domingo, 1 de novembro de 2020

A REVELAÇÃO TEMPLÁRIA - 7B - SEXO, O SACRAMENTO FINAL

 

Posted by  on 01/11/2020

 A Revelação Templária – 7B – Sexo o Sacramento Final

Já vimos que as raízes da alquimia eram de natureza sexual e que o culto da rosa e do cavalheirismo praticado  pelos trovadores, pode ser interpretado como a veneração de Eros, o deus do amor. 

Constatamos que os  construtores (os Cavaleiros Templários) das grandes  catedrais de estilo arquitetônico único, como a de Chartres, investiram fortemente no símbolo  da rosa vermelha e ergueram santuários das Madonas Negras, com todas as suas poderosas associações pagãs.

Também podemos considerar que o Graal, como taça, é um símbolo feminino, e – numa  atitude excepcionalmente gritante – , na história de Tristão e Isolda, o grande herói do Graal, Tristão, muda o seu nome para Tantris…

Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch

Capítulo 07B – SEXO: O SACRAMENTO FINAL  – Livro The Templar Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ”, de  Lynn Picknett e Clive Prince.

Fonte: http://www.picknettprince.com/

Capítulo VII B – SEXO: O SACRAMENTO FINAL

… De fato, o romancista Lindsay Clarke descreve a poesia amorosa dos trovadores como os  «textos tântricos do Ocidente». Nas lendas do Graal, a maldição da Terra é devida à perda da potência sexual do rei,  simbolizada, muitas vezes, por ter sido «ferido na coxa».

Em Parsifal de Wolfran, ela é  mais explícita; a ferida é nos órgãos genitais. Isto tem sido considerado como uma resposta  à repressão da sexualidade natural, por parte da Igreja de Roma“. A consequente estagnação  espiritual só pode ser afastada por uma demanda do Graal, o qual, como vimos, está sempre  especificamente associado às mulheres (ao PODER FEMININO). Uma pintura italiana do século XV, que representa  os cavaleiros do Graal adorando Vênus (consultar a primeira secção de ilustrações), não  deixa margem para dúvida quanto à verdadeira natureza dessa busca.

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O que é sublinhado, nas lendas do Graal e na tradição do amor cortês dos trovadores, é a  elevação espiritual das mulheres e o respeito por elas. É significativo, como sugerimos, que  os dois ramos desta tradição tivessem, no mínimo, algumas das suas raízes no sudoeste da França, a região da heresia Gnóstica dos Cátaros.

A maior parte dos investigadores modernos pensam que o tantrismo chegou à Europa  através do contato com a seita mística (Pérsia) islâmica dos sufis, que introduziram ideias da  sexualidade sagrada nas suas crenças e práticas. É inegável que há um estreito paralelo  entre as formas de linguagem usada pelos trovadores e pelos sufis para expressar estas  ideias. Mas o tantrismo enraizou-se na Provença e no Languedoc porque já existia uma  tradição semelhante naquela área? Já vimos que o Languedoc tinha a tradição de apoiar a  igualdade das mulheres.

E quando a mania da bruxaria lançou a sua primeira sombra em Toulouse, o que se esperava, de fato, erradicar? De novo nos confrontamos com a  personificação daquele culto do amor – Maria Madalena. Outra mulher que avaliou o potencial místico do sexo foi a católica Santa Hildegard de Bingen (1098- 1179), relativamente desconhecida, até há pouco tempo. Como escrevem Mann e Lyle:

Grande visionária, Hildegard escreveu acerca de uma figura feminina, uma imagem inconfundível da deusa, que lhe surgiu durante uma profunda meditação:

“Então, pareceu- me ver uma jovem de incomparável beleza, cujo rosto irradiava um brilho tão esplendoroso que não pude contemplá-lo integralmente. Usava um manto mais branco que  a neve, mais brilhante que as estrelas, e os sapatos eram de ouro puro. Na mão direita  sustentava o Sol e a Lua, e acariciava-os com amor. No peito, tinha uma placa de marfim,  na qual, em tons de safira, estava representada a imagem de um homem. E toda a criação  chamava esta rapariga de senhora soberana.

