Os segredos perdidos da Arca da Aliança, parte 1
“OS SEGREDOS PERDIDOS DA ARCA SAGRADA” – Capítulo V do livro de Laurence Gardner, Editora Madras, 2003, páginas 67 a 79.
Como o Santo Graal ou o Velocino de Ouro, a Arca da Aliança é uma relíquia principal de demandas sagradas de um antigo povo. Mas em contraste com as características intangíveis dos outros, a Arca mantém uma qualidade física, tendo o seu material de construção sido largamente descrito na Bíblia.
Ela é, apesar disso, um enigma tão grande quanto o Santo Graal e o Velocino de Ouro. Seu propósito de repositório é descrito, mas não se diz a razão de ela ser tão ricamente adornada…
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
A ARCA DA ALIANÇA
O livro pode ser baixado (em português) aqui: http://searc h.4shared.com/q/CAQD/1/books_office# e/ou www.entreirmaos.net
Conflito no Deuteronômio
… A Arca é
retratada com poderes espantosos e mortais, que não são, porém,
satisfatoriamente pormenorizados. Não há dúvida de que era a posse mais
valiosa dos antigos hebreus; mesmo assim, após quase quatro séculos de
registros históricos de sua trajetória, ela desaparece do registro
bíblico sem nenhuma explicação.
Segundo
a definição, “arca” é equivalente ao latim arca: um baú, caixa ou
cofre. Uma coisa escondida ou ocultada em tal caixa é chamada “arcano”,
enquanto um profundo mistério é um arcanum (plural arcana), como na
alquimia e no tarô.
Um
repositório para preservar documentos é um “arquivo” e um item de grande
antigüidade é “arcaico” ou “arqueano”. Daí, o estudo de tais itens por
meio da escavação e da análise se tornou a “Arqueologia”. As arcas
também foram identificadas como naves fechadas, como a Arca de Noé.
A palavra
“arca”, como aparece na Bíblia e traduzida do antigo grego da
Septuaginta, tem seu paralelo hebraico em ãron — uma caixa ou
recipiente, palavra usada para descrever um esquife em Gênesis 50:26 e
uma caixa de dinheiro em 2 Reis 12:10.
Desde o
livro do Êxodo e durante grande parte do Antigo Testamento, a Arca da
Aliança é mostrada em destaque, desempenhando um papel importante na
conquista da Terra de Canaã (Palestina) pelos Israelitas. Durante
sua história, a Arca matava sem aviso, se as regras para seu
manuseio não fossem obedecidas, e a fúria de seu poder desenfreado
causava tumores e doenças em uma escala epidêmica. Quanto ao
abrigo dos Dez Mandamentos, nada mais se fala além da descrição
original. Como vimos, Êxodo 40:20 afirma que Moisés depositou o
Testemunho na Arca, mas a referência relacionada aos Mandamentos aparece
em uma retrospectiva posterior em Deuteronômio.
Aqui,
antes que os israelitas levassem a Arca à Jordânia, Moisés relembra-os
de seu grande poder e dos eventos ocorridos no monte Horeb (Sinai). Diz
que as tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus, eram aquelas que ele
atirara no chão e quebrara diante de seus olhos. Em seguida, conta como
fora instruído a talhar mais duas tábuas, nas quais escreveria o que
havia nas anteriores e que esses eram os “mandamentos” que ele pusera na
Arca.
O fato de
as tábuas originais (que supostamente haviam sido escritas com o dedo
de Deus) nada terem a ver com as que devem ter sido postas na Arca
causou muita consternação ao longo dos séculos. Em termos religiosos,
todo o conhecimento a respeito da Arca se baseou nesse ideal, mas os
estudiosos do judaísmo sabem que essa é uma falácia histórica. Na
tentativa de harmonizar o assunto com o ensinamento clerical, nasceu um
conceito de meio-termo durante a Idade Média, quando os teólogos
determinaram que provavelmente havia duas arcas! Aquela construída por
Bezalel abrigava a Pedra do Testemunho, como explicado no Êxodo 40:20,
enquanto a outra (uma cópia) continha as tábuas que haviam sido
quebradas por Moisés!
Porém,
decidiu-se que a verdadeira Arca de Bezalel foi a que acabou sendo
depositada no Templo do rei Salomão. O destino ou fortuna da suposta
duplicata com os Mandamentos nunca foi discutido, ao menos pelos
historiadores judeus. A noção de uma “segunda” Arca foi agarrada com
entusiasmo pela fraternidade cristã na Etiópia. Se os judeus não
estivessem interessados em capitalizar sobre a fábula, os cristãos
certamente poderiam construir uma nova tradição ao redor dela.
Foi assim que, nos anos 1300 (final do período dos Cavaleiros Templários)
, um livro etíope anônimo surgiu, intitulado Kebra Nagast (Glória dos
Reis). Durante essa era de infiltração européia nos países africanos, o
objeto desse livro era estabelecer a lenda de uma cultura judaico-cristã
de longa duração na antiga Abissínia.
Segundo
ele, os reis daquele país descendiam de um certo Menieleque, que seria o
filho secreto do rei Salomão de Judá e da rainha de Sabá. Não só isso,
mas também que Menieleque havia levado a Arca com os Mandamentos à
Etiópia. Surpreendentemente, a lenda perdura até hoje, encorajada pela
Igreja Ortodoxa Etíope e pela indústria turística de Axum. Diz-se que a
relíquia é guardada em uma capela rústica dos anos de 1960 cuja entrada
é, obviamente, proibida. De acordo com um porteiro de confiança, que se
recusa a falar a respeito da Arca, ninguém (nem mesmo o Patriarca)
jamais a viu!.
As
discrepâncias entre a passagem de Deuteronômio e o relato mais antigo do
Êxodo são consideráveis, mesmo na medida em que, em Deuteronômio,
diz-se que o próprio Moisés construiu a Arca (Deuteronômio 10:5). Isso
contrasta completamente com os relatos detalhados originais da confecção
da Arca pelo artesão Bezalel, que culmina com: “Fez também Bezalel a
Arca de madeira de acácia; de dois côvados e meio era o seu comprimento,
de um côvado e meio a largura, e de um côvado e meio a altura. De ouro
puro a cobriu: por dentro e por fora a cobriu…” (Êxodo 37:1-2). Antes
disso, explica-se que Bezalel (assistido por Aoliabe) foi especialmente
escolhido pelo Senhor para o trabalho. Assim, por que há um conflito
entre o relato do Êxodo e a análise retrospectiva posterior do
Deuteronômio?
Atualmente,
os estudiosos aceitam que o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio) teve mais de um escritor, desde o comecinho do
Antigo Testamento. Não apenas houve mãos diferentes a redigir esse livro
e o Antigo Testamento em geral, como os livros em separado emanam de
diferentes épocas. Em suma, o Antigo Testamento é uma mistura de relatos
colados juntos, cuja presença se faz sentir desde o início. Em Gênesis
1:27 conta-se que Deus criou Adão. Em seguida, em Gênesis 2:7, vê-se
Adão ser criado novamente, demonstrando que a mesma história foi contada
por dois escritores diferentes.
Na
verdade, há duas histórias da Criação bastante distintas em Gênese. A
primeira (Gênesis 1:1-2:4) é considerada o trabalho de um clérigo
escritor do século VI a.C. (chamado academicamente de “P”) e sua
proposta era a glorifícação de Deus por ele ter tirado a Terra da
escuridão do Caos. O segundo relato da Criação (Gênesis 2:5-25) vem de
uma tradição um pouco mais antiga; seu autor com freqüência é chamado
javista (conhecido como “J”) porque introduziu o nome divino de Jeová
(Javé). Entre os outros escritores do Pentateuco estão o eloísta (“E”) e
o deuteronomista (“D”).
Os livros
do Antigo Testamento foram compilados entre os séculos VI e II a.C.
Foram iniciados durante o cativeiro dos israelitas na Babilônia e
concluídos pelas gerações subseqüentes que haviam voltado à Judéia.
Assim, não era uma composição coesa, mas uma série de relatos separados
de fontes judaicas e mesopotâmicas. Por isso a repetição maciça em
certos pontos: os livros de Reis e Crônicas, por exemplo.
Algo do
Antigo Testamento é profético, parte é histórica e parte é escritura
assumidamente religiosa. Dentro dessas categorias, o livro de
Deuteronômio tem uma base religiosa muito judaica; seus escritores
estavam profundamente empenhados em unir as pessoas em uma estrutura
comum de crença em uma época de severa penúria e opressão.
Cerca de 800 anos após o período mosaico, Deuteronômio foi moldado intencionalmente como se viesse diretamente da boca de Moisés.
Não se tratava tanto de registro histórico (como era mais no caso do
Êxodo), mas de criar um ambiente de conhecimento que deveria se tornar
Lei. Sua utilização da história foi inteiramente manipulativa; um dos
principais objetivos era justificar a violenta invasão de Canaã pelos
israelitas, dizendo ter sido a vontade de Deus.
A esse
respeito, vemos Moisés afirmar que Deus “destruirá estas nações diante
de ti e tu as possuirás” (Deuteronômio 31:3). Outros enunciados
similares incluem: “destruí-las-ás totalmente” (20:17) e “Não farás com
elas aliança, nem terás piedade delas” (7:2). Claro, não há nenhum
registro de que Moisés tenha dito tais coisas, e mesmo antes disso (no
Êxodo) nós o vemos enunciando este mandamento completamente oposto: “Não
Matarás”.
Esses
aspectos historicamente ajeitados de Deuteronômio são apresentados como o
roteiro de uma peça; é nesse contexto que encontramos as referências
espúrias aos Mandamentos e à Arca. Na prática, Deuteronômio é um relato
totalmente reflexivo. Relembra os tempos de Moisés, quando os israelitas
eram os invasores, porém expressa as preocupações aplicáveis quando
eles próprios estavam sendo invadidos pelo exército babilônico de
Nabucodonosor em uma época muito posterior.
A Origem da Bíblia
Vale a pena lembrar que, mesmo no século I da era dos Evangelhos, não havia um simples texto composto à disposição dos judeus em geral. Os diversos livros existiam apenas como textos individuais, como indicam os 38 rolos dos 19 livros do Antigo Testamento encontrados em Qumrân, na Judéia, entre 1947 e 1951. Eles incluíam um rolo hebreu de 23 pés (7 metros) do livro de Isaías, o mais longo de todos os Manuscritos do Mar Morto. Datado de cerca de 100 a.C., é o mais antigo texto bíblico descoberto até hoje.
Vale a pena lembrar que, mesmo no século I da era dos Evangelhos, não havia um simples texto composto à disposição dos judeus em geral. Os diversos livros existiam apenas como textos individuais, como indicam os 38 rolos dos 19 livros do Antigo Testamento encontrados em Qumrân, na Judéia, entre 1947 e 1951. Eles incluíam um rolo hebreu de 23 pés (7 metros) do livro de Isaías, o mais longo de todos os Manuscritos do Mar Morto. Datado de cerca de 100 a.C., é o mais antigo texto bíblico descoberto até hoje.
Tais rolos
eram usados em sinagogas, mas não estavam disponíveis para as
pessoas em geral. O primeiro conjunto de livros compilados a ser
aprovado como Bíblia judaica surgiu após a queda de Jerusalém sob o
general romano Tito Vespasiano, no ano 70 d.C. Ela fora compilada com a
intenção de restaurar a fé no Judaísmo em uma época de alvoroço social
(a palavra Bíblia vem do substantivo plural grego bíblia, que
significa “uma coleção de livros”).
Em sua
forma composta do século I, o Antigo Testamento foi escrito em um estilo
hebraico que consistia apenas em consoantes. Em paralelo com isso, uma
tradução grega surgiu para atender ao número crescente de judeus
helenistas falantes de grego. Essa versão ficou conhecida como a
Septuaginta (do latim septuaginta: setenta), porque 72 estudiosos
trabalharam na tradução. Tempos depois, no século IV d.C., São Jerônimo
fez uma tradução em latim a partir do hebreu para subseqüente utilização
cristã; essa versão foi chamada de Vulgata por causa de sua aplicação
“vulgar” (geral).
Por volta
de 900 d.C., o antigo texto hebreu surgiu em uma nova forma, produzido
por estudantes judeus conhecidos como Masoretas porque anexaram a
Masorah (um conjunto de notas tradicionais) ao texto. Conhecido como
Codex Petropolitanus, a cópia mais antiga existente dessa versão vem de
menos de mil e cem anos atrás, em 916 d.C.
Atualmente,
podemos trabalhar a partir do texto masorético, da Vulgata latina ou
das traduções para o português ou outras línguas. Mas, qualquer que seja
o caso, permanece o fato de que esses livros todos pertencem a nossa
era atual, tendo sido submetidos a correções tradutórias e
interpretativas. A Septuaginta grega é um pouco mais confiável (pois é
baseada em textos do século III a.C), mas retificações do século I e
subseqüentes, assim como variações de tradução, acabaram por separar até
mesmo essa versão do verdadeiro original.
A Morada de Deus
Costumeiramente, considera-se o Tabernáculo da Congregação como o elaborado santuário erigido no Sinai para abrigar a Arca da Aliança. Essa extravagante construção, porém, está confinada aos aspectos Clericais (“P”) do Pentateuco e não se conforma à Tenda da Congregação, muito mais simples, descrita em outra parte do texto. A esse respeito, os registros eloísticos (“E”) fazem afirmações como: “Ora, Moisés costumava tomar a tenda e armá-la para si, fora, bem longe do arraial” (Êxodo 33:7-11).
Costumeiramente, considera-se o Tabernáculo da Congregação como o elaborado santuário erigido no Sinai para abrigar a Arca da Aliança. Essa extravagante construção, porém, está confinada aos aspectos Clericais (“P”) do Pentateuco e não se conforma à Tenda da Congregação, muito mais simples, descrita em outra parte do texto. A esse respeito, os registros eloísticos (“E”) fazem afirmações como: “Ora, Moisés costumava tomar a tenda e armá-la para si, fora, bem longe do arraial” (Êxodo 33:7-11).
Mais
adiante, há um apontamento dos mais interessantes, que traz muita
semelhança ao item do Gênesis 3:8-9, quando o Senhor andava pelo Jardim
do Éden, tendo perdido Adão de vista. No Êxodo, somos novamente
lembrados, algo abruptamente, de que havia uma diferença distinta entre o
Deus misterioso cuja presença emanava da radiância da Arca e o Senhor
da Montanha El Shaddai, retratado com um comportamento muito
equilibrado.
O Êxodo
33:11 relata que, na entrada da Tenda da Congregação, “falava o Senhor a
Moisés face a face, como qualquer homem fala a seu amigo”. Referências
similares podem ser encontradas em Números 11:16-30 e 12:4-9. Não há
similaridade aparente entre a honesta tenda do eloísta, armada fora do
arraial, e o poderoso Tabernáculo do Clérigo, situado no centro do
arraial com seu exército de assistentes e guardiães levitas. Porém, esse
Tabernáculo imensamente opressivo, com seu grande altar de bronze, é o
mais lembrado como o protótipo, mais tarde reproduzido pelo Templo
construído em Jerusalém por Salomão.
Além de
todo o seu mobiliário, tapeçarias, anéis e adornos ricamente descritos
as paredes do Tabernáculo eram construídas de tábuas retas de 4 metros
de altura e 69 cm de largura. Havia mais de quatro dúzias de tábuas na
largura, com cantoneiras adicionais, em uma proporção de 3:1 de 13,7m x
4,6m e 4,5m de altura. Era todo coberto e envolvido de linho pesado e
peles de bode; dentro dele, em um cortinado de 4,5 metros, ficava o
Santuário da Arca. Já se sugeriu que a definição citada de “tábuas”
talvez fosse má tradução de “molduras”, mas os antigos termos técnicos
são obscuros, de forma que é difícil dizer qual deles é mais acurado.
De
qualquer modo, temos aqui algo que não era nada portátil — como
supostamente deveria ser. Porém, há mais. Essa construção (uma
construção coberta de madeira, mais que uma tenda) foi feita dentro de
um recinto de 45,7m x 22,8m: o Átrio da Morada (45,6
x 22,8m) — o tamanho aproximado de uma piscina olímpica. Era limitado
por 60 colunas de madeira com bases de bronze e cerca de 137m de
cortinado pesado, até uma altura de 2,28m.
Para
o transporte, as dimensões, o volume e o peso disso tudo seriam imensos,
se a descrição fosse verdadeira. Não surpreende que o Tabernáculo
(hebreu: Mishkan, Morada) tenha diminuído na narrativa que vem logo
depois de a jornada dos israelitas ter-se iniciado. Em Josué 18:1,
menciona-se que ele foi erigido em Siloé após a batalha de Jericó e, de
acordo com 1 Reis 18:4, foi erguido novamente em Jerusalém quando
Salomão dedicou o Templo. Nesse ínterim, 1 Crônicas 15:1 explica que
Davi armara uma nova tenda para a Arca. Publicado em Dezembro de 2013.
Continua …
Permitida a reprodução desde que mantida a formatação original e mencione as fontes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário