O misterioso e macabro desastre do Lago Nyos (África) que matou 1.746 pessoas
Posted by Thoth3126 on 30/12/2017
Há 30 anos, o despertar de uma aldeia vizinha ao Nyos ficou marcado pela morte. Durante a noite, dezenas de moradores perderam a vida. Na época, a razão era inexplicável. Concluiu-se depois que a emissão de gases teria asfixiado os habitantes dos arredores. Monica Lom Ngong relata à BBC o cenário da tragédia, cuja causa até aquele momento era desconhecida.
“Fiquei rodeada de gente morta, alguns dentro de casa, outros fora, outros detrás das casas…. e os animais por toda a parte: vacas, cachorros, todos jaziam no solo, me deixando confusa. Na minha família, éramos 56, mas morreram 53”, conta.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Aquela noite havia sido macabra. Aldeias inteiras amanheceram sem vida, apenas com os corpos espalhados pelo chão. Não havia sinal de pânico. quase 1.800 pessoas morreram enquanto dormiam ou cozinhavam. Não havia explicação lógica para o ocorrido.
Em 21 de agosto de 1986, um dos mais estranhos e misteriosos desastres naturais da história aconteceu no Lago Nyos – um lago formado em cima de uma cratera vulcânica na região noroeste de Camarões, na África. Sem aviso, o lago liberou centenas de milhares de toneladas de dióxido de carbono e esta nuvem da morte silenciosa se espalhou à velocidade aproximadamente de 100 km/h, sufocando um número estimado de 1,746 pessoas e mais de 3,500 animais em poucos minutos.
O efeito foi tão devastador quanto rápido, e com a severidade de uma praga bíblica, ele derrubou moradores e animais selvagens privando-os de oxigênio em um raio de 25 km do lago. Muitas pessoas das vilas Cha, Nyos e Subum asfixiaram e silenciosamente morreram durante o sono. Algumas foram encontradas com sangue ao redor de seus narizes e bocas.
A nuvem tóxica espalhando a morte silenciosa se moveu à velocidade aproximada de 100 km/h, sufocando um número estimado de 1,746 pessoas e mais de 3,500 animais em poucos minutos.
Quando os poucos sobreviventes acordaram, eles não encontraram sinais de agitações, ou violência, só encontraram corpos. Até mesmo as moscas caíram mortas. Repórteres na área descreveram a cena como se estivessem olhando para um local que tivesse sofrido as consequências do ataque de uma bomba de nêutrons. Joseph Nkwain, que acordou 3 horas depois da nuvem passar, contou a experiência para o pesquisador da universidade Plymouth, Arnold H. Taylor:
“Eu não conseguia falar, estava inconsciente. Eu não podia abrir a minha boca por que se eu abrisse iria sentir o cheiro de algo terrível… Ouvi minha filha roncar de uma maneira terrível, muito anormal… Quando fui até a cama da minha filha… Entrei em colapso e cai… Meus braços tinham algumas feridas, eu não sabia exatamente como eu tinha me ferido. Queria falar, mas não conseguia exalar… Minha filha já estava morta.”
É um dos eventos naturais mais perturbadores registrado na história, e os cientistas ainda não fazem ideia do que o causou. “Foi um dos desastres mais desconcertantes que os cientistas já investigaram. Lagos não levantam e simplesmente dizimam milhares de pessoas assim,” contou George Klling, um ecologista da Universidade de Michigan. Então o que realmente sabemos?
Na época, pesquisadores determinaram que o Lago Nyos tinha liberado uma grande quantidade de CO2 por volta das 9 da noite, e como o CO2 é mais pesado do que o ar que cercava o lago, ele rapidamente afundou nos vales abaixo, cobrindo tudo em um lençol de gás tóxico de 50 metros de espessura.
O acidente é um dos eventos naturais mais perturbadores registrado na história, e os cientistas ainda não fazem ideia do que o causou.
Normalmente, essas centenas de milhares de toneladas de CO2 são contidas no lago, mas desta vez, algo “estourou a tampa”. Como David Bressan explicou para a Scientific American, gases vulcânicos que emanam do solo abaixo do lago se dissolvem e se tornam concentrados nas mais profundas águas, e as temperaturas tropicais formam um tipo de ‘capa’ de água morna por cima da fria.
Não é claro o que ‘rompeu o selo’ e permitiu que as águas profundas e contaminadas pudessem subir, mas pode ter sido um terremoto, um deslizamento de terra, uma erupção vulcânica, ou algo tão simples quanto ondas fortes que mudaram os níveis das águas. O gatilho foi silencioso, mas o efeito foi catastrófico. “O lago literalmente explodiu no que é conhecido como uma erupção límbica, enviando uma fonte de água a 91 metros no ar e criando um pequeno tsunami,” segundo a reportagem do blog Atlas Obscura.
Na ausência de uma explicação científica, inevitavelmente foram sendo criadas teorias de conspiração, alguns dos moradores locais ficaram convencidos de que a erupção foi causada por um teste de bomba não oficial, realizado pelos israelenses e pelos governantes de Camarões. Mas a ideia não é coerente com a realidade.
Estranhamente, um evento similar aconteceu ali perto, dois anos antes, no lago Monoun, onde uma erupção de CO2 matou 37 pessoas. Ninguém sabe o que causou aquela erupção também. Para prevenir mais explosões como estas, em 2001, engenheiros instalaram canos em ambos os lagos, para sugar o CO2 e lança-lo gradualmente no ar.
Armas biológicas
Os quase 1.800 moradores nos arredores do lago Nyos morreram enquanto ainda dormiam. Desta vez, a amplitude do caso e o número de mortos fez com que o caso viesse à tona, pela imprensa, causando comoção internacional. A morte daquelas pessoas fora tão súbita que logo correram rumores de uma possível arma biológica.
O lago passou a ser monitorado e medidas foram tomadas para que o evento não se repita
E se alguém estava fazendo testes secretos, os Estados Unidos queriam saber. Tanto que meses depois enviou ao local o cientista Haraldur Sigurdsson, para investigar os estranhos acontecimentos do lago Monoun. A guerra biológica foi descartada totalmente. As vítimas pareciam ter sido sufocadas. Mas com que? Sigurdsson decidiu falar com as testemunhas e descobriu que houve quem tivesse visto o assassino. “Vimos uma nuvem branca e espessa a poucos metros da gente. Mas desapareceu em um instante”, contou Motapon Oumarou.
Esta foi a primeira pista, mas havia outra: todos os 37 mortos do lago Monoun pereceram em uma entrada próxima da água. Sigurdsson coletou, então, amostras da água. “A água estava cheia de gás. Bolhas enormes se formavam. Imediatamente me dei conta de que as águas profundas estavam saturadas de gás”, conta. Era um gás que não se via, nem se sentia o cheiro. Mas um gás que, em alta concentração, sufoca. “Entendi que o dióxido de carbono, o CO2, havia sido o agente asfixiante”, conta.
Outra leva de canos foi instalada em 2011, depois que pesquisadores alertaram sobre uma explosão de gás “que poderia ser maior que qualquer um destes desastres”. Com este problema resolvido, outro surgiu – a parede natural que cercava o lago Nyos começou a enfraquecer, e a preocupação era que, se alguma coisa movesse a terra ao redor dele, não haveria como prever o que poderia acontecer se o seu conteúdo escapasse.
Então construíram uma barragem envolta da parede para protegê-la, mas, enquanto pesquisadores acham que ela irá aguentar, processos de intemperismo ou transbordamento do lago “podem causar falha instantânea”.
Bomba-relógio
Os cientistas comprovaram que a teoria de Sigurdsson – conhecida como fenômeno do lago explosivo – é correta e se questionaram como o lago concentra níveis tão altos de CO2. Os cientistas descobriram que os lagos acumulavam CO2 sob os seus leitos e que, à medida que a concentração crescia, eles se transformavam em uma enorme bomba-relógio química. Mas o que detonava essa “explosão”?
Há várias teorias sobre o que agiu como detonador no caso do lago Nyos. Uma delas é a de que a tragédia foi desencadeada por uma queda da parede da cratera que abriga o lago.
“Era algo difícil de entender, até que topamos com documentos de pilotos de guerra narrando que o uso de altas concentrações de CO2 funciona como um alucinógeno sensorial” George Kling, Universidade de Michigan
Nyos continua sendo uma ameaça em potencial para quem vive na área. No entanto, agora ele tem um sistema de tubos que ajuda a aliviar a pressão, fazendo com que o gás se disperse. O desastre de Nyos fez com que todos os lagos profundos da África e da Indonésia fossem examinados. A conclusão a que se chegou foi a de que todos eram seguros, exceto um: o lago Kivu, em Ruanda.
O lago, na fronteira com a República Democrática do Congo, é um dos maiores e mais profundos do continente – e milhares de pessoas vivem no seu entorno. No entanto, a única coisa que poderia detonar uma liberação mortífera de gás seria um incidente geológico em grandes proporções. O problema é que o lago Kivu está localizado justamente em uma zona de terremotos e rodeado de vulcões, incluindo o monte Nyiragongo.
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