Posted by Thoth3126 on 31/08/2016
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES GUERREIROS DE MANTOS BRANCOS COM CRUZES VERMELHAS
Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos:
Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros Templários apresentam particularidades estranhas.
Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.
Primeira Parte em:
OS TEMPLÁRIOS E O SEGREDO DA RAÇA MALDITA
Os CAGOTS: um povo de párias [Cagots: Nome dado outrora, nos Pirenéus, aos miseráveis e talvez leprosos. (N. do T.)]
O segredo dos construtores da Ordem do Templo está ligado a um povo misterioso demasiado ignorado pelos historiadores: os cagots. O essencial do que sabemos sobre eles provém de investigações realizadas no País Basco e no Béam, mas veremos que também se implantaram noutras regiões. Nas regiões pirenaicas que, no entanto, quase não conheceram os preconceitos raciais, que acolheram fraternalmente judeus e sarracenos, os cagots foram tratados como um povo maldito, sem que saibamos muito bem porquê.
Para além de um texto de 1288 que a eles alude, só muito mais tarde os escritos começaram a relatar claramente as perseguições de que foram alvo. Até então, não parece que tenham tido problemas com as populações autóctones, embora todas as lendas referentes a eles tendam a mostrar que a sua chegada à região era mais antiga. Sofreram uma segregação extremamente estrita que era acompanhada, por parte das populações, de medo, de repugnância e de desprezo.
Não tinham o direito de conviver com pessoas que não fossem da sua raça. Eram confinados a cabanas isoladas, afastadas das aldeias. Foi assim que foram fundados inúmeros bairros afastados, nesse tempo, do coração da cidade. Conhecemos os exemplos do bairro de Mitchélénia, separado de Saint-Étienne-de-Baigorry pela Nive des Aldudes, de Ispour, separado de Saint-Jean-Pied-de-Port pelo vale do Lauribar, do bairro da Madalena, perto de Saint-Jean-le-Vieux. Poderíamos citar muitos outros. Os cagots não deviam, em caso algum, misturar-se com o resto da população e o horror que inspiravam era tal que nem sequer na igreja era admitida a sua presença, eram isolados.
Estava-lhes reservada uma entrada especial que não era utilizada por mais ninguém, bem como uma pia de água benta, para que ninguém tocasse na água onde haviam mergulhado os dedos. Ainda podemos ver essas pias de água benta reservadas nas igrejas de Ciboure, de Juxue, de Arberats, de Libourne e de Saint-Bernard-de-Comminges. Também estavam proibidos de beijar a cruz e o padre estendia-lhes a hóstia na ponta de um pau. Mesmo mortos, eram alvo de uma segregação. Não podiam repousar em terra abençoada e eram enterrados nos fossos ou à beira-mar. Estavam-lhes vedadas inúmeras profissões, em especial as relacionadas com a alimentação.
Embora tenham tido o direito de possuírem terras, não podiam praticar a agricultura nem a criação de gado. Se o tivessem feito, ninguém aceitaria consumir os seus produtos. Em contrapartida, alguns ofícios serviam-lhes mais ou menos como uma espécie de empregos reservados e em especial os de carpinteiro, de fiação de cânhamo e tecelagem e, mais marginalmente, de serrador de pranchas, marceneiro ou serralheiro. Tinham fama de ser muito hábeis nessas artes mas não tinham mais direitos por isso. Quando um mestre carpinteiro de Moumour julgou, em 1471, poder viver como toda a gente sob pretexto de haver prestado serviços importantes ao bispo de Oloron, apressaram-se a pô-lo de novo no seu lugar.
As autoridades consulares lembraram-lhe rudemente que não podia exercer qualquer atividade relacionada com o amanho da terra, nem possuir gado, nem sequer entrar num moinho por medo que conspurcasse a farinha, nem ir ao lavadouro, nem beber na fonte, nem andar descalço, «sob pena de ser responsável pela infecção, os danos, a desonra e a vergonha que poderiam derivar daí para os habitantes de Moumour». Se tivesse ignorado estes conselhos amigos, poderia muito bem ter perdido a vida.
Os cagots não eram um grupo étnico, nem um grupo religioso. Eles falavam a mesma língua que as pessoas em uma área e, geralmente, mantinham a mesma religião também. Sua única característica distintiva era sua descendência de famílias identificadas como cagots. Algumas razões consistentes foram dadas a respeito do porque eles deveriam ser odiados; as acusações variaram desde os cagots sendo cretinos , leprosos , hereges, canibais, para simplesmente serem intrinsecamente maus. Os cagots tinham uma cultura própria, mas muito pouco foi escrito ou conservado; como resultado, quase tudo o que se sabe sobre eles se relaciona com sua perseguição. O seu tratamento cruel durou desde a Idade Média, atravessando a Renascença e Revolução Industrial, com o prejuízo desaparecendo apenas nos séculos 19 e 20.
Os cagots não só eram isolados como, a fim de melhor proteger a população, decidiram torná-los reconhecíveis ao longe, obrigando-os a ostentar um sinal distintivo: uma pata de ganso em tecido vermelho cosida no ombro. Aparentemente, apenas tinham direitos cívicos muito reduzidos e quando, num processo, bastava o testemunho de um só homem, eram necessários sete cagots para as suas declarações serem tomadas em consideração. Fato muito curioso, eram tomados a cargo pela Igreja e, quando dos recenseamentos, eram agrupados por circunscrições religiosas e não por bailiados laicos. Compareciam regularmente à missa e eram considerados bons cristãos.
De certo modo, a Igreja protegia-os garantindo-lhes o monopólio de determinados ofícios artesanais e isentando-os de determinadas taxas e impostos. Fosse como fosse, os cagots não tinham uma vida invejável e, por vezes, sentiram a tentação de reagir contra as regras que lhes eram impostas. De fato, o seu isolamento continuou a ser uma realidade até ao início deste século, tendo-se iniciado a integração no século XIX.
Os cagots, a lepra e o sagrado
Perante um tal mistério, foram elaboradas muitas hipóteses para explicar as origens da maldição. Afirmou-se que se tratava de descendentes dos cátaros, o que não se mantém de pé, mas podia ligá-los a uma heresia. Falou-se também numa ascendência sarracena, o que os ligaria ao Oriente. Alguns asseveraram que eram malditos desde que os seus antepassados tinham fabricado a cruz sobre a qual Jesus fora crucificado, o que podia aproximá-los, ao mesmo tempo, do Oriente e de uma heresia. No entanto, a explicação mais comumente aceita, a que legitimaria melhor os interditos de que eram alvo, é a lepra. Aliás, encontramos cagots em toda a parte – Béam, País Basco, Guiana, Poitou, Maine, Berry, Bretanha – sob nomes por vezes um pouco diferentes (Colliberts, Gahets, Capots, Chrétians, Gezitains, Caqueux, Cacous, Caffets, Cagous, Oiseliers, etc.), e o seu nome é mais ou menos associado à lepra.
Esta doença explicaria a segregação de que os cagots foram alvo, porque foi uma verdadeira fonte de terror na Idade Média. Quanto aos diversos interditos e, em especial, alimentares, teriam sido motivados pelo risco de contágio. Até ao século XVI, encontramos diagnósticos de lepra verificados em cagots pelos médicos. Entre os testemunhos, figura o de Ambroise Paré. Algumas comunidades de cagots foram confundidas com leprosarias a ponto de, no século XIV, em Orthez, Morlaas, Oloron e Lescar, as ditas leprosarias terem o nome de «Espiteu des crestiaas», isto é, hospital dos cagots. Na verdade, se houve lepra entre eles, tratava-se sem dúvida de uma forma atenuada chamada «psoríase», anomalia dérmica que se não reveste de uma extrema gravidade. As pessoas atingidas por esse mal veem a sua pele soltar-se em escamas, o que poderia explicar a denominação colliberts (cobras).
Hoje, o cagots não formam uma classe social separada e em grande parte foram assimilados pela população em geral. Muito pouco da cultura cagot ainda existe, na medida que a maioria dos cagots preferem não ser reconhecido como tal.
Notemos, de passagem, que o termo «lepra» vem do grego «lépra», que se relaciona com «lépis» que significa «escama». Nos nossos campos, esta afecção dérmica era chamada «pata de ganso». Isso poderia explicar o sinal em forma de pata de ganso que eram obrigados a trazer. Aliás, Santa Enímia, que fora atingida pela lepra, tinha, segundo a lenda, pé de palmípede. Para além do risco de contágio, benigno no caso da psoríase, compreende-se muito bem a existência de interditos, porque os leprosos eram alvo de um verdadeiro tabu. Isolados da comunidade, eram uma espécie de mortos-vivos, a tal ponto que, na Idade Média, quando um caso de lepra era descoberto, antes de exilarem o infeliz numa leprosaria, mandavam-no estender num caixão e diziam a missa de defuntos sobre a sua cabeça e, em seguida, faziam a leitura dos interditos que, daí em diante, deveria respeitar: proibição de tocar nos objetos, excepto com a ajuda de um pau, de se aproximarem das fontes e até a obrigação de só falarem com outrem quando o vento não tivesse possibilidade de levar os miasmas ao interlocutor.
O leproso e, consequentemente, o cagot (quer estivesse atingido por esse mal, quer considerassem que assim era, o que já era suficiente) aparecia, portanto, como um iniciado que beneficiava de contatos especiais e privilegiados com o reino dos mortos. Já não pertencia ao mundo dos vivos. Perante este conjunto de crenças, compreendemos facilmente que Claude Gaignebet tenha podido escrever numa obra notável sobre o carnaval: Noutros termos, o medo de contágio, a que voltamos sempre a propósito dos leprosos, não é primordial. Limita-se a racionalizar um temor mais profundo de um contato direto com seres cujo vínculo com o além se revestia de uma aura escondida.
]Este medo era reforçado pelo fato de haver certas profissões reservadas aos cagots, como a de cordoeiro. Nesse âmbito, trabalhavam com o cânhamo, mas apareciam também como os fabricantes das cordas de enforcar. Ora, tudo o que se relacionava com os enforcados era alvo de um terror sagrado.
O signo do ganso
Temos de deter-nos uns instantes nessa pata de ganso vermelha que os cagots traziam costuradas nas suas roupas. O abade Lecanu, na sua Histoire de Satan, via no ganso um símbolo gnóstico, o que lhe permitia transformar os cagots em heréticos. Entre os antigos, o ganso era uma imagem dos antepassados hiperbóreos que, todos os anos, faziam de novo a viagem em direção às terras do norte. Ora, o jogo do ganso que todos conhecemos mas a que jogamos sem pensarmos muito naquilo que fazemos, é um antigo jogo sagrado cuja paternidade atribuímos a um grego, amigo dos Troianos, chamado Palamedes, isto é, «o palmípede».
Sem entrarmos em pormenores, podemos notar, mesmo assim, que este jogo é menos anódino do que parece. A espiral do jogo comporta 63 casas (7 séries de 9). Esses dois algarismos são a chave do jogo: 7 é o número de portas a transpor antes de atingir a vida eterna. Quanto ao 9, é o número da realização do (potencial do) espírito e é por isso que é também o número de Vênus (o feminino). Notemos também que, nos mesteirais, chamavam «pata de ganso» à divisão do círculo em 9. É a cada 9 casas que encontramos um ganso na espiral do jogo.
A deusa Saraswati conduzida pelo ganso sagrado Kala Hamsa, sendo que a palavra HAMSA é decomposta em A-ham-sa, “Eu (sou) Ele”; ou, caso contrário, como So-ham, “Ele (é) EU”. Portanto, nesta palavra está contido o mistério universal, a doutrina da identidade da essência humana com a essência divina.
Geralmente, encontram-se lá também várias figuras falantes: a hospedaria que acolhe o peregrino, a ponte símbolo de passagem, a prisão constituída pelos nossos desejos materiais, o labirinto que nos lembra Teseu e o Minotauro. Há também o poço: encontra-se a meio do percurso porque se comunica com o interior da terra – ao mesmo tempo, a verdade pode brotar dele e conduzir ao (auto)conhecimento, à (sua própria)divindade. O seu eixo prolonga-se de forma ideal para os céus tal como mergulha no seio da matéria. Aquele que cai nesta 58ª casa (5 + 8 = 13) deve regressar à partida e recomeçar todo o seu percurso. Assim, aquele que não soube «nascer em espírito» antes da sua morte física deve reencarnar e recomeçar uma nova vida terrestre.
Mas aquele que soube nascer no espírito passa por cima da morte que só está separada do objetivo final por cinco casas. 5 é o algarismo da realização e da plenitude humana caro aos Cátaros e aos pitagóricos (Gnósticos). Evitemos considerar esses jogos como simples divertimento, dado que só nisso se tornou porque já não mais temos olhos para ver, nem ouvidos para escutar. O ganso conduz à morte, mas à morte vencida (da carne), à ressurreição espiritual. É um animal da água, da terra e do ar, que permite a passagem de um plano para outro. É o animal sagrado amigo de Afrodite que vemos a cavalgar esse palmípede em taças que datam do século V antes de Cristo.
Incontestavelmente, o mais importante no ganso é o seu pé, a sua pata espalmada. É eterno e universal no seu simbolismo, dado que pinturas e esculturas representam Gautama Buda com mãos e pés de pato. A forma de pata de ganso deverá, ademais, ser aproximada da da concha de vieira, que está intimamente ligada a Vênus, e a que os Franceses chamam «mérelle», essa mérelle do jogo do avião (jeu de la mérelle), caminho do Paraíso. O jogo da macaca é também uma forma de criar uma passagem, uma via que liga a nossa terra aos infernos e aos céus. Ao pé-coxinho, como se coxeasse, em marcha oblíqua, o jogador deve saber «onde põe os pés» porque quer conhecer vivo os segredos de um outro mundo.
Tal como Jacob que teve de lutar com o anjo, é coxo, como se tivesse ferido na coxa tal como o rei Méhaigné na demanda do Graal. Na verdade, há várias formas de jogos da macaca. Uma consiste em alinhar três piões numa figura que se parece com esse raio de carbúnculo que ornamenta o escudo de um Templário, no selo da Ordem. Esta última forma constrói-se, portanto, com oito raios que partem do centro. Esses oito mais o centro fazem nove e a esta figura dá-se muitas vezes o nome de eneada. No Egito, o deus da terra, Geb, tinha o seu hieróglifo deduzido do do ganso selvagem. Aliás, era representado muito frequentemente com esse animal sobre a cabeça ou era chamado «chefe da eneada». Isto prova à saciedade que o simbolismo do ganso é universal.
No Egito, havia outro símbolo para caracterizar o ganso e tinha como significado: abertura, boca, palavra. Neste sentido, o ganso está ligado à linguagem (sagrada), mais especialmente à que está escondida, velada, que só pode ser compreendida por alguns: o argot (calão) cujo nome está intimamente ligado à «art ghotique» (arte gótica). E essa linguagem é um «jargon» (jargão), palavra que provém do jars, ou macho do ganso. O jars é um gars (gajo), a sua companheira uma jerce, que pode revelar-se uma garce (gaja), prova de que o calão francês devia muito aos jogos de palavras do ganso. O termo inglês que designa esta ave, goose, também deu em calão francês as palavras gons (tipo) e gonzesse (tipa). De notar que a palavra «gars» ou «gas» também foi utilizada, no calão francês, para designar o galo, sendo a galinha, evidentemente, uma «garce».
Como poderemos espantar-nos com o fato de o deus egípcio Geb ter sido chamado como o «Grande Tagarela», como lembra, tão justamente, Augustin Berger? Senhor da «língua das aves» (ou dos patos), o ganso (oie) não deixa de estar relacionado com o verbo «oyer», ouvir, escutar. Assim, o nobre jogo do ganso é bem o jogo do entendimento, e os Contes de ma mére l’Oie estão aí para no-lo provar. E se o jogo do ganso é labirintiforme, não será também para nos lembrar o elemento principal do ouvido interno, o labirinto, cuja espiral descreve, tal como a do jogo, duas voltas e meia? Parecemos ter-nos afastado muito do nosso tema principal: os Templários. No entanto, nunca estivemos tão próximos deles e esta digressão é indispensável para compreendermos o que vem a seguir. Conduz-nos a Pédauque, a rainha famosa, que não seria mais do que um avatar da rainha de Sabá, a quem a lenda atribui também pés de pato.
Esta ligação com Salomão não é fortuita, se atendermos a uma velha canção que afirma: “Cagot de Canaã, rebotalho dos carpinteiros, Do leste ou do oeste, por que vieste? Não fujas à resposta, não esperes, ao calar-te, Esconder a tua história aos povos do Poente, Nós conhecêmo-la, cagot: a Bíblia conta Por que razão do teu país tu te encontras banido. Querias construir um Templo ao teu Senhor, Tu que nem sequer sabes acabar uma pocilga, Tu não sabes fazer nada, e foi com razão Que o grande rei Salomão te expulsou do estaleiro.” Esta canção vem confirmar a tradição que já tínhamos entrevisto e que atribui uma origem oriental aos cagots.
Por outro lado, liga-os à construção do Templo de Salomão e faz que sejam expulsos pelo rei, como aconteceu aos assassinos de Hiram. A canção afirma ainda: “Aqui é a grande cagoterie, Todos são pessoas dos mesteres, Que fazem castelos elaborados. Com a roseta vermelha no chapéu, A pata espalmada no ombro.” O conjunto destes elementos põe em evidência um novelo de relações que aproximam, e ligam intimamente entre si, os cagots, a lepra, o simbolismo do ganso, a linguagem oculta dos construtores e uma origem oriental. Ademais, o segredo dos cagots está evidentemente relacionado com o problema do contato, a partir deste mundo, com os infernos e os céus, tema da comunicação que não paramos de encontrar a propósito dos Templários.
É preciso ver nisso mais uma prova simbólica no fato de os cagots serem descritos frequentemente como coxos. Seria isso de espantar nesses seres de marcha oblíqua? Desde logo, era normal que a punição mais especialmente reservada aos cagots, em caso de não observância dos interditos promulgados, tenha consistido em trespassar-lhes os pés com um ferro ao rubro.
O carnaval dos Templários
Tínhamos deixado de lado alguns «santos templários» ou, mais exatamente, algumas personagens a quem a Ordem costumava dedicar as suas capelas. Trata-se de São Vicente, Santo Antão e São Brás. São Vicente: Daciano mandou torturá-lo. Foi fustigado com vergas e com pauladas mas não pareceu sofrer com isso. Então, enterraram-lhe pentes de ferro até ao fundo das costelas, sem grande efeito. Assaram-no numa grelha e, ao mesmo tempo, trespassaram-lhe todas as partes com lâminas de ferro. Deitaram inclusive sal para o fogo, a fim de que este saltasse sobre cada uma das suas chagas, queimando-o de forma ainda mais cruel. As suas vísceras saíam-lhe do corpo mas continuava a não parecer sofrer. Então, deitaram-no em cima de uns cacos muito pontiagudos e pregaram-lhe os pés a um cepo.
Mas os anjos cuidaram dele. Pararam com os tormentos e foi então que morreu. Daciano quis vencê-lo depois da morte, fazendo que fosse devorado por monstros marinhos. O seu corpo foi atado a uma mó e lançado ao mar. Saiu de lá e pôde ser inumado. Vicente vencera o fogo e a água. São Brás: curiosa personagem esta, a quem os Templários dedicaram, nomeadamente, a capela de Balan, no Val-de-Loire, e a da Forêt-du-Temple, na Creuse. Depois de ter recebido o episcopado, retirou-se para uma caverna do monte Argeu onde levou uma vida frugal de ermita, alimentado pelos pássaros. O imperador mandou que os seus soldados capturassem Brás. Bateram-lhe e lançaram-no na prisão.
Ora, uma viúva a quem Brás devolvera o leitão que um lobo roubara, veio ver o santo prisioneiro. Matara o leitão e trazia-lhe os pés e… a cabeçacortada, com pão e uma candeia. Tiraram Brás da cadeia, suspenderam-no de uma árvore e rasgaram-no com pentes de ferro e, em seguida, encarceraram-no de novo. Sete mulheres tinham-no seguido e recolheram, no trajeto, as gotas do seu sangue. Depois, haviam ido lançar as estátuas dos ídolos num tanque. O governador mandou preparar chumbo fundido, pentes de ferro e sete couraças aquecidas ao rubro no fogo e as mulheres foram supliciadas. Findo o que … lhes cortaram a cabeça, antes de decapitarem o próprio São Brás.
Devemos referir também que, em celta, bleiz significa lobo e se liga também ao germânico blasen, soprar. É por isso que São Brás é o senhor das tempestades. Os marinheiros escandinavos festejavam-no e, com ele, o lobo, aquele que roubara o leitão, na sua lenda. Ligado ao lobo estava, é claro, a luz a irromper das trevas. Quanto aos construtores, devemos referir que os pedreiros tomaram São Brás como patrono. Foi também o padroeiro dos vinhateiros, que o associaram a São Vicente nas suas festividades. Refiramos, por fim, que, segundo Justiniani, uma bandeira dos Templários estava ornada com uma cruz vermelha em cujo centro estava pintada uma imagem de São Brás.
Santo Antão: retirado no deserto, recebeu a visita de inúmeros demônios que foram tentá-lo. Uma vez quis esconder-se num túmulo para fugir deles, mas isso não os impediu de o encherem de pancadas. Os diabos não paravam de o atormentar e, se não tivesse sido o apoio moral dos anjos, sem dúvida que não teria resistido. Morreu em paz, aos cento e cinco anos. Ora, Antão, Vicente e Brás são festejados, respectivamente, a 17 de Janeiro, 22 de Janeiro e 3 de Fevereiro, três datas intimamente ligadas ao ciclo do carnaval. Este iniciava-se com as «festas dos loucos» que se sucediam ao Natal. Durante as festas de Santo Estêvão, de São João e dos Santos Inocentes, os valores eram invertidos.
Ridicularizavam-se as autoridades, com o seu consentimento, e agia-se como se o mundo estivesse «de pernas para o ar», como se se pertencesse a um mundo invertido. Não se estava num período em que o sol apenas começava a recomeçar a sua caminhada para vencer as trevas? (o fim do inverno, no solstício de 21 de dezembro – hemisfério norte) O burro, animal de Seth, era amiúde associado a essas festas dos loucos. Era também o caso do galo, porque os loucos do carnaval envergavam com frequência um barrete sobrepujado por uma cabeça ou crista de galo: o coqueluchon. Todavia, a parte mais interessante do que constituía o carnaval propriamente dito situava-se na última quinzena de Janeiro e na primeira de Fevereiro, com a Terça-Feira Gorda e todas as festas que a rodeavam.
Começavam no dia de Santo Antão e estendiam-se até à «cadeira de São Pedro», a 22 de Fevereiro. São Vicente e São Brás eram a altura para festejar o vinho. cerimônias báquicas que falavam bem àqueles que sabiam ouvir o oráculo da divina garrafa. Acompanhado pelo seu porco, Santo Antão fazia parte das personagens do carnaval. Este período está ligado simbolicamente à viagem das almas depois da morte e todos os ritos que nela se desenrolavam têm de ser analisados nesse sentido. Assim, as festas dos loucos, enquanto inversão, correspondem a descida aos infernos, ao mundo invertido. O porco-matéria de Santo Antão será sacrificado, degolado, quase ritualmente, mas o santo traz o cajado em forma de tau. E é o signo do tau que, no Êxodo e em Ezequiel, marca a fronte dos escolhidos e protege do anjo da morte. E Antão, a 17 de Janeiro, pode permitir vencer os infernos porque é o senhor do fogo e, nessa qualidade, cura uma doença chamada «fogo de Santo Antão».
O dia dos cordoeiros
Há uma data que se reveste de particular importância no seio do carnaval: o dia 25 de Janeiro, comemoração da conversão de São Paulo mas, sobretudo, «dia dos cordoeiros». Nesse momento preciso, o Sol cruza o extremo norte da Via Láctea, esse caminho de estrelas que se projeta sobre a estrada de Compostela(no hemisfério norte). Nesse dia, faziam-se «fogos de casas»: incendiavam-se pequenas cabanas semelhantes às dos leprosos e nas quais se tinha fechado cânhamo. Durante esta purificação simbólica, elevavam-se da fogueira fumos de haxixe que não podem deixar de nos recordar as práticas do «velho da montanha».
E, precisamente, o carnaval era o único período do ano em que os leprosos, desde que prevenissem da sua aproximação agitando uma sineta, podiam misturar-se na multidão. A sua chegada anunciava o início das festas dos deuses do mar e do vento e sua majestade o carnaval assumia, muitas vezes, o aspecto de Poseidon. A expulsão dos mesmos leprosos das festas do ciclo carnavalesco marcava a Terça-Feira Gorda. Todo o período em que estavam presentes aparecia como um espaço de contato possível com o mundo dos mortos. Segundo Claude Gaignebet, eram feitas cavidades nas cabanas e os leprosos eram descidos através delas. Os vapores do cânhamo, por cima deles, permitiam que as suas almas viajassem até ao Além, enquanto os seus corpos, na fossa, pareciam repousar no seio da Terra-Mãe. E acrescenta: Purificados, iniciados, os leprosos saíam salvos da prova. De manhã, apenas apareciam, nas cinzas, misteriosos vestígios de patas de ganso, que atestavam a partida, sob esta forma, das almas libertas do corpo pelo Pantagruélion. Esse dia dos cordoeiros era, por excelência, o dos cagots.
A sua participação no carnaval, no País Basco, foi descrita muitas vezes e a reminiscência ficou até aos nossos dias com os kachkarots, grupos de dançarinos que vão fazer peditórios pelas ruas. Não são mais do que uma recordação desses bandos de cagots e leprosos que estavam autorizados a mendigar apenas durante um período bem determinado do carnaval. Brueghel representou-os amiúde a mendigarem, cobertos por um grande chapéu, com um bordão e com umas vestes semelhantes às dos peregrinos de Santiago de Compostela. Nessa data de 25 de Janeiro, festa da conversão de São Paulo, não pensariam os cagots-cordoeiros no Caminho de Damasco e na grande conversão do Sol no seio da Via Láctea? Encontramos de novo os cagots, noutra ocasião, durante o carnaval: a 3 de
Fevereiro, dia de São Brás, caro aos Templários. Lembremos que eles exerciam três ofícios principais: carpinteiro, fiadores de cânhamo e tecelões. Ora, São Brás era o padroeiro dos trabalhos de tecelagem.
Uma vez mais, os tecelões desempenharam um papel à parte nos mistérios e foram, ao que parece, os veículos privilegiados das doutrinas heréticas, a ponto de se chamar tecelões aos Cátaros, como se os dois termos fossem idênticos. No dia de São Brás realizavam-se as festas do fio e da lã. Mas é também o dia do Santo Sopro, ou do vento. Em alguns aspectos, São Brás poderia ser comparado a Orfeu. Os animais selvagens ouviam os seus ensinamentos e, nas cerimônias do carnaval, convém, em certas regiões, associá-lo ao culto do urso. Mas a sua festa corresponde também ao dia dos ventos ou dos sopros. Então, temos de lembrar-nos de que é o senhor da palavra secreta. Blaiser (soprar) significa, com efeito, «falar de uma determinada forma», sussurrando, transformando os sons.
É daí que provém, por deformação e extensão, o termo «blason» (brasão), a língua heráldica que era uma maneira de dizer as coisas de outro modo, a fim de que pudessem ser compreendidas por aqueles que tinham a capacidade de as entender, e apenas por eles. E Brás, associado aos Vanes, caros aos povos pelásgicos, lembra-nos essas grandes orelhas que ornam as esculturas de Vézelay, tal como os deuses vanes dos povos do mar sabiam, do seu carro naval, ouvir as palavras levadas pelo vento e as joeiravam, retendo apenas a que estava desprovida de toda a impureza. De qualquer modo, os nossos santos templários parecem intimamente ligados ao carnaval, tal como os cagots. Será um mero acaso?
Por certo que não, dado que, segundo o artigo 75º da regra primitiva, a candelária fazia parte das festas oficiais que deviam ser celebradas nas comendas templárias. Os cagots e os segredos da arte gótica. Dizer que os cagots contraíram uma espécie de lepra é uma coisa, deduzir daí que é essa a única fonte dos seus tormentos, é outra. Na verdade, não só foram considerados leprosos, mas também uma raça maldita. Podemos mesmo perguntar-nos se a lepra não será mais uma consequência do que uma fonte da sua maldição. Suponhamos que tenham começado por ser segregados da comunidade e sido obrigados a habitar à sua margem, como os leprosos, e que tenham muito bem podido contrair o mal em contato com estes últimos. Logo, deveremos interrogar-nos sobre as diferentes hipóteses (ou lendas) avançadas a seu respeito. Alguns autores afirmaram que o termo cagot viria do latim cannis gothi, que significa «cães de Godos» ou «cães dos Godos».
Esta idéia foi por vezes reforçada pelo aspecto dos cagots, que apresentavam um tipo rácico próximo do dos Nórdicos. Foram descritos como tendo a pele clara e corada, os olhos azul acinzentados, e até azuis escuros, nas mulheres, e cabelos louros de estriga. Esta hipótese não é incompatível com a lepra, tanto mais que os Visigodos foram muitas vezes acusados de ter propagado esta terrível doença quando invadiram a Europa. Quanto à sua descrição física, convém acrescentar um pormenor curioso: a ausência frequente do lóbulo da orelha. Vejamos agora uma lenda que lhes diz respeito. Foi censurado aos cagots terem sido amaldiçoados por Salomão, em virtude do mau trabalho que haviam realizado, quando da construção do Templo em Jerusalém.
Ora, lembremos que o próprio Salomão foi imiscuído numa história de patas de ganso, dado que aquela a quem deu um filho, origem da linhagem dos «reis dos reis» etíopes, a rainha do Sabá, tinha um pé de palmípede. Ademais, chamou-se gesitanos aos cagots. A origem deste apelido parece estar na Bíblia, mais precisamente no segundo Livro dos Reis: aí, é relatada a cura de Naâman por Eliseu. Naâman, rei de Aram e chefe do povo dos arameus, era leproso. Ora, Eliseu tinha um criado chamado Géhazi e este último, avaro, obrigou Naâman a pagar-lhe o preço da cura, sem que Eliseu soubesse. No entanto, o profeta acabou por saber e maldisse Géhazi, nestes termos: «A lepra de Naâman agarrar-se-á a ti e à tua posteridade, para sempre.» E Géhazi «afastou-se dele branco de lepra como a neve».
Assim, os cagots, chamados gesitanos, seriam os longínquos descendentes de Géhazi. No entanto, as características étnicas dos cagots, sobretudo nórdicos, impedem-nos de ver neles um povo semita. Mas sabemos que povos pelásgicos habitaram durante muito tempo no Próximo Oriente e participaram na construção do Templo de Salomão. Esses «cães dos Godos» poderiam muito bem ser os «cães de Gau», do nome do povo Gall, que está na origem do termo Galileia. Ora, o ofício mais especialmente reservado aos cagots foi o de carpinteiro. A sua fama na matéria era tal que disputavam a sua colaboração. Por vezes, eram também utilizados como Arquitetos e pedreiros, confiando-lhes a construção de fortalezas. Gaston Phoebus recorreu largamente a eles para tais tarefas.
Assim, encontramo-nos perante um povo maldito vindo do Oriente, ligado à construção do Templo de Salomão, apreciado pelas qualidades de construtores e, em especial, de carpinteiros manifestadas pelos seus membros. Esse povo parece ter-se implantado nos montes Pirenéus e no resto do território, durante a Idade Média, mas só teve contratempos mais tarde, depois do desaparecimento da Ordem do Templo. Na mesma altura, assistimos ao nascimento de uma nova forma de arquitetura, conhecida sob o nome de arte gótica, propagada na construção de catedrais graças aos cuidados da Ordem do Templo. A construção das catedrais deve, ainda por cima, muitíssimo aos carpinteiros e à sua capacidade para fazerem uma abóbada de madeira absolutamente perfeita, sobre a qual era montada a abóbada de pedra. Uma vez terminada esta última, tendo sido colocada a chave da abóbada e sustentando-se o conjunto por si próprio, destruía-se a abóbada de madeira, obra-prima indispensável, mas de vida efêmera.
Não esqueçamos que, no interior de cada comenda, havia pedreiros, carpinteiros e canteiros que estavam colocados sob o comando de um oficial templário com qualidades de arquiteto, chamado magister carpentarius: mestre carpinteiro. Não seria conveniente aproximar os dois fenômenos e ver nessas construções uma «arte gau-tica», uma arte ligada aos cagots que poderiam muito bem ter sido importados para o Ocidente pelos Templários? Esses Templários que veneravam especialmente alguns santos festejados em ligação com o «dia dos cordoeiros». Voltemos às lendas veiculadas pelos «mesteirais».
Quando Hiram foi chamado por Salomão para construir o Templo de Jerusalém, mandou buscar os melhores operários a quase todas as partes do mundo. Entre estes encontrava-se Mestre Jacques… originário dos Pirenéus. Que coincidência: os Pirenéus são precisamente a zona de máxima implantação dos cagots. Esses operários dos Pirenéus seriam os construtores da coluna chamada Jakin e foi em recordação desse elemento mítico que alguns grupos de companheiros se denominaram depois «Filhos de Mestre Jacques». Notemos que, na zona basca, habitada pelos cagots, Jakin significa «sábio» ou «o sábio». O primeiro Livro dos Reis refere que, no topo da coluna Jakin, se encontrava uma escultura em forma de flor-de-lis. Mas seria mesmo um lis? Estilizada, poderia tratar-se também de uma pata de ganso. Ao fim e ao cabo, Hiram, o fenício, devia venerar a deusa Anat (Vênus) de pés de pato. Então, os cagots foram detentores dos segredos da «arte gau-tica», trabalhando para a construção das catedrais sob a proteção dos Templários? Sem dúvida, e a história confirma-o.
Os cagots, «mesteirais» dos Templários
Francisque Michel, debruçando-se sobre um dos apodos (gaffo ou gaffet) dado aos cagots, diz-nos: Gavacho e gaffo provêm ambos, em meu entender, de uma mesma e única raiz; se devesse alterar a minha opinião, seria apenas para ver a raiz da última destas palavras no nome dos habitantes das montanhas dos Altos Alpes que se chamam gavots […] e sabemos que os companheiros do dever designam por gavots os membros de uma sociedade rival, a dos companheiros do dever de liberdade. Luminoso!
Eis mais uma prova por que os companheiros do dever de liberdade e os «filhos de Salomão», filiados na Ordem do Templo, são os mesmos e a sua origem deve ser mesmo procurada entre os nossos gaffos ou cagots. Ainda por cima, mesmo fora da zona pirenaica, os cagots estiveram instalados na proximidade imediata das casas templárias. Na Bretanha, por exemplo, perto de Belz (Morbihan), existia, na aldeia de La Madeleine, uma capela para uso exclusivo dos «cacous», de quem se dizia que os antepassados haviam tido lepra e eram especialistas no fabrico de cordas. Um pedaço de terra próxima ainda ostenta o nome de «La Corderie» (A Cordoaria). Perto da capela, cruzes templárias de pedra serviam de limites às terras dos Templários. [Nota: «Cacou» é o termo utilizado para designar os cagots, na Bretanha.]
Na mesma região, perto de Ploêmel, uma outra capela de La Madeleine foi destruída em 1769. Situava-se afastada do burgo de Locmiquel, numa zona de charnecas. Era considerada a «capela dos cordoeiros» e nomes de cadastro como park er gorderi (o campo da cordoaria), ou praden, flouren, liorh caqueu (o prado, a campina, a horta dos cacous) marcam o local onde se situava a antiga aldeia dos cordoeiros. E, também lá, os irmãos da Ordem são seus vizinhos. Do mesmo modo, em Merlevenez, feudo templário por antonomásia, e cuja igreja de Nossa Senhora da Alegria é uma pura maravilha, encontramos uma capela de Santa Madalena, muito perto da igreja: era a dos cordoeiros considerados leprosos. Poderíamos, sempre nesta região, citar casos semelhantes em Kerioual, perto de Nostang, ou em Kerdavid, perto de Riantec, em Saint-Marc-en-Guer, na Corderie-en-Campénéac, na Corderie-en-Caro, em La Madeleine-en-Monon, etc.
Em Plouhinec, uma aldeia de cordoeiros estava instalada no Mezad Bras e tinha a sua capela de Santa Madalena. A discriminação era tal que o reitor René-Alexandre Rogon comprou as casinhas baixas dessa aldeia e lançou-lhes fogo, obrigando a população de Plouhinec a acolher os cacous nos outros bairros, no seu seio. E, como sempre, os Templários são seus vizinhos. Por outro lado, vemos que, na Bretanha, é perto de Santa Madalena que encontramos os cagots. Perto de Le Mans são sobretudo protegidos por um outro santo caro aos Templários, dado que são designados pelo nome de cagous de São Gil. Suponhamos que esses cagots tenham sido trazidos do Oriente pelos Templários e estes hajam utilizado os seus conhecimentos de arquitetura e, nomeadamente, a sua arte como carpinteiros e pedreiros.
A necessidade de preservar determinados segredos pode ter conduzido a mantê-los afastados das populações e a não permitir a sua assimilação. Também não é impossível que eles tenham realmente transportado uma doença com eles, e isso desde a sua origem. Isso explicaria, por certo, que a sua zona de habitação se encontrasse perto das casas templárias, que os «Filhos de Salomão» filiados na Ordem se vejam designados por nomes idênticos aos que serviam para denominar os cagots, mas talvez também o termo curioso «arte gótica» que seria uma «arte gau-tica» ou arte dos Galls do Oriente aos quais o símbolo do galo era muito querido, esse galo que se encontra em cima dos campanários das nossas igrejas. Acrescentaremos um pormenor perturbante. Com efeito, sabemos que, depois da abolição da Ordem do Templo e do seu martírio, inúmeros companheiros que pertenciam aos «Filhos de Salomão» se sentiram desorientados e até se consideraram em perigo. Amiúde, recusaram-se a continuar a desempenhar as tarefas em que se ocupavam.
Viu-se inclusive aí a origem de algumas torres de igreja inacabadas. Em Paris, sendo bem conhecido o ódio do rei por tudo quanto se relacionava com o Templo, esses companheiros preferiram pôr-se rapidamente a salvo e refugiaram-se no único local onde o poder real tinha dificuldade em exercer-se: o Pátio dos Milagres. Nessa selva, era difícil que fossem inquietá-los. Dado que era necessário viver, tornaram-se falsos doentes que pediam nos adros das igrejas que tinham construído ou então salteadores. No Pátio dos Milagres, os seus conhecimentos, nomeadamente esotéricos, conferiram-lhes uma certa aura e, amiúde, ocuparam postos importantes na hierarquia dos salteadores, a ponto de imporem uma linguagem secreta e destinada a conservar a tradição, utilizando imagens e jogos de palavras. Essa linguagem, linguagem das aves (ou dos patos), recebeu o nome de argot (calão), isto é, veículo dos segredos da «arte gau-tica».
Entre esses «Filhos de Salomão», alguns tornaram-se personagens importantes no Pátio dos Milagres, funcionários e conselheiros do chefe dos salteadores que começou a ser chamado rei do argot. Ora, esses funcionários foram eles próprios chamados cagous ou cagots e, a partir de então, o rei do argot passou a ser considerado Grão-Mestre em «cagoterie». Reunidos em sociedade secreta, organizavam-se em assembleias durante as quais cada um escondia o rosto sob um pedaço de pano, a que foi dado o nome de cagoule. Como poderemos pensar que se trata de uma mera coincidência?
E quando, em 1789, alguns revolucionários saídos da franco-maçonaria operacional, logo, descendentes das tradições dos mesteirais, quiseram derrubar a realeza que eliminara a Ordem do Templo, firmam-no ostentando como os cagots uma roseta no seu chapéu, ou arvorando o barrete frígio, símbolo dos iniciados e parecido com uma crista de galo. E o grito de um desses «cristados» que se elevou da multidão, quando rolou a cabeça de Luís XVI? Esse grito foi: – Jacques de Molay, eis-te vingado! É claro que tudo isto não passa de um conjunto de presunções, mas parecem-nos suficientes para afirmar que os cagots estão na origem das lojas de construtores organizadas pelos Templários e que trabalharam na ereção das catedrais góticas da Europa. [Nota: As primeiras lojas maçônicas reuniram-se em estalagens com tabuletas do ganso e da grelha.]
Mais informações sobre os Templários:
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