quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A REVELAÇÃO TEMPLÁRIA - 17 - DO EGITO

 

A Revelação Templária – 17 – Do Egitorevelação-templaria-clive-prince-livro

Posted by  on 27/12/2020

CAPÍTULO XVII – DO EGITO

Dois mil anos depois de Jesus, João e Maria Madalena terem vivido as suas vidas,  estranhamente importantes, num lugar remoto do Império Romano, milhões de pessoas  ainda acreditam na história, tal como ela é narrada nos Evangelhos. Para elas, Jesus era o  Filho de Deus e de uma virgem, que encarnou como judeu, João Baptista era o seu  precursor e subordinado espiritual e Maria Madalena era uma mulher de reputação  duvidosa que Jesus curou e converteu. 

Contudo, a nossa investigação revelou que o quadro era muito diferente. Jesus não era o  filho de Deus nem de religião judaica – embora, etnicamente, possa ter sido judeu. A  evidência aponta para a sua pregação de uma mensagem estrangeira, na terra em que ele  montou a sua campanha e começou a sua missão…

Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch

CAPÍTULO XVII – DO EGITO – Livro  The Templar Revelation – Secret Guardians  of the True Identity of Christ”, de  Lynn Picknett e Clive Prince.

http://www.picknettprince.com/

… Certamente, os seus contemporâneos  consideravam-no um adepto da magia egípcia, uma perspectiva que também encontra  expressão no Talmud judaico. Pode ter sido apenas um boato malicioso, mas vários eruditos, notavelmente Morton Smith,  concordaram que os milagres de Jesus faziam parte integrante do repertório típico do mágico egípcio. Além disso, ele foi entregue a Pilatos com as palavras de que era «um  malfeitor» – na lei romana, elas significavam, especificamente, um feiticeiro. João não reconheceu Jesus como Messias. Pode tê-lo batizado porque Jesus fosse um dos  seus discípulos, que tivesse subido na hierarquia e se tivesse tornado o seu lugar-tenente. Contudo, qualquer coisa correu mal: João mudou de opinião e nomeou Simão, o Mago, como seu  sucessor. Pouco depois, João foi morto.

madalenaecristoMaria Madalena era uma sacerdotisa companheira de Jesus, num casamento sagrado, tal  como Helena era a de Simão, o Mago. A natureza sexual da sua relação é atestada em  muitos dos textos gnósticos que a Igreja impediu que fossem incluídos no Novo Testamento. Ela era também a «Apóstola dos Apóstolos» e uma pregadora famosa – reagrupando os discípulos desmotivados depois da crucificação. Simão Pedro odiava-a, como odiava a todas as mulheres, e ela talvez tivesse fugido para França, porque receasse o que ele lhe pudesse fazer. E, embora fosse impossível saber exatamente qual era a sua mensagem, é certo que  ela teria apresentado pouca relação com o que é hoje conhecido por cristianismo. Fosse ela  o que fosse, Maria Madalena não era uma pregadora cristã, ou que interessasse aos líderes cristãos.

Na história dos Evangelhos, a influência egípcia é inegável: Jesus pode ter desempenhado  conscientemente o papel de Messias judaico para ganhar apoio popular, mas ele e Maria Madalena parecem também representar o mito de ÍSIS e OSÍRIS, provavelmente  para fins iniciatórios. A magia egípcia e segredos esotéricos inspiraram a sua missão, e o seu mestre foi João  Batista. Dois dos seus discípulos – o seu sucessor e a ex-prostituta Helena – eram o exato  paralelo de Jesus e Maria Madalena. Talvez se pretendesse que o fossem. O conhecimento subjacente era sexual – o de horasis, iluminação através do sexo transcendental com uma  sacerdotisa e que era um conceito familiar ao Oriente e também para além da fronteira do  Egito.

Apesar das pretensões (manipulações) dos homens da Igreja, Pedro não era o mais próximo aliado de Jesus, nem – a  julgar pelas repetidas vezes que não compreende as palavras do seu mestre – fazia parte do  círculo interno. Se alguém era o sucessor de Jesus, era Madalena. (Devemos lembrar que  eles divulgavam ativamente as doutrinas e as práticas do já muito antigo culto de  Ísis/Osíris e não qualquer gênero de heresia judaica, como muitas vezes se pensa.). Maria Madalena e Simão Pedro seguiram caminhos distintos, terminando um deles a fundar a  Igreja de Roma e o outro a confiar os seus mistérios às gerações daqueles que  compreenderam o valor do Princípio Feminino da Divindade: os «heréticos». 

João, Jesus e Maria estavam inextrincavelmente associados pela sua religião (a do antigo  Egito), que eles adaptaram à cultura judaica – tal como estavam Simão, o Mago, e Helena,  que escolheram a Samaria como alvo da sua mensagem. Quem, definitivamente, não fazia parte deste círculo eram Simão Pedro e o resto dos doze.

Maria Madalena era venerada pelo movimento secreto europeu porque ela fundou a sua  «Igreja» – não um culto cristão, no sentido geralmente atribuído ao termo, mas baseada na religião de Ísis/Osíris. Alguma coisa muito semelhante tinha sido pregada por Jesus e João.  João era venerado pela mesma tradição de «heréticos» porque eles eram os descendentes  espirituais diretos daqueles que o consideravam o seu «rei sacrificial», o mártir da sua  causa, que fora eliminado no seu apogeu. O choque e a atrocidade da sua morte foram sublinhados pelas circunstâncias muito duvidosas que a rodearam e pelo que foi  considerada a subsequente manipulação impiedosa dos discípulos de João pelo seu velho  rival.

Esta história, no entanto, tem outro aspecto. Como vimos, durante a vida de Jesus, corriam  rumores de que Jesus praticara magia negra sobre Batista morto. Certamente, a obra de  Carl Kraeling e de Morton Smith revelou que Herodes Ântipas acreditava que Jesus escravizara a sua alma (ou consciência) para adquirir poderes mágicos, porque era a crença  entre os mágicos gregos e romanos que o espírito de um homem assassinado era presa fácil para os feiticeiros – especialmente se eles possuíssem uma parte do corpo da vítima. Se Jesus  praticou, ou não, algumas destas cerimônias mágicas, os rumores de que a alma de João  continuava a viver sob o controle do seu inimigo de outrora não teria prejudicado o movimento de Jesus. Naquela era de magia, esse boato teria virtualmente assegurado que a  maioria dos discípulos de João passaria a seguir Jesus, particularmente porque ele parecia possuir poderes milagrosos. E, como Jesus já dissera aos seus discípulos que João fora a encarnação do profeta Elias, as massas reconhecer-lhe-iam uma maior autoridade.

No entanto, apesar da noção peculiar de um Jesus que era suposto ter detido o controle das  almas de, pelo menos, dois outros profetas, o segredo da tradição secreta não está  relacionado com ele. De fato, embora os heréticos venerem João e Madalena como  verdadeiros indivíduos históricos, eles sempre os consideraram representantes de um  antigo sistema de crenças. Para eles, o mais importante era o que eles representavam –  como sumo-sacerdote e sacerdotisa suprema do Reino da Luz.

As duas tradições – uma centrada em Batista, a outra em Madalena – só se tornaram  realmente discerníveis por volta do século XII, quando, por exemplo, os cátaros emergiram  no Languedoc e os Templários atingiram o auge do seu poder. Há um aparente vazio na  transmissão das tradições: é como se desaparecessem num buraco negro, entre os séculos IV e XII. Foi por volta de 400 d.C. que os textos de Nag Hammadi – que enfatizam o papel  de Maria Madalena – foram enterrados no Egito: como vimos na Primeira Parte, ideias  espantosamente semelhantes sobre a sua importância persistiam na França, tendo alguma influência sobre os cátaros. E, embora a Igreja de João aparentemente desaparecesse depois  de 50 d.C., a continuação da sua existência pode deduzir-se das censuras dos padres da  Igreja contra os sucessores de João – Simão, o Mago, e Dositeus – durante mais de duzentos  anos. Depois, no século XII, esta tradição volta a emergir na veneração mística de João por  parte dos Templários.

É impossível saber o que aconteceu às duas tradições durante aqueles anos perdidos, mas, no fim da nossa investigação, podemos arriscar formular uma hipótese. A «linha feminina» de Madalena continuou no Sul de França, embora os registros  comprovativos tivessem sido destruídos durante a devastação sistemática da cultura do Languedoc, que acompanhou a cruzada cátara. Mas os ecos desta tradição chegaram até  nós através das crenças cátaras sobre a relação de Madalena com Jesus e do panfleto  Schwester Katrei, de influência cátara, cujas ideias foram, em parte, inspiradas pelos textos de Nag Hammadi. É possível que a tradição de João sobrevivesse autonomamente no  Médio Oriente, através dos antepassados dos masdeístas e dos nosairi, contudo, sabemos  que, séculos depois, ela chegou à Europa. Quem compreendeu o seu valor e decidiu manter,  secretamente, as suas crenças?

Languedoc-Roussillon

Mais uma vez, encontramos a resposta nos guerreiros-monges, os Cavaleiros Templários, cujas operações militares no Oriente Médio escondiam as suas investigações, orientadas para o conhecimento esotérico. Os Cavaleiros Templários introduziram a  tradição joanina na Europa para a combinar com a de Madalena, dando sentido, assim, ao  que podia parecer serem mistérios masculinos e femininos distintos. E devemos lembrar  que os primeiros nove Cavaleiros Templários emergiram da cultura da região francesa do Languedoc, o  coração e a alma do culto de Madalena – e, segundo a tradição ocultista, eles aprenderam os  seus segredos «com os joaninos do Oriente».

Na nossa opinião, é muitíssimo improvável que o fato de os Templários unirem estas duas  tradições fosse uma mera coincidência. Afinal, o seu objetivo primordial era encontrar e  aplicar o conhecimento mais arcano. Hughes de Payens e os seus oito cavaleiros-monges  partiram para a Terra Santa com um propósito em mente: partiram em busca do poder do  conhecimento e podiam também ter procurado algum artefato de grande valor, que não era provável que fosse apenas monetário. Os Templários pareciam conhecer a existência da tradição joanina antes de a encontrarem, mas ninguém sabe como tiveram conhecimento  dela.

É evidente que estava em jogo muito mais do que uns vagos ideais religiosos: os Templários não passavam de pessoas práticas – primordialmente interessados na aquisição  de poder material – e o castigo por proteger as suas crenças secretas foi inconcebivelmente  horrível. Nunca é de mais insistir em que estas crenças não eram apenas umas noções  espirituais, que eles decidiram adotar para o bem das suas almas. Estas eram segredos  mágicos e alquímicos que, no mínimo, lhes deram a vantagem do que, atualmente,  chamaríamos ciência. Certamente, a superioridade do seu conhecimento em matérias como  a geometria e a arquitetura sagradas encontram expressão nas catedrais góticas, que ainda existem, esses livros secretos de pedra que contêm os frutos das suas aventuras no mundo esotérico. Com a sua rede de arrasto do conhecimento do mundo, os Templários pretendiam  alargar a sua compreensão de astronomia, de química, de cosmologia, navegação, construção naval, medicina  e matemática – cujos benefícios são evidentes.

Mas os Cavaleiros Templários eram ainda mais ambiciosos na sua demanda do conhecimento  escondido – oculto: eles procuravam as respostas para as grandes questões eternas. E, na  alquimia, eles podem ter encontrado, pelo menos, algumas dessas respostas. Essa ciência  misteriosa que eles abraçaram foi sempre considerada como a fonte dos segredos do  prolongamento da própria vida, da longevidade, se não mesmo da verdadeira imortalidade  física. Longe do simples alargamento dos seus horizontes filosóficos ou religiosos, os Templários pretendiam o poder último: o verdadeiro domínio do próprio tempo, da tirania da vida e da morte.

Aos Templários sucederam-se gerações e gerações de «heréticos» que aceitaram o desafio e  continuaram a tradição com igual fervor. Estes segredos fanaticamente mantidos e perseguidos,  obviamente, tinham um fascínio que inspirou números incalculáveis de pessoas a arriscar  tudo – mas o que era? O que havia nas tradições joanina e de Madalena que despertava  tanto zelo e devoção? Não há uma resposta única a estas perguntas, mas há três respostas possíveis. A primeira é que as histórias de Madalena e de João Batista revelam, entre si, o que o «cristianismo» – a missão original de ambos – devia ter sido, em forte contraste com o que,  de fato, se tornou.

Enquanto, à sua volta, homens e mulheres eram aviltados e sexualmente degradados e os  sacerdotes detinham as chaves do Céu e do inferno, os heréticos procuravam conforto e  iluminação nos segredos de Batista e de Madalena. Por intermédio destes dois «santos»,  eles podiam aderir secretamente à linha ininterrupta de crentes gnósticos e pagãos que  remontava ao antigo Egito (e, possivelmente, ainda mais antiga): como explicava  Giordano Bruno, a religião egípcia era muito superior ao cristianismo, em todos os  aspectos; e, como vimos, um Templário, pelo menos, rejeitou o símbolo primário do  cristianismo, a cruz, por ser «demasiado nova».

Em vez do severo patriarcado de Pai, Filho e Espírito Santo (agora masculino), os adeptos  desta tradição secreta encontravam o equilíbrio natural na antiga trindade de Pai, Mãe e  Filho. Em vez de se sentirem culpabilizados relativamente ao sexo, eles sabiam, por  experiência própria, que ele era, de fato, uma porta de acesso a Deus. Em vez de os  sacerdotes os informarem sobre o estado das suas almas, eles encontraram a salvação pela gnose direta ou conhecimento do divino. Tudo isto era punível com a morte durante  grande parte dos últimos dois mil anos, e tudo isto provinha das tradições secretas de Batista e de Madalena. Não admira que eles tivessem de ser mantidos secretos.

A segunda razão do continuado fascínio destas tradições é que estes heréticos também  mantinham vivo o conhecimento. Atualmente, é muito fácil subestimar o simples poder de  aprender ao longo da maior parte da história. A invenção da imprensa causou furor e  mesmo a capacidade de ler e escrever – especialmente no caso das mulheres – era rara e  considerada pela Igreja com a mais grave suspeita. Contudo, esta tradição secreta encorajou ativamente um desejo ardente de conhecimento, mesmo entre as mulheres: os alquimistas,  tanto homens como mulheres, trabalhavam longas horas atrás de portas fechadas, para descobrir grandes segredos que cruzavam as fronteiras entre magia, sexo e ciência – e,  frequentemente, pareciam tê-los descoberto.

Mago

A linha ininterrupta desta tradição secreta incluía os construtores das pirâmides, talvez  mesmo os que ergueram a esfinge, os que construíam segundo os princípios da geometria  sagrada e cujos segredos encontraram expressão na impressionante beleza das grandes  catedrais góticas. Estes eram os criadores de civilização, protegendo-a através da tradição  secreta. (Certamente, não é por coincidência que se supunha que Osíris tinha concedido à Humanidade o conhecimento necessário para a cultura e a civilização.) E, como revelam as recentes obras de Robert Bauval e Graham Hancock, os antigos egípcios possuíam  conhecimento científico que ultrapassava o da nossa época. Uma parte inextricável desta sucessão de cientistas heréticos eram os herméticos renascentistas, cuja exaltação da SOPHIS (Sabedoria), demanda de conhecimento e fé na natureza divina do Homem se tinham desenvolvido, originariamente, a partir das mesmas raízes do gnosticismo.

Alquimia, hermetismo e gnosticismo, todos remontavam inevitavelmente à Alexandria do  tempo de Jesus, onde fermentava uma extraordinária mistura de ideias. E, assim,  verificamos que estas mesmas ideias impregnam a Pistis Sophia, o Corpus Hermeticum de  Hermes Trismegisto, o que resta das obras de Simão, o Mago, e os textos sagrados  masdeístas. Como vimos, Jesus fora explicitamente associado à magia do Egito, e Batista e os seus  sucessores, Simão, o Mago, e Dositeus também foram referidos como «graduados» das  escolas ocultistas da Alexandria. E todas as tradições esotéricas ocidentais remontam à  mesma raiz.

Seria um erro, no entanto, considerar que o conhecimento procurado pelos Templários, ou  pelos herméticos, fosse apenas o que, atualmente, chamaríamos filosofia – ou mesmo  ciência. É verdade que estas disciplinas faziam parte do que eles desejavam ardentemente, mas a tradição secreta tem uma outra dimensão, que seria errado omitir. Subjacente a todos os  esforços arquitetônicos, científicos e artísticos dos heréticos, havia uma apaixonada  demanda de poder mágico. A indicação quanto ao motivo por que este poder era tão  importante para eles podia residir nos rumores da «escravização mágica» de João, praticada por Jesus? Talvez seja significativo que os Templários, cuja veneração pelo Batista era  conhecida como inultrapassável, fossem acusados de adorar uma cabeça decepada, nos seus  rituais mais secretos.

A questão da validade e eficácia (ou não) da magia cerimonial ultrapassa o âmbito deste  livro: o que importa é o que outros acreditaram ao longo dos séculos e que papel  desempenhou nos seus motivos, nas suas conspirações e nos planos que puseram em  prática. O ocultismo era a verdadeira força motivadora que inspirou pensadores aparentemente  «racionalistas» – tal como Leonardo da Vinci e Sir Isaac Newton – e o círculo interno de organizações como os Cavaleiros Templários, alguns capítulos da maçonaria e o Priorado de Sião. E  esta longa sucessão de mágicos secretos – magos – pode ter incluído Batista e Jesus.

Segundo uma das menos conhecidas histórias do Graal, o objeto da demanda é a cabeça  decepada de um homem com barba, colocada sobre um prato. Era isto uma referência à  cabeça de João, ao estranho poder encantado que se supunha possuir e conferir a quem a  encontrasse? Mais uma vez, é demasiado fácil ceder ao ceticismo do final do século XX.  O que é importante é que, de algum modo, a cabeça de João era considerada, não apenas sagrada,  mas também mágica.

Os celtas também tinham uma tradição de cabeças decepadas, mas, de modo mais  pertinente, no Templo de Osíris, em Abydos, conservava-se uma cabeça decepada, que se supunha fazer profecias. Noutro mito associado, a cabeça de outro deus-que-morre-e-ressuscita, Orfeu, deu à costa de Lesbos, onde começou a profetizar o futuro. (E é  apenas mera coincidência que um dos mais enigmáticos e surrealistas dos filmes de Jean  Cocteau fosse Orphée?)

No falso Sudário de Turim, Leonardo representou «Jesus» como decapitado. A princípio,  pensamos que isso não fosse mais do que um recurso visual para transmitir a ideia de que, na  opinião joanina herética de Leonardo, aquele que foi decapitado estava (moral e  espiritualmente) «acima» do que foi crucificado. Certamente, a linha de demarcação entre a  cabeça e o corpo do «homem do Sudário» era deliberada, mas Leonardo podia estar sugerindo outra coisa. Talvez a linha fosse uma referência à ideia de que Jesus possuía a  cabeça de João e que, de algum modo, ele o absorvera, tornando-se – nas palavras de  Morton Smith – «Jesus-João». Lembremos que, no cartaz do Salon de la Rose Croix, no século passado, Leonardo é representado como  Guardião do Graal.

Vimos que, na obra de Leonardo, o indicador levantado simboliza Batista: João faz este  gesto na última pintura de Leonardo e na sua escultura de João, que se encontra em  Florença. Este gesto não é muito invulgar, porque outros artistas representaram João deste modo, mas, na obra de Leonardo, outras figuras, além do próprio João, são representadas  fazendo este gesto, no que se destina claramente a ser um sinal para lembrar Batista. Na  Adoração dos Magos, a figura que se encontra junto das grandes raízes da alfarrobeira (que,  tradicionalmente, simboliza João) aponta o dedo na direção da Virgem e do menino;  Isabel, mãe de João, faz o mesmo gesto, apontando para o rosto da Virgem em A Virgem e  o Menino com Santa Ana, e, na Última Ceia, o discípulo, que de forma tão rude está olhando para Jesus, aponta o indicador de forma inequívoca.

E, embora possa estar dizendo, de fato,  «Os discípulos de João não esquecem», este motivo repetido pode ser também uma  referência a uma relíquia verdadeira – ao dedo de João, considerado como uma das mais  preciosas das supostas relíquias dos Templários. (Na pintura de Nicolas Poussin La Peste d’Azoth – A Peste de Azoth -, uma enorme estátua  representa um homem com barba que tem uma mão e a cabeça decepadas. Mas o dedo  indicador da mão decepada é representado fazendo especificamente o «gesto de João».

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Pintura de Nicolas Poussin La Peste d’Azoth, no destaque a estátua

No decurso desta investigação, tivemos conhecimento de uma suposta máxima templária –  «aquele que possui a cabeça de João governará o mundo» – e, a princípio, consideramo-la fantasiosa ou, na melhor das hipóteses, de certo modo metafórica. Mas não devemos  esquecer que certos objetos, ao mesmo tempo míticos e reais, sempre tiveram um enorme  poder sobre os corações e as mentes humanas – entre elas a «Vera Cruz», o Santo Sudário,  o Graal e, é claro, a Arca da Aliança. Todos estes objetos envolvem uma mística  curiosamente poderosa, como se fossem portas de entrada para o cruzamento dos mundos  humano e divino, objetos reais e concretos que existem em duas realidades ao mesmo  tempo. Se é suposto que artefatos como o Graal possuam poder mágico, muito mais procurados são os verdadeiros restos mortais de pessoas consideradas como tendo  personificado energia sobrenatural e possuído poder oculto.

Certamente, vimos que as relíquias de Madalena eram de suprema importância para os  adeptos da tradição secreta, e talvez também elas sejam consideradas como possuidoras de  verdadeiro poder mágico. Em todo o caso, os restos mortais de Madalena pareciam ser  objeto de grande veneração, e, tal como a macabra relíquia de João, atuavam, sem  dúvida, como um totem que congregava os heréticos. Com, ou sem, o conceito de poder  mágico, contemplar a cabeça de João ou os restos mortais de Madalena teria um enorme impacto nos adeptos da tradição  secreta: seria um momento carregado de grande emoção, considerar que estavam ali, juntos, os restos mortais de dois seres humanos que foram tratados com uma injustiça tão  implacável ao longo dos séculos e por cujos nomes tantos heréticos sofreram.

A terceira razão deste persistente fascínio da tradição secreta é a sua certeza moral  espontânea: estes heréticos acreditam que estão certos e que a Igreja Romana está errada.  Mas eles não estavam apenas mantendo viva outra religião numa cultura «diferente». Eles  mantinham vivo o que julgavam ser a chama sagrada das verdadeiras origens e objetivos  do «cristianismo». Todo este penetrante sentido de justiça, no entanto, quando confrontado  com o que eles consideram a «heresia» da Igreja Católica, explica apenas a razão por que  teve tanto poder no passado. Na nossa época, com a sua perspectiva muito mais tolerante da  religião, por que seria necessário que esta tradição se mantivesse secreta?

Começamos esta investigação com o exame do moderno Priorado de Sião e das suas  continuadas atividades. Sejam quais forem os planos desta organização, Pierre Plantard de  Saint-Clair revelou que ela tem um programa definido que prevê a realização de certas  mudanças concretas do mundo, em geral, embora a natureza precisa dessas mudanças seja  apenas uma questão para especulação.

Seja qual for o plano original do Priorado, ele parece estar relacionado com a heresia que  descobrimos. Na verdade, ocultas nos Dossiers Secrets, encontram-se certas declarações  bastante inequívocas, com o significado geral de que o Priorado foi responsável, ao longo  dos séculos, pelo controle da tradição secreta. Estas declarações, que aludem direta, ou  indiretamente, ao Priorado, incluem: «[Eles são] os apoiantes de todas as heresias…,  passando pelos cátaros e os Templários até à maçonaria… »,*6 «agitadores secretos contra a Igreja…». Outro documento do Priorado, Le Cercle d’Ulysse (O Círculo de Ulisses), publicado em 1977, sob o nome de Jean Delande, inclui as palavras ameaçadoras:

O que está o Priorado a planejar? Não sei, mas ele é capaz de assumir o Vaticano em dias  futuros.

E, como já vimos, a obra Rennes-le-Château: Capitale Secrète de L’histoire de France,  inspirada no Priorado, ao discutir as ligações deste com «a Igreja de João» refere-se a  acontecimentos que «voltarão a Igreja ao contrário.” No princípio desta investigação, consideramos a possibilidade de que o Priorado fosse vítima de ilusões de grandeza coletivas, e – como a maior parte das pessoas – achamos difícil considerar que gênero de segredo o  Priorado pudesse ter guardado tão ciosamente, um segredo que teria o poder de ameaçar uma entidade tão vasta e tão bem organizada como a Igreja de Roma. Agora, depois de todas as nossas investigações e experiências, chegamos à conclusão de que a agenda do Priorado –  seja ela qual for – deveria, no mínimo, ser levada a sério.

De fato, o conceito de uma força organizada, que jurou deitar abaixo a Igreja Romana, não é novo.  Por exemplo, no século XVIII, quando começaram a surgir as sociedades secretas, que se  afirmavam descendentes dos Templários, a paranoia varreu a Igreja e vários Estados  europeus. A França, em particular, sentia-se aterrorizada pela sombra vingativa de Jacques  de Molay – os Cavaleiros Templários estavam de volta, literalmente, para se vingarem? Corriam rumores  de que os cavaleiros eram os inspiradores da Revolução francesa.

Contudo, o cenário da vingança templária levanta problemas. Nenhuma organização  inteligente manteria o ódio ao rubro, com todas as desvantagens e ao longo dos séculos,  simplesmente para eliminar um futuro monarca francês e um papa individual, nenhum deles tendo nada a ver com a extinção da ordem séculos atrás. Esta ideia toma a extinção dos  Templários como sendo a razão do seu ódio à Igreja – mas, se eles já a odiassem, por  princípio? (E, segundo o Levitikon, os Templários sempre estiveram contra a Igreja Católica de Roma desde o princípio  da ordem e não pelo modo como foram extintos.)

A nossa investigação revelou que os Templários não só se consideravam possuidores de  conhecimento secreto, mas também como seus verdadeiros e legítimos guardiães. Devemos  lembrar que os Templários e o Priorado de Sião estiveram sempre inextrincavelmente  ligados: qualquer plano ou programa de um deles é muito provável que pertença também ao outro. E, no Priorado de Sião, encontramos uma organização na qual se reúnem os dois fios  da heresia – o de Madalena e o de Batista.

Pode ser que os Templários/Priorado estejam a planejar oferecer a uma cristandade  assustada alguma forma de prova das suas velhas crenças, algum suporte tangível para a  sua tradição joanina de adoração à deusa. Mesmo dada a sua aparente obsessão com a  procura de relíquias, é difícil imaginar o que esta concreta evidência poderia ser ou – à  primeira vista – que objeto poderia ameaçar a Igreja.

Mas, como já vimos no caso do alegado Santo Sudário, as relíquias religiosas possuem uma forte e singular influência sobre os corações e as mentes dos crentes. De fato, qualquer  coisa supostamente associada às personagens principais do drama cristão está investida de  uma ressonância singularmente mágica – mesmo as «antirrelíquias» das ossadas, recentemente encontradas em Jerusalém, tornaram-se o foco imediato de um  intenso debate e de uma comoção cristã generalizada. É elucidativo imaginar o grau que o  interesse público atingiria se as ossadas tivessem sido associadas, de forma mais  convincente, a Jesus e à sua família. Certamente, teriam desencadeado uma histeria massiva  entre os cristãos, que se teriam sentido traídos, roubados e espiritualmente desestabilizados.

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As pessoas gostam de andar à procura de alguma coisa – à busca de algo que seja  desesperadoramente fugidio, mas que talvez ainda se possa alcançar. A demanda de um  Santo Graal ou de uma Arca da Aliança, sempre fugidios, parece estar quase programada  em nós, como revela o entusiasmo com que foi acolhido The Sign and the Seal de Graham Hancock. Contudo, no íntimo, também reconhecemos que estes objetos, apesar de  poderem – emocionantemente – existir, de fato, algures, são apenas símbolos, focos de  interesse ou personificações de alguns segredos arcanos. Apesar de o Priorado de Sião e os  seus aliados se prepararem para revelar alguma justificação concreta das suas crenças, a  própria história, como esperamos demonstrar, revela algumas indicações quanto à solidez  dessa justificação.

É evidente que esses planos são do maior interesse, mas já não são necessários para  compreender a hipotética ameaça à Igreja Romana – e, por implicação, às raízes de toda a cultura (manipulação) ocidental. Na história cristã, muita coisa se baseia em hipóteses, muita emoção,  intensamente pessoal, se investe em conceitos, como o de um Jesus que era Filho de Deus e da Virgem Maria, um humilde carpinteiro que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou.  A sua vida de humildade, tolerância e sofrimento tornou-se a imagem da perfeição humana  e modelo espiritual para milhões de católicos. Jesus Cristo, do seu lugar celestial à direita do  Pai, contempla os pobres e os oprimidos e oferece-lhes conforto – porque ele não disse  «Vinde a mim, todos os que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei»?

De fato, apesar de ser muito provável que Jesus proferisse estas palavras, não é verdade  que ele seja o seu autor. Porque, como vimos, estas palavras – e, presumivelmente, muitas  outras semelhantes – provieram das palavras atribuídas a Chreste ÍSIS: a suave ÍSIS, a  suprema deusa-mãe dos egípcios. Para Jesus, como para qualquer outro sacerdote adorador  (da Deusa, do feminino Sagrado) de ÍSIS, essas palavras teriam sido muito familiares.

Como vimos, a maioria dos católicos modernos está espantosamente mal informada sobre os  progressos dos estudos bíblicos. Para muitos, noções como a de Jesus ser um mágico egípcio ou a rivalidade entre Jesus e João Batista devem parecer quase uma blasfêmia – contudo, elas  não são invenções de escritores de ficção ou dos inimigos da sua religião, mas conclusões  de eruditos respeitados, alguns dos quais são católicos. E foi há mais de um século que os elementos pagãos da história de Jesus foram, pela primeira vez, reconhecidos.

Quando começamos a estudar o tema, ficamos surpreendidos com o grau em que os  eruditos questionaram a história católicos (cristã) oficial, apresentando argumentos pormenorizados e  minuciosos a favor de uma versão quase irreconhecível de Jesus e do seu movimento. Ficamos particularmente surpreendidos ao descobrir que já existiam abundantes provas  acadêmicas de que Jesus não era judeu – e de que, de fato, ele não era de religião egípcia. Mas, como a nossa hipótese cultural de que Jesus era judeu é tão forte, mesmo os que  reuniram estas provas não deram o último passo lógico e não concluíram que o peso deste  material revela, de fato, que a religião de Jesus não era a judaica, mas a egípcia.

São muitos os que deram uma contribuição importante para a criação de um quadro  radicalmente novo de Jesus e do seu movimento. Desmond Stewart argumenta  magnificamente, em The Foreigner, que Jesus fora influenciado pelas escolas de mistérios egípcias, mas Stewart interpreta a conexão egípcia apenas como uma modificação de judaísmo essencial de Jesus. E o professor Burton L. Mack, embora defendendo que Jesus  não era de religião judaica, também rejeita o material das escolas de mistérios dos Evangelhos, argumentando que ele foi um aditamento posterior – uma hipótese que não é  reforçada por qualquer prova. Mesmo o professor Karl W. Luckert escreve:

Estas dores do nascimento [do catolicismo]… foram, todavia, verdadeiras dores de parto da  mãe da cristandade, a moribunda religião do antigo Egito. A nossa velha mãe egípcia  morreu (foi ASSASSINADA) nos séculos durante os quais a sua vigorosa descendência emergia e começava a  prosperar no mundo mediterrânico. As suas dores de parto foram as suas dores da morte.

Ao longo da sua vida de quase dois milênios, esta filha (n.T. CATÓLICA E NÃO) cristã, nascida de mãe egípcia, manteve-se relativamente bem informada sobre a sua antiga tradição hebraica paterna…  [mas] até hoje, não conhece a identidade da sua defunta religião-mãe…

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Tendo demonstrado magnificamente que as raízes do cristianismo são egípcias, Luckert  ainda consegue falhar no objetivo. Considera indireta a influência egípcia, um eco distante  das próprias origens egípcias do judaísmo. Mas, se Jesus ensinava elementos das escolas de mistérios, certamente faz mais sentido que os aprendesse em primeira-mão, do outro  lado da fronteira, em vez de os reconstituir a partir de alusões fragmentárias e imprecisas do  Antigo Testamento.

De todas estas autoridades, apenas uma ousou dar o último passo lógico. Morton Smith, em  Jesus The Magician, afirma inequivocamente que as crenças e práticas de Jesus eram as do  Egito – e, curiosamente, apoiou a sua asserção em material de certos textos mágicos  egípcios.

A obra de Morton Smith, embora completamente ignorada por muitos comentadores  bíblicos, foi recebida por alguns com aprovação cautelosa. Contudo, as ideias dos académicos não são, como vimos ao longo da nossa investigação, de modo algum, o quadro  completo. Ao longo dos séculos, muitos grupos partilharam uma crença secreta nos  antecedentes egípcios de Jesus e de outras personagens do drama do século I – e estes  «heréticos» também nos proporcionaram muitos outros conhecimentos sobre as origens do  cristianismo. É interessante que estas ideias sejam agora confirmadas pelos estudos  modernos do Novo Testamento.

Se o cristianismo for realmente um ramo da religião egípcia, e não a missão única do Filho  de Deus – ou mesmo uma evolução radical de uma forma de judaísmo, então as implicações  para toda a nossa cultura são tão básicas e enormemente profundas que apenas podem ser  afloradas aqui.

Por exemplo, ao voltar as costas às suas raízes egípcias, a Igreja de Roma perdeu a compreensão  fundamental do arquétipo da igualdade dos sexos, porque ÍSIS era sempre contrabalançada  pelo seu consorte Osíris, e vice-versa. Em princípio, pelo menos, este conceito encorajou o  respeito devido igualmente a homens e mulheres, porque Osíris representava todos os  homens e ÍSIS todas as mulheres. Mesmo na nossa época secular, ainda estamos sofrendo as consequências desta negação do (FEMININO divino) ideal egípcio: porque, embora o sexismo não seja um  fenômeno exclusivamente ocidental, as suas manifestações diretas, no Ocidente, se devem muito às doutrinas e DOGMAS da Igreja sobre o lugar das mulheres.

Além disso, ao negar os seus antecedentes egípcios, a Igreja rejeitou também – frequentemente, com especial violência – todo o conceito de sexo como sacramento. Ao  instituir um filho de Deus celibatário no topo de um patriarcado misógino, a Igreja  perverteu COMPLETAMENTE a mensagem «cristã» original. Porque os deuses que o próprio Jesus venerava  eram parceiros sexuais, e esta sexualidade era motivo de celebração e de emulação entre os seus crentes – mas, curiosamente, os egípcios não eram conhecidos como um povo  particularmente licencioso, mas eram notáveis pela sua espiritualidade. As consequências  da atitude da Igreja romana face ao sexo FEMININO e ao amor sexual foram, como vimos, terríveis para a nossa cultura: a repressão em grande escala foi responsável  não só pelo tormento pessoal e apreensão desnecessários mas também por inumeráveis  crimes contra mulheres e crianças – muitos dos quais as autoridades preferiram ignorar.

Houve outros frutos amargos deste grande erro de uma Igreja católica romana que negou e abandonou suas verdadeiras raízes. Durante séculos, a Igreja cometeu atrocidades regulares contra os  judeus, baseadas na crença de que o cristianismo e o judaísmo eram rivais.  Tradicionalmente, a Igreja considerava os judeus blasfemos por negarem o messianismo de  Jesus – mas, se Jesus não fosse judeu, ainda havia menos razão para os horrores cometidos  contra milhões de judeus inocentes. (A outra grande acusação usada para justificar os  ataques aos judeus – que eles tinham matado Jesus – há muito que foi reconhecida como  falaciosa, simplesmente porque foram os romanos que o executaram.)

Há um outro grupo que, ao longo dos anos, despertou a hostilidade da Igreja. No seu fervor  de se instituir como única religião, o catolicismo romano sempre perseguiu os pagãos. Destruíram- se templos, pessoas foram torturadas e mortas, desde a Islândia à América do Sul, desde a  Irlanda ao Egito, em “nome de Jesus Cristo”. Contudo, se estivermos certos, e o próprio  Jesus fosse pagão, então este fervor cristão não era apenas uma nova negação da humanidade comum mas também dos princípios do seu fundador. Esta questão ainda é  relevante porque os modernos pagãos continuam a ser hostilizados pelos cristãos da  sociedade atual.

Toda a nossa cultura é inquestionavelmente reconhecida como judaico-cristã, mas o que  significaria se tivéssemos razão e ela fosse, de fato, egípcio-cristã? É evidente que esta  apenas pode ser uma pergunta hipotética, mas é talvez mais fascinante basear os nossos  sonhos de religião na magia e no mistério das pirâmides do que na ira de um certo Jeová/Javé/Yahveh. Certamente, a religião que tem a sua Trindade de Pai, Mãe e Filho deve sempre exercer  uma poderosa atração e um profundo sentido de conforto.

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Investigámos a continuidade da linha da crença «herética» da Europa, a corrente secreta do  mistério da deusa, da alquimia sexual e dos segredos que rodeiam João Batista. Os  heréticos detiveram, na nossa opinião, as chaves da verdade sobre a história da Igreja de Roma. Nestas páginas, apresentamos os seus argumentos, passo a passo, à medida que fazíamos as descobertas, e, da confusão da informação – e, na verdade, da desinformação -,  vimos emergir o quadro global.

Acreditamos que, no geral, os heréticos têm bons argumentos a seu favor. Certamente, uma  grande injustiça foi feita às figuras históricas de João Batista e Maria Madalena e há muito  que o registro devia ter sido corrigido. É preciso compreender o respeito pelo princípio feminino CRIADOR  e por todo o conceito de alquimia sexual, se a Humanidade ocidental  tiver esperança de entrar no novo milênio livre de repressão e de culpa.

No entanto, se é possível colher alguma lição da jornada que empreendemos, não é tanto a  de que os heréticos estavam certos e a Igreja romana estava errada. É que há a necessidade não de mais segredos ciosamente guardados, nem de mais guerras santas, mas de tolerância e de uma abertura a novas idéias, livre de preconceitos e de parcialidades, dogmas e doutrinas. Sem limites à  imaginação, ao intelecto ou ao espírito, talvez seja a nossa vez de transportar o facho que,  outrora, foi mantido aceso por luminares como Giordano Bruno, Cornélio Agripa e Leonardo da Vinci. E talvez cheguemos a apreciar inteiramente o velho adágio hermético:  “Não sabeis que vós sois deuses?”


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