Posted by Thoth3126 on 25/11/2020
CAPÍTULO X – ADIVINHANDO A CORRENTE SECRETA
Neste ponto da nossa investigação, fomos notavelmente confrontados com a aparente importância de Maria Madalena para uma rede secreta e herética. Fora daqui que tínhamos partido, com o astucioso e subliminar simbolismo da «Senhora M» da Última Ceia de Leonardo.
Contudo, nos anos que tinham decorrido desde que nos tínhamos sentido atraídos pelo mundo misterioso da heresia europeia, tínhamos percorrido muito terreno, em todas as acepções da palavra. Era tempo de fazer uma avaliação: o que tínhamos descoberto?
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Capítulo 10 – ADIVINHANDO A CORRENTE SECRETA – Livro “The Templar Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ”, de Lynn Picknett e Clive Prince.
http://www.picknettprince.com/
CAPÍTULO X – ADIVINHANDO A CORRENTE SECRETA
A «Senhora M», que interpretamos como sendo Maria Madalena, era claramente de grande importância para Leonardo Da Vinci, que, diz-se, foi grão-mestre do Priorado de Sião. Certamente, os nossos inesperados encontros com membros do atual Priorado tinham reforçado a nossa suspeita de que ela era muito importante para eles. E o mesmo se aplica a João Baptista – uma figura que dominou a obra de Leonardo e que o Priorado venera com especial devoção.
As nossas múltiplas viagens ao Sul de França revelaram que havia algum fundamento para tomar a sério as lendas que se referiam a Madalena como tendo ali vivido, mas as suas associações com o culto da Madona Negra apontam para uma ligação pagã ao sagrado feminino. Tudo na veneração de Madalena está carregado de sexualidade – uma coisa particularmente evidente na sua associação com o poema de amor erótico, o Cântico dos Cânticos.
Mas há um aparente paradoxo. Por um lado, há evidências de que Madalena fosse a esposa de Jesus – ou, no mínimo, sua amante –, mas, por outro, ela é persistentemente associada a deusas pagãs. Isto parece totalmente irracional – por que razão deveria a esposa do Filho de Deus ser associada, deste modo, a figuras como Diana, a Caçadora, e à deusa egípcia do amor e da magia, ÍSIS? Foi uma pergunta que acompanhou as nossas pesquisas.
Ao longo desta investigação, encontramos indivíduos e grupos, como os Templários, S. Bernardo de Clairvaux e o abade Saunière, que giravam em torno do tema central do Divino Feminino. Embora, para alguns deles, este tema possa ter sido apenas um ideal filosófico, o próprio fato de lhe ter sido dado um rosto feminino reconhecível aponta para uma devoção mais específica. Ela era, se não Madalena, ÍSIS, a antiga rainha do Céu e consorte de Osíris, o deus que-morre-e-ressuscita. Certamente, esta cadeia de associações – Madalena/Madona Negra/ÍSIS – foi sempre o objetivo do Priorado. Para eles, uma Madona Negra representava tanto Madalena como ÍSIS, simultaneamente. Contudo, isto é muito estranho, porque a primeira é uma santa cristã e a última uma deusa pagã: seguramente, não há nenhuma associação possível. (Por que não?)
Como vimos, os cátaros pareciam defender ideias inaceitáveis e heterodoxas sobre Madalena: na verdade, toda a cidade de Béziers foi “passada à espada” pelos soldados a mando de Roma devido a esta heresia. Para eles, ela fora a concubina (e sacerdotisa) de Jesus – uma ideia que, curiosamente, repercute a dos Evangelhos gnósticos, que a descrevem como a mulher que Jesus frequentemente beijava na boca, a quem amava acima de qualquer outra pessoa. Os cátaros acreditavam que isto era verdade, embora com a maior relutância, porque a sua própria versão do gnosticismo considerava todo o sexo e procriação como, no máximo, um mal necessário.
Esta ideia da relação de Madalena com Jesus não tivera origem nos seus precursores bogomilos, mas era, de fato, corrente no Sul de França – numa cultura que procurava elevar o Feminino em todos os aspectos, como revela o florescimento da tradição trovadoresca. E, como vimos, o panfleto da «irmã Catarina» revela que as ideias sobre Maria Madalena, reveladas nos Evangelhos gnósticos, tinham, de algum modo, sido transmitidas ao século XIV.
Curiosamente, descobrimos que aqueles que eram aparentemente os mais masculinos dos homens, os Cavaleiros Templários – ou, pelo menos, a sua ordem interna -, também estavam fortemente empenhados na elevação do Feminino. A intensidade da sua veneração pelas Madonas Negras não era ultrapassada por nenhuma outra, e a sua demanda cavaleiresca do amor transcendental foi a inspiradora das grandes lendas do santo Graal.
Os Templários eram ávidos pelo conhecimento e a sua demanda era a sua principal força impulsionadora. Aproveitavam conhecimento em qualquer parte que o encontrassem: com os árabes aprenderam os princípios da geometria sagrada, e os seus aparentes contatos próximos com os cátaros acrescentaram uma aparência gnóstica extra às suas já heterodoxas ideias religiosas. Desde o princípio, os interesses desta ordem de cavaleiros foram, essencialmente, ocultistas e esotéricos. A história pouco convincente das suas origens, como protetores dos peregrinos cristãos da Terra Santa, apenas chama a atenção para as anomalias que rodeavam a ordem.
A maior concentração de propriedades templárias da Europa encontrava-se no Languedoc Roussillon, essa estranha região do Sudoeste de França que parece ter atuado como um ímã para muitos grupos heréticos. O catarismo, no seu auge, tornou-se virtualmente a religião de estado da área, e foi ali que nasceu e floresceu o movimento trovadoresco. E a investigação recente revelou que os Templários praticavam a alquimia. Os edifícios de várias cidades do Languedoc, como Alet-les-Bains, ainda ostentam complexos símbolos alquímicos e têm também fortes associações templárias.
Depois dos sinistros acontecimentos que rodearam a extinção oficial dos Templários, a ordem tornou-se secreta e continuou a exercer a sua influência sobre muitas outras organizações. Como conseguiram os Templários fazer isso, e quem herdou o seu conhecimento, nunca se soube com certeza até aos últimos dez anos. Gradualmente, foi-se sabendo que os Templários continuaram a existir secretamente como rosacruzes, e o conhecimento que eles tinham adquirido foi transmitido a estas sociedade.
Descobrimos que o exame cuidadoso destes grupos revelava as preocupações subjacentes e consistentes dos Templários. Uma delas é uma grande, talvez mesmo excessiva, veneração por um ou ambos os santos de nome João – João Evangelista (ou o Amado!) e João Batista. Isto é intrigante porque os próprios grupos que parecem considerá-los tão sagrados dificilmente são cristãos ortodoxos, e parecem mesmo olhar Jesus com alguma frieza. Um destes grupos é o Priorado de Sião, mas o mais espantoso, neste contexto, é o fato de que, embora o Priorado denomine «João» os seus sucessivos grão-mestres, Pierre Plantard de Saint-Clair afirma que o título do primeiro desta dinastia – «João I» – está «simbolicamente reservado para Cristo”. Não sabemos por que se prestaria uma honra a Jesus ao chamar-lhe João.
Talvez a resposta resida na ideia, partilhada por estas sociedades, de que Jesus transmitiu os seus ensinamentos secretos ao jovem S. João, e é esta tradição que é defendida tão zelosamente pelos Templários, rosacruzes e maçônicos. E parece que João Evangelista se confundiu, aparentemente, de forma deliberada, com o Batista.
O próprio conceito de ter existido um secreto Evangelho de João era comum entre os «heréticos», desde os cátaros do século XII ao Leivitikon. É curioso que este fio joanino atravesse todos estes grupos, de forma penetrante e consistente, porque ele é também o menos conhecido. Talvez isto se deva apenas ao manto de secretismo que teve tanto êxito ao escondê-lo dos olhos do mundo durante tanto tempo.
O outro tema importante, que é continuado pelos vários tributários da «corrente secreta» da heresia, é o da elevação do Princípio Feminino e, especificamente, o reconhecimento do sexo como sacramento. A Grande Obra dos alquimistas, por exemplo, tem evidentes paralelos com os ritos sexuais tântricos – embora fosse apenas recentemente que essas conotações fossem compreendidas. Ironicamente, foi apenas quando a nossa cultura tomou conhecimento do tantrismo que as práticas de muitas tradições ocidentais antigas foram, finalmente, compreendidas.
A sabedoria feminina foi sempre muito desejada, tanto no sentido filosófico como no que se julgava ser conferido magicamente através do ato sexual. Esta demanda da sabedoria feminina – Sophia – é o fio que une todos os grupos que investigamos: por exemplo, os primeiros grupos gnósticos e herméticos, os Templários e os seus sucessores da Maçonaria do Rito Escocês Retificado. O texto gnóstico, o Pistis Sophia, associa Sofia a Maria Madalena, e Sofia também estava intimamente associada a ÍSIS – talvez isto ajude a explicar a aparente confusão da santa com a deusa por parte do Priorado de Sião. Contudo, isto é apenas uma indicação; não é a resposta.
A continuada importância de Madalena não está em dúvida. Contudo, os seus restos mortais foram procurados – e, possivelmente, ainda continuam a ser procurados – com inexplicável fervor. No século XIII, Charles d’Anjou empreendeu a sua busca com zelo fanático, embora ficasse claramente desiludido porque o seu descendente, o mais famoso Réne d’Anjou, dois séculos mais tarde, ainda continuava a procurá-los. Mesmo no fim do século XIX, o mesmo desejo ardente – encontrar os restos mortais da sua dileta Madalena – parece ter consumido o abade Saunière de Rennes-le-Château.
De qualquer modo, Madalena detém a chave de um grande mistério, um mistério que foi guardado ciosa e implacavelmente durante séculos. E parte desse segredo envolve intimamente João Batista (e/ou talvez João Evangelista). Logo que compreendemos que esse segredo existia, desejamos sacudir as teias de aranha da história e lançar alguma luz sobre ele. Mas isso não foi tarefa fácil: os grupos e as organizações que guardaram este segredo, ao longo dos anos, criaram meios de manter os estranhos bem afastados da verdade.
Embora alguns deles nos tivessem dado indicações ou pistas, ninguém ia revelar-nos o segredo central. Tudo o que sabíamos era que toda a evidência apontava para que o mistério fosse elaborado sobre uma base que, essencialmente, incluía Sofia (SABEDORIA) e João. Estes temas eram centrais – mas não sabíamos porquê, embora se encontrasse uma indicação no fato de que, qualquer que fosse o segredo, certamente ele não iria reforçar a autoridade da Igreja. Na verdade, esta grande heresia desconhecida constituiria a maior ameaça, não só ao catolicismo mas ao cristianismo, tal como o conhecemos. Os grupos que guardavam o segredo consideravam-se como tendo sido os detentores de uma informação sobre as verdadeiras origens do cristianismo e mesmo sobre o próprio homem Jesus.
Seja qual for a natureza deste segredo, é evidente que era alguma coisa importante – e significativa – para os séculos XIX e XX. Em Rennes-le-Château, Sanière recebia não apenas representantes da alta sociedade parisiense, como Emma Calvé, mas políticos e membros de famílias imperiais. Atualmente, Pierre Plantard de Saint-Clair e o Priorado de Sião têm sido associados a figuras como Charles de Gaulle e Alain Poher, um destacado estadista francês que, por duas vezes, foi presidente provisório.
Recentemente, correram rumores que associavam o falecido presidente François Mitterrand a Pierre Plantard de Saint-Clair. Certamente, Mitterrand visitou Rennes-le-Château em 1981, quando foi fotografado na Torre de Magdala e junto da estátua de Asmodeus, no interior da igreja. Pode ser significativo que ele tivesse nascido em Jarnac, onde foi sepultado em cerimônia privada enquanto os líderes mundiais assistiam a um serviço religioso em Notre-Dame de Paris. Segundo os estatutos do Priorado de Sião de 1950, há muito que Jarnac era um dos seus centros.
Atribui-se ao Priorado verdadeira influência na política européia e mesmo mundial. Mas por que deveriam as questões que estávamos a investigar, embora interessantes sob uma perspectiva histórica e filosófica, ter importância? Estas questões estão ligadas ao «voltar da Cristandade de cima para baixo» prometido pela união do Priorado de Sião e da «Igreja de João», que já discutimos?
A única coisa que Maria Madalena e João Baptista tinham em comum era o fato de serem santos e, aparentemente, figuras históricas do Novo Testamento. O único caminho lógico para continuar a investigação era o exame minucioso das suas vidas e dos seus papéis, na esperança de que eles revelassem a razão do seu contínuo fascínio para as tradições heréticas secretas. Se tínhamos alguma esperança de conseguir compreender a sua suprema importância para os iniciados dos grupos esotéricos mais importantes e mais bem informados, tínhamos de começar a ler a Bíblia a sério.
FIM DA PRIMEIRA PARTE DO LIVRO
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