ainda é utilizado em algumas lojas com o nome de rito escocês retificado. Paralelamente, sob a influência do lionense Jean Baptiste Willermoz, a lenda templária iria levar à criação de determinados «altos graus» na maçonaria, como os «cavaleiros benfeitores da Cidade Santa».
Não entraremos nos pormenores destes assuntos que animaram o (pequeno) mundo das lojas maçônicas (n.T: Um arremedo daquilo que foram os templários) durante décadas. Limitemo-nos a reter a pretensão da franco-maçonaria de possuir uma “legitimidade templária”. É inegável que podem ter existido pontos comuns, mais que não fosse através da maçonaria operativa, a das associações profissionais e dos mesteirais. Lembremo-nos daqueles companheiros que entraram na clandestinidade depois da queda da Ordem. Também eles puderam dar à futura maçonaria uma parte dessas lendas fundadoras e desses rituais que devem tanto à arquitetura. Mas continuemos a seguir a pista escocesa, para vermos se, para além de um desejo dos maçons do século XVIII de encontrarem raízes templárias, poderia existir um fundo de verdade.
O DESTINO DOS TEMPLÁRIOS INGLESES.
A Inglaterra e a Escócia mostraram muita relutância em alinhar o passo pelo de Filipe, o Belo. na perseguição aos templários No entanto, depois de o próprio papa ter cedido às pressões do rei de França e pedido aos príncipes católicos que prendessem os Templários que se encontravam nos seus territórios, a posição tornou-se desconfortável. Pelo menos, era preciso fingir. Portanto, foram dadas ordens, mas podemos perguntar-nos se não seriam acompanhadas pela instrução secreta de não se ser muito zeloso no cumprimento, porque não parece que a prisão dos templários tenham sido executadas muito fielmente. Eduardo II podia bem ser o genro do rei da França, mas a luta contra os Templários não era manifestamente o seu combate e não hesitou em dizê-lo e em escrevê-lo.
Enviou até missivas aos reis de Portugal, de Castela, de Aragão e da Sicília, dizendo-lhes que não acreditava de todo nas enormidades de que eram acusados os Templários e que se tratava de «calúnias de pessoas más que estão animadas não pelo zelo da retidão, mas por um espírito de cupidez e de inveja»(porque o falido rei da França Felipe queria tomar posse do enorme tesouro templário). Quando Eduardo, a pedido do papa, se viu obrigado a mandar proceder a detenções, as suas ordens precisaram que os Templários deviam ser bem tratados e não colocados «numa prisão dura e infame». Efetivamente, os tratamentos sofridos não foram nada terríveis. Assim, o mestre para a Inglaterra, Guillaume de La More, preso a 9 de Janeiro de 1308, foi instalado no castelo da Cantuária, onde dispunha de tudo quanto necessitava.
A 27 de Maio, foi libertado e, dois meses mais tarde, foram-lhe concedidos os rendimentos de seis domínios do Templo, para sua manutenção. Infelizmente, as pressões continuaram e o rei teve de tomar novas medidas menos lenientes. Era-lhe tanto mais difícil resistir quanto era certo que, por toda a parte, os Templários faziam confissões e se tornava impossível negar algumas práticas muito pouco católicas da Ordem. Mas, entretanto, a maior parte dos Templários ingleses tivera toda a liberdade para tomar as suas disposições e esconder-se. Quando, em Setembro de 1309, os inquisidores do papa chegaram a Inglaterra, espantaram-se com o pouco zelo posto nas detenções e Eduardo II teve de, entre outras coisas, escrever aos seus representantes na Irlanda e na Escócia para que obedecessem às ordens do papado. É claro que os inquisidores quiseram utilizar a tortura e, para tal, tinham de socorrer-se do braço secular. Eduardo II resistiu um pouco e apenas autorizou «torturas limitadas».
Em Dezembro de 1309, teve de escrever de novo para apressar as detenções que decorriam muito lentamente mas, para além de escrever para que constasse, nada fez para tornar mais eficazes as operações. Em Março de 1310 e, de novo, em Janeiro de 1311, nova insistência de fachada junto dos seus funcionários, lamentando a liberdade de que os Templários continuavam a gozar. Os protestos veementes dos inquisidores só conduziram à prisão de apenas mais nove cavaleiros. Desanimados, os inquisidores escreveram ao papa para se queixarem de que os não deixavam torturar os prisioneiros como entendiam e exigiram a transferência dos Templários ingleses para masmorras francesas. Em breve, Eduardo II teve de resolver-se a deixar os homens da Igreja fazerem como queriam.
Por sua vez, a Inglaterra transformava-se num lugar de vilegiatura arriscado para os irmãos do Templo, mas a Escócia continuava a ser um refúgio possível. Aí, Eduardo II não detinha todo o poder e havia mais com que se entreter. Uma boa parte do país escocês encontrava-se nas mãos de Robert Bruce que reclamava a independência da Escócia. Não só Bruce se batia contra as tropas de Eduardo II como, excomungado, não tinha qualquer razão para obedecer às ordens do papa. Ora, uma tradição forte afirma que os Templários ajudaram Bruce nos combates. Teriam sido eles, diz-se, a fazer inclinar a sorte da batalha a favor dos Escoceses, em Bannockburn, em 1314, um combate essencial para a sequência dos acontecimentos, porque decidiu a independência escocesa. Abandonados pelo rei de Inglaterra, os Templários haviam decidido bater-se no outro campo, mas isso significa também que, em 1314, ainda estavam constituídos como um corpo perfeitamente estruturado, pelo menos no território escocês.
OS TEMPLÁRIOS DE KILMARTIN
Baigent e Leigh no seu livro The Temple and the Lodge (O Templo e a Loja) alegam de que a frota templária escapou em massa a partir de vários portos do Mediterrâneo e do norte da Europa e partiu para um destino misterioso, onde eles pudessem encontrar asilo político e segurança. Este destino, em parte, foi a Escócia.
Numa obra particularmente interessante, Michael Baigent e Richard Leigh (The Temple and the Lodge) mostraram como a Escócia se tornou, talvez, num refúgio para inúmeros cavaleiros da Ordem. Lembram o fato de absolutamente NENHUM dos numerosos navios (em verdade da FROTA naval) do Templo ter sido capturado, e pensam que essa frota se refugiou simplesmente na Escócia. Não os acompanharemos nesse campo. Com efeito, a frota templária do Mediterrâneo e, sem dúvida, uma parte pelo menos da do Atlântico, refugiou-se incontestavelmente em Portugal e em Espanha, sendo depois recuperada pelas ordens fundadas especialmente para acolher os Templários. Uma parte da frota templária talvez tenha tomado outro caminho, mais fantástico, pelo menos a acreditar no testemunho do mestre da Escócia, Walter de Clifton, e no de um dos seus companheiros, William de Middleton. Os dois homens afirmaram que um determinado número de Templários, entre os quais o comendador de Ballantrodoch, haviam fugido «para além-mar».
Isso não impede que as embarcações templárias da Mancha (Inglaterra) e as que se encontravam na foz do rio Sena (França) ou nos portos do Pays de Caux, ou até aquelas que tinham os seus ancoradouros, especialmente bem protegidos por uma cintura de comendas, na costa de Calvados, não se tenham sem dúvida se dirigido para o Sul. E, depois, há aquela lenda do tesouro do Templo, evacuado através da Mancha, por dezoito navios da Ordem. Para Baigent e Leigh, as naves templárias teriam contornado a Irlanda para irem dar à Escócia, perto da península de Kintyre e do Sound of Jura, no condado de Argyll. Nessa região, mais precisamente em Kilmartin, os autores Baigent e Leigh, encontraram túmulos que podiam bem ser os dos Templários no exílio.
Simples, despojados, geralmente apresentam como único sinal de reconhecimento uma espada gravada idêntica à dos Templários dessa época. Vários túmulos semelhantes foram encontrados perto de comendas templárias conhecidas. A maior acumulação dessas pedras tumulares encontra-se no cemitério de Kilmartin, mas mais quinze cemitérios das proximidades ainda as conservam. Os Templários teriam, pois, sobrevivido lá, vivendo em comunidade e prolongando a própria Ordem. Poderemos ver aí a origem das reivindicações da origem da futura franco-maçonaria?
A ORDEM DO TEMPLO E A DE SAINT-ANDRÉ-DU-CHARDON
As tradições templárias puderam perpetuar-se nesta região e especialmente no seio das famílias que tinham apoiado a ascensão de Robert Brace como rei da Escócia e permitido a independência do país (n.T. Fatos muito bem documentados no épico filme BRAVEHEARTH-Coração Valente, dirigido por e com Mel Gibson no papel principal, vencedor de cinco Oscars), como os Seton ou os Sinclair. Essas grandes famílias forneceram a maior parte dos membros da guarda escocesa, corpo de elite encarregado da proteção do rei da França. Teriam conservado aí, na sombra, os segredos do Templo. Os laços entre a Escócia e a França foram tão poderosos como más as relações com Inglaterra, e a França tomou resolutamente o partido da dinastia dos Stuart (n.T.: The House of Stuart, originally Stewart and, in Gaelic, Stiubhard is a European royal house that originated in Scotland). Ora, foi junto dos Stuart que se fundou a franco-maçonaria especulativa na Inglaterra, nomeadamente através da Royal Society.
Em 1689, podíamos aperceber-nos, entre os que rodeavam os Stuart, de uma «Ordem dos Templários na Escócia», cujo Grão-Mestre era John Claverhouse, visconde de Dundee, e essa ordem batia-se ao serviço dos reis escoceses. Os Stuart tornaram-se reis da Inglaterra, mas o seu catolicismo foi mal aceito e foram expulsos do trono. Quando Jaime II teve de se exilar, foi acolhido na França por Luís XIV, que pôs à sua disposição o castelo de Saint-Germain-en-Laye. E foi precisamente a partir dessa cidade que a franco-maçonaria escocesa se espalhou pela França.
Os Stuart trariam na sua bagagem a palavra mais ou menos fiel da Ordem do Templo? Há que referir um pormenor curioso. Depois de uma última tentativa para recuperar o trono, Jaime II teve de fugir precipitadamente com o tesouro real. Há um mistério sobre o local onde aportou discretamente nas costas da França. Ora, o mistério desse local é desvendado em Saint-Germain-en Laye, pintado sobre o túmulo de Jaime II, na igreja, em frente ao castelo real. Com efeito, a rainha Vitória mandou pintar, por cima do monumento, um afresco que representa, nomeadamente, São Jorge, mas nele vê-se também a Manneporte de Étretat (Nome dado a uma das falésias escarpadas de Étretat), local provável do desembarque de Jaime.
Aqueles que gostam das aventuras de Arsène Lupin podem gozá-las o mais possível. O que podemos perguntar-nos, com Maurice Leblanc, é se esse local não desempenhou um papel muito especial na História ao permitir relações discretas com Além-Mancha. Podemos pensar também que foi talvez de Étretat que partiu o tesouro dos Templários, encaminhado através do Vexin até à costa normanda. Mas isso seria outra história. De qualquer modo, Jaime II fez reviver também uma ordem de cavalaria fundada, em 1593, pelo seu antepassado: a Ordem de Saint-André-du-Chardon. Os membros desta ordem infiltraram-se nas lojas jacobinas que se fundaram e disseminaram a partir de Saint-Germain-en-Laye.
Não há dúvida de que partes da tradição Templária foram veiculadas por esta via, mas é difícil saber o que nelas restava do modelo original. O tempo deveria ter-lhes alterado o sentido. Para além mesmo do problema da maçonaria escocesa enquanto depositária dos segredos da Ordem dos Cavaleiros Templários, podemos perguntar-nos o que pôde ser transmitido na origem e qual era a sua importância. Não esqueçamos que, para o fim, os Templários parecem ter-se vergado a rituais que já não compreendiam – pelo menos, na sua maior parte. A detenção do conhecimento e da compreensão desses enigmas era, sem dúvida, apanágio APENAS de um círculo interno. Talvez até esse círculo se tivesse separado da Ordem há algum tempo, o que explicaria muitas coisas.
A PISTA BELGA
Na região de Flandres, parece que uma parte dos Templários entrou na clandestinidade. A criação, em 1382, pelo duque Auberto da Baviera, da Ordem de Santo Antão de Barbefosse, poderia ter tido como objetivo preservar as suas tradições. Curiosamente, a sede da Ordem foi instalada num oratório bem modesto, em Barbefosse, perto de Mons. Venerava-se aí um pelo da barba de Santo Antão. A Ordem atraiu alguns dos nomes mais importantes da sua época. Parece ter veiculado um ensinamento esotérico de que os irmãos Van Eyck teriam tido conhecimento. Os seus quadros constituem a prova disso. Geralmente não se sabe «ler» os quadros dessa época, embora a maior parte seja rica em ensinamentos.
Paul de Saint-Hillaire soube detectar, nas obras dos irmãos Van Eyck, todo um mundo de sinais, signos, de símbolos e até de frases inteiras camufladas nos pormenores dos quadros. Na catedral de Gand, podemos admirar o políptico do Cordeiro Místico. Um dos cavaleiros representados traz a bandeira dos Hospitalários de São João de Jerusalém, outro a da Ordem do Santo Sepulcro e um terceiro brande o estandarte branco com cruz vermelha dos cavaleiros de Santo Antão de Barbefosse. No centro da cruz, um pequeno escudo ostenta o tau de ouro que esses cavaleiros inscreviam no meio das suas armas familiares para indicar a sua pertença à Ordem. Quem observar minuciosamente o quadro, pode descobrir nele uma multidão de inscrições que mal se veem, textos crípticos que ocultam uma enigmática mensagem (visível apenas para os iniciados).
Encontra-se lá, entre outros, o termo AGLA que nos informa da pertença dos irmãos Van Eyck a uma sociedade secreta que tinha esse nome. Não poderia tratar-se de um acaso, porque esse termo figura também noutras obras dos irmãos Van Eyck. Ainda por cima, no políptico, a palavra AGLA apresenta uma particularidade muito interessante: uma cruz templária encontra-se inserida ao centro, entre as letras AG e LA: a cruz do Templo.
Ora, precisamente, alguns investigadores perguntaram-se se essa misteriosa sociedade não teria constituído uma ligação entre os Templários e os Rosa-Cruzes. De qualquer modo, o políptico do cordeiro místico esteve primeiro (em 1432) guardado numa cripta onde repousa uma cabeça, que se considera ser a de São João Batista, pousada, tal como o Graal, sobre uma bandeja. Perto do oratório de Barbefosse, no bosque de Saint-Denis, foi encontrada uma cabeça esculpida com dois rostos, um glabro e outro barbudo.
Outrora, encontrava-se colocada sobre uma estrela octogonal que ostentava, na base, um L enigmático. Estaria ligada a um culto baphomético dos Templários? Se era esse o caso, compreenderíamos facilmente a escolha desse oratório para sede da Ordem de Santo Antão de Barbefosse, que poderia então ter constituído um dos elos que ligam os Templários ao esoterismo do Renascimento.
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