Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, parte 1
Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança
Se existisse da forma como é descrita na Bíblia, a Arca da Aliança teria de ser um dos artefatos mais extraordinários da história. A arca podia formar tempestades, irradiar o fogo divino, derrubar as muralhas das cidades, destruir carruagens e aniquilar exércitos inteiros. Além disso, tinha o poder de invocar os anjos e até mesmo de manifestar a voz e a presença de Deus.
De acordo com o Antigo Testamento da Bíblia, a Arca foi construída pelos antigos israelitas quando estavam no Monte Sinai — uma montanha sagrada no Deserto de Sinai — após sua fuga da escravidão no Egito, há cerca de três mil anos. Foi criada a partir de instruções de Deus, transmitidas a Moisés, o profeta e líder dos israelitas …
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Capítulo I do livro: Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, a descoberta do Tesouro do Rei Salomão, de Graham Phillips – Editora Madras
Fonte: http://grahamphillips.net/
1. Os segredos do Segundo Templo de Jerusalém
“E a arca da sua aliança foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos e grande saraiva”. O Livro do Apocalipse 11:19
… Ela é descrita em detalhes como um baú decorado, com pouco mais de um metro de comprimento, oitenta centímetros de largura e a mesma medida de altura, feita de madeira revestida de ouro. Uma borda decorada com ouro reveste a parte de cima da Arca e em suas laterais havia arcos nos quais algumas varas podiam ser encaixadas para que ela pudesse ser carregada. Na tampa, um de frente para o outro, havia dois querubins, ou anjos, com suas asas abertas. Traduções para o inglês do termo bíblico um “trono de Deus.” O que de fato representava não nos foi dito, apenas sabe-se que ficava localizado sobre a tampa da Arca entre as asas dos anjos.
O Antigo Testamento nos diz que a Arca continha as duas tábuas de pedra talhadas com os Dez Mandamentos, que foram escritos por Moisés quando ele estava no cume do Monte Sinai. No entanto, proteger as tábuas que detalham a aliança entre os israelitas e Jeová, não era o principal propósito da Arca — ela era usada para conversar com Deus. O termo Arca da Aliança, pelo qual o artefato é comumente conhecido, não é o nome usado para se referir a ela no decorrer dos textos da Bíblia. Na verdade, ela é geralmente descrita como a Arca do Testemunho ou Testamento. Em outras palavras, a arca é um local por intermédio do qual se recebe testemunhos ou instruções religiosas. De acordo com o livro do Êxodo do Antigo Testamento, quando os israelitas são orientados a respeito de como construir a Arca, Deus lhes diz:
E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do testemunho. (Ex 25:22) 1
Em uma outra passagem da Bíblia, lemos que a voz de Deus vem do propiciatório. Por exemplo, no livro dos Números lemos que Moisés “ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório, que estava sobre a arca do testemunho” (Nm 7:89). Deus não é somente ouvido, mas também visto. Em uma passagem em Levítico, Deus, na verdade, promete aparecer: “Porque eu aparecerei na nuvem sobre o propiciatório” (Lv 16:2). De que forma Deus aparecia para os israelitas não se sabe ao certo, mas geralmente a aparição é descrita como “a glória do Senhor.”
Levítico 9:23, por exemplo, descreve como “a glória do Senhor apareceu a todo o povo.” A presença de Deus também se manifesta a partir da Arca como uma nuvem miraculosa ou como o fogo divino. Na verdade, a partir das descrições bíblicas, temos a impressão de que Deus habita dentro da Arca. 1 Todas as citações se referem à Bíblia King James. A arca não é apenas um meio usado para comunicar-se com Ele, e até ver Deus. Ela é também descrita como a protetora do povo de Israel em suas jornadas por todo o deserto e como uma arma sagrada a ser usada contra os inimigos dos israelitas. Números 10:35-36 nos faz lembrar do poder da Arca durante a saída do Egito:
Acontecia que, partindo a arca, Moisés dizia: Levanta-te, Senhor, e dissipados sejam os teus inimigos; e fujam diante de ti os odiadores. E, pousando-a, dizia: Volta, ó Senhor, para os muitos milhares de Israel. No livro de Josué lemos, de forma mais explícita, que o poder da Arca foi, inclusive, capaz de derrubar as poderosas muralhas da antiga cidade de Jericó:
Então Josué, filho de Num, chamou os sacerdotes e disse-lhes: Levai a arca da aliança; e sete sacerdotes levem sete buzinas de chifres de carneiros, adiante da arca do Senhor. E disse ao povo: Passai e rodeai a cidade; e quem estiver armado, passe adiante da arca do Senhor… E fez a arca do Senhor rodear a cidade… Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzinas; e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da buzina, gritou o povo com grande brado; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada um em frente de si, e tomaram a cidade. (Jo 6:6-20)
Nessa passagem, quando a Arca é carregada ao redor dos muros da cidade, algo acontece que os faz desmoronar. Não sabemos ao certo o que causa essa devastação, mas uma outra passagem no Antigo Testamento descreve um poder destrutivo que, de fato, emana da Arca. De acordo com Levítico 9:24, “porque o fogo saiu de diante do Senhor, e consumiu o holocausto e a gordura, obre o altar” que os israelitas tinham oferecido a Deus.
Se a Bíblia está certa, a Arca da Aliança era um objeto como nenhum outro — diziam que era o lugar da morada de Deus e que podia ser usada como uma arma apavorante. No entanto, a Bíblia fracassa em nos revelar o que de fato aconteceu com aquela que era a propriedade mais sagrada dos israelitas. Nos é dito que o grande Rei Salomão construiu um fabuloso templo especialmente para guardá-la e que, em um certo momento desconhecido, ela foi tirada de lá — mas para onde foi levada, ninguém sabe.
Na Idade Média os guerreiros Cavaleiros Templários passaram anos tentando descobrir seu novo paradeiro, e algumas lendas dizem que a encontraram.
Até o dia de hoje, porém, o verdadeiro destino da Arca da Aliança permanece totalmente desconhecido. Não é de se admirar, portanto, que tantos estudiosos bíblicos, arqueólogos e aventureiros tenham gastado tanto tempo, esforço e dinheiro tentando encontrá-la. Até agora, porém, seu esconderijo secreto continua sendo um dos mistérios mais bem guardados da história.
Este livro é um relato de minha busca pessoal na tentativa de solucionar os segredos da Arca perdida. Ela de fato existiu? Se a resposta for sim, ela de fato possuía os poderes que a Bíblia menciona? E o maior de todos os enigmas: onde ela foi parar? Tudo começou durante a visita a Jerusalém quando eu fazia pesquisas para um livro totalmente diferente que estava escrevendo acerca dos primórdios da Igreja Cristã. Tinha agendado um encontro com David Deissmann, um arqueólogo da Universidade Hebraica de Israel. David estivera envolvido com escavações ao redor do Muro das Lamentações, e tinha se oferecido para me levar a um passeio turístico pelo local que tinha, entre outras coisas, escavado uma construção que pode ter sido usada por alguns dos primeiros cristãos. Foi durante esse passeio que meu interesse pela Arca da Aliança surgiu pela primeira vez.
Em pé na praça em frente ao Muro das Lamentações, enquanto esperava David, estava ladeado por dezenas de veneradores judeus que se balançavam de maneira ritmada e com grande reverência diante das antigas pedras gastas pelo tempo. Ao curvar-se repetidas vezes, recitavam, com presteza, as orações dos livros que estavam bem encaixados em suas mãos. Outros chegavam e se curvavam apenas uma ou duas vezes antes de depositarem um pedaço de papel, uma oração por escrito, nas fendas da fachada esfarelada das pedras. Essa proteção com quase quinhentos metros de comprimento e cerca de 20 metros de altura, é um local de peregrinação dos judeus de todo o mundo. Também conhecido como o Muro Ocidental, é tudo o que resta do que um dia fora o santuário mais sagrado do Judaísmo — o Templo de Jerusalém, originalmente construído pelos antigos israelitas para guardar a Arca da Aliança.
De acordo com a Bíblia, os antigos israelitas, também chamados de hebreus, eram doze tribos nômades que conquistaram e se assentaram na terra de Canaã — o que hoje é Israel, Palestina, e parte da Jordânia — há mais de três mil anos. A invasão culminou com a conquista da cidade de Jerusalém pelo rei israelita Davi, por volta de 995 a.C. De acordo com o Antigo Testamento, no segundo livro das Crônicas, o filho e sucessor de Davi, Salomão, construiu o primeiro templo em Jerusalém para que a Arca tivesse um santuário permanente. Conforme Salomão descreve com suas próprias palavras: “Assim confirmou o Senhor a Sua palavra, que falou; porque eu me levantei em lugar de Davi meu pai, e me assentei sobre o trono de Israel, como o Senhor disse, e edifiquei a casa ao nome do Senhor Deus de Israel. E pus nela a arca, em que está a aliança que o Senhor fez com os filhos de Israel“. (2 Cr 6:10-11)
Erguido sobre o que é hoje conhecido como o Monte do Templo ou Monte Sião, uma montanha com superfície plana ao alto da cidade, o Templo de Jerusalém se tornou o ponto central da religião hebraica. Desde então, o lugar se transformou no pedaço de terra mais disputado do mundo. Nos tempos antigos, os egípcios, babilônios, persas, gregos, romanos e judeus lutaram e morreram na tentativa de conquistar seu controle. Nos tempos medievais, os árabes e os Guerreiros derramaram seu sangue para conquistar, dominar, perder e retomar o monte sagrado. E hoje, centenas de palestinos e israelenses perdem a vida todos os anos por acreditarem que a cidade sagrada de Jerusalém é sua por direito. Antes de Salomão construir seu Templo ali, Jerusalém era apenas uma típica fortaleza, uma das dezenas onde um dia foi a terra de Canaã. Depois disso, o local se tornou o centro do mundo (n.T. para os fanáticos).
Quando Salomão morreu, por volta de 925 a.C, a maioria das tribos israelitas, a tribo de Judá, separou-se das demais tribos e fundou seu próprio reino independente, escolhendo Jerusalém como sua capital. Grosso modo, circundando a área que hoje é o sul de Israel, esse reino era conhecido como Judá — mais tarde vindo a ser chamado de Judéia pelos romanos — e seu povo ficou conhecido como os judeus. Foi o povo de Judá que desenvolveu os primeiros preceitos da religião hebraica, que viria a ser o Judaísmo, e transformou o Templo de Jerusalém no santuário mais sagrado da religião judia por mais de trezentos anos — até que a cidade foi invadida pelos babilônios. Na época, milhares de judeus foram escravizados e guiados para o exílio na cidade da Babilônia (próximo à moderna Bagdá, no Iraque), e em 597 a.C. o rei babilônio, Nabucodonosor, ordenou que o Templo fosse saqueado e destruído.
Herodes, o Grande.
Entretanto, em 539 a.C, quando os persas, do que hoje é o Irã, derrotaram os babilônios, foi que os judeus tiveram permissão para voltar a Jerusalém. Logo depois, o Templo foi reconstruído em uma escala menor, mas quando os romanos tomaram a cidade em 63 a.C, o santuário estava em um estado avançado de ruínas. Paradoxalmente, a ocupação romana de Judá, na verdade, trouxe grande prosperidade para a região; algo muito maior do que vivera durante séculos de existência. Quando o judeu aristocrata Herodes foi empossado pelos romanos como um rei fantoche, ele usou sua nova riqueza para reerguer o Templo em uma escala ainda maior do que a original. O trabalho foi iniciado por volta de 19a.C, e quando o concluíram em 64 d.C, o novo Templo era uma das maiores e mais impressionantes estruturas em todo o Império Romano, e conferiu a seu patrono o título de Herodes, o Grande.
