segunda-feira, 12 de setembro de 2016

HISTÓRIA DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS - CONTINUAÇÃO

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Os Templários – História – (14)

Posted by Thoth3126 on 11/09/2016
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES GUERREIROS DE MANTOS BRANCOS COM CRUZES VERMELHAS
Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos:

Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros Templários apresentam particularidades estranhas.

Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch

OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.
Primeira Parte em:

O PROCESSO E O TESTAMENTO DOS TEMPLÁRIOS

Uma instrução ilegal

O modo como a investigação foi conduzida pelo grande inquisidor de França, que começou os seus interrogatórios a 18 de Outubro de 1307, falseou necessariamente o processo. A utilização sistemática da tortura, o fato de apenas reduzir a escrito o que poderia ser favorável à acusação correspondia à noção Dominicana de verdade no quadro da Inquisição e permitia, evidentemente, todos os abusos a fim de perder os acusados. Guillaume Pâris fazia notar bem nas suas instruções que só devia ser lavrada ata do depoimento daqueles que confessavam.

Ora, legalmente, o inquisidor não tinha qualquer poder nesta história. Para que o tivesse, teria sido necessário que emanasse do papa, porque se tratava de instruir contra eclesiásticos que dependiam exclusivamente da Santa Sé. o papa Clemente V zangou-se com o inquisidor de França, Guillaume Pâris, mas cedeu sob a pressão de Filipe, o Belo. Vimos que as práticas da Ordem não estavam isentas de ritos curiosos, mas estes já não pareciam ser compreendidos pelos que os observavam. Esta certeza vem-nos nomeadamente dos testemunhos estranhos obtidos sem coação.

Interior do Templo em Paris.

Em contrapartida, no que se refere às confissões extraídas na França, muitas são extremamente suspeitas. A tortura e as pressões de todos os tipos exercidas sobre os Templários, na maior parte das vezes, prevaleceram sobre a sua resistência. Assim, o irmão Ponsard de Gisy descreveu o que lhe aconteceu: foi colocado numa fossa, «com as mãos atrás das costas tão fortemente que o sangue correu até às unhas e aí ficou, sem ter mais espaço do que o comprimento de uma correia, protestando e dizendo que, se fosse posto de novo sob tortura, negaria tudo o que dizia e diria tudo o que quisessem». A 31 de Março de 1310, um grupo de Templários mandou redigir um protesto:

“A religião do Templo é pura, imaculada: tudo quanto é articulado contra a Ordem é falso: aqueles dos irmãos que declararam que essas imputações contra as pessoas e contra a Ordem eram verdadeiras, ou parte delas, mentiram. Os irmãos sustentam que não podem ser brandidas contra eles confissões dessas que em nada prejudicariam quer a Ordem, quer as pessoas, porque essas confissões foram arrancadas pelas ameaças de morte, pela tortura. Se há irmãos que não foram submetidos aos tratos, ficaram aterrorizados com o medo dos suplícios: ao verem os outros submetidos à tortura, disseram tudo o que os seus carrascos dominicanos quiseram. As penas sofridas por um só aterrorizaram um grande número. Há aqueles que foram corrompidos pela oração, pelo dinheiro, pelas carícias, por grandes promessas, e que não puderam resistir às ameaças.”

Com base nisso, poderíamos pensar que tudo quanto é censurado à Ordem é falso. E, no entanto, a 2 de Julho de 1308, setenta e dois Templários que compareceram perante o Santo Padre reiteraram as suas confissões, longe de qualquer tortura, confissões demasiado precisas e demasiado coerentes entre si para não impressionarem o papa. A maior parte dos pontos do documento de acusação tiveram, por certo, de ser abandonados, mas o que restou era muito grave: essencialmente a negação de Jesus e o fato de cuspirem na cruz quando da cerimônia de recepção, os beijos no corpo e a autorização de sodomia, o culto de uma cabeça com poderes mágicos, outros tantos elementos ligados a um ritual desprovido de sentido aos olhos daqueles que persistiam em o praticar como um hábito.

O papel curioso dos dignitários do Templo

Ficamos perplexos perante o modo como se comportaram os dignitários da Ordem durante o processo, nomeadamente o Grão-Mestre Jacques de Molay. A 21 de Outubro, Geoffroy de Chamay, comendador da Normandia, reconheceu ter negado Jesus e a prática dos beijos quando da recepção. Disse também que Gérard de Soizet, preceptor de Auvergne, lhe dissera que era melhor unirem-se entre irmãos do que debocharem com mulheres. A 24 de Outubro, Jacques de Molay afirmou que: “A manha do inimigo do gênero humano levara os Templários a uma perdição tão cega que, havia muito, aqueles que eram recebidos na Ordem negavam Jesus, com perigo da sua alma, cuspiam sobre a cruz que lhes era mostrada e cometiam, nessa altura, outras enormidades.”


Falando assim, condenava toda a Ordem. Falando de si mesmo, afirmou: “Há quarenta e dois anos que fui recebido em Beaune, diocese de Autun, pelo irmão Humbert de Pairaud, cavaleiro, na presença do irmão Amaury de La Roche e de muitos outros cujos nomes já não retenho na memória. Primeiro, fiz todo o tipo de promessas a respeito das observâncias e dos estatutos da Ordem e, depois, impuseram-me o manto. Em seguida, o irmão Humbert mandou que trouxessem uma cruz de bronze onde se encontrava a imagem do crucificado e incitou-me a renegar Cristo que figurava nessa cruz. De mau modo, fi-lo: em seguida, o irmão Humbert disse-me para cuspir na cruz, cuspi no chão.” Hugues de Payraud, visitador de França, começara por negar, mas em breve se mostrou bem loquaz. Quanto a Geoffroy de Gonneville, preceptor da Aquitânia e de Poitou, confirmou os ritos de negação. Podemos, é claro, invocar a tortura para explicar essas confissões.

Com efeito, quando os dignitários souberam que a Igreja avocara o caso e que haviam sido subtraídos à jurisdição real, tinham-se retratado. No entanto, não foram levados até ao papa e a sua caravana parou em Chinon. Nesse local, receberam a visita de três cardeais enviados pelo papa e então, num golpe de teatro, reiteraram as suas confissões. Estupefatos, os cardeais tomaram a precaução de ler os seus depoimentos aos dignitários e pediram-lhes que refletissem bem antes de os assinarem. Mesmo assim, assinaram. Fato curioso, quando, a 26 de Novembro de 1309, Jacques de Molay compareceu perante a Comissão Pontifícia, começou por tergiversar, procurar escapatórias e responder ao lado das perguntas. Acabaram por lhe reler as confissões que fizera em Chinon. Indignou-se com as palavras que lhe eram atribuídas, negou-as mas, mesmo assim, não defendeu ele próprio a Ordem.

Teriam modificado o que ele dissera? Ter-lhe-iam prometido que as suas confissões não seriam divulgadas e que se destinavam apenas a esclarecer o papa? Fora enganado de uma forma ou de outra? No que a isto respeita, Jacques de Molay pediu para ter uma entrevista em particular com Guillaume de Plaisians, conselheiro de Filipe, o Belo. Que disseram? Jacques de Molay concluíra, anteriormente, um acordo com ele e de que natureza? Ter-se-ia mostrado cúmplice da destruição de uma Ordem que se tornara perigosa? Isso é duvidoso, mas a atitude do Grão-Mestre é, mesmo assim, muito perturbadora. Na sequência do seu encontro com o conselheiro do rei, pediu oito dias para «deliberar». Obteve-os.

Durante algum tempo, pareceu indeciso e, depois, renunciou a defender a Ordem, afirmando-se iletrado e pobre, mas procurando, mesmo assim, lembrar os serviços prestados pela Ordem, no passado. Que inépcia! Mesmo assim, declarou: “Mas irei perante Monsenhor o Papa, quando lhe aprouver. Sou mortal como os outros homens e o futuro não me está garantido.” Não seria uma forma de fazer saber que tinha medo? Que o papa o mandasse conduzir junto dele e aí poderia falar, mas enquanto a sua sorte estivesse, cada dia, nas mãos dos homens do rei, podia temer tudo. Aliás, acrescentava: “Suplico-vos, pois, e peço-vos que digais a Monsenhor o Papa que chame à sua presença o mestre do Templo, logo que possível: só então lhe direi o que é a honra de Cristo e da Igreja, desde que esteja em meu poder.”

Na verdade, os únicos que, corajosamente, tomaram um pouco a defesa da Ordem foram os Templários de base, prova de que o Templo se tornara um corpo sem alma e de aqueles que «sabiam» o tinham deixado havia muito tempo. Mas, mesmo assim, como é possível que os dignitários não tenham clamado alto e bom som a inocência da Ordem? Que tenham tido medo, que tenham cedido sob a tortura, tudo bem. Mas não haveria um só que reagisse? O sofrimento, a falta de coragem, podem explicar muitas coisas, mas não teria havido um entendimento para conduzir ao fim da Ordem? Manifestamente, os dignitários souberam antecipadamente que os Templários seriam presos.


Mesmo que suponhamos que não tenham sido prevenidos diretamente, o mero fato de, em determinados locais, o segredo poder ter sido traído, implica que os Templários prevenidos desse modo tenham advertido de imediato o Grão-Mestre da Ordem. Ora, este não fez nada, nem fugiu, nem pôs a Ordem em estado de defesa. Permitiu que o apanhassem no ninho, deixando penetrar na Torre do Templo aqueles que vinham prendê-lo. Tornava possível, desse modo, a destruição da sua Ordem. Não poderemos imaginar que tinha boas razões para tal? E até, por certo, ordens que poderiam provir do círculo oculto que se separara da Ordem, do Templo interior? Isso explicaria muitas coisas.

No início, os dignitários entraram no jogo e deixaram prosseguir a detenção. Depois, reconheceram os fatos censurados aos Templários. Todavia, em breve se deram conta de que os irmãos eram torturados e isso não devia fazer parte do pacto. Então, hesitaram, não queriam defender a Ordem, mas também não concordavam com deixar que os cavaleiros do Templo morressem sob a tortura. Quiseram ver o papa. Tal não lhes foi permitido, mas deixaram-nos encontrar-se com uns cardeais que o soberano pontífice mandara junto deles. E, aí, Jacques de Molay hesitou, como vimos. Que devia dizer? Por um lado, pediu para se encontrar com o conselheiro do rei; por outro, teria querido ver o papa. Parecia perdido, como se o desenrolar do filme não correspondesse ao argumento que, previamente, lhe haviam dado a ler.

Que diferença em relação aos irmãos que se declararam voluntários para assumir a defesa da sua Ordem – mais de quinhentos e sessenta. A 7 de Abril de 1310, nove prisioneiros entregaram, à comissão, uma memória que era, ao mesmo tempo, defesa jurídica e reclamação contra os procedimentos dos agentes do rei. De qualquer modo, o concílio reunido em Vienne, em Outubro de 1311, ficou muito embaraçado. Como poderiam mostrar-se justos sem incorrerem nas iras do rei de França? Os participantes não queriam comportar-se como os do concílio de Saens que, pouco mais de um ano antes, tinham enviado cinquenta e quatro Templários para a fogueira. Como fazer?

O papa Clemente V sentia-se um pouco mais livre em relação a Filipe, o Belo, porque acabara de lhe dar provas, atacando a memória de Bonifácio VIII. O rei apercebeu-se e decidiu comparecer pessoalmente em Vienne, a 20 de Março de 1312. Perante a ameaça de pressão, Clemente V preferiu precipitar as coisas. Não queria condenar a Ordem mas corria o risco de se ver obrigado a tal, com a faca encostada à garganta, pelo rei de ferro. Para evitar isso, preferiu dissolver a Ordem do Templo, «por via de provisão». Entre outras coisas, a bula proclamava: “Uma voz foi ouvida nas alturas, voz de lamentação, de luto e de choros:

…porque chegou o tempo em que o Senhor, pela boca do profeta, faz ouvir este queixume: «Esta cidade foi para mim causa de ira e de furor; será afastada da minha presença por causa de todo o mal dos seus filhos; porque provocaram a minha cólera; voltaram-me as costas e não a face; instalaram as suas abominações na Casa sobre a qual o meu nome é invocado, para profaná-la. Construíram altares a Baal para iniciarem e consagrarem os seus filhos aos ídolos e aos demônios» (Jeremias. XXXII, 31-35). Eles agiram de modo profundamente corrupto, como nos dias de Gabaá. (Oseias DC.9). Perante uma notícia tão horrenda, em presença de uma infâmia pública tão horrível (com efeito, quem ouviu alguma vez, quem viu alguma vez algo semelhante?), sucumbi quando ouvi, fiquei contristado quando vi, o meu coração encheu-se de amargura, as trevas envolveram-me.”


A bula papal continua longamente neste tom, e nela Clemente V evoca Salomão: “Porque o Senhor não escolheu a nação por causa do lugar, mas o lugar por causa da nação; ora, como o próprio local do Templo participou nos crimes do povo e Salomão, que estava cheio da sabedoria como de um rio, ouviu estas palavras formais da boca do Senhor, enquanto construía um templo: «Se os vossos filhos se afastarem de mim, se deixarem de me seguir e de me honrar, se forem procurar deuses estrangeiros, eu os afastarei para longe da minha face e os expulsarei da terra que lhes dei e retirarei da minha presença o Templo que consagrei ao meu nome […].»”

Assim, o papa parecia querer relativizar uma sacralidade, uma legitimação que a Ordem poderia deter devido à sua presença, no passado, no local do Templo de Salomão ou então por causa do que lá tivesse descoberto. Em seguida, Clemente V lembrava o fato de ter sido prevenido dos atos dos Templários, antes mesmo de ter sido coroado: “Haviam-nos insinuado que eles tinham caído no crime de uma apostasia abominável contra o próprio Senhor Jesus Cristo, no vício odioso da idolatria, no crime execrável de Sodomia e em diversas heresias.” O papa relatava então as dúvidas que tivera, por não poder acreditar que aqueles que davam a vida pelas cruzadas fossem também heréticos.

Todavia, afirmava, o rei de França acabara por o convencer. Aí, o texto não estava isento de humor: “No final, todavia, o nosso muito querido filho em Jesus Cristo, Filipe, ilustre rei de França, a quem os mesmos crimes haviam sido denunciados, levado não por um sentimento de avareza (porque não pretendia, de forma alguma, reivindicar ou apropriar-se de quaisquer bens dos Templários, dado que deles desistiu no seu próprio reino e os afastou completamente das suas mãos), mas pelo zelo da fé ortodoxa, seguindo os ilustres trilhos dos seus antepassados, informou-se tanto quanto lhe era possível do que se passara e fez-nos chegar, pelos seus enviados e pelas suas cartas, inúmeros e importantes esclarecimentos para nos instruir e informar sobre essas coisas […].”

Fazendo isto, Clemente V, dando o ar de que ilibava Filipe, o Belo, revelava o verdadeiro motivo deste: meter a mão nas riquezas da Ordem e, ao mesmo tempo, tomava as suas precauções para que o rei se não pudesse apropriar de tudo. Depois, o papa lembrava as confissões de membros importantes da Ordem que haviam testemunhado junto dele. Parecera-lhe, então, que isso não poderia ser deixado em silêncio, afirmava. Insistia especialmente nos testemunhos dos dignitários: “Depuseram e confessaram livre e voluntariamente, sem violência nem terror, que, quando da sua recepção na Ordem, tinham negado Cristo e cuspido na cruz. Alguns deles confessaram ainda outros crimes horríveis e desonestos que calaremos, de momento.”

Essas confissões pesaram muito na balança. Clemente V não podia salvar a Ordem sem que ele próprio fosse suspeito de heresia. Concluiu, portanto: “Sem dúvida que os processos precedentes dirigidos contra esta Ordem não permitem condená-la canonicamente como herética, por meio de uma sentença definitiva; no entanto, como as heresias que lhe imputam a difamaram singularmente, como um número quase infinito dos seus membros, entre os quais o Grão-Mestre, o visitador de França e os principais comendadores, estiveram convencidos das citadas heresias, erros e crimes pelas suas confissões espontâneas; como essas confissões tornam a Ordem muito suspeita, como essa infâmia e essa suspeição a tornam perfeitamente abominável e odiosa para a Santa Igreja do Senhor, os prelados, os soberanos, os príncipes e os católicos; como, ademais, acreditamos com toda a verosimilhança que não encontraríamos um homem de bem que, doravante, quisesse entrar para essa Ordem, tudo coisas que tornam inútil à igreja de Deus e à condução dos assuntos da Terra Santa, cujo serviço lhe fora confiado…”

Jacques De Molay é queimado na fogueira em 18 de março de 1314.

O papa tinha razão, recusava-se a condenar a Ordem, mas esta já não podia ser realmente salva e, ademais, ter-se-ia tornado inútil. Portanto, o melhor era suprimi-la, pura e simplesmente, sem condenação: “Pensamos que era necessário recorrer à via de provisão e ordenação para suprimir os escândalos, evitar os perigos e conservar os bens destinados ao socorro da Terra Santa. Terminava luminosamente evocando as boas razões para proceder assim: Suprimindo a citada Ordem e aplicando os seus bens no uso para que haviam sido destinados e, quanto aos membros da Ordem ainda vivos, tomar medidas sensatas em lugar de lhes conceder o direito de defesa e prorrogar o caso.” Clemente V salvava o que ainda podia ser salvo, homens e bens. Não ignorava que, se as coisas se arrastassem ainda mais, já não haveria Templários para defender a Ordem, seriam mortos antes nas masmorras do rei de França.

Terminara, por fim. A Ordem do Templo já não existia e, um mês mais tarde, Clemente V atribuía o seu patrimônio aos Hospitalários de São João de Jerusalém. Fúria de Filipe, o Belo, que contava apropriar-se dos despojos da Ordem. Aliás, apesar das decisões tomadas, desviou inúmeras propriedades que se recusou a devolver. Ainda por cima, exigiu uma indenização de duzentas mil libras, uma soma enorme que, segundo dizia, teria sido depositada no Templo e nunca lhe fora restituída. Ninguém se iludiu: Filipe, o Belo, mentia. Aliás, nunca tivera na sua posse duzentas mil libras, esse rei que era obrigado a brincar aos moedeiros falsos para viver.

Além disso, exigiu sessenta mil libras de custos do processo, quando, durante todos esses anos, fora ele que recebera os rendimentos dos domínios confiscados ao Templo. Reclamou também dois terços do mobiliário e dos ornamentos religiosos mas o que retirou foi escasso porque, entretanto, o papa já pusera a salvo uma parte desses bens. Para aqueles que ainda estejam convencidos de que Filipe, o Belo, era totalmente desinteressado nesta história, lembremos que, ainda por cima, nunca pagou os dois empréstimos de quinhentas mil libras e de duzentos mil florins concedidos pelo Templo, nem uma outra soma de duas mil e quinhentas libras que mandara que lhe entregassem em 1297.

E depois, durante cinco anos, não só arrecadara os rendimentos dos imóveis do Templo em França, recebera as rendas e os censos, como recuperara créditos da Ordem que mandara pagar em seu proveito. Por fim, para beneficiarem dos bens do Templo, os Hospitalários tiveram de submeter-se às exigências do rei e pagar, isto é, esvaziaram o seu tesouro próprio. Não foram eles que fizeram um bom negócio. Ao suprimir a Ordem sem qualquer outra forma de processo, o papa salvara o que ainda podia sê-lo. Na mesma altura, entregava o destino dos homens do Templo à apreciação dos concílios provinciais, o que teve como efeito imediato devolver a tranquilidade a todos quantos viviam em países que lhes não eram demasiado hostis. Aliás, Clemente V reservava-se o julgamento dos dignitários. Enviou a Paris três cardeais que lhes pediram que confessassem publicamente a indignidade da Ordem e que os condenaram a prisão perpétua.

Placa assinalando o local onde Jacques De Molay foi queimado na fogueira

Perante a NotreDame, em cima de um estrado, Hughes de Payraud e Geoffroy de Gonneville confirmaram a sua culpabilidade mas, para surpresa geral, Jacques de Molay e Geoffroy de Chamay retrataram-se. A cerimônia foi interrompida. Os dois homens foram declarados relapsos e entregues ao braço secular. Filipe, o Belo, decidiu, de imediato executá-los. Ergueu-se apressadamente uma fogueira na ilha dos Javiaux, atualmente praça do VertGalant, na extremidade ocidental da ile de la Cité, a 18 de Março de 1314. No momento em que as chamas começaram a elevar-se, Jacques de Molay, que recuperara a sua dignidade, teria gritado: «Os corpos pertencem ao rei de França, mas as almas pertencem a Deus.»

Depois, teria proferido uma maldição, intimando os seus carrascos perante o tribunal de Deus no prazo de um ano. A 21 de Abril seguinte, Clemente V falecia, sem dúvida devido a um cancro do piloro. A 29 de Novembro, uma queda de cavalo, diz-se, levou Filipe, o Belo. Na verdade, caiu doente de repente, a 4 de Novembro, queixando-se de dores gástricas seguidas de vômitos e diarreia, que precederam uma secura de boca, anorexia e uma sede insaciável. Não havia vestígios de febre. O mistério dessa morte nunca foi desvendado. Teria Filipe, o Belo, sido envenenado? Nesse mesmo ano, Nogaret faleceu misteriosamente, Esquin de Florian foi apunhalado, e os denunciadores Gérard de Laverna e Bernard Palet foram enforcados. Alguns viram aí o dedo de Deus e outros uma vingança bem organizada: um braço (templário) escondido na sombra que desferia golpes metodicamente.

Mais informações sobre os Templários:

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