A rapariga começou a falar para a imagem que  tinha sobre o peito: «Estava contigo desde o princípio, no alvorecer de tudo o que é  sagrado, dei-te à luz antes do nascer do dia.» E ouvi uma voz que me dizia: «A jovem que tu contemplas é o Amor; a sua morada é na Eternidade.» Hildegard, como todos os amantes corteses medievais, acreditava que os homens e as  mulheres podiam atingir a divindade através do amor recíproco, de modo que «toda a Terra se assemelhasse a um único jardim de amor». E este amor deveria ser total, uma expressão completa de união que envolvia o corpo, alma e espírito, porque, segundo as suas palavras: «É o  poder da própria eternidade que criou a união física e decretou que dois seres humanos se transformassem fisicamente num só.»

Hildegard era uma mulher notável: imensamente instruída, especialmente em assuntos  médicos. O seu grau de educação é inexplicável – ela própria o atribuiu às suas visões.  Talvez seja uma alusão velada a alguma escola de mistério ou a um idêntico repositório de  conhecimento. Curiosamente, muitos dos seus escritos revelam familiaridade com a  filosofia hermética.

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Esta famosa abadessa também escreveu descrições pormenorizadas – e exatas – do  orgasmo feminino, incluindo contrações uterinas. Parece que o seu conhecimento era mais  do que teórico, o qual, segundo se afirma, era invulgar numa santa. Quaisquer que fossem  os segredos da sua formação interior, ela teve uma grande influência em S. Bernardo de  Clairvaux, patrono e inspirador da Ordem dos Cavaleiros Templários.

Estes monges guerreiros podiam parecer constituir uma forte objeção à ideia de uma  continuada tradição secreta de um culto herético do amor. Ostensivamente celibatários  (embora existissem persistentes rumores de uma larga prática de homossexualidade  templária), parece improvável que eles fossem, no mínimo, expoentes práticos de uma  filosofia que celebrava a sexualidade feminina. Mas existem claras indicações dessa ligação  na obra de um dos seus mais devotados apoiantes – o grande poeta florentino Dante  Alighieri (1265-1321).

Há muito que se reconheceu que os seus escritos contêm temas gnósticos e herméticos – por  exemplo, no século passado, Eliphas Lévi descreveu o Inferno de Dante como sendo  «joanino e gnóstico». O poeta foi diretamente inspirado pelos trovadores do sul da França e foi membro de uma  sociedade de poetas, que se intitulavam os fidele d’amore – «os fiéis seguidores do amor».  Considerados, durante muito tempo, um círculo estético, os “eruditos modernos” começaram  a descobrir que eles foram inspirados por motivações mais secretas e esotéricas.

O respeitado acadêmico William Anderson, no seu estudo Dante The Maker, descreve os  fidele d’amore como uma irmandade (sociedade) secreta, empenhada em alcançar a harmonia entre o  lado sexual e emocional das suas naturezas e as suas aspirações intelectuais e místicas.  Anderson apoia-se nas investigações de eruditos franceses e italianos, que concluíram que  «as damas que todos estes poetas veneravam não eram mulheres de carne e osso, mas que  todas elas eram máscaras do ideal feminino, Sapientia ou Sabedoria (Sophia) Sagrada» e que a  Senhora destes poemas era… uma alegoria da Sabedoria (Sophia) Divina, que também era desejada.

Anderson – assim como seu colega Henry Corbin – considera o caminho espiritual de Dante  como a busca da iluminação através do misticismo sexual, tal como fizeram os trovadores.  Henry Corbin afirma:

Os fidele d’amore, companheiros de Dante, professam uma religião secreta […] a união que  conjuga o possível intelecto da alma humana com a Inteligência Ativa […] Anjo de  conhecimento, ou Sophia-Sabedoria, é visualizada e experimentada como uma união de  amor.

Mais notável, no entanto, é a ligação que Dante e os seus colegas místicos apresentam com  os Cavaleiros Templários. Foi um dos seus mais entusiásticos apoiantes, mesmo após a sua extinção,  quando era desaconselhável estar ligado a eles. Na sua Divina Comédia, Dante estigmatiza  Filipe, o Belo, como o «novo Pilatos», pelos seus atos contra a Ordem dos Cavaleiros Templários. O próprio  Dante é considerado como tendo sido membro de uma ordem Templária terciária,  denominada La Fede Santa. Estas ligações são demasiado sugestivas para serem ignoradas –  talvez Dante não fosse a exceção, mas a regra, dos Templários, que estavam envolvidos  num culto do amor. Anderson afirma:

Em face disto, os Templários, como ordem militar celibatária, pareceriam ser o canal de comunicação mais improvável para os temas dedicados a louvar as belas damas. Por outro  lado, os Templários estavam impregnados da cultura do Oriente e muitos podem ter contatado com as escolas dos místicos e esotéricos sufis […]

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A ruiva Madalena, o Graal (Taça) e a pomba, o símbolo católico para o “Espirito Santo”…

Anderson passa a resumir as conclusões de Henry Corbin:

A ligação entre Sapientia [Sabedoria-Sophia] e as imagens do Templo de Salomão, juntamente  com as suas associações com a peregrinação do Grande Círculo, levam a colocar a hipótese  de uma ligação entre os Fidele d’Amore e os Cavaleiros Templários, a ponto de os considerar  uma confraria leiga da Ordem.

Juntamente com as provas revolucionárias descobertas por investigadores como Niven  Sinclair, Charles Bywaters e Nicole Dawe, isto sugere insistentemente que, no mínimo, a  ordem interna dos Cavaleiros  Templários fazia parte de uma tradição secreta que venerava o Princípio Feminino da divindade.

Do mesmo modo, o controverso ramo dos Templários – o Priorado de Sião – sempre teve  membros femininos, e a lista dos seus grão-mestres inclui quatro mulheres, o que é  particularmente estranho no período medieval, quando se esperaria que o sexismo estivesse  no seu auge. Como grão-mestres, estas mulheres teriam possuído um verdadeiro poder – e,  sem dúvida, este papel exigia alto nível de integridade e a capacidade para conciliar  interesses e egos contraditórios, a vários níveis. Embora pareça estranho que as mulheres  tenham estado ao leme de uma organização supostamente tão poderosa numa época em que  a litocracia feminina não era, de modo algum, comum parece menos peculiar no contexto de  uma tradição secreta de adoradores da deusa, do princípio feminino da divindade.

Servindo de base a muitas das escolas de mistério posteriores, se encontram os rosacruzes,  cujo interesse no misticismo sexual está presente no seu próprio nome: a conjugação da  cruz fálica e da rosa feminina. Este símbolo de união sexual evoca a antiga cruz fendida dos  egípcios (ankh): sendo a vertical o falo, e a fenda, em forma de amêndoa, a vulva. Os  rosacruzes, com o seu misto de sabedoria alquímica e gnóstica, compreenderam  inteiramente os princípios subjacentes, como explicava o rosacruz do século XVII, o  alquimista Thomas Vaughan: «[…] a própria vida (universal) não é mais do que uma união dos  princípios masculino e feminino, e aquele que compreender perfeitamente este segredo  sabe… “usar” a sua esposa…» (Recordemos a enorme rosa, aos pés da cruz, no mural de  Cocteau, em Londres – uma clara alusão rosacruz.

E, curiosamente, a imagem rosacruz encontra-se no túmulo templário de Sir William St. Clair… ) Mesmo que existam, como vimos, evidências de que os Templários, os alquimistas e o  Priorado de Sião fossem especiais devotos de um culto do amor pelo feminino divino, parece haver poucas  possibilidades de que esta linha de filósofos herméticos, decididamente masculina, tivesse qualquer ligação com uma organização feminina – ou talvez feminista. Aqui, também a sua  imagem superficial é enganadora.

O próprio Leonardo tem sido considerado como um misógino homossexual, e é verdade  que ele manifestou pouco amor pelas mulheres, tanto quanto sabemos. A mãe, a misteriosa  Catarina, parece tê-lo abandonado na primeira infância, embora, muitos anos mais tarde,  tenha vivido junto dele, até ao fim da vida – é certo que Leonardo tinha uma governanta, a  quem se referia, ironicamente, por «La Caterina» e cujo funeral ele pagou. Leonardo pode  ter sido homossexual, mas isso nunca impediu a adoração dos homens pelo Princípio  Feminino – muitas vezes, é exatamente o contrário.

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ÍSIS negra, a MÃE de todos os SÓIS …

Os ícones homossexuais são, classicamente, mulheres fortes e enérgicas, que tiveram vidas traumáticas – tal como Maria  Madalena e a própria ÍSIS. Além disso, sabe-se que Leonardo era muito íntimo de Isabella  d’Este, uma mulher inteligente e educada. Embora seja levar a especulação demasiado  longe, sugerir que ela fosse membro do Priorado ou de alguma escola secreta «feminista»,  essa familiaridade pode implicar que, no mínimo, Leonardo aprovava a literacia feminina.

O hermético florentino Pico della Mirandola dedicou muitas palavras ao tema do poder  feminino. O seu livro La Strega (A Bruxa) narra a história de um culto italiano baseado em  orgias sexuais e presidido por uma deusa. E, o que é mais significativo, ele compara esta  deusa à «Mãe de Deus». Mesmo Giordano Bruno, notoriamente masculino, estava profundamente envolvido com o  feminino.

Durante a sua estada na Inglaterra, entre 1583 e 1585, Mirandola publicou vários  livros que delineavam a filosofia hermética que se encontra em qualquer compêndio de  História. Contudo, o que é habitualmente ignorado é o fato de ele também ter publicado  um livro de apaixonada poesia amorosa intitulado De Gli Eroico Furori (Do Furor Heroico),  dedicado ao seu amigo e patrono Sir Philip Sidney. Não é um hino a um entusiasmo  passageiro nem um mero vislumbre da vida secreta, até então desconhecida, de um  galanteador. Embora se reconheça que esta poesia tem um nível mais profundo, muitas  autoridades consideram que ela é apenas uma expressão alegórica de vivência hermética.  Na realidade, o amor expresso (pelo princípio feminino) nestas obras não era alegórico, mas literal.

O Furori do título é, para citar Frances Yates: «Uma experiência que torna o amor “divino e  heróico” e que se pode comparar ao transe do furor do amor apaixonado.» Por outras  palavras o que observamos, mais uma vez, é um conhecimento dos poderes  transmutacionais do sexo sagrado.

Nestes poemas, Bruno referia-se a um estado alterado de conhecimento consciente, no qual  o hermético se apercebe da sua potencial divindade. Esta percepção é expressa como o  êxtase da completa união com a outra metade. Como afirma Dame Frances: «[…] penso que  o verdadeiro objetivo da vivência religiosa de Eroici furori é a gnose hermética, é a poesia  de amor místico do homem mago, que foi criado divino, com poderes divinos, em vias de  voltar a ser divino, com poderes divinos».

Contudo, considerando a tradição que Giordano Bruno seguia, é evidente que estes sentimentos não eram apenas metafóricos. Esta insistência na iluminação através do sexo sagrado era parte integral  da filosofia e da prática herméticas. O conceito de sexualidade sagrada está totalmente de  acordo com as palavras do próprio Hermes Trismegisto, em Corpus Hermeticum:

“Se  odiares o teu corpo, meu filho, não te podes amar a ti mesmo”.

Herméticos, como Marsilio Ficino, identificaram quatro estados de conhecimento alterado,  nos quais a alma se reúne com o Divino, cada um deles associado a uma figura mitológica:  a inspiração poética, sob a proteção das musas; o entusiasmo religioso, associado a Dionísio; o transe profético, sob a proteção de Apolo; e todas as formas de amor intenso,  sob a proteção de Vênus. Este último é o clímax, em todos os sentidos, porque é nele que a  alma, na realidade, alcança a reunião com o Divino.

Curiosamente, os historiadores sempre interpretaram literalmente os primeiros três destes  estados alterados, mas optaram por interpretar o último, o rito de Vénus, como simples  alegoria ou um gênero de amor impessoal ou espiritual. Mas, se fosse esse o caso, os  herméticos dificilmente o associariam a Vênus! O aparente recato dos historiadores,  relativamente a este ponto, deve-se à ignorância generalizada da tradição secreta. Este é  outro exemplo de conceitos, outrora considerados obscuros e que se tornam claros como  cristal logo que a ideia de sexualidade sagrada é tomada em consideração.

O grande mágico hermético Cornélio Agripa (1486-1535) torna a questão mais explícita.  Na sua obra clássica “De Oculta Philosophia”, Agripa escreveu: «Quanto ao quarto furor,  proveniente de Vênus, transforma e transmuta o espírito do homem num deus, pelo ardor  do amor, e torna-o inteiramente semelhante a Deus, como verdadeira imagem de Deus.» É de notar o uso do termo alquímico transmuta, que é geralmente tomado como  referência à preocupação tola e fútil de tentar transformar chumbo em ouro.

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ÍSIS e MAAT

Aqui, no entanto, o que se procura é um bem  precioso, de gênero muito diferente. Agripa também sublinha que a união sexual está  «cheia de dons mágicos». O lugar de Agripa, nesta tradição herética, não devia ser subestimado. O seu tratado De Nobilitate et Praecellentia Foeminei Sexus (Da Nobreza e Superioridade do Sexo Feminino),  que foi publicado em 1529, mas baseado na sua dissertação de vinte anos antes, é muito  mais que um apelo, notavelmente moderno, aos direitos das mulheres.

Esta espantosa obra  de Agripa foi menosprezada, até há muito pouco tempo, por uma razão lamentavelmente  previsível. Porque advogava a igualdade de sexos – defendendo mesmo a ordenação de  mulheres -, foi interpretada como sátira! É uma mancha sinistra na nossa cultura que esta  obra veemente, a favor das mulheres, fosse considerada como um gracejo. Mas parece claro  que Agripa não estava gracejando.

Não defendia apenas a causa do que chamaríamos os direitos das mulheres – que o seu  estatuto político fosse redefinido -, mas tentava transmitir o princípio que inspirou essa  campanha. A professora Barbara Newman, da Universidade de Northwest, Pensilvânia, no  seu estudo deste panfleto, escreve:

[…] mesmo um leitor compreensivo não podia ter a certeza se Agripa apelava a uma Igreja  sem discriminação de sexos e com igualdade de oportunidades ou a uma forma de culto do feminino.

Newman e outros eruditos investigaram as várias raízes da inspiração de Agripa, as quais  incluíam a cabala, a alquimia, o hermetismo, o neoplatonismo e a tradição trovadoresca. E,  de novo, a busca de Sophia (Sabedoria) é citada como sendo uma influência importante. Seria um erro pensar que Agripa apenas defendia o respeito e a igualdade das mulheres. Ele  foi muito mais longe. Na sua perspectiva, a mulher devia ser literalmente venerada:

Ninguém, que não seja completamente cego, pode deixar de ver que Deus reuniu toda a  beleza de que o mundo inteiro é capaz na mulher, de modo a que toda a Criação ficasse  deslumbrada com ela, a amasse e venerasse, sob muitos nomes. 

(E é curioso que Agripa, tal como os alquimistas, acreditasse que o sangue menstrual  tivesse uma particular aplicação prática e mística. Acreditavam que ele continha um  elixir, ou produto químico, único, que, ingerido de determinado modo, usando técnicas  antigas, garantia o rejuvenescimento físico e conferia sabedoria. É evidente que nada podia  estar mais longe da atitude da Igreja e da verdade.)

Agripa não era um simples teórico, e também não era covarde. Não só casou três vezes  como conseguiu o que podia ter parecido impossível: defendeu uma mulher acusada de  bruxaria – e ganhou.

Vaughan, Giordano Bruno e Agripa eram homens, e é tentador suspeitar de que eles desfrutavam  desta felicidade sexual apenas em benefício próprio, mesmo que fosse profundamente  espiritual. Contudo, embora se possa afirmar que alguma mulher que ousasse escrever  sobre estes temas seria presa por bruxaria, também é verdade que apenas se considerava  que o rito de Vênus teria «resultado» se os dois parceiros tivessem alcançado os mesmos  objetivos (evolutivos). A ideia era a dos opostos e iguais, em harmonia procurando o mesmo objetivo e recebendo a  mesma iluminação, como parceiros, tal como na ideia chinesa de o ser total ser composto  de yin e yang.

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O EQUILÍBRIO entre opostos complementares, masculino e feminino e a BALANÇA da justiça…

Giordano Bruno não era homem para esconder as suas crenças. Nas suas últimas obras  publicadas, empregou imagens sexuais ainda mais explícitas – mas mesmo estas foram  ignoradas pelos historiadores; se são mencionadas em obras de referência, geralmente são  explicadas como sendo alegóricas. Não só estas mas também outras referências explícitas –  e associadas – das suas obras são, por hábito, ignoradas. Quando Bruno se refere a uma  «deusa» como a dama anônima, a quem a sua poesia lírica é dedicada, essa referência é  interpretada como sendo um epíteto afetuoso. E, mais tarde, quando fez a sua palestra de  despedida na Alemanha, afirmando, sem rodeios, que a deusa Minerva era Sofia (a “sabedoria”), esta afirmação foi tomada por outra alegoria. Mas as suas verdadeiras palavras  foram, inequivocamente, as de um praticante do culto da deusa:

Amei-a e procurei-a, desde a minha juventude, e desejei-a para minha esposa, e tornei-me  amante da sua forma… e supliquei… que ela fosse enviada para habitar comigo, e trabalhar  comigo, para que eu pudesse conhecer o que ela me faltava […] 

Mais fascinante, no entanto, é o fato de na sua dedicatória de Eroici Furori ele o comparar  ao Cântico dos Cânticos”. Novamente, somos confrontados com o culto da Madona Negra  e, por associação, com o de Madalena. (Outro grande escritor hermético/rosacruz da  época, que era conhecido por William Shakespeare -Francis Bacon, dedicou os seus sonetos a uma  misteriosa Dama Negra cuja identidade tem alimentado intermináveis debates de gerações  de críticos. Embora pudesse acontecer que ela fosse uma mulher verdadeira – ou mesmo um  homem -, também é verosímil que ela representasse, ao fundo, a Madona Negra, a deusa  negra (ÍSIS). Na verdade, os herméticos simbolizavam um determinado estado alterado – um  gênero de transe especializado – como a dama de pele negra.)

Os fortes ataques de Bruno à crença católica conduziram-no a uma morte terrível condenado por heresia pela “santa” igreja romana e serviram  de aviso a outras pretensas almas corajosas. O atroz holocausto dos julgamentos de  bruxaria, como vimos, também reforçou, entre os «heréticos», a necessidade de circunspecção (e devemos recordar que, embora as mortes pelo fogo tivessem terminado há  muito, a última acusação de uma mulher, ao abrigo da lei da Feitiçaria no Reino Unido,  ocorreu apenas em 1944). Mas o conhecimento transcendental, como segredo específico do  mundo secreto ocultista, não estava limitado aos indivíduos e não se extinguiu com eles.

Existe alguma dificuldade de reconstituir uma tradição direta da sexualidade sagrada da  Europa, devido ao antagonismo e perseguição da Igreja romana, face a essa tradição e à subsequente necessidade  de segredo entre os guardiães deste conhecimento. No entanto, nos séculos XVII e XVIII, a  Alemanha parece ter-se transformado na pátria desta tradição, embora, até recentemente,  ela tivesse sido muito pouco investigada. Segundo os modernos investigadores franceses –  como Denis Labouré -, a prática da «alquimia interna» centralizou-se na Alemanha, em  várias sociedades ocultistas e/ou secretas. Outra investigação recente, incluindo a do Dr. Stephan E.  Flowers, confirmou que o ocultismo alemão deste período era essencialmente de natureza  sexual.

Um problema para os investigadores desta área é que as provas de cultos sexuais tendem a  provir da Igreja, ou, no mínimo, daqueles que consideravam satanismo tudo o que estava  relacionado com o sexo. Quando estes movimentos se vêem perseguidos, os seus registros  são destruídos ou censurados e tudo o que resta é a versão dos acontecimentos relatada  pelos seus inimigos. Isto aconteceu aos cátaros e aos Cavaleiros Templários e atingiu o seu terrível  auge nos julgamentos de bruxaria pela Inquisição. Vemos que este processo se verifica sempre que se  expressam ideias sobre a sexualidade sagrada – como voltou a acontecer em França no  século XIX.

Nessa época, surgiram vários movimentos interligados que – embora florescessem no seio  da Igreja Católica e se centrassem em pessoas que se consideravam bons católicos –  incluíam conceitos de sexualidade sagrada e da elevação do Feminino (geralmente, sob a  forma exterior da Virgem Maria) e estavam associados a uma misteriosa sociedade  «joanina» – desta vez, especificamente relacionada com João Batista.

Esta série de acontecimentos é muito difícil de esclarecer, principalmente porque, além das  ideias heterodoxas e dos conceitos de sexualidade sagrada, que levaram o movimento a ser  declarado imoral, eles também estavam ligados a causas políticas que despertaram a hostilidade das  autoridades. Por conseguinte, quase todos os relatos de que dispomos provêm dos seus  inimigos.

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Giordano Bruno, queimado pela igreja romana por heresia…

Os motivos políticos destes grupos estão fora do âmbito da presente investigação, embora  fossem muito importantes para as pessoas envolvidas nessa época. É suficiente dizer que  elas apoiavam as pretensões de um certo Charles Guillaume Naündorff  (1785-1845), que se  vangloriava de ser Luís XVII (que se pensava ter sido morto em criança, juntamente com  seu pai, Luís XVI, durante a Revolução Francesa).

Um destes grupos era a Igreja do Carmelo, também conhecida por Oeuvre de la  Misericorde (Obra de Misericórdia), instituída em meados do século XIX por um certo  Eugène Vintras (1807-1875). Um pregador carismático e fascinante, Vintras atraiu a nata  de alta sociedade para o seu movimento, o qual, não obstante, depressa se tornou foco de  acusações de diabolismo. Sem dúvida que os seus rituais tinham um conteúdo de natureza  sexual, no qual (segundo as palavras de Ean Begg) «o maior sacramento era o ato sexual».

Para agravar a situação, no que dizia respeito às autoridades, Vintras e Naündorff passavam  a responsabilidade um ao outro. Assim, inevitavelmente, Vintras viu-se envolvido num  julgamento espectacular. Acusado de fraude – embora as alegadas vítimas negassem que  existira qualquer crime -, foi condenado a cinco anos de prisão, em 1842. Quando foi  libertado, partiu para Londres e foi então que um antigo membro da sua Igreja – um  sacerdote chamado Gozzoli – escreveu um panfleto acusando-o de todo o género de orgias  sexuais.

Embora o panfleto possa ser considerado produto de uma imaginação exaltada,  algumas das acusações podem ter sido baseadas em fatos. Depois, em 1848, a seita foi  declarada herética pelo papa e todos os seus membros foram excomungados. Como  resultado, a seita tornou-se independente e exibiu sacerdotes masculinos e femininos – tal  como os cátaros, embora não seja claro que o culto de Vintras seguisse os nobres princípios  dos primeiros.

A apoiar Vintras e Naündorff encontrava-se uma seita misteriosa, conhecida por «Os  Salvadores de Luís XVII» ou os Joaninos. Este grupo remonta a 1770 e parece ter  participado na agitação civil que precedeu a Revolução. Ao contrário dos joaninos  «maçônicos», já discutidos, este grupo não tinha dúvidas quanto ao S. João que venerava –  era o Batista. Depois da Revolução, os joaninos interessaram-se pela restauração da monarquia. Foram os  grandes responsáveis pela promoção de Naündorff a pretendente ao trono e também  apoiaram movimentos «proféticos» como o de Vintras.

Outro auto-intitulado «guru» da época – Thomas Martin, que, meteoricamente, ascendeu de camponês a conselheiro do rei – foi apoiado pelos  joaninos que, além disso, parecem ter «encenado» certas aparições da Virgem – como as de  La Salette, no sopé dos Alpes ocidentais, em 1846. É difícil dizer com exatidão o que  estava acontecendo, mas é possível identificar os fios mais importantes que atravessam  certos acontecimentos, aparentemente associados.

Em primeiro lugar, foi feita uma tentativa para regenerar o catolicismo, a partir do seu seio,  o que implicava a substituição do dogma oficial – baseado na autoridade de Pedro (portanto patriarcal) – por um  cristianismo místico e esotérico, uma crença de que estava a alvorecer era uma em que o  Espírito Santo estaria em ascenção. Uma característica deste movimento era a elevação  do Sagrado Feminino, sob a forma exterior da Virgem Maria, mas que não tardou a adquirir um  caráter abertamente sexual e começou a parecer fortemente hostil à Igreja. A visão de La  Salette – que foi condenada pela Igreja – era central para este plano. E, de algum modo, o  papel de João Batista nestes acontecimentos era crucial.

O movimento também estava ligado à tentativa de fazer reconhecer Naündorff como  legítimo rei de França, provavelmente porque, se tivesse êxito, Naündorff teria sido  favorável a esta nova forma de religião (tendo já apoiado Vintras). Curiosamente, Melanie  Calvet, a rapariga que teve a visão de La Salette, tinha-se declarado favorável a Naündorff.  E é interessante que a Igreja tivesse reagido enviando-a para um convento de Darlington,  no noroeste de Inglaterra, onde não podia causar mais danos. A atuação combinada da Igreja e do Estado impediram que se realizasse o grande plano do movimento, e tudo o que aconteceu, de fato, está agora soterrado por uma avalanche de  escândalos e de insinuações.

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Mas, indubitavelmente, é significativo que a reação da Igreja  a esta ameaça fosse proclamar a Imaculada Conceição de Maria um artigo de fé, em 1854.  (Esta doutrina iria ser convenientemente endossada pela própria Virgem Maria, quando  apareceu a uma rapariga camponesa, Bernardette Soubirou, em Lourdes, quatro anos  depois, embora a rapariga, de início, descrevesse a sua visão simplesmente como «aquela coisa».)

Profetas, como Martin e Vintras, parecem ter sido «manipulados» pelos joaninos e não  fizeram, na realidade, parte da seita. O elo de ligação entre eles e Vintras foi a mentora  deste, uma certa Madame Bouche, que residia em Paris, na Place St. Sulpice, e que tinha o  nome, esplendidamente sugestivo, de «irmã Salomé». (A Igreja do Carmelo de Vintras  ainda estava em atividade em Paris nos anos 40, e constava que existia um grupo em  Londres, nos anos 60 deste século.)

Continua …

Permitida a reprodução desde que mencione as fontes e respeite a formatação original.

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