quarta-feira, 6 de maio de 2015

OS SINOS - MANUEL BANDEIRA - OS SINOS, MARCANDO O NASCIMENTO, A MORTE E UMA POSSÍVEL RESSURREIÇÃO


Sino de Belém,
Sino da Paixão...

Sino de Belém,
Sino da Paixão...

Sino do Bonfim!...
Sino do Bonfim!...

Sino de Belém, pelos que inda vêm!
Sino de Belém bate bem-bem-bem.

Sino da Paixão, pelos que lá vão!
Sino da Paixão, bate bão-bão-bão.
Sino do Bonfim, por quem chora assim?...

Sino de Belém, que graça ele tem!
Sino de Belém bate bem-bem-bem-bem.

Sino da Paixão - pela minha mãe!
Sino da Paixão - pela minha irmã!

Sino do Bonfim, que vai ser de mim?...

Sino de Belém, como soa bem!
Sino de Belém, bate bem-bem-bem.

Sino da Paixão... Por meu pai?... - Não! Não!...
Sino da Paixão bate bão-bão-bão.

Sino do Bonfim, baterás por mim?

Sino de Belém,
Sino da Paixão...

Sino da Paixão, pelo meu irmão...

Sino da Paixão,

Sino do Bonfim...

Sino do Bonfim, ai de mim, por mim!

Sino de Belém, que graça ele tem!


O poeta vale-se da popular simbologia do som dos sinos para evocar o inexorável percurso da existência humana. Bem-bem-bem, o som de um pequeno sino, que, pela peqenez,bate mais rápido e agudo, marcando o nascimento e a infância. Depois vem bão-bão-bão, um pesado sino cujas badaladas são lentas e graves e evocam a paxão, do verbo latino pateri, depoente, que origina padecimento, paixão e morte. Por último, vem o sino do Bonfim, que ligado a mim, apela para bim-bim-bim, um sininho miúdo, em baterás por mim? interrogativo. Bonfim, é morte, há fim, mas fim bom. Bonfim é ressurreição, mas está sob interrogação. Haverá um fim bom? Ai de mim...

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