O historiador judeu Josephus, fazendo seu trabalho por volta de 90 d.C, dá os detalhes da estrondosa magnitude do projeto. As dimensões das paredes externas mediam aproximadamente 250 por 1.000 metros, criando um perímetro externo inacreditável de quase dois quilômetros e meio. As paredes tinham quase 30 metros de altura e eram feitas de pedras, muitas delas com peso de quase cinqüenta toneladas. Na entrada principal da ala sul do complexo que parecia uma cidade, largas escadarias conduziam as pessoas até os portões do Pórtico Real — um grande corredor com colunas, que dava acesso ao amplo pátio externo. De acordo com Josephus, os pilares sólidos que sustentavam o telhado do pórtico eram tão grandes que eram necessários quatro homens com os braços esticados para circundá-los. O pátio externo era grande o suficiente para abrigar o equivalente a treze campos de futebol moderno e era cercado de todos os lados por colunatas.
Embaixo dessas passagens cobertas, que proporcionavam uma sombra do sol escaldante, os visitantes podiam se reunir, e professores e alunos podiam se sentar para debater questões religiosas. Brilhando no meio do pátio ficava o complexo do Templo interno, construído na parte de cima de uma plataforma de pedra gigantesca com aproximadamente 1 metro de altura. Suas paredes mediam algo em torno de 150 a 300 metros e tinham cerca de 30 metros de altura, com pequenas torres de defesa em pontos estratégicos. Em diversos degraus intercalados havia estruturas que se elevavam até a plataforma dando acesso a oito portas enormes revestidas com placas de ouro e prata. A metros de altura, suas portas duplas de bronze eram tão pesadas, eram tão pesadas que, de acordo com Josephus, vinte homens eram precisos para fechá-las.
Qualquer pessoa podia entrar no Pórtico Real e o no pátio externo, mas somente os judeus tinham permissão para entrar no complexo central. Placas de aviso escritas em grego e latim diziam a todos os não judeus para não entrarem, sob pena de morte. Pelo Portão Coríntio, adoradores entravam em um pátio externo, com cerca de 70 metros quadrados, também cercados por passagens cobertas. Esse pátio era conhecido como o Pátio das Mulheres, porque além desse lugar, as mulheres não tinham permissão para entrar em lugar nenhum. Somente os homens podiam subir um lance de escadas a mais e passar por um último portão para freqüentar em um pátio interno anterior ao Templo em si — uma reconstrução exata do Templo original de Salomão, conforme relatado nas escrituras antigas.
O Templo de Salomão original tinha cerca de 50 metros de altura e algo em torno de 300 metros quadrados. Suas paredes eram sustentadas por colunas e o telhado cercado por estacas douradas para impedir que os pássaros se empoleirassem ao longo de suas guarnições. Dentro do Templo, havia um santuário externo, onde ficavam braseiros para os sacrifícios de animais, exigidos pela lei religiosa contemporânea, e o altar superior, que dava base para o Menorah, o candelabro de sete velas que simbolizava a presença de Deus (n.T. Simbolizava a existência e importância dos SETE CHAKRAS do corpo humano). Finalmente, além dele, ficava o santuário mais secreto chamado de Sagrado dos Sagrados (Sanctum Santorum) : uma câmara escura, sem janelas, construída para guardar a relíquia mais sagrada que todo o Templo foi erguido para abrigar — a Arca da Aliança.
Infelizmente, o novo Templo de Herodes sobreviveu menos de um século. De acordo com o Novo Testamento, sua destruição foi prevista por Cristo durante seu ministério, por volta de 30 d.C. Durante o tempo de Cristo, pouco depois do Templo de Herodes ser parcialmente concluído, a lei religiosa impelia todos os judeus a pagar um imposto anual destinado à manutenção do Templo, e essa taxa só podia ser paga com siclos de prata.
Por essa e outras razões, cambistas eram colocados no Pórtico Real para trocar as moedas dos viajantes. Na verdade, o pórtico era como uma colméia industrial, porque ali também havia pequenas cocheiras que vendiam animais usados em sacrifícios, como pássaros, ovelhas e cabras. Muitos dos comerciantes cobravam comissões exorbitantes com preços muito injustos, aproveitando-se dos peregrinos, muitos dos quais gastavam todas as suas economias vindo de muito longe para rezar no Templo.
Os comerciantes tinham que pagar para ter permissão de instalar suas cocheiras naquele lugar e os sacerdotes ficavam cada vez mais ricos com os lucros. Era assim que tudo acontecia quando, segundo o evangelho de São Marcos, Cristo chegou ao Templo. Ao considerar aquele procedimento abominável, Ele “começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derrubou as mesas dos cambiadores e as cadeiras dos que vendiam pombas” (Mr 11:15). Cristo sentiu-se tão atemorizado com tamanha corrupção no Templo que chegou a predizer sua destruição: “Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada” (Mr 13:2).
Cerca de quarenta anos mais tarde, a predição de Jesus se concretizou quando os judeus se rebelaram contra as leis romanas e os romanos revidaram. No ano 70 d.C, o suntuoso Templo foi reduzido a pó e pedra quando os romanos o despojaram de seus tesouros e incendiaram tudo o que restou. O imperador romano chegou a ordenar que todo o complexo fosse demolido, pedra por pedra. Somente o Muro das Lamentações ainda existe no local. Os diversos caminhos de pedras que hoje se erguem sobre o asfalto moderno da Antiga Jerusalém eram, no passado, parte do muro ocidental do Pórtico Real.
Quando David chegou, começamos nosso passeio pela rede de túneis subterrâneos que ele ajudara a escavar. Hoje aberto ao público, as pessoas entram pela ala sul do pátio e passam pela lateral ocidental do muro, percorrendo quase quatrocentos metros até a saída na Via Dolorosa, na ala norte do Templo do Monte. Descoberto em 1967 por engenheiros que projetavam tubulações de água, o lugar tornou-se um complexo de passagens e cavernas artificiais construído há mais de oitocentos anos. Começamos nossa jornada ao entrar em uma caverna subterrânea de aproximadamente doze metros quadrados, que David explicou ser apenas uma dasmuitas câmaras interligadas pelas passagens cobertas por pedras. Elas são datadas de 1880, quando o líder árabe Saldem derrotou os Cruzadores europeus que ocuparam Jerusalém por anos. Durante séculos, Jerusalém fora uma cidade sagrada para os muçulmanos e para os judeus, pelo fato de dizerem que o profeta Maomé subiu ao céu a partir do local onde os templos de Salomão e de Herodes existiram.
No século VII, muito tempo depois de os romanos destruírem o último Templo dos Judeus, uma mesquita fora erguida ali, tornando-se um dos santuários mais sagrados do Islã. Como esse santuário fora profanado e vandalizado pelos Cruzadores, Saladin ordenou que ele fosse reconstruído com certo exagero, e hoje ele ainda é o local da abóbada de folhas douradas da mesquita da Rocha. Foi durante a reconstrução que Saladin decidiu reestruturar por completo a área adjacente, o que fez ao aumentar o nível da terra que abrigaria os novos prédios aserem edificados ao redor da mesquita. Essa façanha foi realizada com a construção de uma série de santuários de pedras que não apenas serviam como um meio de apoio, mas também eram usados como depósito para guardar cisternas de água muito importantes.
Ao deixarmos essa caverna passando por uma entrada estreita, David conduziu-me até um túnel de iluminação turva. A temperatura caiu de forma abrupta e o cheiro de bolor causado pelos tijolos mofados e esfarelados pairava no ar. A rede de túneis nos levava de caverna em caverna até que chegamos a uma câmara muito maior e bastante diferente das demais. As outras eram lugares simples com construções visivelmente funcionais, Infelizmente, esse relacionamento amistoso começou a se desgastar alguns anos após a morte de Herodes, quando Roma substituiu seu incompetente sucessor por um governador romano. Isso significava que um gentio, um não judeu, estava diretamente no comando de Judá — agora chamado de Judéia — e da cidade sagrada de Jerusalém. Sentimentos antiromanos aumentaram nas décadas seguintes, e a rebelião judia finalmente se irrompeu durante o governo tirânico do Imperador Nero no ano 66 d.C.
Durante quatro anos, rebeldes conseguiram manter a cidade de Jerusalém, mas ela foi tomada por Titus com uma eficiência brutal em 70 d.C. Milhares de homens, mulheres e crianças inocentes foram assassinados nas ruas. (Uma repressão posterior resultou na morte de aproximadamente meio milhão de judeus e na dispersão do povo judeu por todo o mundo durante quase dois milênios. O nome Judá chegou, inclusive, a ser apagado dos mapas romanos contemporâneos, e Jerusalém passou a ser parte da província romana da Palestina, de onde tiramos o nome Palestina.). Como parte das represálias contra os rebeldes, Titus ordenou que o novo e majestoso Templo de Herodes fosse destruído e que seus preciosos tesouros fossem enviados para Roma. Alguns estudiosos, de acordo com David, acreditam que a Arca da Aliança estava entre eles, ao passo que outros acreditam que ela fora muito bem escondida em uma câmara secreta embaixo do Templo do Monte muito antes de os romanos chegarem lá.
Continuando nossa caminhada pelo labirinto de passagens, David e eu chegamos em uma outra câmara, uma que parecia estar no ponto mais baixo no complexo dos túneis. Ali, uma mesa simples cheia de livros de oração estava iluminada por velas e cerca de uma dúzia de pessoas estavam de joelhos fazendo suas orações silenciosas. “Estamos, agora, mais próximos daquilo que muitos judeus acreditam ser o lugar mais sagrado da Terra,” sussurrou David. Ele apontou para o que parecia ser uma passagem arcada erguida com tijolos. Em algum ponto além dali, era o lugar onde acredita-se que o Sagrado dos Sagrados existira — a câmara secreta logo abaixo de onde supostamente a Arca da Aliança tenha sido guardada.
“Por que ela ainda não foi aberta?” perguntei quando continuamos a caminhar. David explicou que por volta de 1980 um rabino influente organizou uma escavação pela arcada de tijolos para dentro do que parecia ser uma passagem soterrada atrás dela. O rabino estava convencido de que em algum lugar abaixo do que teria sido o Sagrado dos Sagrados, havia uma câmara secreta onde a Arca ficava escondida. Quando o Templo foi destruído, as centenas de toneladas de pedregulhos que a cobriram, tornaram-na inacessível por quase dois mil anos. Se o rabino estava certo ou não e a Arca da Aliança de fato estava escondida ali, ele jamais viria a descobrir. Protestos dos árabes impediram que a escavação continuasse.
A escavação do rabino estava indo bem na direção logo abaixo da Cúpula da Rocha, terreno sagrado para os muçulmanos, e a população árabe de Jerusalém acreditava que o projeto era uma armação para minar as fundações da mesquita. Quando ficaram sabendo da busca, o rabino foi atacado e houve tumulto nas ruas, o que causou a morte de oito pessoas. O governo israelense decidiu ordenar que o trabalho fosse interrompido e, para evitar problemas futuros, que a escavação fosse fechada com toneladas de cimento. “Eu achava que os romanos tinham roubado todos os tesouros do Templo,” eu disse, tentando entender por que o rabino pensava que a Arca ainda estivesse ali. Expliquei que me lembrava de ter visto um desenho esculpido no Arco de Titus em Roma; um monumento erguido por aquele mesmo Titus que demoliu o Templo quando sucedeu seu pai na posição de imperador no ano 79 d.C.
O arco mostra o menorah e outros vasos do Templo sendo carregados de forma triunfante pelas ruas de Roma durante um desfile de vitória, após Jerusalém ser retomada em 70 d.C. De acordo com algumas fontes históricas, esses artefatos de ouro foram derretidos, vendidos e usados para financiar a construção do Coliseu. “Sim, mas o desenho não mostra a Arca,” disse David. Embora, como o rabino, David achasse improvável que os romanos tivessem achado a Arca da Aliança, ele duvidava que ela ainda estivesse em Jerusalém quando o Templo foi saqueado.
“Alguns historiadores especulam que a Arca fora escondida pelo sacerdócio pouco antes do ataque no Templo — talvez em uma caverna na floresta da Judéia ao leste de Jerusalém,” ele disse. “Foi ali que alguns pergaminhos do Mar Morto foram escondidos na mesma época.” Contudo, David considerava que isso também fosse pouco provável. O historiador judeu Josephus, que viveu durante esse período, deixou uma descrição detalhada do Templo reconstruído por Herodes, mas em nenhum momento se refere à Arca. Na verdade, Josephus afirma, de maneira categórica, que o Sagrado dos Sagrados foi deixado vazio. Essa era a crença de David; de que a Arca já tinha sido perdida para os judeus muito tempo antes da época de Herodes.
“Uma outra teoria popular diz que a Arca foi perdida quando o rei grego Antiochus IV saqueou o Templo, no ano 169 a.C,” disse David. Durante grande parte do tempo do Segundo Templo — que começou quando os persas permitiram que os exilados judeus voltassem da Babilônia, em 539 a.C. e que terminou quando os romanos aprisionaram Jerusalém, em 63 a.C. — os judeus viveram um período de autonomia religiosa apesar da identidade política de Judá ser primeiramente um sub-distrito dos persas, e depois dos gregos. No entanto, temendo a disseminação do Judaísmo, o rei Antiochus IV reverteu essa tendência e impôs a cultura grega sobre o povo de Judá. As práticas judias foram proibidas e as escrituras, destruídas. Ainda pior, em 169 a.C, Antiochus saqueou o Templo de Jerusalém e ergueu uma estátua gigante do deus grego Zeus sobre o aliar principal. Isso deixou os judeus tão irritados que, em 167 a.C. , Judas Macabeu, o filho do sacerdote superior do Templo, conduziu uma revolta do povo contra as regras impostas.
Embora a rebelião forçasse o sucessor de Antiochus a reverter as políticas repressivas e a estabelecer uma nova e mais tolerante administração em Judá, muitos dos tesouros do Templo haviam sido irremediavelmente perdidos — incluindo, alguns acreditam, a Arca sagrada. Conforme continuamos a caminhar pelo labirinto sem fim das passagens, David me falou a respeito de outras teorias que alegam que a Arca já havia sido perdida há séculos. Eu ficava cada vez mais intrigado com o mistério da Arca perdida que comecei a me esquecer de minha razão original daquela visita. Fiquei surpreso por saber que havia inclusive aqueles que afirmavam que a Arca, que Salomão construíra o Templo para guardá-la, era uma farsa, criada para substituir a original feita no tempo de Moisés. De acordo com a tradição da igreja etíope, o filho de Salomão, Menelik, secretamente trocou a Arca por uma réplica e levou a verdadeira para a Etiópia.
O povo da cidade etíope de Axum acredita que ela ainda esteja guardada em sua capela local, embora ela jamais tenha sido vista por ninguém do mundo externo. Infelizmente, como as autoridades religiosas de Axum se recusam a deixar que qualquer pessoa entre no lugar sagrado de sua igreja, a afirmação não pode ser confirmada. A teoria mais conhecida com relação ao paradeiro da Arca, popularizada pelo filme Raiders ofthe Lost Ark (Os Caçadores da Arca Perdida), leva-nos até as ruínas da antiga cidade de Tanis, no Egito. Essa teoria afirma que a Arca foi roubada pelos egípcios pouco depois da morte de Salomão. De acordo com o Antigo Testamento, o faraó Sheshonq I, do Egito, atacou Jerusalém, invadiu o Templo e saqueou seus tesouros (1 Reis 14:26). Sheshonq I estabeleceu Tanis como a nova capital do Egito, e é ali que Indiana Jones descobre a Arca perdida no filme de Steven Spielberg.
Esse ataque a Jerusalém foi um acontecimento histórico registrado pelos egípcios por volta de 914 a.C. Entretanto, o que quer que tenha acontecido durante a invasão, os próprios escritores do Antigo Testamento afirmaram que os judeus ainda tinham posse da Arca após o fim do ataque. Na verdade, a passagem do livro das Crônicas 2, no capítulo 35 e versículos de 1 a 3, faz referência à Arca como ainda estando no Templo de Jerusalém na Páscoa dos judeus durante o reinado do rei judeu Josiah, três séculos mais tarde, por volta de 622 a.C. Isso, porém, é a última referência do Antigo Testamento da Arca da Aliança no Templo de Jerusalém, e nenhuma outra fonte contemporânea faz menção a ela.
“É possível que a Arca tenha sido retirada do Templo cerca de vinte e cinco anos após o tempo de Josiah,” David concluiu. Ele explicou que em 597 a.C, o Templo de Jerusalém teve seus tesouros roubados quando foi saqueado pelos babilônios. Duas passagens do Antigo Testamento, Reis 2 25:13-15 e Jeremias 52:17-22, referem-se aos babilônios tomando posse de todos os objetos sagrados que estavam no Templo. Todavia, se o Antigo Testamento estiver certo, todos os itens roubados foram devolvidos ao Templo cerca de setenta anos depois, após a Babilônia ter sido vencida pelo Império Persa. O livro de Esdras do Antigo Testamento se refere ao rei persa Cyrus (simpatizante dos judeus) capturando os objetos do Templo saqueados pelos babilônios para que fossem levados de volta a Jerusalém.
“Os recipientes levados estão listados por completo no livro de Esdras,” explicou David. “No entanto, não há referências à Arca. Se a Arca estava no Templo durante o reino de Josiah, por volta de 622 a.C, ela deve ter sido retirada antes da invasão babilônica. Certamente não há registros de terem-na visto desde então.”Finalmente, chegamos ao fim das passagens e voltamos à luz do dia, onde nos encontramos com dois soldados israelenses armados com submetralhadoras Uzi. Estávamos agora na região árabe da Antiga Jerusalém, e todos os visitantes que entravam nos túneis tinham de ser escoltados de volta à região judia da cidade. Tensões entre árabes e judeus estavam cada vez piores. Na realidade, os problemas atuais tiveram sua origem com as escavações do túnel abaixo da Cúpula da Rocha feitas pelo rabino em busca da Arca. Entretanto, as brigas e tumultos em Jerusalém não eram algo novo. Perguntei a mim mesmo se a cidade teria se tornado um lugar menos contencioso caso o Templo jamais tivesse sido construído.
Qualquer que fosse de fato o poder da Arca, parece que ela moldou o curso da história. “Não faço a menor idéia se a Arca foi perdida, roubada, destruída ou escondida,” disse David, quando voltamos para o Muro das Lamentações. “Tudo o que sei é que se ela ainda existe, e se for encontrada, seria uma das descobertas arqueológicas mais importantes da história.” O passeio informativo de David me deixara fascinado pela Arca da Aliança. Enquanto olhava para os adoradores no muro e para os soldados armados posicionados por todo o pátio, ao mesmo tempo em que ouvia o chamado às orações ecoar da Cúpula da mesquita da Rocha, decidi naquele lugar e naquele instante que iria, temporariamente, abandonar meu outro projeto e tentar descobrir mais a respeito da Arca perdida. Jamais poderia imaginar para onde as investigações me levariam e o que elas me fariam descobrir.
Continua…
Permitida a reprodução desde que mantida a formatação original e mencione as fontes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário