terça-feira, 17 de outubro de 2017

A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS NÃO MERECEU MÁRIO QUINTANA

Quando leio certos pensamentos piegas atribuídos a Mário Quintana, sequer me dou o trabalho de conferir a autenticidade. Sabe-se das suas concepções da existência e de seu modo de encarar os fatos. Sua vida transcorreu simples e pacata. Nada desejava mais do que efetivamente teve. Quando as adversidades poderiam  tê-lo afetado, almas amigas tomaram conta dele. 
Sempre meio só por opção. Tivemos amigos comuns, embora tenha privado com ele em apenas uma ocasião. Não era nem muito simpático, menos aida acolhedor a quase todos. No entanto, tenho uma amiga que era íntima do poeta, de visitá-lo de quando em vez.
O que mais afeta os leitores é o fato de ter concorrido por três vezes à ABL, não por sua iniciativa, mas pela de amigos. No entanto, nas três ocasiões foi preterido por concorrentes de muito menor expressão literária.
Em 1981, os acadêmicos preferiram a Mário o político Eduardo Portella. Ora, Portella era um intelectual, com duas dezenas ou mais de textos acadêmicos. Não tinha pendores artísticos. Com todo o respeito, foi uma indisfarçável injustiça. 
Em 1983, os acadêmicos deixaram de lado o poeta para escolherem o jornalista Carlos Castelo Branco, de grande prestígio nacional, com a célebre "Coluna do Castelo" no então renomado Jornal do Brasil, da memorável Condessa,  lido pela elite cultural e econômica do país.
Depois, em 1984, a ABL preferiu Arnaldo Niskier. Esta opção foi um pouco menos vergonhosa. Em todo caso, Niskier, que por sinal é o atual presidente da Academia, tem uma considerável produção na área da literatura infantil. Como Portella, também é um intelectual muito prestigiado pela elite carioca, muito mais conhecido por sua produção de pensador, do que por sua criação literária, embora muito tenha escrito.
Corro os olhos pela lista dos acadêmicos e vejo uma plêiade de intelectuais, alguns dos quais com pouquíssima produção escrita, e outros com trabalhos de sabida pequena qualidade.
Que se atendam as vaidades das elites, não é justificativa suficiente, mas que se promovam políticos de duvidosa conduta e de textos de parca intelectualidade, cheira a outros procedimentos muito correntes em nossa pátria desvairada. É, de fato, Quintana não se sentiria à vontade nesse meio. 
Numa entrevista, afirmou certa vez Mário: "Não estou dizendo que 'as uvas estão verdes', mas, na verdade eu nunca quis pertencer à Academia..."
A ABL fez justiça a Machado de Assis, o maior literato de seu tempo, porém cometeu uma grande arbitrariedade ao deixar fora de seu quadro o grande pequeno Mário, poeta do Sul.

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