sábado, 21 de dezembro de 2013

POEMA DAS DUAS MÃOZINHAS - JORGE DE LIMA

Jorge de Lima


"E aquelas mãozinhas, 
tão leves, 
tão brancas, 
riscavam as paredes, 
quebravam os bonecos, 
armavam castelos de areia
na praia,
viviam as duas
qual João mais Maria.
Á boca da noite
o Cata-piolhos
rezava baixinho:
"Pelo sinal
da Santa Cruz
livre-nos Deus
Nosso Senhor".
E aquelas mãozinhas
dormiam unidinhas
qual João mais Maria.
"Dedo-mindinho,
Sêo vizinho,
O Pai-de-todos,
Sêo Fura-bolos,
Cata-piolhos,
quede o toicinho?
- o gato comeu."
Nas noites de lua
cheinhas de estrelas,
Sêo Fura-bolos
contava as estrelas...
O Pai-de-todos
cuidava dos outros:
nasciam berrugas
no Cata-piolhos.
E aquelas mãozinhas
viviam sujinhas
qual João mais Maria...
Um dia (que dia!)
O Dedo-mindinho
Feriu-se num espinho...
E à boca da noite
O Cata-piolhos deixou de rezar;
e João mais Maria, juntinhos,
ligados,
pararam em cruz cobertos de fitas
que nem dois bonecos
sem molas, quebrados...
Quem compra um boneco da loja deDeus?

(Jorge de Lima, Poesia completa, vol.1,pp.133-134.)

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