quinta-feira, 19 de outubro de 2017

PROBLEMAS DE IDENTIDADE

Oscar Luiz Brisolara
- Você tem tantas certezas, Oscar. Eu também gostaria de ser assim. Tenho tantas hesitações. Inseguranças. Oscilações. Perplexidades. Confusões de alma. Meus pensamentos nunca me parecem o suficientemente precisos. Vejo o mundo repleto de ambiguidades. Tudo me parece dúbio. O que será realmente sensato?
- É simples. Olha. Observa. Pesa. Reflete. Verás que tudo, no fundo, é profundamente lógico. Uma extrema regularidade perpassa todo o universo, desde seus componentes mais elementares, os átomos e seus subcomponentes, até o fluxo dos astros no intrincado e complexo roteiro das galáxias. Trata-se apenas de invariabilidade e constatação.
- Mas, quando saio de uma conferência ou fecho a página de um livro, em cujas argumentações a sistemática das demonstrações e das provas lógicas e pragmáticas me são apresentadas como cabais e definitivas, enfim, quando fico a sós comigo mesmo, tudo muda. Desaparece a certeza. Passo a colocar tudo na peneira da dúvida.
Quem me garante que tudo não é simplesmente ilusão, engano pragmático, resultado de uma lógica criada pela própria estrutura biológica da razão humana? Não consigo reduzir tudo a um “cogito” cartesiano. A própria física deveria ter na matemática sua filosofia fundamentadora. Mas como pode a matemática ser a filosofia da física, se a matemática é imaterial e a física, em essência, material? Ou a física seria também imaterial? Nesse caso, os positivistas me irão crucificar no Calvário das ciências. 
- Não, meu perturbado Luiz, tudo o que é está simplesmente diante de ti materializado e concreto, pela evidente razão de que simplesmente é. Se não fosse, não seria. Seria o nada absoluto. A inexistência pura. Mas, se tudo está diante de nós, impondo-se à razão, é porque o não ser simplesmente não é, inexiste. Tão evidente quanto isso. Não entendo como possa ser mais claro e transparente. Tudo o resto é simples ilusão.
- Então, o mundo e o universo constituem-se de nada mais do que de perpétua e perene ilusão.
No primeiro dia de aula conheci o Oscar. A linda professora apresentou-se. Falou. Disse. Por fim, fez uma chamada dos nomes de todos os alunos da terceira série. Esqueci-me de dizer que comecei meus estudos pela terceira série. Quando, lá pelo fim da lista ela chamou: "- Oscar!" Ninguém respondeu. Repetiu duas ou três vezes. Nada. Andou por entre as classes e, olhando para mim, disse: "- Oscar Luiz!" Falou bem forte e olhando o nome que minha mãe havia escrito na capa do caderno. Não, respondi. Eu sou o Luizinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário