Os segredos perdidos da Arca da Aliança, final
Capítulo V do livro “OS SEGREDOS PERDIDOS DA ARCA SAGRADA” de Laurence Gardner, Editora Madras, 2003, páginas 67 a 79.
Como o Santo Graal ou o Velocino de Ouro, a Arca da Aliança é uma relíquia principal de demandas sagradas de um antigo povo. Mas em contraste com as características intangíveis dos outros, a Arca mantém uma qualidade física, tendo o seu material de construção sido largamente descrito na Bíblia. Ela é, apesar disso, um enigma tão grande quanto o Graal e o Velo de ouro. Seu propósito de repositório é descrito, mas não se diz a razão de ela ser tão ricamente adornada…
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
5 – A ARCA DA ALIANÇA
O livro pode ser baixado (em português) aqui:
Carros e Querubins
A Arca
recebe sua primeira menção bíblica em Êxodo 25:10-22, quando o Senhor dá
as especificações para sua manufatura. Com as medidas do cofre
principal dadas em cúbitos, considerando-se 46cm como o cúbito padrão,
ela tinha 1,13m de comprimento, 68cm de largura e 68cm de altura. Como o
cúbito era uma medida variável, com freqüência considerado como 55cm,
ela poderia ter 1,4m de comprimento por 83,5cm de altura e largura, ou
algo entre essas duas medidas.
Qualquer que seja o caso, a razão precisa entre largura/altura-comprimento parece ser de 1 : 1,666 (n.T. – Na verdade a razão deveria ser o Número Áureo = 1,61803398875 = Φ conhecido como PHI {Φ/φ},
a razão da proporção divina usada na criação de tudo que é material,
desde o corpo humano a uma galáxia, um pássaro, uma árvore, enfim a
criação total. Saiba Mais em: http://pt.wikipedia.org).
A caixa
era de “madeira shittim” (em geral se admite que fosse acácia, mas
traduzida diretamente do antigo grego da Septuaginta seria “madeira
incorruptível”), folheada por dentro e por fora com ouro puro. Em torno
do perímetro superior, ela era adornada com uma coroa retangular. Em
cada ponta dos lados mais longos, havia um anel fixo de ouro — quatro
anéis ao todo para encaixar as duas varas de transporte, também feitas
de madeira shittim, folheada a ouro.
Nesse
estágio da descrição, conta-se que um dispositivo
chamado “propiciatório” é colocado no alto da Arca — suas dimensões
são precisamente as mesmas dos cantos externos da caixa aberta: 1,13m x
68cm (1:1,666, n.T ou ainda 1,61803398875). Era, na
verdade, uma tampa segura pela orla exterior que coroava o cofre. Não
havia, porém, madeira na tampa; era uma laje de ouro puro, que devia ser
bastante grossa para não arquear. A palavra hebraica relevante para
“propiciatório” (kapporeth) se traduziria melhor como “cobertura”,
enquanto a Septuaginta a especifica como uma “tampa”, definindo-a como
um “propiciatório”, um lugar de apaziguamento.
Em cada
ponta dessa tampa havia um querubim de ouro sólido; eles ficavam um de
frente para o outro, com as asas dobrando-se para dentro, acima do
propiciatório. Finalmente, conta-se que Deus comungaria com Moisés do
espaço acima da tampa, entre os querubins (essas descrições são todas
repetidas no Êxodo 37:1-9, que conta a confecção da Arca por Bezalel de
acordo com essas especificações).
A maior
dificuldade ao se pensar na Arca é a natureza dos querubins, pois o
Senhor anteriormente dera a seguinte ordem: “Não farás para ti imagem de
escultura, nem semelhança alguma do que há acima nos céus, nem embaixo
na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Êxodo 20:4). Se os querubins
fossem representações angélicas, como popularmente se retrata, a regra
divina teria sido quebrada desde seu nascimento. Não muito antes desse
projeto de manufatura, Moisés, sustentando o que lhe fora ditado,
admoestara Aarão por fazer um bezerro de ouro (Êxodo 32:20-21).
Portanto, é inconcebível que ele houvesse pedido a Bezalel que que
fizesse um par de anjos de ouro.
Com
relação a isso, não devemos ser automaticamente levados a crer que os
querubins eram representações de formas de vida apenas porque tinham
asas. Aviões têm asas, xícaras têm asas, cântaros têm asas. “Asa” é
simplesmente uma projeção lateral que se estende a partir do corpo
principal de um objeto. Não devemos também ser desviados pelas criaturas
aladas encontradas no artesanato egípcio e mesopotâmico.
Isso não
quer dizer que os compiladores do Êxodo no século VI a.C. não tenham
sido influenciados por tais imagens ao descrever a Arca, que
aparentemente estava perdida para eles naquela época (cerca de
quatrocentos anos depois de ela ter sido instalada no Templo de
Salomão). Se ela estivesse no Templo imediatamente antes da invasão de
Nabucodonosor e nos setenta anos do cativeiro da Babilônia, em 586 a.C.,
o último sacerdote israelita a ter visto a Arca provavelmente devia ter
morrido nesse ínterim, deixando os querubins abertos a interpretação.
Mesmo excetuando-se essa possibilidade, o fato é que (em qualquer
estágio de sua residência no Templo) apenas o sumo sacerdote via a Arca.
Os
escribas do Êxodo não teriam uma experiência pessoal e podiam apenas
basear sua descrição na tradição e no diz-que-diz. O uso angélico
popular da palavra querubim foi desenvolvido pela instituição
judaico-cristã como forma plural de cherub. Isso significa que
“Querubins” (de acordo com as traduções do Antigo Testamento) constitui
um duplo plural, o que é impossível. O erro está parcialmente corrigido
em alguns lugares — como no Êxodo 25:18-19 (na Bíblia inglesa King
James), que se refere a “dois querubins”, com um “querub” em cada ponta.
O mesmo é
dito em Êxodo 37:8. Porém, a Septuaginta e outros textos antigos não
cometem o erro, referindo-se geralmente a querubs, em vez de
querubins. Para melhores indícios quanto à natureza de querubim,
devemos considerar o uso primitivo da palavra. Em termos
bíblicos, encontramo-lo pela primeira vez em Gênesis 3:24, quando
(mais semelhantes a carros armados que a anjos) querubins e uma
espada flamejante, que se revolvia, foram usados para proteger a Árvore
da Vida. Há também um tratado do século III de Alexandria, pouco relacionado à Bíblia, intitulado “A Origem”. Fala da imortal Sofia, a deusa da sabedoria, e do governador Saboath, que “criou um grande trono em um carro de querubim com quatro lados”.
O
termo “querub” vem do antigo semítico kerúb, que significa “mover-se”.
Assim, “querub” é nome derivado de um verbo; sua pronúncia correta é
“qerub”. Conseqüentemente, é significativo que, onde quer que apareçam
formas de identificação para querubs ou querubim (na Bíblia ou alhures),
eles são, em todos os casos, retratados como espécies de tronos móveis,
de origem celestial e associados com vôo.
Certamente
não são representados como criaturas independentes. Tal identificação
particular ocorre muitas vezes no Antigo Testamento. Ao falar do Senhor
em uma missão de salvamento, tanto 2 Samuel 22:11 como o Salmo 18:10
afirmam: “Cavalgava um querubim, e voou; e foi visto sobre as asas do
vento”. Ezequiel 9:3 refere-se a Deus sobre um querub, afirmando: “[Ele]
se levantou do Querub sobre o qual estava, indo até a entrada da casa”.
Da mesma
maneira, 1 Crônicas 28:18 associa diretamente os guardiães querubins da
Arca no Templo de Salomão com “carros”. Sabendo que esses querubins não
pertenciam à popular variedade angelical, Josefo sustentou, em seu
Antigüidades Judaicas do século I, que: “Ninguém pode dizer, ou mesmo
conjeturar, qual era a forma desses querubins. “Na mesma época, o
filósofo judeu Filo (30 a.C.-45 d.C.) escreveu que, não importando a
aparência dos querubins da Arca, ele sentia que deviam simbolizar a
sabedoria.
A Oxford
Word Libraryy especifica que a raiz fundamental de “querub” é obscura.
Era, porém, ligada a uma noção de transporte; uma antiga alternativa a
kerüb (mover-se) era erüb. Temos, assim, uma associação direta com as
formas variantes Choreb e Horebe, como era chamada a montanha sagrada de
Moisés. Era, portanto, o Monte dos Querub, ou a Montanha Querub.
Quanto à associação dos querubs com tronos, a Bíblia certamente conta que, em certas ocasiões, o Senhor sentou-se no propiciatório da Arca: “Ele está entronizado acima dos querubins”. Também se confirma que Ele comungou com Moisés a partir desse trono: “[Ele] ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório”. A esse respeito, não há dúvida, segundo o texto, de que estamos no mundo físico de El Shaddai.
Quanto à associação dos querubs com tronos, a Bíblia certamente conta que, em certas ocasiões, o Senhor sentou-se no propiciatório da Arca: “Ele está entronizado acima dos querubins”. Também se confirma que Ele comungou com Moisés a partir desse trono: “[Ele] ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório”. A esse respeito, não há dúvida, segundo o texto, de que estamos no mundo físico de El Shaddai.
Mas havia
também o aspecto metafísico da Arca-luz (a presença percebida do Deus
onipotente), que residia permanentemente entre os querubins e era
classificada como uma “perigosa custódia” para os levitas. O Judaísmo
filosófico entende que a Arca representa um trono celestial, mas
concentrou sua admiração no “tubo de fogo” e nas “faíscas que saíam do
querubim”, mais do que naquilo que a caixa poderia conter. Porém, no
Talmude, aponta-se que Moisés pusera duas safiras (pedras sappir) na
Arca. Eram feitas do mesmo cristal Schethiyâ do qual a própria vara de
Moisés era feita (no relatório de Petrie dos itens descobertos no Templo
de Serâbit, no monte Horebe, havia varas de um material
azul-esverdeado, duro e não identificado).
A mais
clara de todas as histórias bíblicas que trata de querubim como carros
ou tronos móveis vem do livro de Ezequiel — o profeta cujas visões
obsessivas estão entre os episódios mais comoventes do Antigo
Testamento. Não obstante tudo o que descobrimos a respeito de tronos
móveis e da corrida dos kerübs ao vento, Ezequiel acrescentou uma
intrigante dimensão extra, pois seus querubs têm asas. Ezequiel era um
dos sacerdotes de Jerusalém que, em 598 a.C, foram deportados para a
Babilônia, junto com o rei Joaquim de Judá (2 Reis 24:12-16). Com outros
exilados, ele se estabeleceu onde hoje era o Iraque, na Babilônia e
provavelmente passou ali o resto de sua vida.
Não é importante debater se o que conta Ezequiel é verdadeiro ou não; de qualquer maneira, ele chama suas histórias de visões. O
importante é que elas servem, melhor do que qualquer outra história
bíblica, para identificar a natureza dos querubins como eram vistos
naquele tempo — não como garotos celestiais, mas formidáveis maquinismos
que subiam e se elevavam aos ares por meios mecânicos.
Ezequiel
explica: “Olhei, e eis quatro rodas junto aos querubins… o aspecto das
rodas era brilhante como pedra de berilo. Quanto ao seu aspecto, tinham
as quatro a mesma aparência; eram como se estivesse uma roda dentro da
outra. Andando, elas podiam ir em quatro direções, e não se viravam
quando iam; para onde ia a primeira seguiam as outras… Andando os
querubins, andavam as rodas juntamente com eles; e levantando os
querubins as suas asas, para se elevarem de sobre a terra, as rodas não
se separavam deles”.
Em outra
ocasião, Ezequiel acrescenta ainda mais informação a respeito de luzes e
anéis giratórios ruidosos. Ele conta que um grande furacão veio do
norte, cuspindo fogo. Do meio das chamas surgiria aquilo que parecia ser
quatro seres viventes, cada um com quatro asas e pernas direitas,
brilhando como bronze polido. Seus pares de asas estavam unidos; tinham,
todos, as faces de um homem, um boi, um leão e uma águia, uma de cada
lado. Elas voaram para frente, resplandecendo como lâmpadas e soltando
relâmpagos (essa cena misteriosa e intrigante foi extraordinariamente
representada na dramática pintura Visão de Ezequiel de Sir Peter Robson;
ver prancha 5).
Havia
anéis assustadores sobre elas, ruidosos como águas caudalosas; o
fenômeno voador era verde como o berilo e parecia ser cheio de olhos.
Elas também tinham rodas que se dobravam junto a elas ao voar, e cada
uma delas tinha um cristal semelhante ao firmamento sobre a cabeça. Mas
quando eles pararam e abaixaram suas asas, havia um trono; sobre ele
estava sentada uma figura semelhante a um homem, por cima de cada
firmamento iluminado. Espetáculos flamejantes com rodas aparecem
novamente em Daniel 7:9: “O seu trono era chamas de fogo, cujas rodas
eram fogo ardente”. Há menção a um veículo similar em 2 Reis 2:11, que
conta como um carro de fogo levou Elias em um redemoinho para o céu. No
livro de Isaías (6:1-2), também se fala de um querub transportado pelo
ar, que nos apresenta outro fenômeno intimidante do Antigo
Testamento. Isaías descreve o trono esvoaçante e continua: “Serafins
estavam por cima dele; cada um tinha seis asas”.
Serafins
flamejantes aparecem com grande regularidade em antigos documentos. O
fato de eles serem ígneos é consistente com a palavra seraph, que está
relacionada a um antigo termo hebreu que significa “chama”. Algumas
vezes eles têm propriedades destrutivas espantosas, como em Números
21:16, quando grande parte da população de Israel morreu depois que o
Senhor mandou serpentes de fogo (serafim) sobre eles. Tais histórias não
se limitam aos países do Oriente Médio. Relatos similares do mesmo
período vêm do Tibete, da Índia, da Escandinávia e de outros lugares.
Todos os escritos falam de carros celestiais que cospem fogo e mercúrio e
de pássaros trovejantes com asas de bronze. Sem uma boa quantidade de
especulação, é impossível examinar os porquês e os para quês exatos de
tais dispositivos aparentemente automáticos, com suas asas rotativas
barulhentas, rodas dobráveis, compartimentos polidos e iluminados e
homens dentro.
O Batismo de Jesus do artista holandês Aert de Gelder, que está no Fitzwilliam Museum.
Apenas
se pode apresentá-los assim como aparecem nos antigos textos. É
certo que esses carros voadores (querubim) com os serafim que
os acompanham (auxiliares igneos, em forma de dragão) nunca
foram, naquela época, classificados como anjos, cuja posição na Bíblia e
em outros lugares era bastante diferente. Um fato interessante, e
possivelmente relacionado, é que a noção de dispositivos voadores não
desapareceu com a antiga mitologia. O mundo da arte pictórica, desde os
tempos primitivos, através da Renascença européia e depois, traz uma
variedade de imagens com óvnis lançando raios de luz que de alguma
maneira se relacionam com importantes acontecimentos religiosos na
Terra. Um exemplo do século XVII seria “O Batismo de Jesus”, do artista holandês Aert de Gelder, que está no Fitzwilliam Museum, Cambridge .
Uma Essência Divina
Apesar disso tudo, deve-se concluir que os querubim que encimavam a Arca da Aliança não eram tronos móveis dos deuses. São apresentados como extensões funcionais da tampa de ouro; não há referências a uma suposta capacidade voadora da Arca; apenas de levitar e se mover por vontade própria. Esses querubs não podiam ser muito grandes mas, qualquer que fosse seu formato e tamanho, seu significado aparentemente estava ligado à força mortal que supostamente habitava entre eles, sobre a grande laje de ouro. Entretanto, eles eram chamados kerübs e portanto deveriam ter alguma ligação com o fenômeno de Ezequiel, Isaías, Elias e Daniel. Sob esse aspecto, a Arca e os tronos esvoaçantes eram artefatos extraordinários de poder, que cuspiam fogo e luz de um tipo que claramente não eram chamas comuns. Eles eram igualmente espantosos em sua habilidade destrutiva, o que, novamente, não era a regra durante aquele período. Se a palavra kerüb denotava um aparelho dirigível, uma palavra comparativa de hoje em dia seria “mecanismo” (em inglês, engine, de ingeny: uma invenção engenhosa), igualmente aplicável a uma máquina estacionária ou um dispositivo voador.
Apesar disso tudo, deve-se concluir que os querubim que encimavam a Arca da Aliança não eram tronos móveis dos deuses. São apresentados como extensões funcionais da tampa de ouro; não há referências a uma suposta capacidade voadora da Arca; apenas de levitar e se mover por vontade própria. Esses querubs não podiam ser muito grandes mas, qualquer que fosse seu formato e tamanho, seu significado aparentemente estava ligado à força mortal que supostamente habitava entre eles, sobre a grande laje de ouro. Entretanto, eles eram chamados kerübs e portanto deveriam ter alguma ligação com o fenômeno de Ezequiel, Isaías, Elias e Daniel. Sob esse aspecto, a Arca e os tronos esvoaçantes eram artefatos extraordinários de poder, que cuspiam fogo e luz de um tipo que claramente não eram chamas comuns. Eles eram igualmente espantosos em sua habilidade destrutiva, o que, novamente, não era a regra durante aquele período. Se a palavra kerüb denotava um aparelho dirigível, uma palavra comparativa de hoje em dia seria “mecanismo” (em inglês, engine, de ingeny: uma invenção engenhosa), igualmente aplicável a uma máquina estacionária ou um dispositivo voador.
Além do Urim e do Tumim
se ativarem na presença da Arca, a Bíblia a explica também que o poder
da Arca era mortal. Dois dos filhos de Aarão, Nadab e Abihu, foram
mortos pelo fogo que jorrou da Arca (Levítico 10:1-2), que o Talmude diz
serem raios “tão finos quanto linhas”. E quando Uzá, o carreteiro,
tentou segurar a Arca quando os bois tropeçaram, foi fulminado no
momento em que a tocou (1 Crônicas 13:10-11). Quando não estava no
carro, a Arca tinha de ser carregada com varas independentes, que eram
passadas por anéis; apenas os sumos sacerdotes levitas (Aarão, Eleazar e
seus sucessores), vestidos de maneira muito particular, tinham a
permissão de se aproximar muito. Eles tinham grande quantidade de ouro
em seu traje especialmente desenhado — um peito de armas de ouro, preso a
anéis de ouro, correntes e diversos outros acessórios em torno de seus
corpos (Êxodo 28:4-38). Eram também instruídos a tirar seus sapatos e
lavar seus pés “para que não morressem” ao se aproximar da Arca (Êxodo
30:21).
Da mesma
maneira, aqueles que transportavam a Arca em suas varas eram instruídos a
andar descalços. As descrições de trajes e procedimentos especiais para
se aproximar da Arca, embora aparentemente muito precisas no texto, são
na verdade vagas e confusas. Isso não surpreende, pois os escribas
do Antigo Testamento de uma época posterior não partiam de
nenhum conhecimento prático. Seu ponto de vista vinha de uma
base tradicional enquanto, ao mesmo tempo, eles confundiam em todos
os momentos toda a experiência do Sinai com uma religião resultante que
se desenvolvera nesse ínterim (devoção, em oposição à
oficina). Considerando tudo, porém, há informação suficiente para
determinar que, seja no chão ou no ar, o extraordinário poder arcano dos
kerübs era eletricidade de alta tensão.
Podemos
voltar agora à etimologia arquita com a qual este capítulo se iniciou,
continuando a partir do grego ark, com seu equivalente latino arca: uma
caixa ou baú. Na antiga França, arca se tornou arche, que passou para o
inglês no início da Idade Média. A impressão de William Caxton, em 1483,
da The Golden Legend, de Jacobus de Voragine, refere-se à Arca
da Aliança como a “Arche dos Testamentos”. Posteriormente, a
palavra arche se tornou arch, e depois are, que é a forma própria do
inglês para ark, hoje em dia. Nesse período, foi feita uma associação
direta, no período gótico, com um arco, como em “arquitetura”, “arcada”,
e “arquitrave”.
Dado que
“arquear” significava ir além ou estender-se, a palavra começou a ser
usada como “acima” ou “cabeça”, como em “arquiduque”, “arcanjo” e
“arcebispo”. Unindo esses aspectos da morfologia, há a emblemática representação da Maçonaria do Real Arco,
projetada em 1783 por Laurence Dermott, Secretário da Antiga Grande
Loja da Inglaterra. Sua imagem representa um arco arquitetônico que
abriga a Arca da Aliança, uma arca dentro de um arco. O ponto, aqui, é
que arca e arco são mutuamente dependentes, pois cada um deles está em
um estágio de recinto protetor (latim: archeo).
Se o
Antigo Testamento fosse escrito hoje em dia, a Arca da Aliança seria
corretamente chamada Arco do Testemunho. Como recinto protetor, o Arco
do Testemunho supostamente incorporava a verdadeira essência da luz e da
energia; era uma manifestação do supremo poder de Deus. Mas, uma vez
que se tratava de um dispositivo manufaturado, de onde derivava
essa essência elétrica? Encontramos imediatamente uma pista na
utilização original da palavra hebraica ãron que, conforme já vimos
(como arca), definia uma caixa. Porém, era mais especificamente uma
caixa de acumulação; o significado da antiga raiz de ãron era o verbo
“reunir” ou “reunião”.
O poder
era reunido e estocado pela própria caixa, enquanto a mais terrível
descarga (quando o Urim e o Tumim estavam presentes) era vista como um
julgamento definitivo. Era percebida como a Luz e a Perfeição, uma
inspiração oracular divina do grande Arconte (antiga palavra grega que
significa “recipiente” ou “arco”). Os Arcontes que proferiam seus
poderosos julgamentos eram conhecidos como Governantes da Totalidade; um
antigo texto grego intitulado “A Hipóstase dos Arcontes” trata do carro
da Fundação, que se elevava acima das forças do Caos — um carro chamado Querubim.
Fim Primeira parte em:
Permitida a reprodução desde que mantida a formatação original e mencione as fontes.
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