Os Templários – História – (5)
Posted by Thoth3126 on 20/07/2016
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES GUERREIROS DE MANTOS BRANCOS COM CRUZES VERMELHAS
Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos:
Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros Templários apresentam particularidades estranhas.
Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas.
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OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.
Mais informações sobre os Templários: http://thoth3126.com.br/category/templarios/
Segunda Parte – O TEMPLO, POTÊNCIA FINANCEIRA
Garantir a segurança dos transportes e das trocas
Vimos como o Templo garantira um poderio fundiário considerável, como organizara a cultura das suas terras, o armazenamento, o artesanato, etc. Todavia, desde o início – e convém insistir neste ponto -, os Templários também tinham percebido perfeitamente que os bens criavam tanto mais riqueza quanto mais rápida era a sua circulação. Sobretudo, deviam encaminhar para a Palestina a maior parte dos seus excedentes ocidentais, quer se tratasse de abastecimentos, de equipamentos ou de espécies monetárias.
Antes das cruzadas, o Mediterrâneo era sulcado pelos navios comerciais italianos. Apesar dos inúmeros interditos formulados e renovados pelo papa, não hesitavam em comerciar com os infiéis muçulmanos, fornecendo-lhes, inclusive, armas. Sabemos muito bem, hoje em dia, como o interesse geral e o sentimento patriótico são noções estranhas ao mundo dos mercadores. Mesmo assim, esse tipo de trocas tornou-se muito mais difícil de realizar uma vez iniciadas as cruzadas.
A manobra tornava-se um pouco mais visível. Os mercadores consolaram-se rapidamente ao aperceberem-se de que as necessidades de importações dos cruzados iriam ser enormes. Era preciso assegurar a intendência desse exército, entregar-lhes cereais, roupas, armamentos, cavalos, madeira (muito rara no Oriente). No regresso, os navios partiam com os porões cheios de tecidos de algodão e de especiarias. O Ocidente descobria os produtos orientais e a moda não tardaria a espalhar-se. A implicação do império bizantino no conflito provocou também um desenvolvimento do comércio no mar Negro e no mar Egeu. Os Templários não podiam desinteressar-se desse comércio.
Em cada uma das suas comendas, os Templários mantinham, com aquele sentido de organização que os caracterizava, o registro da situação precisa dos excedentes produzidos. Uma centralização das informações era realizada em cada província da Ordem a fim de organizar, da forma mais racional possível, o encaminhamento dos víveres para o Oriente. O resto dos excedentes era armazenado ou vendido e os produtos financeiros daí resultantes eram, em parte, exportados, também, para garantirem a liquidação das despesas que tinham de ser feitas no local, na Terra Santa.
As necessidades em espécies sonantes e com o peso da lei eram consideráveis. Citemos, por exemplo, a construção da fortaleza de Japhet. Custou 11.000 besantes sarracenos aos Templários e eles tiveram de despender mais 40.000 besantes por ano na sua manutenção. Todos os dias, comiam lá 1.800 pessoas e até 2.200, em tempo de guerra. Todos os anos, devia ser encaminhada para lá a carga de 12.000 mulas, de aveia e frumento, sem contar os outros mantimentos.
A guarnição de Japhet contava com 50 irmãos cavaleiros, 30 sargentos, 50 turco-polos, 300 balistários, 820 escudeiros e homens de armas diversos e 40 escravos, todos eles alimentados, instalados e equipados a expensas da Ordem do Templo. E quase tudo vinha do Ocidente. Os próprios Templários organizavam os carregamentos graças à sua frota de navios, a cujo papel voltaremos mais tarde. Na mesma época, encaminhavam também para a Palestina mercadorias por conta de terceiros. A importância de todos esses carregamentos implicava não só os transportes marítimos mas também no encaminhamento de quantidades consideráveis de mercadorias em direção aos portos.
Era preciso, pois, assegurar a proteção das estradas, das rotas comerciais e do comércio em geral e, se a chamada missão original ligada com a proteção das estradas da Palestina não fora, sem dúvida, mais do que uma cobertura no início da Ordem, em contrapartida, os Templários assumiram realmente essa tarefa no Ocidente. Tinham de proteger e facilitar o comércio e, para tal, fazer de modo que as mercadorias circulassem rapidamente e sem riscos. Isto esteve na origem daquilo a que poderíamos chamar as estradas dos Templários. Com efeito, organizaram locais de vigilância regulares nos caminhos importantes. Organizaram-se de modo a instalar casas ao longo das vias comerciais, distando cada uma da seguinte um dia de marcha.
Isto permitia aos viajantes dormirem, todas as noites, ao abrigo de qualquer ataque, tanto eles como os seus bens. Ademais, os irmãos da Ordem patrulhavam essas vias a fim de dissuadirem eventuais malfeitores e, em caso de agressão, nunca estavam muito afastados e podiam, portanto, lançar-se em perseguição dos bandidos. Quando não havia casa, os Templários organizavam um campo protegido, perto de um poço onde se pudesse acampar. Nos eixos mais importantes aos olhos da Ordem, as estalagens dos Templários ainda eram mais próximas.
Os pontos estratégicos e as passagens perigosas eram guardados por castelos ou locais fortificados como o Castelo-Peregrino, o Krak dos Cavaleiros ou o Vau de Jacob, na Terra Santa, o que era verdade por causa da guerra no Oriente, também o era por razões de segurança comercial, no Ocidente. Nota: O Krak dos Cavaleiros não foi construído pelos Templários, mas, no entanto, eles mantiveram lá uma guarnição. Encontramos inúmeros exemplos desse tipo. Assim, entre Payns e Coulours, em Yonne, os Templários possuíam uma casa ou uma quinta, em média, a cada oito quilômetros, guardando em especial os vaus de transposição de rios e riachos e as passagens perigosas. Para chegarem a esse resultado, tiveram, amiúde, de comprar ou trocar terras, o que demonstra, se tal fosse necessário, que se tratava mesmo de uma política deliberada. Deste modo, o viajante encontrava-se sempre nas terras da milícia ou na sua zona de influência e vigilância.
AS ESTRADAS DOS TEMPLÁRIOS
Conseguimos descobrir quais eram os principais eixos comerciais utilizados e protegidos pela Ordem do Templo. Acompanhemos Louis Charpentier que dedicou interessantes pesquisas a este tema: duas vias essenciais ligavam o Mediterrâneo ao Norte de França, passando uma pela casa-mãe de Paris e outra pela de Payns. A primeira partia de Marselha e subia por Arles, Nimes, Alès, Le Puy, Lezoux, Saint-Pourçain-sur-Sioule, Pouques, Nemours, Paris, Tille-prèsBeauvais, Abbeville, para atingir o mar perto de Berk no Temple-sur-Fauthie. Prolongava-se, sem dúvida, até Boulogne e Calais, onde normalmente se embarcava para a Inglaterra. A menos que os Templários tenham disposto, perto de Berk, de um local de embarque discreto.
A segunda estrada partia também de Marselha e chegava a Avignon pelo lago de Berre, antes de subir o vale do rio Ródano pela margem esquerda, mantendo-se afastada do rio. Chegava a Lyon e, em seguida, Belleville, Mâcon, Châlon, Troyes, Payns e chegava a Abbeville por Compiègne e Montdidier. Entre estes dois caminhos existia uma via intermadiária que permitia, sem dúvida, evitar a estrada coberta de neve do Maciço Central, no Inverno. Passava perto de Saint-Étienne e atravessava Bourbon-Lancy e Auxerre, onde bifurcava quer em direção a Payns, quer em direção a Paris. Uma outra via reforçava este percurso na parte leste e subia os Alpes por Grenoble, Voiron e Bourg.
Para se dirigirem para a Baixa-Mancha e a Bretanha, outro caminho partia da bacia do Thau e subia por Espalion, Rion-en-Montagne, seguia paralelamente ao Indre até Villandry e, em seguida, passava por Le Mans, Balleroy e pelo Contentin até Saint-Vaast-la-Houge e Valcanville, perto de Barfleur. De Le Mans, uma outra estrada permitia chegar a Rennes, Saint-Malo, Saint-Cast e Sant-Brieuc. Da bacia do Thau podia também chegar-se a Bordéus por Montauban, encontrando em Damavan a via que vinha de Port-Vendres, por Perpignan e Toulouse.
Estradas transversais, que iam de oeste para leste, terminavam todas nas passagens e nos desfiladeiros, precisa Charpentier: a da Flandres para Estrasburgo, reforçada por uma rota paralela de Berk a Colmar. A do Baixo Sena (entra-se em Caudebec) em direção ao Jura, pelo Sul ou pelo Norte de Paris, Payns, Troyes ou Besançon. A que se junta a da Bretanha que passa por Rennes, Le Mans, Orléans, Auxerre. Uma estrada do Baixo Loire em direção às mesmas regiões do Jura, passava por Nantes, pelo Sul do Loire, Bourges, Pougues, Châlon. De Payns irradiavam também diversas vias para leste, pelos Vosges e o Jura; a sudoeste, para La Rochelle e Bordéus. É preciso referir também as estradas em direção aos desfiladeiros dos Pirenéus, onde se pode aceder, por transversais, a Puymorens, Peyresourde e ao Somport.
Porto de La Rochelle construído e mantido pelos Templários
Em direção aos desfiladeiros dos Alpes, por Restefond-Mont-Genèvre, Mont-Cenis e, certamente […] em direção a São Bernardo. A disposição dos estabelecimentos dos Templários ao longo dos caminhos era especialmente cerrada na Flandres e em Champagne, nessas regiões que constituíam a placa giratória do comércio do norte, nomeadamente no que se referia aos tecidos. Uma via especial ligava as grandes cidades de feiras de Champagne à Flandres, pelo principado de Liège. A propósito da importância das estradas templárias, Demurger faz notar, precisamente: Não é por acaso que, na primeira lista das províncias da Ordem, dada pela regra, cerca do ano 1160, figura uma província da Hungria por onde passam obrigatoriamente as vias utilizadas pelos cruzados que não gostam de fazer a Santa Passagem por mar.
Também em Itália, os caminhos seguidos pelos peregrinos atraíam os Templários: tinham um estabelecimento em Treviso, no início da estrada dos Balcãs para Constantinopla e, fora de Itália, em Trieste, Pola, Ljubliana e Vrana, na Croácia; Vercelli, no Piemonte, via chegar dos Alpes os peregrinos que iam para Roma e aqueles que queriam dirigir-se à Terra Santa; os Templários e os Hospitalários estavam, naturalmente, aí instalados. Convém referir também a importância das implantações dos Templários ao longo dos caminhos de peregrinação que conduziam os peregrinos a Santiago de Compostela. Pôr em funcionamento uma cobertura geográfica desta amplitude, instalá-la, equipá-la, dotá-la de homens, tudo isso não se fez de um dia para o outro. Um plano determinado desde o início conduzia sem dúvida o conjunto das operações.
DO COMÉRCIO ÀS FINANÇAS
O Templo pretendia favorecer o comércio garantindo a segurança dos caminhos, mas também diminuindo a tarifa das portagens. Permitir a circulação das mercadorias e dos bens de uma província para outra, e de um país para outro, implicava o câmbio das moedas, a circulação das moedas. Também nesse domínio convinha garantir a segurança das transferências e criar instrumentos monetários adequados. As operações tradicionalmente realizadas pelos banqueiros italianos, na maior parte das vezes lombardos, eram extremamente limitadas. O Templo iria resolver esse problema.
Beneficiando-se de uma formidável implantação, viria a transformar as suas comendas em balcões e agências bancárias e a criar um bom número de instrumentos financeiros novos. Assim, o Templo foi não só um grande proprietário fundiário, um produtor, um transportador e até, por vezes, comerciante, mas também um banqueiro, tudo isso concebido no mesmo espírito que as multinacionais modernas atuais. Em cada província da Ordem foi designado um irmão tesoureiro. Foi encarregado de coordenar o conjunto das operações financeiras e de verificar toda a contabilidade das casas. Com efeito, perante qualquer pedido da Ordem, deveriam poder ser apresentadas de imediato todas as contas de receitas e despesas de qualquer casa. Os tesoureiros da comenda de Paris desempenharam um papel de especial importância dado que, desde o início do século XIII, foram administradores do tesouro do rei de França. Geriram os fundos do Estado assumindo em muitos aspectos, se não totalmente, o mesmo papel que os futuros superintendentes de finanças. Em caso de necessidade, isto é, frequentemente, adiantavam dinheiro ao rei. Por vezes, eram forçados a contrair empréstimos em nome do Tesouro real, junto dos banqueiros italianos, apresentando a sua garantia de pagamento. Verificavam as contas dos contabilistas e recebedores dos dinheiros públicos. Assim, a comenda de Payns estava encarregada de receber as taxas devidas ao reino de Champagne e na Flandres.
Algumas comendas importantes viam-se investidas de responsabilidades financeiras suficientemente pesadas para que fosse julgado necessário juntar ao tesoureiro alguns contabilistas ou caixas. Apesar dos cuidados postos na proteção das estradas, não valia a pena tentar o diabo transportando consigo somas consideráveis. Ora, as transações realizadas por altura das feiras podiam pôr em jogo enormes quantias em dinheiro. O problema das transferências de fundos assumia também uma importância crucial em relação ao Oriente. Os cruzados eram amiúde obrigados a contrair empréstimos consideráveis no local que se comprometiam a reembolsar com os seus rendimentos na Europa. Como tornar mais fácil esse jogo financeiro sem correr demasiados riscos?
BANQUEIROS JÁ NA IDADE MÉDIA
Os irmãos do Templo criaram uma panóplia de instrumentos financeiros práticos e seguros, em relação aos quais podemos dizer que não diferiam nada, nos princípios, dos utilizados pelos atuais bancos modernos. As comendas da Ordem transformaram-se, antes de mais nada, em verdadeiros bancos de depósitos. Aliás, não eram as únicas nem as primeiras a desempenharem esse papel. Esse era muitas vezes o caso dos mosteiros, bastante seguros na medida em que os malfeitores hesitavam em violar os locais de culto. No caso dos Templários, para além da proteção do príncipe, os depositantes podiam contar com uma defesa musculada dos seus bens. Aqueles monges eram soldados e isso constituía uma garantia suplementar apreciável, caso a outra não tivesse sido suficiente. Aliás, isso não impediu o Templo de Londres de ser atacado duas vezes.
Em 1263, o jovem príncipe Eduardo, que se encontrava sem dinheiro, forçou os cofres do Templo e apoderou-se de dez mil libras pertencentes a cidadãos de Londres e, em 1307, Eduardo II roubou ao Templo cinquenta mil libras em dinheiro, jóias e pedras preciosas. Fosse como fosse, e apesar de o rei de Inglaterra nem sempre ter sido honesto, os soberanos desse país tiveram suficiente confiança na probidade e segurança da Ordem para lhe confiarem, como aconteceu aliás com a França, a guarda do tesouro real. Um tal «Roger, o Templário», recebedor do Templo de Londres, foi também esmoler do rei Henrique II de Inglaterra e era ele que repartia,como bem entendia, as esmolas reais entre os pobres que vinham pedir com insistência ao palácio.
Cavaleiros Templários como Ugoccione de Vercelli e Giacomo de Montecuco foram também conselheiros financeiros do papa. Para além desses clientes célebres, muitos havia que recorriam aos serviços do Templo para lá depositarem as suas riquezas. O dinheiro de cada depositante era encerrado numa arca que, por vezes, estava equipada com duas fechaduras, com uma chave para o cliente e outra para o tesoureiro, como nos bancos suíços de hoje. Depositavam-se também jóias no templo, bem como objetos preciosos e até títulos de rendimentos e de propriedades. Por vezes, os depósitos serviam de caução a empréstimos pedidos por particulares. Com efeito, os Templários praticavam o empréstimo sobre penhores e o empréstimo hipotecário. Também faziam de notários, conservando registros e servindo de executores testamentários. Eram também administradores de bens por conta de outrem mas, neste caso, era designado um irmão diferente do tesoureiro. Não se misturavam as funções.
Como banqueiros, mantinham contas-correntes com particulares que depositavam o seu dinheiro com eles e podiam levantá-lo, mandar fazer pagamentos através da sua conta ou encarregar os Templários de fazerem recebimentos por eles. Regularmente, procedia-se a um acerto de contas. Recomeçava-se então a partir do saldo resultante do período precedente. Em geral, salvo motivo especial, a Ordem do Templo fazia acertos de contas três vezes por ano: na Ascensão (Maio), no dia de Todos os Santos(01 de Novembro) e na Candelária (02 de fevereiro). Ademais, os Templários tinham, para os seus grandes clientes, uma contabilidade por tipos de operações.
Jules Piquet apresenta o exemplo das rubricas que figuram nas contas entregues a rainha Branca de Castela: Receitas:
• Reembolsos de empréstimos concedidos a diversos particulares e abadias;
• Proveniente da exploração do domínio das arras da rainha-mãe: – entregas dos prebostes; – entrega dos bailios; Subtotal: – entregas referentes aos particulares.
• Receita proveniente da exploração do domínio de Crépy: – entregas de impostos; – entregas dos bailios; Total.
• Uma entrega da rainha ao Templo: + Total das receitas durante quatro meses; – Total das despesas durante quatro meses; =Total geral e novo saldo credor da rainha junto do Templo.
O capítulo das despesas era menos dividido (empréstimos, dádivas, despesas de habitação da rainha). A conta era acompanhada por um extrato que mencionava os diversos devedores da rainha-mãe. Nele se encontravam vestígios de adiantamentos muito importantes concedidos a mosteiros e abadias. No dorso do documento, o contabilista inscrevera também outras informações que testemunhavam a sua preocupação de enviar um extrato de conta explícito e que evitasse qualquer má interpretação ou erro. Ademais, a comparação das duas contabilidades – a mantida para a conta do cliente e a das comendas – constituía um embrião da contabilidade por partidas dobradas.
É certo que os Templários dedicavam um interesse muito especial, na França, à prestação de contas dos bailios, prebostes, mestres das moedas, etc., no quadro da missão de gestão do tesouro real, quando esta lhes estava confiada. De igual modo, tinham um extremo cuidado com as contas abertas em nome da Santa Sé para as quais centralizavam o produto de um determinado número de foros, nomeadamente os ligados ao financiamento das cruzadas.
FINANCEIROS PODEROSOS E INFLEXÍVEIS
A importância de alguns tesoureiros da Ordem foi considerável. Foi o caso do irmão Aymard, homem de confiança de Filipe Augusto. Viram-no administrar o tesouro real, velar pelo valor das moedas, presidir às sessões do Tribunal Superior da Normandia e figurar entre os três executores testamentários de Filipe Augusto. Devem citar-se também Jean de Milli, o irmão Gillon e muitos outros. Convém, aliás, referir que, quando o tesoureiro do Templo de Paris geria o Tesouro real, era, na verdade, funcionário real e, nessa qualidade, era admitido no conselho do rei onde se decidiam as medidas relativas às finanças do reino. Isso chega para demonstrar a importância desse papel e o lobby financeiro que, na época, podia constituir a Ordem do Templo.
No plano técnico, a gama de instrumentos desenvolvida pela Ordem era bastante vasta. Assim, Jules Piquet lembra que: “Quando o Templo tinha de fazer um pagamento por débito numa conta, exigia uma carta emitida pelo cliente e pelo menos selada com o seu selo. Esse escrito era necessário para evitar as consequências jurídicas de um pagamento feito com ausência da vontade do titular da conta.” Nesses «mandatos» do Templo figuravam a data de emissão, a quantia, o nome do beneficiário e do emitente, com o seu selo; o que equivale a dizer o conjunto de informações que figuram nos nossos cheques modernos. E, efetivamente, essas ordens funcionavam como cheques. Eram inclusive endossáveis, comportando menções que permitiam o pagamento a um terceiro ou a um representante. Ademais, uma forma de correspondência devia figurar na Ordem, indicando o motivo do pagamento, de modo a permitir a contabilização por tipo de operação.
No que respeitava a levantamentos, a fraca quantidade de moeda em circulação, na época, tornava delicadas as operações. O Templo também pedia que o prevenissem com algum tempo de antecipação, no caso dos saques importantes. Para todos os pagamentos, o tesoureiro do Templo exigia um recibo semelhante a este: “Eu, senhor Regnault de Nantollet, cavaleiro, faço saber a todos que recebi do tesoureiro do Templo quatro libras e quatro soldos parisienses, do trigo que foi tomado na Ronda para a rainha de Navarra, pelas quais quatro libras e quatro soldos parisienses me considero bem pago. Em testemunho disto, pus nas minhas cartas o meu selo. Dado em Paris, na segunda-feira após as Fogueiras.”
Sempre que fosse possível, os Templários preferiam não transferir moedas sonantes e com curso legal e faziam antes transferência de conta para conta. Em 1224, como Henrique III de Inglaterra tinha de pagar catorze mil marcos de prata ao conde de La Marche, o Templo procedeu a uma transferência entre a casa de Londres e a de La Rochelle. Os Templários eram, verdadeiramente, os reis da compensação que evitavam a manipulação de fundos. Assim, o rei de Inglaterra emprestara setecentos e oitenta marcos a uns mercadores florentinos. A quantia era pagável ao Templo de Londres, no Pentecostes de 1261. Em caso de atraso, estava prevista uma pena de duzentos marcos. Por outro lado, o rei da Escócia devia quinhentos e cinquenta marcos aos mesmos mercadores de Florença. Ora, o rei de Inglaterra devia também dinheiro ao rei da Escócia, num montante de quinhentos e cinquenta marcos. Os Templários procederam à compensação das dívidas: a do rei da Escócia foi extinta, mas não recebeu nada, e o rei de Inglaterra viu serem-lhe creditados duzentos e trinta marcos, pelos florentinos, para saldo da sua conta.
Agindo como um verdadeiro banco de depósitos, o Templo concedia, é claro, empréstimos. A importância das doações, dos foros recebidos, os produtos excedentes comercializados punham a Ordem à frente de um encaixe monetário considerável e de enormes disponibilidades financeiras. Uma grande parte servia, por certo, para a Terra Santa, mas isso ainda deixava saldos bastante confortáveis. Eram utilizados para facilitar, mediante compras, a política fundiária do Templo ou para conceder empréstimos. Em primeiro lugar, aos cruzados que, amiúde, tinham falta de dinheiro no local. No que a isto respeita, o testemunho de Suger é eloquente. Escrevia a Luís VII: “Não podemos imaginar como nos teria sido possível subsistir neste país sem a ajuda dos Templários… Emprestaram-nos uma soma considerável. Terá de ser-lhes paga. Pedimo-vos que lhes reembolseis, sem demora, dois mil marcos de prata.”
Por vezes, as escrituras de empréstimos obtidos junto do Templo comportavam cláusulas especiais que mostram até que ponto os monges guerreiros sabiam proteger-se em relação a qualquer perda. Assim, Pedro Desde, de Saragoça, e a sua mulher, Elizabete, obtiveram um empréstimo de cinquenta morabitinos para fazerem a sua peregrinação ao Santo Sepulcro, em troca da sua herança: casas, terras, vinhas e pomares. Deixavam aos Templários os rendimentos desses bens, durante a sua ausência. Deviam recuperar a sua propriedade quando do pagamento da sua dívida mas declaravam que, mesmo assim, a sua herança reverteria para o Templo depois da sua morte. O mínimo que podemos dizer é que a Ordem fazia um bom negócio. Juridicamente, todas estas transações levantavam, mesmo assim, alguns problemas aos Templários. Com efeito, a Igreja proibia os cristãos de emprestarem dinheiro a juros, deixando essa prática aos usurários judeus que, diga-se de passagem, sempre se aproveitavam do fato para cobrarem taxas extremamente elevadas.
Algumas ordenações reais do início do século XIII tentaram moralizar as suas práticas, proibindo-os de exigir mais de quarenta e três por cento ao ano. Os Templários tinham compreendido perfeitamente o que a posição da Igreja tinha de incômodo, dado que o crédito é uma das bases do comércio. Aliás, a igreja não era totalmente palerma e, apesar de o papa S. Gregório Magno ter podido afirmar que era quase impossível não pecar quando se tinha como profissão comprar e vender, os prelados preferiam, em geral, fechar os olhos ao que se passava. Nem sempre desdenhavam de conviver com os comerciantes, desde que isso lhes trouxesse proveito, e protegiam, de um modo geral, os banqueiros lombardos, cujas práticas pouco diferiam das dos judeus.
Todavia, aquilo que podia ser admitido em relação a simples fiéis era, sem dúvida, menos fácil de aceitar no caso de uma ordem religiosa. Ora, estava fora de questão para os financeiros do Templo emprestarem dinheiro e correrem riscos se isso não recompensasse. Felizmente, não tiveram problemas para arranjar soluções. É preciso considerar à parte um caso um pouco especial: os empréstimos ao Tesouro real. Eram efetivamente feitos sem juros mas, nem por isso, deixavam de ter vantagens para os Templários, em termos de notoriedade e no plano do poder econômico e político. Por exemplo, a Ordem era, ao mesmo tempo, depositária da «libra», padrão dos pesos do reino, o que era sinal, aos olhos de todos, da probidade e honestidade dos monges-soldados e demonstrava que se podia confiar neles.
Para os outros casos, as taxas eram objeto de camuflagem. A quantia a pagar mencionada no contrato podia ser superior à realmente emprestada, o que permitia incluir os juros, sem os referir. Isso implicaria, no entanto, que os tesoureiros do Templo tivessem mantido uma contabilidade dupla ou disposto de sacos azuis. De qualquer modo, os Templários rodeavam-se de um máximo de precauções: garantias diversas, nomeadamente hipotecárias, cauções. Algumas dessas garantias podiam, aliás, assumir formas curiosas. Por exemplo, um pedaço da Verdadeira Cruz de Cristo serviu de penhor para garantia de um empréstimo feito a Balduíno II de Constantinopla. Aliás, praticavam amplamente o empréstimo sobre penhores, antepassado das atuais casas de penhores, mais conhecido como «O Invejoso», onde se pode pôr um objeto «no prego» e obter, em troca, um empréstimo, enquanto se espera recuperar o bem mais tarde.
Por vezes, não era o próprio Templo que emprestava, prestando apenas caução por alguém. De qualquer modo, a probidade da Ordem era tal que até os infiéis não hesitavam em recorrer à sua garantia, quando tratavam com os Francos. Era esta confiança na honestidade dos Templários que fazia que fossem amiúde escolhidos para fiéis depositários. Quando de um litígio, colocavam-se as quantias ou os bens em jogo nas mãos dos Templários, que deles tomavam cargo e administravam até o assunto estar resolvido. Foi o caso de uma fortaleza de Gisors que era objeto de uma querela entre o rei de Inglaterra e o rei de França. Tudo isto mostra quão grande era a gama de produtos e serviços, como diríamos hoje em dia, oferecida pelos Templários aos seus clientes. E ainda não referimos o seu papel de gestores por conta de outrem, de tesoureiros-pagadores de rendas (abundantemente entregues adiantadamente), etc. E, a tudo isso, há que juntar uma das suas missões mais delicadas: a organização de transferências de fundos.
Os Templários evitavam, tanto quanto podiam, recorrer a elas, praticando a compensação em grande escala entre as suas comendas. Isso não impedia que os locais onde chegavam mais espécies nem sempre fossem aqueles onde as necessidades de liquidez eram mais fortes. Do mesmo modo, uma vez por outra, era necessário alimentar com espécies sonantes e de curso legal esta ou aquela comenda, ou então esvaziar os cofres demasiado cheios de outra. A Ordem tinha um grande hábito de organização destas transferências de fundos, que sabia proteger muito bem. A ponto de o papa lhe confiar, amiúde, a tarefa de expedir para a Terra Santa o produto das taxas impostas em favor das cruzadas.
Quando a missão era especialmente perigosa, a Ordem recorria a verdadeiros comandos de especialistas que formava especialmente para essa finalidade. Foi o caso quando tiveram de ser expedidos os fundos enviados pelo rei de Inglaterra ao conde de Toulouse, enquanto o Languedoque era assolado pelos velhos soldados deSimão de Montfort, durante a cruzada contra os Albigenses. Essa missão delicada foi confiada ao templário Alain de Kancia, que a desempenhou com êxito. Mesmo assim, sempre que possível, os Templários arranjavam formas de transferir o dinheiro à distância, sem terem de transportar moedas. Para tal, inventaram a carta de câmbio que redigiam segundo uma moeda de conta, uma espécie de estalão, que depois servia de referência de câmbio para as moedas locais. Uma outra forma de repatriar produtos sem riscos: a particularidade do comércio com a Terra Santa.
Com efeito, os abastecimentos que vinham do Ocidente e que eram vendidos, no local, aos cruzados, rendiam dinheiro aos Templários, que servia, em parte, para comprar produtos locais, mas não em quantidade suficiente para equilibrar esse mercado, longe disso. Ora, os cruzados tinham necessidade de dinheiro no local, o Templo emprestava-lhes o produto dessas vendas e fazia-se pagar no Ocidente com os produtos das terras dos cruzados que haviam pedido empréstimos. Assim, os capitais repatriavam-se a si próprios. De qualquer forma, o lugar ocupado pela Ordem do Templo no mundo bancário da época foi rapidamente essencial, ao ponto de até os banqueiros italianos, embora invejosos por natureza, passarem muitas vezes pelo Templo para garantirem as suas próprias operações.
O mínimo que podemos dizer é que um mundo separa os «pobres cavaleiros de Cristo» que, segundo se dizia, apenas tinham um cavalo para cada dois, e este papel de banqueiros e financistas que desempenharam muito pouco tempo depois. Um mundo entre esses pobres guardadores de estradas da Terra Santa e esses inventores de engenhosos instrumentos financeiros. Um mundo entre a lenda mantida sobre as suas origens e esses contabilistas, esses manipuladores de capitais, essa multinacional quase inconcebível para a época.
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Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros Templários apresentam particularidades estranhas.
Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas.
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Segunda Parte – O TEMPLO, POTÊNCIA FINANCEIRA
Garantir a segurança dos transportes e das trocas
Vimos como o Templo garantira um poderio fundiário considerável, como organizara a cultura das suas terras, o armazenamento, o artesanato, etc. Todavia, desde o início – e convém insistir neste ponto -, os Templários também tinham percebido perfeitamente que os bens criavam tanto mais riqueza quanto mais rápida era a sua circulação. Sobretudo, deviam encaminhar para a Palestina a maior parte dos seus excedentes ocidentais, quer se tratasse de abastecimentos, de equipamentos ou de espécies monetárias.
Antes das cruzadas, o Mediterrâneo era sulcado pelos navios comerciais italianos. Apesar dos inúmeros interditos formulados e renovados pelo papa, não hesitavam em comerciar com os infiéis muçulmanos, fornecendo-lhes, inclusive, armas. Sabemos muito bem, hoje em dia, como o interesse geral e o sentimento patriótico são noções estranhas ao mundo dos mercadores. Mesmo assim, esse tipo de trocas tornou-se muito mais difícil de realizar uma vez iniciadas as cruzadas.
A manobra tornava-se um pouco mais visível. Os mercadores consolaram-se rapidamente ao aperceberem-se de que as necessidades de importações dos cruzados iriam ser enormes. Era preciso assegurar a intendência desse exército, entregar-lhes cereais, roupas, armamentos, cavalos, madeira (muito rara no Oriente). No regresso, os navios partiam com os porões cheios de tecidos de algodão e de especiarias. O Ocidente descobria os produtos orientais e a moda não tardaria a espalhar-se. A implicação do império bizantino no conflito provocou também um desenvolvimento do comércio no mar Negro e no mar Egeu. Os Templários não podiam desinteressar-se desse comércio.
Em cada uma das suas comendas, os Templários mantinham, com aquele sentido de organização que os caracterizava, o registro da situação precisa dos excedentes produzidos. Uma centralização das informações era realizada em cada província da Ordem a fim de organizar, da forma mais racional possível, o encaminhamento dos víveres para o Oriente. O resto dos excedentes era armazenado ou vendido e os produtos financeiros daí resultantes eram, em parte, exportados, também, para garantirem a liquidação das despesas que tinham de ser feitas no local, na Terra Santa.
As necessidades em espécies sonantes e com o peso da lei eram consideráveis. Citemos, por exemplo, a construção da fortaleza de Japhet. Custou 11.000 besantes sarracenos aos Templários e eles tiveram de despender mais 40.000 besantes por ano na sua manutenção. Todos os dias, comiam lá 1.800 pessoas e até 2.200, em tempo de guerra. Todos os anos, devia ser encaminhada para lá a carga de 12.000 mulas, de aveia e frumento, sem contar os outros mantimentos.
A guarnição de Japhet contava com 50 irmãos cavaleiros, 30 sargentos, 50 turco-polos, 300 balistários, 820 escudeiros e homens de armas diversos e 40 escravos, todos eles alimentados, instalados e equipados a expensas da Ordem do Templo. E quase tudo vinha do Ocidente. Os próprios Templários organizavam os carregamentos graças à sua frota de navios, a cujo papel voltaremos mais tarde. Na mesma época, encaminhavam também para a Palestina mercadorias por conta de terceiros. A importância de todos esses carregamentos implicava não só os transportes marítimos mas também no encaminhamento de quantidades consideráveis de mercadorias em direção aos portos.
Era preciso, pois, assegurar a proteção das estradas, das rotas comerciais e do comércio em geral e, se a chamada missão original ligada com a proteção das estradas da Palestina não fora, sem dúvida, mais do que uma cobertura no início da Ordem, em contrapartida, os Templários assumiram realmente essa tarefa no Ocidente. Tinham de proteger e facilitar o comércio e, para tal, fazer de modo que as mercadorias circulassem rapidamente e sem riscos. Isto esteve na origem daquilo a que poderíamos chamar as estradas dos Templários. Com efeito, organizaram locais de vigilância regulares nos caminhos importantes. Organizaram-se de modo a instalar casas ao longo das vias comerciais, distando cada uma da seguinte um dia de marcha.
Isto permitia aos viajantes dormirem, todas as noites, ao abrigo de qualquer ataque, tanto eles como os seus bens. Ademais, os irmãos da Ordem patrulhavam essas vias a fim de dissuadirem eventuais malfeitores e, em caso de agressão, nunca estavam muito afastados e podiam, portanto, lançar-se em perseguição dos bandidos. Quando não havia casa, os Templários organizavam um campo protegido, perto de um poço onde se pudesse acampar. Nos eixos mais importantes aos olhos da Ordem, as estalagens dos Templários ainda eram mais próximas.
Os pontos estratégicos e as passagens perigosas eram guardados por castelos ou locais fortificados como o Castelo-Peregrino, o Krak dos Cavaleiros ou o Vau de Jacob, na Terra Santa, o que era verdade por causa da guerra no Oriente, também o era por razões de segurança comercial, no Ocidente. Nota: O Krak dos Cavaleiros não foi construído pelos Templários, mas, no entanto, eles mantiveram lá uma guarnição. Encontramos inúmeros exemplos desse tipo. Assim, entre Payns e Coulours, em Yonne, os Templários possuíam uma casa ou uma quinta, em média, a cada oito quilômetros, guardando em especial os vaus de transposição de rios e riachos e as passagens perigosas. Para chegarem a esse resultado, tiveram, amiúde, de comprar ou trocar terras, o que demonstra, se tal fosse necessário, que se tratava mesmo de uma política deliberada. Deste modo, o viajante encontrava-se sempre nas terras da milícia ou na sua zona de influência e vigilância.
AS ESTRADAS DOS TEMPLÁRIOS
Conseguimos descobrir quais eram os principais eixos comerciais utilizados e protegidos pela Ordem do Templo. Acompanhemos Louis Charpentier que dedicou interessantes pesquisas a este tema: duas vias essenciais ligavam o Mediterrâneo ao Norte de França, passando uma pela casa-mãe de Paris e outra pela de Payns. A primeira partia de Marselha e subia por Arles, Nimes, Alès, Le Puy, Lezoux, Saint-Pourçain-sur-Sioule, Pouques, Nemours, Paris, Tille-prèsBeauvais, Abbeville, para atingir o mar perto de Berk no Temple-sur-Fauthie. Prolongava-se, sem dúvida, até Boulogne e Calais, onde normalmente se embarcava para a Inglaterra. A menos que os Templários tenham disposto, perto de Berk, de um local de embarque discreto.
A segunda estrada partia também de Marselha e chegava a Avignon pelo lago de Berre, antes de subir o vale do rio Ródano pela margem esquerda, mantendo-se afastada do rio. Chegava a Lyon e, em seguida, Belleville, Mâcon, Châlon, Troyes, Payns e chegava a Abbeville por Compiègne e Montdidier. Entre estes dois caminhos existia uma via intermadiária que permitia, sem dúvida, evitar a estrada coberta de neve do Maciço Central, no Inverno. Passava perto de Saint-Étienne e atravessava Bourbon-Lancy e Auxerre, onde bifurcava quer em direção a Payns, quer em direção a Paris. Uma outra via reforçava este percurso na parte leste e subia os Alpes por Grenoble, Voiron e Bourg.
Para se dirigirem para a Baixa-Mancha e a Bretanha, outro caminho partia da bacia do Thau e subia por Espalion, Rion-en-Montagne, seguia paralelamente ao Indre até Villandry e, em seguida, passava por Le Mans, Balleroy e pelo Contentin até Saint-Vaast-la-Houge e Valcanville, perto de Barfleur. De Le Mans, uma outra estrada permitia chegar a Rennes, Saint-Malo, Saint-Cast e Sant-Brieuc. Da bacia do Thau podia também chegar-se a Bordéus por Montauban, encontrando em Damavan a via que vinha de Port-Vendres, por Perpignan e Toulouse.
Estradas transversais, que iam de oeste para leste, terminavam todas nas passagens e nos desfiladeiros, precisa Charpentier: a da Flandres para Estrasburgo, reforçada por uma rota paralela de Berk a Colmar. A do Baixo Sena (entra-se em Caudebec) em direção ao Jura, pelo Sul ou pelo Norte de Paris, Payns, Troyes ou Besançon. A que se junta a da Bretanha que passa por Rennes, Le Mans, Orléans, Auxerre. Uma estrada do Baixo Loire em direção às mesmas regiões do Jura, passava por Nantes, pelo Sul do Loire, Bourges, Pougues, Châlon. De Payns irradiavam também diversas vias para leste, pelos Vosges e o Jura; a sudoeste, para La Rochelle e Bordéus. É preciso referir também as estradas em direção aos desfiladeiros dos Pirenéus, onde se pode aceder, por transversais, a Puymorens, Peyresourde e ao Somport.
Porto de La Rochelle construído e mantido pelos Templários
Em direção aos desfiladeiros dos Alpes, por Restefond-Mont-Genèvre, Mont-Cenis e, certamente […] em direção a São Bernardo. A disposição dos estabelecimentos dos Templários ao longo dos caminhos era especialmente cerrada na Flandres e em Champagne, nessas regiões que constituíam a placa giratória do comércio do norte, nomeadamente no que se referia aos tecidos. Uma via especial ligava as grandes cidades de feiras de Champagne à Flandres, pelo principado de Liège. A propósito da importância das estradas templárias, Demurger faz notar, precisamente: Não é por acaso que, na primeira lista das províncias da Ordem, dada pela regra, cerca do ano 1160, figura uma província da Hungria por onde passam obrigatoriamente as vias utilizadas pelos cruzados que não gostam de fazer a Santa Passagem por mar.
Também em Itália, os caminhos seguidos pelos peregrinos atraíam os Templários: tinham um estabelecimento em Treviso, no início da estrada dos Balcãs para Constantinopla e, fora de Itália, em Trieste, Pola, Ljubliana e Vrana, na Croácia; Vercelli, no Piemonte, via chegar dos Alpes os peregrinos que iam para Roma e aqueles que queriam dirigir-se à Terra Santa; os Templários e os Hospitalários estavam, naturalmente, aí instalados. Convém referir também a importância das implantações dos Templários ao longo dos caminhos de peregrinação que conduziam os peregrinos a Santiago de Compostela. Pôr em funcionamento uma cobertura geográfica desta amplitude, instalá-la, equipá-la, dotá-la de homens, tudo isso não se fez de um dia para o outro. Um plano determinado desde o início conduzia sem dúvida o conjunto das operações.
DO COMÉRCIO ÀS FINANÇAS
O Templo pretendia favorecer o comércio garantindo a segurança dos caminhos, mas também diminuindo a tarifa das portagens. Permitir a circulação das mercadorias e dos bens de uma província para outra, e de um país para outro, implicava o câmbio das moedas, a circulação das moedas. Também nesse domínio convinha garantir a segurança das transferências e criar instrumentos monetários adequados. As operações tradicionalmente realizadas pelos banqueiros italianos, na maior parte das vezes lombardos, eram extremamente limitadas. O Templo iria resolver esse problema.
Beneficiando-se de uma formidável implantação, viria a transformar as suas comendas em balcões e agências bancárias e a criar um bom número de instrumentos financeiros novos. Assim, o Templo foi não só um grande proprietário fundiário, um produtor, um transportador e até, por vezes, comerciante, mas também um banqueiro, tudo isso concebido no mesmo espírito que as multinacionais modernas atuais. Em cada província da Ordem foi designado um irmão tesoureiro. Foi encarregado de coordenar o conjunto das operações financeiras e de verificar toda a contabilidade das casas. Com efeito, perante qualquer pedido da Ordem, deveriam poder ser apresentadas de imediato todas as contas de receitas e despesas de qualquer casa. Os tesoureiros da comenda de Paris desempenharam um papel de especial importância dado que, desde o início do século XIII, foram administradores do tesouro do rei de França. Geriram os fundos do Estado assumindo em muitos aspectos, se não totalmente, o mesmo papel que os futuros superintendentes de finanças. Em caso de necessidade, isto é, frequentemente, adiantavam dinheiro ao rei. Por vezes, eram forçados a contrair empréstimos em nome do Tesouro real, junto dos banqueiros italianos, apresentando a sua garantia de pagamento. Verificavam as contas dos contabilistas e recebedores dos dinheiros públicos. Assim, a comenda de Payns estava encarregada de receber as taxas devidas ao reino de Champagne e na Flandres.
Algumas comendas importantes viam-se investidas de responsabilidades financeiras suficientemente pesadas para que fosse julgado necessário juntar ao tesoureiro alguns contabilistas ou caixas. Apesar dos cuidados postos na proteção das estradas, não valia a pena tentar o diabo transportando consigo somas consideráveis. Ora, as transações realizadas por altura das feiras podiam pôr em jogo enormes quantias em dinheiro. O problema das transferências de fundos assumia também uma importância crucial em relação ao Oriente. Os cruzados eram amiúde obrigados a contrair empréstimos consideráveis no local que se comprometiam a reembolsar com os seus rendimentos na Europa. Como tornar mais fácil esse jogo financeiro sem correr demasiados riscos?
BANQUEIROS JÁ NA IDADE MÉDIA
Os irmãos do Templo criaram uma panóplia de instrumentos financeiros práticos e seguros, em relação aos quais podemos dizer que não diferiam nada, nos princípios, dos utilizados pelos atuais bancos modernos. As comendas da Ordem transformaram-se, antes de mais nada, em verdadeiros bancos de depósitos. Aliás, não eram as únicas nem as primeiras a desempenharem esse papel. Esse era muitas vezes o caso dos mosteiros, bastante seguros na medida em que os malfeitores hesitavam em violar os locais de culto. No caso dos Templários, para além da proteção do príncipe, os depositantes podiam contar com uma defesa musculada dos seus bens. Aqueles monges eram soldados e isso constituía uma garantia suplementar apreciável, caso a outra não tivesse sido suficiente. Aliás, isso não impediu o Templo de Londres de ser atacado duas vezes.
Em 1263, o jovem príncipe Eduardo, que se encontrava sem dinheiro, forçou os cofres do Templo e apoderou-se de dez mil libras pertencentes a cidadãos de Londres e, em 1307, Eduardo II roubou ao Templo cinquenta mil libras em dinheiro, jóias e pedras preciosas. Fosse como fosse, e apesar de o rei de Inglaterra nem sempre ter sido honesto, os soberanos desse país tiveram suficiente confiança na probidade e segurança da Ordem para lhe confiarem, como aconteceu aliás com a França, a guarda do tesouro real. Um tal «Roger, o Templário», recebedor do Templo de Londres, foi também esmoler do rei Henrique II de Inglaterra e era ele que repartia,como bem entendia, as esmolas reais entre os pobres que vinham pedir com insistência ao palácio.
Cavaleiros Templários como Ugoccione de Vercelli e Giacomo de Montecuco foram também conselheiros financeiros do papa. Para além desses clientes célebres, muitos havia que recorriam aos serviços do Templo para lá depositarem as suas riquezas. O dinheiro de cada depositante era encerrado numa arca que, por vezes, estava equipada com duas fechaduras, com uma chave para o cliente e outra para o tesoureiro, como nos bancos suíços de hoje. Depositavam-se também jóias no templo, bem como objetos preciosos e até títulos de rendimentos e de propriedades. Por vezes, os depósitos serviam de caução a empréstimos pedidos por particulares. Com efeito, os Templários praticavam o empréstimo sobre penhores e o empréstimo hipotecário. Também faziam de notários, conservando registros e servindo de executores testamentários. Eram também administradores de bens por conta de outrem mas, neste caso, era designado um irmão diferente do tesoureiro. Não se misturavam as funções.
Como banqueiros, mantinham contas-correntes com particulares que depositavam o seu dinheiro com eles e podiam levantá-lo, mandar fazer pagamentos através da sua conta ou encarregar os Templários de fazerem recebimentos por eles. Regularmente, procedia-se a um acerto de contas. Recomeçava-se então a partir do saldo resultante do período precedente. Em geral, salvo motivo especial, a Ordem do Templo fazia acertos de contas três vezes por ano: na Ascensão (Maio), no dia de Todos os Santos(01 de Novembro) e na Candelária (02 de fevereiro). Ademais, os Templários tinham, para os seus grandes clientes, uma contabilidade por tipos de operações.
Jules Piquet apresenta o exemplo das rubricas que figuram nas contas entregues a rainha Branca de Castela: Receitas:
• Reembolsos de empréstimos concedidos a diversos particulares e abadias;
• Proveniente da exploração do domínio das arras da rainha-mãe: – entregas dos prebostes; – entrega dos bailios; Subtotal: – entregas referentes aos particulares.
• Receita proveniente da exploração do domínio de Crépy: – entregas de impostos; – entregas dos bailios; Total.
• Uma entrega da rainha ao Templo: + Total das receitas durante quatro meses; – Total das despesas durante quatro meses; =Total geral e novo saldo credor da rainha junto do Templo.
O capítulo das despesas era menos dividido (empréstimos, dádivas, despesas de habitação da rainha). A conta era acompanhada por um extrato que mencionava os diversos devedores da rainha-mãe. Nele se encontravam vestígios de adiantamentos muito importantes concedidos a mosteiros e abadias. No dorso do documento, o contabilista inscrevera também outras informações que testemunhavam a sua preocupação de enviar um extrato de conta explícito e que evitasse qualquer má interpretação ou erro. Ademais, a comparação das duas contabilidades – a mantida para a conta do cliente e a das comendas – constituía um embrião da contabilidade por partidas dobradas.
É certo que os Templários dedicavam um interesse muito especial, na França, à prestação de contas dos bailios, prebostes, mestres das moedas, etc., no quadro da missão de gestão do tesouro real, quando esta lhes estava confiada. De igual modo, tinham um extremo cuidado com as contas abertas em nome da Santa Sé para as quais centralizavam o produto de um determinado número de foros, nomeadamente os ligados ao financiamento das cruzadas.
FINANCEIROS PODEROSOS E INFLEXÍVEIS
A importância de alguns tesoureiros da Ordem foi considerável. Foi o caso do irmão Aymard, homem de confiança de Filipe Augusto. Viram-no administrar o tesouro real, velar pelo valor das moedas, presidir às sessões do Tribunal Superior da Normandia e figurar entre os três executores testamentários de Filipe Augusto. Devem citar-se também Jean de Milli, o irmão Gillon e muitos outros. Convém, aliás, referir que, quando o tesoureiro do Templo de Paris geria o Tesouro real, era, na verdade, funcionário real e, nessa qualidade, era admitido no conselho do rei onde se decidiam as medidas relativas às finanças do reino. Isso chega para demonstrar a importância desse papel e o lobby financeiro que, na época, podia constituir a Ordem do Templo.
No plano técnico, a gama de instrumentos desenvolvida pela Ordem era bastante vasta. Assim, Jules Piquet lembra que: “Quando o Templo tinha de fazer um pagamento por débito numa conta, exigia uma carta emitida pelo cliente e pelo menos selada com o seu selo. Esse escrito era necessário para evitar as consequências jurídicas de um pagamento feito com ausência da vontade do titular da conta.” Nesses «mandatos» do Templo figuravam a data de emissão, a quantia, o nome do beneficiário e do emitente, com o seu selo; o que equivale a dizer o conjunto de informações que figuram nos nossos cheques modernos. E, efetivamente, essas ordens funcionavam como cheques. Eram inclusive endossáveis, comportando menções que permitiam o pagamento a um terceiro ou a um representante. Ademais, uma forma de correspondência devia figurar na Ordem, indicando o motivo do pagamento, de modo a permitir a contabilização por tipo de operação.
No que respeitava a levantamentos, a fraca quantidade de moeda em circulação, na época, tornava delicadas as operações. O Templo também pedia que o prevenissem com algum tempo de antecipação, no caso dos saques importantes. Para todos os pagamentos, o tesoureiro do Templo exigia um recibo semelhante a este: “Eu, senhor Regnault de Nantollet, cavaleiro, faço saber a todos que recebi do tesoureiro do Templo quatro libras e quatro soldos parisienses, do trigo que foi tomado na Ronda para a rainha de Navarra, pelas quais quatro libras e quatro soldos parisienses me considero bem pago. Em testemunho disto, pus nas minhas cartas o meu selo. Dado em Paris, na segunda-feira após as Fogueiras.”
Sempre que fosse possível, os Templários preferiam não transferir moedas sonantes e com curso legal e faziam antes transferência de conta para conta. Em 1224, como Henrique III de Inglaterra tinha de pagar catorze mil marcos de prata ao conde de La Marche, o Templo procedeu a uma transferência entre a casa de Londres e a de La Rochelle. Os Templários eram, verdadeiramente, os reis da compensação que evitavam a manipulação de fundos. Assim, o rei de Inglaterra emprestara setecentos e oitenta marcos a uns mercadores florentinos. A quantia era pagável ao Templo de Londres, no Pentecostes de 1261. Em caso de atraso, estava prevista uma pena de duzentos marcos. Por outro lado, o rei da Escócia devia quinhentos e cinquenta marcos aos mesmos mercadores de Florença. Ora, o rei de Inglaterra devia também dinheiro ao rei da Escócia, num montante de quinhentos e cinquenta marcos. Os Templários procederam à compensação das dívidas: a do rei da Escócia foi extinta, mas não recebeu nada, e o rei de Inglaterra viu serem-lhe creditados duzentos e trinta marcos, pelos florentinos, para saldo da sua conta.
Agindo como um verdadeiro banco de depósitos, o Templo concedia, é claro, empréstimos. A importância das doações, dos foros recebidos, os produtos excedentes comercializados punham a Ordem à frente de um encaixe monetário considerável e de enormes disponibilidades financeiras. Uma grande parte servia, por certo, para a Terra Santa, mas isso ainda deixava saldos bastante confortáveis. Eram utilizados para facilitar, mediante compras, a política fundiária do Templo ou para conceder empréstimos. Em primeiro lugar, aos cruzados que, amiúde, tinham falta de dinheiro no local. No que a isto respeita, o testemunho de Suger é eloquente. Escrevia a Luís VII: “Não podemos imaginar como nos teria sido possível subsistir neste país sem a ajuda dos Templários… Emprestaram-nos uma soma considerável. Terá de ser-lhes paga. Pedimo-vos que lhes reembolseis, sem demora, dois mil marcos de prata.”
Por vezes, as escrituras de empréstimos obtidos junto do Templo comportavam cláusulas especiais que mostram até que ponto os monges guerreiros sabiam proteger-se em relação a qualquer perda. Assim, Pedro Desde, de Saragoça, e a sua mulher, Elizabete, obtiveram um empréstimo de cinquenta morabitinos para fazerem a sua peregrinação ao Santo Sepulcro, em troca da sua herança: casas, terras, vinhas e pomares. Deixavam aos Templários os rendimentos desses bens, durante a sua ausência. Deviam recuperar a sua propriedade quando do pagamento da sua dívida mas declaravam que, mesmo assim, a sua herança reverteria para o Templo depois da sua morte. O mínimo que podemos dizer é que a Ordem fazia um bom negócio. Juridicamente, todas estas transações levantavam, mesmo assim, alguns problemas aos Templários. Com efeito, a Igreja proibia os cristãos de emprestarem dinheiro a juros, deixando essa prática aos usurários judeus que, diga-se de passagem, sempre se aproveitavam do fato para cobrarem taxas extremamente elevadas.
Algumas ordenações reais do início do século XIII tentaram moralizar as suas práticas, proibindo-os de exigir mais de quarenta e três por cento ao ano. Os Templários tinham compreendido perfeitamente o que a posição da Igreja tinha de incômodo, dado que o crédito é uma das bases do comércio. Aliás, a igreja não era totalmente palerma e, apesar de o papa S. Gregório Magno ter podido afirmar que era quase impossível não pecar quando se tinha como profissão comprar e vender, os prelados preferiam, em geral, fechar os olhos ao que se passava. Nem sempre desdenhavam de conviver com os comerciantes, desde que isso lhes trouxesse proveito, e protegiam, de um modo geral, os banqueiros lombardos, cujas práticas pouco diferiam das dos judeus.
Todavia, aquilo que podia ser admitido em relação a simples fiéis era, sem dúvida, menos fácil de aceitar no caso de uma ordem religiosa. Ora, estava fora de questão para os financeiros do Templo emprestarem dinheiro e correrem riscos se isso não recompensasse. Felizmente, não tiveram problemas para arranjar soluções. É preciso considerar à parte um caso um pouco especial: os empréstimos ao Tesouro real. Eram efetivamente feitos sem juros mas, nem por isso, deixavam de ter vantagens para os Templários, em termos de notoriedade e no plano do poder econômico e político. Por exemplo, a Ordem era, ao mesmo tempo, depositária da «libra», padrão dos pesos do reino, o que era sinal, aos olhos de todos, da probidade e honestidade dos monges-soldados e demonstrava que se podia confiar neles.
Para os outros casos, as taxas eram objeto de camuflagem. A quantia a pagar mencionada no contrato podia ser superior à realmente emprestada, o que permitia incluir os juros, sem os referir. Isso implicaria, no entanto, que os tesoureiros do Templo tivessem mantido uma contabilidade dupla ou disposto de sacos azuis. De qualquer modo, os Templários rodeavam-se de um máximo de precauções: garantias diversas, nomeadamente hipotecárias, cauções. Algumas dessas garantias podiam, aliás, assumir formas curiosas. Por exemplo, um pedaço da Verdadeira Cruz de Cristo serviu de penhor para garantia de um empréstimo feito a Balduíno II de Constantinopla. Aliás, praticavam amplamente o empréstimo sobre penhores, antepassado das atuais casas de penhores, mais conhecido como «O Invejoso», onde se pode pôr um objeto «no prego» e obter, em troca, um empréstimo, enquanto se espera recuperar o bem mais tarde.
Por vezes, não era o próprio Templo que emprestava, prestando apenas caução por alguém. De qualquer modo, a probidade da Ordem era tal que até os infiéis não hesitavam em recorrer à sua garantia, quando tratavam com os Francos. Era esta confiança na honestidade dos Templários que fazia que fossem amiúde escolhidos para fiéis depositários. Quando de um litígio, colocavam-se as quantias ou os bens em jogo nas mãos dos Templários, que deles tomavam cargo e administravam até o assunto estar resolvido. Foi o caso de uma fortaleza de Gisors que era objeto de uma querela entre o rei de Inglaterra e o rei de França. Tudo isto mostra quão grande era a gama de produtos e serviços, como diríamos hoje em dia, oferecida pelos Templários aos seus clientes. E ainda não referimos o seu papel de gestores por conta de outrem, de tesoureiros-pagadores de rendas (abundantemente entregues adiantadamente), etc. E, a tudo isso, há que juntar uma das suas missões mais delicadas: a organização de transferências de fundos.
Os Templários evitavam, tanto quanto podiam, recorrer a elas, praticando a compensação em grande escala entre as suas comendas. Isso não impedia que os locais onde chegavam mais espécies nem sempre fossem aqueles onde as necessidades de liquidez eram mais fortes. Do mesmo modo, uma vez por outra, era necessário alimentar com espécies sonantes e de curso legal esta ou aquela comenda, ou então esvaziar os cofres demasiado cheios de outra. A Ordem tinha um grande hábito de organização destas transferências de fundos, que sabia proteger muito bem. A ponto de o papa lhe confiar, amiúde, a tarefa de expedir para a Terra Santa o produto das taxas impostas em favor das cruzadas.
Quando a missão era especialmente perigosa, a Ordem recorria a verdadeiros comandos de especialistas que formava especialmente para essa finalidade. Foi o caso quando tiveram de ser expedidos os fundos enviados pelo rei de Inglaterra ao conde de Toulouse, enquanto o Languedoque era assolado pelos velhos soldados deSimão de Montfort, durante a cruzada contra os Albigenses. Essa missão delicada foi confiada ao templário Alain de Kancia, que a desempenhou com êxito. Mesmo assim, sempre que possível, os Templários arranjavam formas de transferir o dinheiro à distância, sem terem de transportar moedas. Para tal, inventaram a carta de câmbio que redigiam segundo uma moeda de conta, uma espécie de estalão, que depois servia de referência de câmbio para as moedas locais. Uma outra forma de repatriar produtos sem riscos: a particularidade do comércio com a Terra Santa.
Com efeito, os abastecimentos que vinham do Ocidente e que eram vendidos, no local, aos cruzados, rendiam dinheiro aos Templários, que servia, em parte, para comprar produtos locais, mas não em quantidade suficiente para equilibrar esse mercado, longe disso. Ora, os cruzados tinham necessidade de dinheiro no local, o Templo emprestava-lhes o produto dessas vendas e fazia-se pagar no Ocidente com os produtos das terras dos cruzados que haviam pedido empréstimos. Assim, os capitais repatriavam-se a si próprios. De qualquer forma, o lugar ocupado pela Ordem do Templo no mundo bancário da época foi rapidamente essencial, ao ponto de até os banqueiros italianos, embora invejosos por natureza, passarem muitas vezes pelo Templo para garantirem as suas próprias operações.
O mínimo que podemos dizer é que um mundo separa os «pobres cavaleiros de Cristo» que, segundo se dizia, apenas tinham um cavalo para cada dois, e este papel de banqueiros e financistas que desempenharam muito pouco tempo depois. Um mundo entre esses pobres guardadores de estradas da Terra Santa e esses inventores de engenhosos instrumentos financeiros. Um mundo entre a lenda mantida sobre as suas origens e esses contabilistas, esses manipuladores de capitais, essa multinacional quase inconcebível para a época.
Mais informações sobre os Templários:
http://thoth3126.com.br/category/templarios/
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