quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Por Maria Cristina Freitas Brisolara e Oscar Luiz Brisolara - postado por Equipe de apoio


Cristina diz:

Aos meus alunos, colegas e amigos que escreveram mensagens emocionantes de agradecimentos e de felicitações, nesta rede social e no caderno com que fui presenteada na sala de aula, nesta manhã, por conta deste meu momento de despedida da carreira docente, o meu mais sincero agradecimento.

Não deveriam ser permitidas as despedidas
Os adeuses encharcados de lágrimas...
O choro de quem parte...
O aceno de quem fica...

Vou, mas também fico... deixo vida e levo vida. Ao ir-me, levo o melhor. Peço perdão por minhas falhas, pois, enquanto seres humanos, somos imperfeitos e inacabados.
Todos os que abraçamos a vocação docente sabemos que se estabelece entre este fazer, as instituições por onde passamos, os alunos e nós mesmos uma relação idílica.
Sinto-me possessiva: meus alunos, minha sala, minha área de atuação, meus colegas professores, minha diretora... Embora tenhamos a certeza de que um dia nossa vida profissional chega ao fim, há que se preparar o coração para este momento do adeus.
Hoje, depois de uma longa trajetória de 41 anos de exercício docente, quantos alunos passaram pelas salas de aula em que lecionei... Há alunos do final de minha carreira que são filhos dos que tive no princípio. Pode haver satisfação maior? Não há outra profissão que ofereça recompensas tão profundas.
Ainda que hoje, utilizando nas aulas toda a tecnologia que temos à disposição, o quadro, a barra de giz impregnaram-se em mim e permanecerão em mim para sempre, de maneira indelével. Procurei sempre dedicar-me plenamente ao meu trabalho. Durante todos estes anos, procurei demonstrar profundo respeito à individualidade de cada aluno, pois entendo que a fé na capacidade de cada um deles deve ser a motivação fundamental para o trabalho de um professor.
E vivi meu dia a dia, na sala de aula, com a energia do começo de minha carreira, talvez mais sensível neste final da trajetória, como quem saboreia os instantes finais de uma felicidade inefável e irrepetível.
Do fundo de minha alma, agradeço a todos que um dia foram meus alunos, a todos que um dia foram meus colegas, por terem estado comigo no mesmo barco. Homenageando meus alunos destas minhas últimas turmas de 2015, quero também render homenagem a todos os alunos de minha vida.
Saio com a alma plena de emoções.
Reitero meu orgulho por ter feito parte do corpo docente do Instituto de Letras e Artes da FURG, sem jamais esquecer-me e orgulhar-me também de ter sido professora da rede municipal, na Escola Santana, quando Santana era apenas uma escolinha de quatro peças, em meio a cômoros de areia; na Escola Helena Small, no antigo prédio da Rua Barão de Cotegipe; de ter sido professora da rede estadual, no tradicional Instituto de Educação Juvenal Miller; de ter exercido função administrativa na Secretaria Municipal de Educação e Cultura, a antiga SMEC, da Rua General Osório.
Não me é muito simpática a palavra “aposentadoria”. Prefiro “jubilação”. Jubilação vem de “júbilo” E é este o sentimento pelo qual quero me deixar dominar neste momento: descansar, desfrutar da bela família que construí, empregar meu tempo em tudo aquilo que, até agora, as circunstâncias laborais não me permitiam.
Dou graças a Deus por ter exercido tão honrosa profissão – uma profissão que salva vidas, modifica uma sociedade, edifica o homem –, conduzindo meus alunos na construção de seus saberes e muito, muito mais, aprendendo com eles.
Termino meus agradecimentos com as palavras de Rubem Alves, em seu precioso livro “A alegria de ensinar”: “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...”
Muito obrigada!
Cristina

Oscar diz: 

FIM DE UMA ETAPA - Muitos me perguntam se me ressinto ou me entristeço por encerrar minha carreira acadêmica, sempre, sinceramente respondo que absolutamente não. Recebi do Alto em abundância, muitas oportunidades, e me sinto na obrigação de repartir dos frutos dessa magnificência divina. Agora, aposentado, estou atingindo um universo de pessoas infinitamente maior do que os mais ou menos 15.000 alunos que conviveram comigo nesses quarenta e poucos anos de atividade acadêmica. Estou fechando um milhão e trezentas mil consultas em minhas publicações, em 93 países pelo mundo. Portanto, tenho um enorme universo de alunos com que troco aprendizagens, como o fiz na minha carreira acadêmica. Sem falsa modéstia, aprendi muito com esse grande número de alunos e colegas professores com que convivi. Sem sombra de dúvida, na sala de aula, no final de todo o processo, quem mais aprende é o professor. É exatamente por isso que ele se torna mestre. Par que isso ocorra, há uma única condição: que ele esteja aberto ao universo que se estende diante dele e seja fiel ao rosto do outro colocado diante dele, a quem deve aprender a respeitar e ouvir. Obrigado a todos os meus alunos e colegas. Saio feliz do meio acadêmico como feliz vivi no seio dele e continuo fiel aos parâmetros que o infinito traçou para meus passos. Continuo como um permanente aprendiz que deseja dividir do seu farnel com os que comigo percorrem as sendas maravilhosas da existência humana...
 


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