quarta-feira, 31 de maio de 2017

Mireille Mathieu - Les feuilles mortes


YVES MONTAND - Les Feuilles Mortes


Mireille Mathieu - On Ne Vit Pas Sans Se Dire Adieu (1975)


CHARLES AZNAVOUR - La Boheme - (Legendado)


CHINA PASSA A EXPLORAR NOVO TIPO DE COMBUSTÍVEL

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Gelo combustível, nova fonte de energia que a CHINA extrai do fundo do mar
Posted by Thoth3126 on 30/05/2017


A China anunciou ter extraído do fundo do Mar da China Meridional uma quantidade considerável de hidrato de metano, também conhecido como “gelo combustível”, que é tido por muitos como o futuro do abastecimento de energia. Mas o que é exatamente esse composto e por que ele é considerado como uma promissora fonte de energia no mundo?
O gelo combustível ou gelo de fogo é uma mistura gelada de água e gás. “Parecem cristais de gelo, mas quando se olha mais de perto, a nível molecular, veem-se as moléculas de metano dentro das moléculas de água”
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch

Gelo combustível (Gelo de Fogo), a promissora fonte de energia que a China extraiu do fundo do mar

Num comunicado emitido na semana passada, autoridades do país asiático comemoraram o feito. Isso porque a tarefa é considerada altamente complexa, e já tinha sido alvo de tentativas pelo Japão e pelos Estados Unidos, sem muito sucesso. Mas o que é exatamente esse composto e por que ele é considerado como uma promissora fonte de energia no mundo?

Reservas imensas

O gelo combustível ou gelo inflamável é uma mistura gelada de água e gás. “Parecem cristais de gelo, mas quando se olha mais de perto, a nível molecular, veem-se as moléculas de metano dentro das moléculas de água”, explica à BBC Praven Linga, professor do Departamento de Engenharia Química e Biomolecular da Universidade Nacional de Cingapura.


Conhecidos como hidratos de metano, formam-se a temperaturas muito baixas, em condições de pressão elevada. São encontrados em sedimentos do fundo do mar e ou abaixo do permafrost, a camada de solo congelada, encontrada especialmente dentro do círculo polar ártico. O gás encapsulado dentro do gelo torna os hidratos inflamáveis, mesmo a baixíssimas temperaturas. Essa combinação rendeu-lhe o apelido de “gelo de fogo”.
Quando se reduz a pressão ou se eleva a temperatura, os hidratos se decompõem em água e metano. Um metro cúbico dessa substância libera cerca de 160 metros cúbicos de gás metano – ou seja, trata-se de um combustível de grande potencial energético. O problema, no entanto, é que extrair esse gás é um processo que, por si só, consome muita energia.

Países pioneiros

Os hidratos de metano foram descobertos no norte da Rússia nos anos 1960, mas foi há apenas dez ou 15 anos que começou a pesquisa sobre como extrai-lo dos sedimentos marinhos. O Japão foi pioneiro na exploração deste material devido à sua carência de fontes de energia natural.

Estes hidratos de metano foram recuperados no Golfo do México pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos
Outros países líderes na prospecção de gelo combustível são Índia e Coreia do Sul, que tampouco têm reservas próprias de petróleo. Os norte americanos e canadenses também são bastante atuantes neste sentido – o foco de suas explorações tem sido nos hidratos de metano abaixo do permafrost na área do norte do Alasca e Canadá, no círculo polar ártico.

Por que importa?

Pesquisadores acreditam que os hidratos de metano têm o potencial de se tornar uma fonte de energia revolucionária que poderia ser fundamental para suprir necessidades energéticas no futuro. Existem grandes depósitos abaixo dos oceanos do globo, sobretudo nas extremidades dos continentes. Atualmente, vários países estão buscando maneiras de extraí-lo de forma segura e rentável.

A China descreveu a extração feita na semana passada como “um feito importante”. Praven Linga compartilha dessa visão: “Em comparação com os resultados que temos visto na pesquisa japonesa, os cientistas chineses conseguiram extrair uma quantidade muito maior de gás”.

“É certamente um passo importante em tornar viável a extração de gás dos hidratos de metano”, acrescentou. Estima-se que sejam encontradas dez vezes mais gás nos hidratos de metano do que no xisto, do qual pode ser extraído gás natural e óleo e também tem servido como alternativa energética. “E essa é uma estimativa conservadora”, ressalva Linga.

A China descobriu o gelo combustível no Mar da China Meridional em 2007 – uma área cuja soberania tem sido disputada entre o país, o Vietnã e as Filipinas. Pequim reclama domínio sobre a área, alegando ter o direito de exploração de todas as potenciais reservas naturais escondidas abaixo da superfície.

Hidratos também podem ser encontrados abaixo do permafrost

O Futuro

Embora o êxito da China seja um avanço importante, esse é apenas um passo de um longo caminho. “É a primeira vez que os índices de produção são realmente promissores”, disse Linga. “Mas acreditamos que só em 2025, na melhor das hipóteses, poderemos considerar realistas as opções comerciais”, acrescenta.
Segundo a imprensa chinesa, eles conseguiram extrair, da região de Shenhu, uma média de 16 mil metros cúbicos de gás de elevada pureza por dia.
Linga ainda ressalta que as empresas que potencialmente operem na exploração do material devem seguir condutas bastante rígidas de controle para se evitar danos ambientais. O perigo é que o metano escape, e isso teria consequências graves para o aquecimento global e forte impacto nas mudanças climáticas, já que se trata de um gás com um potencial de impacto sobre as mudanças climáticas muito maior do que o dióxido de carbono.

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terça-feira, 30 de maio de 2017

MEDITAÇÃO E CIÊNCIA

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Meditação, prática ganha aval da ciência

Posted by Thoth3126 on 30/05/2017
Sentar-se com a postura ereta, fechar os olhos, sentir a respiração e trazer a atenção para o presente por 10 minutos diários ajudam a diminuir a ansiedade, melhorar a concentração e viver mais e melhor.
Não é o trecho de um livro de autoajuda. É a constatação não de um, mas de muitos e diferentes estudos científicos. Foi-se o tempo em que a meditação era considerada apenas uma atividade mística sem embasamento teórico…
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch

Valor da prática para a saúde e para a qualidade de vida de pessoas de todas as idades. Antes vista apenas como atividade mística, meditação ganha o aval da ciência (não que isso fosse necessário)
Fernanda Pandolfi – Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br


… Iniciada na Índia e difundida em toda a Ásia, a prática começou a se popularizar no ocidente com o guru Maharishi Mahesh Yogi que nos anos 1960 convenceu os Beatles a atravessar o planeta para aprender a meditar. Até a década passada, não contava com respaldo médico. Nos últimos anos, no entanto, os pesquisadores ocidentais começaram a entender por que, afinal, meditar funciona tão bem, e para tantos problemas de saúde diferentes.


Em uma era de gente conectada, que recebe estímulos e informações por toda e qualquer via, como o smartphone que bipa, a música que toca no fone de ouvido e os outdoors de led nas ruas, pesquisadores renomados têm dedicado tempo e dinheiro para provar que exercícios de relaxamento mental podem ser fundamentais na qualidade de vida.

É o caso do neurocientista norte-americano Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin-Madison, que, após um período de imersão com monges tibetanos, descobriu que a meditação funciona – de fato – como um antidepressivo. Segundo ele, a prática altera as estruturas cerebrais, mudando o padrão de suas ondas e protegendo contra a depressão e os efeitos do estresse.

Mais perto daqui, a bióloga brasileira Elisa Kozasa, do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, uma das principais pesquisadoras do tema no mundo, afirma: quem medita tem a capacidade de executar as mesmas tarefas que não-praticantes usando menos neurônios. Em recente passagem por Porto Alegre para participar do workshop Ciência, Meditação e o Cultivo Emocional, promovido pela ONG gaúcha Mente Viva, Elisa discorreu sobre seu estudo, que avaliou os cérebros de 20 meditadores e 19 não meditadores combinados por idade, sexo e nível de escolaridade. O resultado apontou para a alta capacidade de concentração e atenção dos praticantes de meditação, que “economizam”, por assim dizer, seus cérebros.


Em um terceiro levantamento realizado na Universidade de Brasília pelo psiquiatra Juarez Iório Castellar, foram investigadas 80 pacientes com histórico de câncer de mama. Por meio da coleta de amostras de sangue e saliva, antes e depois dos exercícios meditativos, verificou-se que a prática reduziu os efeitos colaterais da quimioterapia, como náuseas, vômitos, insônia e inapetência.

Sendo assim, é fácil perceber que ficou para trás dos anos 2000 a visão de que para meditar era necessário ser budista, usar bata longa e terceiro olho. Quem pratica, garante: não tem hora, lugar, profissão ou religião. É universal. Oprah Winfrey – que chegou a ser a personalidade mais bem paga da televisão internacional – declarou que o tempo despendido com a meditação foi fundamental para o sucesso de sua carreira.

A gaúcha Gisele Bündchen revelou em entrevista recente que, mesmo que o despertador toque às 5h30min para uma sessão fotográfica, não abre mão dos seus 15 ou 20 minutos de momento meditativo para manter o equilíbrio. Já para encarar a maratona da campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff quer intensificar os períodos de meditação transcendental, método que pratica, e, inclusive, já teria agendado uma sessão com a guru africana Rajshree Patel, que visitará o Brasil em maio.

Steve Jobs, o fundador da Apple, consagrou a prática budista no meio empresarial e ganhou adeptos mundo afora. Seu argumento para defendê-la era justamente o foco nos negócios. Graças a ela, conseguia afastar de sua cabeça tudo que considerava distração.


Personalidades internacionais – o ex-vice-presidente americano Al Gore, o cineasta David Lynch, o músico Adam Levine, o ator Robert Downey Jr., a atriz Demi Moore – e nacionais – a atriz Claudia Ohana, a cantora Luiza Possi e a top Alessandra Ambrósio – engordam a lista de pessoas bem-sucedidas que incentivam a atividade e acreditam que, em uma data nem tão distante, a prática da meditação será reconhecida como questão de saúde pública e terá sua importância igualada ao exercício físico na atualidade.

Receita para uma vida de paz

Mariela Silveira reflete a quebra dos tabus que cercam a meditação. Filha de pai católico e mãe espírita, não quis seguir religião alguma e prometeu ser fiel à ciência quando se formou em Medicina pela Ulbra-Universidade Luterana do Brasil.

Entre os objetivos, um prioritário: trabalhar com o que proporcionasse bem-estar às pessoas. Escolha um tanto previsível, já que Mariela engatinhou ainda de fraldas pelos corredores do Kurotel Centro de Longevidade e SPA (que ajuda a dirigir atualmente), fundado pelos seus pais, Luís Carlos e Neusa Silveira, em 1982, na Serra. E cresceu uma criança diferente, que enxergava uma peraltice no ato de deixar envelopes com sementes de plantas embaixo das portas dos vizinhos em Gramado.

Foi em 2003, ao longo de uma viagem à Índia, que a gaúcha percebeu nos exercícios mentais de relaxamento uma alternativa para promover a paz.

As práticas meditativas fazem sucesso entre as modelos. A top model Alessandra Ambrósio medita todos os dias.

— Vi que não era a miséria que provocava a violência em um país. Era possível observar que, por mais pobres que aquelas pessoas fossem, elas viviam em harmonia e incitavam o bem. Foi aí que a meditação entrou na minha vida — lembra.

Para exterminar o preconceito – o dela mesmo, inclusive -, muniu-se de livros, pesquisas e estudos sobre o tema para buscar respaldo científico e poder investir na prática sem receio. Verificou dados concretos de melhora na frequência cardíaca, pressão arterial, imunidade e até no comportamento quando comparava meditadores e não-meditadores.

— Eu achava que poderia ser mal vista pelas pessoas como praticante de uma atividade sem comprovação. Mas percebi que tinha fundamento e parei de me sentir a “Mariela bicho-grilo” (risos). Além disso, me dei conta de que era um instrumento maravilhoso, comum entre as pessoas, independentemente de crença, de onde ela nasceu, de qual a cultura — reforça.

E assim, a médica de 34 anos que preferia intitular a atividade como “exercício de relaxamento ou dirigido” para formalizar o termo, deixou o constrangimento no passado e passou a prescrever a meditação em receitas, além de se tornar uma das principais incentivadoras da atividade no Estado via fundação da ONG Mente Viva, em 2007, ao lado da sócia Anmol Arora.

Trata-se de um projeto que leva a prática para escolas públicas e privadas de Gramado, Porto Alegre, Eldorado, Gravataí, Tapes e Pelotas, com um trabalho pré-aula de cinco a 10 minutos com as crianças e que estimula a concentração, a afetividade e o desempenho escolar – com resultados positivos já comprovados em pesquisa.

A técnica utilizada é a mindfulness, ou atenção plena, que visa trazer o foco para o presente e “desligar” o cérebro, mentalizando pensamentos positivos.

O ator Robert Downey Jr. não dispensa a prática da ioga para sentir-se relaxado e em paz.

— É claro que essa não é a única solução para terminar a violência, que é algo muito mais complexo. Mas de um modo geral, a medicina só foca no tratativo, não foca tanto na prevenção como deveria. Com a violência é igual. Tudo bem falar sobre reabilitação, mas existe também aquele indivíduo que tem todos os fatores de risco, mas ainda não cometeu um crime e que pode ser observado mais de perto. E a prevenção primária mesmo, aquela desde criança — analisa.

Mariela garante: a meditação é simples, gratuita e, no bom sentido, vicia – a ponto de torcer para que uma viagem de ônibus dure mais do que o tempo previsto para poder praticar, ou de ficar entristecida quando o despertador não toca no horário correto e a impede de meditar nos minutos iniciais do dia. E, assim como em qualquer outra atividade, requer paciência e prática para pegar o jeito. Na sua opinião, a meditação trabalha com uma das grandes questões da humanidade: a de como aumentar o espaço interno de conforto para viver com mais qualidade.

— Os indianos costumam falar que a mente (inferior) é como se fosse um macaco com o rabo pegando fogo, mordido por mil escorpiões, pulando de galho em galho. Está sempre no passado e no futuro, nunca conosco no PRESENTE – O AGORA. Em resumo: a meditação ajuda a pessoa a trazer a consciência para o presente – analisa. — Atualmente, o mundo convida à vigilância, à pouca tenacidade, à falta de atenção.

Gisele Bündchen publica, com frequência, fotos suas meditando nas redes sociais.

Então, precisamos aprender que temos limites para ficarmos internamente bem. Não é exercício de estímulo, é de relaxamento mesmo. A mente é um produto do cérebro, que não está em nenhum lugar do nosso corpo. A meditação faz os dois se encontrarem e ajuda a buscar recursos internos para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia.

A recomendação da especialista é reservar de 10 a 20 minutos por dia, cinco vezes por semana, para o exercício. Sentar, fechar os olhos, respirar e esvaziar a mente.

Para quem se blinda com o argumento de que a rotina é muito corrida para isso, ela repete um mantra de sua coach Dulce Magalhães: “Medite 20 minutos por dia. Se você acha que está sem tempo, então medite por uma hora“.

Para Mariela Silveira, a receita é simples: medite durante 20 minutos por dia. Se você acha que está sem tempo para isso, então medite por uma hora.

Quem são as estrelas que meditam:

A apresentadora de televisão nos EUA, Oprah Winfrey já declarou que a meditação interferiu positivamente em sua carreira.


No auge do sucesso, em 1967, os Beatles mergulharam na meditação transcendental praticada pelo guru Maharishi Mahesh Yogi. Dessa experiência surgiram muitos sucessos do quarteto. DONNA ZH.


Saiba mais sobre SAÚDE em:

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SEGREDOS DOS TEMPLÁRIOS

ACYGPH Leonardo da Vinci, 15.4.1452 - 2.5.1519, Italian painter and sculptor, engraving after self portrait, 19th century, later colourA Revelação Templária – 2B – No Mundo Secreto




Posted by Thoth3126 on 30/05/2017

Capítulo 2B – No MUNDO SECRETO: 

Há razões, no entanto, para tirar partido de paradoxos – mesmo dos absurdos gritantes. Temos tendência a lembrar o absurdo, e, mais, as incongruências, que são deliberadamente apresentadas como fatos escrupulosamente muito bem argumentados e têm um efeito estranhamente poderoso sobre a nossa mente inconsciente. Afinal, é esta parte de nós que cria os sonhos que funcionam com o seu tipo próprio de paradoxo e de não-lógica. E é a mente inconsciente que é o motivador, o criador que, uma vez «em movimento», continuará a trabalhar, mesmo sobre a mensagem mais subliminar, durante anos. extraindo o último pedaço de significado simbólico de uma pequena migalha de aparente engodo.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Capítulo 02 B- NO MUNDO SECRETO – Livro “The TEMPLAR REVELATION – Secret Guardians of the True Identity of Christ” de Lynn Picknett e Clive Prince.

CAPÍTULO II B- NO MUNDO SECRETO (continuação)

Os céticos, que se orgulham, em geral, do seu discernimento material, são, por vezes, de fato, estranhamente ingênuos – porque eles vêem todas as coisas como sendo completamente brancas ou pretas, verdadeiras ou falsas, que é exatamente o modo como certos grupos querem que eles as vejam e aceitem. (n.t. e muitos, a maioria aceita como realidade aquilo que o paradigma DIZ QUE É REALIDADE). Por exemplo, qual é o melhor meio de atrair a atenção, por um lado, mas afastar os intrusos indesejados ou os curiosos fortuitos, por outro lado, do que apresentar ao público informação, aparentemente, intrigante mas também virtualmente absurda?

E como se a própria aproximação aos verdadeiros objetivos do Priorado constituísse, de fato, uma iniciação: se eles não nos são destinados, a cortina de fumaça impedir-nos-á efetivamente de fazer uma investigação mais profunda. Mas se, de algum modo, nos estiverem destinados, em breve receberemos esse material extra ou descobriremos por nós próprios, de uma maneira suspeitosamente sincrônica, esse conhecimento extra da organização que, subitamente, fará com que tudo se encaixe no seu lugar.


Na nossa opinião, é um grande erro ignorar os Arquivos Secretos apenas porque a sua mensagem explícita é manifestamente implausível. O simples volume do trabalho que implicam argumenta em favor de terem alguma coisa a oferecer. Manifestamente, muitos obsessivos desequilibrados gastaram todo o seu tempo num trabalho vasto e (aparentemente) inútil e o total homem/horas implicado nele, por si mesmo, não torna os resultados mais dignos da nossa admiração ou respeito. Mas aqui estamos lidando com um grupo que está claramente preparando um plano intrincado e, considerado em conjunto com todas as outras indicações e pistas disponíveis (que, a seu devido tempo, se tornarão evidentes), é claro que alguma coisa se passa, algo esta acontecendo. Ou eles estão tentando dizer-nos alguma coisa ou estão tentando esconder alguma coisa – enquanto continuam a dar a entender a importância do seu significado.

Assim, como devemos interpretar as reivindicações históricas do Priorado de Sião? Remonta realmente ao século XI e as suas fileiras incluíram, de fato, todos os nomes ilustres revelados nos arquivos secretos? Em primeiro lugar, pode dizer-se que há sempre um problema na comprovação da existência, atual ou histórica, de uma sociedade secreta. Afinal, quanto mais secreta ela tenha conseguido manter-se mais difícil é de comprovar a sua existência. Contudo, onde se possa provar terem existido repetidos interesses, temas e objetivos, entre os que se supõe terem pertencido a este grupo, ao longo dos anos, é seguro e mesmo sensato admitir que este grupo possa, de fato, ter existido.

Por inverosímil que possa parecer a relação dos grão-mestres do Priorado (indicada nos arquivos secretos), a investigação de Baigent, Leigh e Lincoln provou que esta não é uma lista feita ao acaso. Na verdade, existem ligações convincentes entre os sucessivos grão-mestres. Além de se conhecerem uns aos outros – e, em muitos casos, terem relações de parentesco -, estes luminares partilhavam certos interesses e preocupações. Sabe-se que muitos deles estavam associados a movimentos esotéricos e a outras “sociedades secretas”, como os (não tão secretos…) maçônicos, os rosacrucianos e a Companhia do Santo-Sacramento, e todos eles partilhavam alguns objetivos comuns. Por exemplo, há um tema, caracteristicamente hermético e ocultista, que percorre toda a literatura conhecida destas sociedades – um sentimento de verdadeiro entusiasmo pela perspectiva de o homem se tornar quase divino, no incessante alargamento dos limites do seu conhecimento que lhe proporcionará a EVOLUÇÃO.

Além disso, a nossa investigação independente, que foi apresentada no nosso último livro, confirmou que estes indivíduos e famílias, alegadamente implicados no caso do Priorado, ao longo dos séculos, foram também os mesmos inspiradores que apoiaram o que podia ser designado como a Grande Mistificação do Santo Sudário.

Como já vimos, tanto Leonardo como Cocteau empregaram simbolismo heterodoxo nas suas pinturas, supostamente católicas. Separadas por quinhentos anos, as suas imagens revelam considerável consistência – e, na verdade, outros escritores e artistas, que também estavam ligados ao Priorado, também introduziram estes motivos nas suas produções. Em si, isto sugere insistentemente que eles, de fato, faziam parte de um gênero de movimento secreto organizado que já estava bem implantado mesmo na época de Leonardo. Como ambos, ele e Cocteau, têm sido apontados como seus grão-mestres, e se considerarmos as suas preocupações comuns, parece razoável concluir que eles foram realmente membros da alta hierarquia de algum grupo, no mínimo, muito semelhante ao Priorado de Sião.

Quando alguém quer acreditar em algo, é impossível convencê-lo da verdade…

O conjunto de argumentos reunidos por Baigent, Leigh e Lincoln, em The Holy Blood and The Holy Grail, em defesa da existência histórica do Priorado, é irrefutável. E mais provas – que foram reunidas por outros investigadores – foram publicadas na edição revista e atualizada de 1996 do livro destes três autores. (Este livro é uma leitura essencial para quem se interesse por este tipo de mistério).

Todos estes argumentos mostram que havia uma sociedade secreta que atuava desde o século XII – mas é o atual e moderno Priorado de Sião o seu verdadeiro descendente? Apesar de os dois grupos poderem não estar necessariamente ligados. como se alega, certamente, o moderno Priorado tem conhecimento interno da sociedade histórica. Afinal, foi apenas por intermédio dos atuais membros que, pela primeira vez, ouvimos falar do passado do Priorado.

Mas mesmo o acesso aos arquivos do velho Priorado não implica necessariamente uma genuína continuação. Numa conversa recente com o artista francês Alain Féral – que, como protegido de Cocteau, trabalhou com ele e o conhecia muito bem -, ele afirmou-nos peremptoriamente que o seu mentor não fora grão-mestre do Priorado de Sião. Pelo menos, assegurou-nos Féral, Cocteau não estivera implicado na mesma organização que, há muito, reclamava Pierre Plantard de Saint-Claire como seu grão-mestre. Contudo, Féral levou a cabo a sua própria investigação de certos aspectos da história do Priorado de Sião, especialmente os aspectos relativos à aldeia de Rennes-le-Château, no Languedoc, e, na sua opinião, os que figuram nos Arquivos Secretos como grão-mestres, até, e incluindo, Cocteau, estavam ligados por uma genuína tradição secreta.

Nesta fase da nossa pesquisa, decidimos ignorar as supostas ambições políticas do moderno Priorado e concentrarmo-nos nos seus aspectos históricos, que podiam, evidentemente, lançar alguma luz sobre as primeiras. Os arquivos secretos – à parte a sua mitomania merovíngia – dão grande ênfase ao Santo Graal, à tribo de Benjamim e à personagem do novo Testamento, Maria Madalena. Por exemplo, em Le serpent rouge surge esta declaração:

“Daquela que desejo libertar, chegam até mim os aromas do perfume que impregna o sepulcro. Antigamente alguns invocavam-na, ÍSIS, rainha das fontes benéficas. VINDE A MIM TODOS OS QUE SOFREM E ESTÃO OPRIMIDOS E EU VOS CONFORTAREI“. Outros: MADALENA, do famoso vaso de unguento balsâmico. Os iniciados sabem o seu verdadeiro nome: NOTRE DAME DES CROSS.

Esta curta passagem é confusa, não apenas porque a última frase – Notre Dame des Cross – não faz qualquer sentido (a não ser que «Cross» seja um nome de família e, nesse caso, ela tornar-se-ia apenas um pouco mais inteligível). «Des» é a forma plural de «de», mas cross nem existe em francês e está no singular, em inglês. Há também a confusão peculiar (n.t. para os neófitos) de ÍSIS com Maria Madalena – afinal, uma era uma deusa e a outra «uma mulher perdida» e são figuras de culturas diferentes, sem qualquer ligação aparente. 

Podíamos pensar, evidentemente, que há um problema imediato em ligar temas, aparentemente tão diferentes, como Madalena, o Santo Graal e a tribo de Benjamim – para não falar de ÍSIS, a deusa-mãe egípcia – com o da descendência merovíngia. Os Arquivos Secretos explicam que os francos sicambros, a tribo da qual descendiam os merovíngios, eram de origem hebraica, eram descendentes da tribo perdida de Benjamim, que emigrou para a Grécia e, depois, para a Alemanha, onde se transformou nos sicambros.

ÍSIS, segurando o ANHK (CROSS Ansata), o símbolo da vida, ATRÁS DO TRONO de Osíris, ELA é a FONTE do poder de quem se assenta no trono… CUJA BASE ESTA MANTIDA PELO ANHK…

Contudo, os autores de The Holy Blood and The Holy Grail complicaram ainda mais o cenário. Segundo eles, a importância da geração merovíngia não era apenas um sonho fantástico de um pequeno grupo de realistas excêntricos. As suas pretensões transpuseram toda a questão para uma esfera muito diferente – a esfera que prendeu a imaginação de milhares de leitores entusiásticos do livro. Eles alegaram que Jesus fora casado com Maria Madalena e que havia descendência dessa união. Jesus (o Cristo) sobreviveu à cruz, mas a sua mulher partiu sem ele, quando levou os filhos para uma colônia judaica, fundada no que é o atual (e antigamente) Sul da França. Foram os seus descendentes que se tornaram a família reinante dos sicambros, fundando, assim, a dinastia real merovíngia.

Esta hipótese pode parecer explicar os principais temas do Priorado, mas levanta as suas próprias interrogações. Como vimos, é impossível que qualquer linhagem sobreviva na forma «pura» necessária para apoiar semelhante campanha, independentemente de quem os sicambros descendiam.

É inegável que há bons argumentos a favor de Jesus ter sido casado com Maria Madalena – ou, pelo menos, de algum tipo de relação íntima com ela – que, mais tarde, discutiremos em pormenor, e mesmo de ele ter sobrevivido à Crucificação. De fato, apesar da crença popular em contrário, nenhuma destas alegações depende da obra de Baigent, Leigh e de Lincoln, tendo sido minuciosamente discutidas por vários acadêmicos, muitos anos antes da publicação de The Holy Blood and The Holy Grail.

Há, contudo, um grande problema nas hipóteses que sustentam os seus argumentos – um problema de que eles estão manifestamente conscientes, embora evitem chamar a atenção para ele. Para eles, os merovíngios são importantes porque são os descendentes de Jesus O CRISTO. Mas, se ele sobreviveu à cruz, não podia ter morrido. Pelos nossos pecados, não podia ter ressuscitado – e, por conseguinte, não era divino, não era o Filho de Deus. Então, podíamos perguntar, por que eram os seus alegados descendentes considerados tão importantes.

Uma pessoa que faz parte deste santo grupo de descendentes julgava-se ser o próprio Pierre Plantard de Saint-Clair. Apesar da linguagem empolada usada pelos comentadores em torno desta hipótese, o próprio Plantard nunca alegou ser descendente de Jesus. Nunca é de mais insistir que não é a ideia cristã de que Jesus era Deus encarnado – e, por conseguinte, os seus descendentes eram, de algum modo, também divinos – que dá à ideia da sucessão merovíngia a sua alegada importância. A base de toda esta crença é que, como Jesus era da descendência de David e, por conseguinte, o legítimo rei de Jerusalém, este título recai automaticamente, mesmo que só em teoria, sobre a sua futura família. Assim, é político, mais do que divino, o poder que se reclama para a ligação merovíngia.

Baigent, Leigh e Lincoln, manifestamente, construíram a sua teoria sobre as reivindicações apresentadas nos Arquivos Secretos, mas, na nossa opinião, eles foram um tanto seletivos ao decidirem qual destas reivindicações deviam citar como prova. Por exemplo, os Arquivos Secretos afirmam que os reis merovíngios, desde o seu fundador, Meroveus, até Clóvis (que se converteu ao cristianismo em 496 logo após salvar a igreja de Roma da extinção) eram «reis pagãos do culto de Diana». Certamente que é difícil conciliar esta afirmação com a ideia de que eles descendiam de Jesus ou de uma tribo judaica.

Jesus e Madalena seriam casados e tiveram filhos, uma heresia para a “patriarcal” ortodoxia católica.

Outro exemplo desta curiosa seletividade, por parte de Baigent, Leigh e Lincoln, é o «documento Montgomery». Segundo estes autores, este documento é «uma narrativa que emergira» entre os arquivos pessoais da família Montgomery e que um membro desta família partilhara com eles. A data da sua origem é incerta, mas a versão que lhes foi apresentada é do século XIX. Para eles, o valor deste documento residia no fato de que, em essência, ele apoiava as teorias avançadas em The Holy Blood and The Holy Grail, embora, claro, não pudesse ser considerado prova delas. Provou, pelo menos, que esta ideia – que Jesus era casado com Maria Madalena – já era conhecida, pelo menos, um século antes de eles começarem a sua investigação.

O documento Montgomery narra a história de Yeshua ben Joseph (Jesus, filho de José), que era casado com Maria de Betânia (a figura bíblica que muitas pessoas consideram ser a mesma que Maria Madalena). Como consequência direta de uma revolta contra os romanos, Maria é presa e só é libertada porque está grávida. Depois, foge da Palestina e acaba por chegar à Gália (que é hoje a França), onde dá à luz uma filha (Sarah).

Embora seja fácil compreender o motivo por que o documento Montgomery foi aproveitado por Baigent, Leigh e Lincoln como suporte para a sua hipótese, é estranho que não tenham atribuído maior importância a certos aspectos da história. Nesta narrativa, Maria de Betânia é descrita como «uma alta sacerdotisa de um culto feminino»; tal como a veneração dos merovíngios à deusa Diana, isto acrescenta à história uma feição distintamente pagã que é difícil conciliar com o conceito de que o Priorado está principalmente preocupado com a continuação da descendência do rei judaico David – a qual inclui Jesus.

Curiosamente, o moderno Priorado não confirmou nem desmentiu a hipótese de The Holy Blood and The Holy Grail – e mais uma vez se levantam suspeitas. Pode o Priorado estar se divertindo conosco?

Uma coisa se tornou muito clara para nós: a ambição motivadora do Priorado não é puramente o poder político que Baigent, Leigh e Lincoln lhe atribuem. Continuamente, os arquivos mencionam pessoas – quer entre os verdadeiros grão-mestres quer entre os associados do Priorado – que não são essencialmente políticos, mas ocultistas. Por exemplo, Nicolas Flamel, grão-mestre entre 1398 e 1418, era um mestre alquimista. Robert Fludd (1595-1637) era rosacruz e, mais próximo do nosso tempo, Charles Nodier (grão-mestre entre 1081-1844) foi uma grande influência, que inspirou o renascimento do ocultismo moderno.

Mesmo Sir lsaac Newton (grão-mestre entre 1691-1727), atualmente mais conhecido como cientista e matemático, era um alquimista e um hermético e ocultista devotado e, certamente, possuiu cópias, profusamente anotadas, dos manifestos rosacruzes. Há também, evidentemente, Leonardo da Vinci, outro gênio que os modernos interpretam mal, considerando a sua viva inteligência apenas como fruto do pensamento materialista. De fato, como vimos, as suas obsessões provieram de outras fontes e tomaram-no um candidato ideal à lista dos grão-mestres do Priorado.

Curiosamente, apesar de reconhecerem os interesses esotéricos de muitas destas pessoas, Baigent, Leigh e Lincoln parecem não avaliar o total significado das suas obsessões. Afinal, em muitos destes casos, o ocultismo não era um simples passatempo ocasional, mas era, de fato, o principal centro de interesse das suas vidas. E a nossa experiência provou que os indivíduos relacionados com o moderno Priorado também praticam o ocultismo e o hermetismo.

ÍSIS é o poder que CRIA e mantém todos os SÓIS, seus “filhos”, que criam os planetas …

Assim, qual o possível segredo (CONHECIMENTO SECRETO) podia ter atraído tantas das mais brilhantes mentes esotéricas mundiais, durante tanto tempo, admitindo que é improvável que tivesse sido a inverosímil e ilusória história merovíngia? Por mais convincente e pioneiro que The Holy Blood and The Holy Grail possa ter sido, a sua explicação dos objetivos e razões do Priorado é basicamente insatisfatória.

É evidente que alguma coisa se passou e se passa, a qual, dado o enorme montante de tempo, pessoas e de energia que parece ter sido consumido, ao longo dos séculos, dificilmente pode ser relativa apenas à legitimidade da monarquia francesa. E, seja ela qual for, deve ser tão ameaçadora para o status (n.t. para o FALSO sistema de crenças, o paradigma atual) quo que, mesmo depois do Século das Luzes, “ELA” teve de continuar a ser mantida secreta, a ser cautelosamente guardada por uma rede oculta de iniciados.

No princípio da nossa investigação sobre Leonardo e o Sudário de Turim, vimo-nos confrontados, repetidas vezes, com a inevitável sensação de que existe um verdadeiro segredo, que tem sido cuidadosamente guardado pelos poucos iniciados neste conhecimento. A medida que as nossas investigações prosseguiam, não podíamos afastar a suspeita de que os temas, que tínhamos detectado na vida e na obra de Leonardo, eram muito semelhantes aos temas que tínhamos discernido no material divulgado pelo Priorado. E, seguramente, valia a pena comprovar as suspeitas de que estes mesmos temas também estavam entrelaçados na obra de Jean Cocteau.

Já descrevemos o mural daquele artista, que se encontra na igreja de Notre-Dame de France, em Londres. Mas que relevância têm as suas imagens, notavelmente peculiares, para a obra de Leonardo, muito anterior, e para algum suposto movimento esotérico, oculto e hermético – e mesmo herético?

A ligação mais óbvia com a obra de Da Vinci é o fato de o artista se ter auto-retratado, afastando o olhar da cruz. Leonardo, como já referimos, representou-se a si próprio, deste modo, duas vezes, pelo menos – na Adoração dos Magos e na Última Ceia. Considerando a expressão do rosto de Cocteau, que sugere um profundo constrangimento perante toda a cena, não é uma concessão demasiado exagerada encontrar a mesma indiferença na violência com que Leonardo se afastou da Sagrada Família na Adoração.


No mural de Cocteau, vemos o homem crucificado apenas das coxas para baixo, o que implica alguma suspeita quanto à sua verdadeira identidade. Como vimos, na Última Ceia de Leonardo, a estranha ausência total de vinho parece implicar uma séria dúvida acerca da natureza do sacrifício de Jesus: aqui, o artista vai mais longe, ao não representar Jesus. Muito semelhante, também, é o uso da forma de um M enorme – na obra de Cocteau, ele liga as duas mulheres pesarosas, presumivelmente a Virgem Maria e Maria Madalena. E, de novo, podemos supor que é esta última que vemos afastada da figura de Jesus. Enquanto a Virgem Maria olha para baixo, chorando, é a mulher mais nova que está voltada de costas para Jesus.

Na Última Ceia de Leonardo, o M liga Jesus ao suspeitosamente feminino «S. João» – e esta «Senhora M» (de Cocteau) também está o mais possível afastada dele, enquanto, ao mesmo tempo, parece estar próxima.

O mural de Cocteau também contém simbolismo que, uma vez conhecidas as preocupações do Priorado de Sião, está explicitamente ligado a elas. Por exemplo, os dados que os soldados estão a lançar mostram cinquenta e oito pintas(58) – e este é o número esotérico do Priorado. Aos pés da cruz, a rosa vermelho-azulada, extraordinariamente grande, é uma clara alusão ao movimento Rosacruz que, como veremos, tem ligações estreitas com o Priorado e, certamente, com Leonardo (n.t. e com o conhecimento da verdade oculta).

Como já vimos, os membros do Priorado acreditam que Jesus não morreu na cruz, e algumas das suas facções defendem que uma vítima substituta sofreu o que lhe estava destinado. A julgar apenas pelas imagens deste mural, podíamos ser tentados a pensar que estas eram as opiniões pessoais de Cocteau. Por exemplo, não só não vemos o rosto da vítima como há a inclusão de uma figura – que não é usual associar à cena da Crucificação. É o homem que se encontra à extrema-direita, cujo único olho visível tem a forma inconfundível de um peixe – é, certamente, uma alusão ao primitivo código cristão de «Cristo». Assim, quem se espera que seja este homem com os olhos em forma de peixe? À luz do conceito do Priorado, de que Cristo nunca foi morto na cruz, não podia ser que esta figura extra fosse o próprio Jesus? Foi o suposto Messias, de fato, testemunha da tortura e da morte de um substituto? Se isto fosse verdade, podíamos imaginar as suas emoções.

Também nos murais de Leonardo e de Cocteau vemos a Senhora M – em ambos os casos, certamente, Maria Madalena. Assim, aquilo que conhecemos das crenças do Priorado – que ela era casada com Jesus – explicaria o motivo por que ela assistiu à última Ceia, sentada à direita do marido e por que – como sua «outra metade» – ela usava vestes que eram a imagem inversa das de Jesus (13/31=44=8).

Símbolo do INFINITO …

Embora nos tempos medievais e do primitivo Renascimento existisse uma tradição, pouco conhecida, a de representar Madalena na última Ceia, Leonardo fez saber que, na sua versão, a personagem sentada à direita de Jesus era S. João. Por que decidiu ele iludir desta maneira? Era este, talvez, um modo sutil de dar às suas imagens um poder subliminar acrescentado? Afinal, se o artista diz que é um homem e a nossa mente nos diz que é uma mulher, é provável que a confusão nos obrigue a continuar a refletir sobre a imagem, a um nível inconsciente, durante muito tempo.

Tanto no mural de Leonardo como no de Cocteau, Madalena parece estar a exprimir, em silêncio, as suas dúvidas sobre o suposto papel de Jesus, através da sua linguagem corporal. Era ela, de fato, tão íntima de Jesus que conhecesse a verdadeira história? Era Madalena, de fato, a esposa de Jesus e, portanto, parte interessada na informação interna sobre o verdadeiro resultado da Crucificação? É por isso que ela se está se afastando?

O papel de Madalena está astuciosamente – mesmo que subliminarmente – realçado na Última Ceia, mas a maior obsessão de Leonardo parece ter sido com essa personagem trágica do Novo Testamento, S. João Batista. Se ele foi, de fato, membro do Priorado de Sião – e dado o interesse pela descendência de Jesus que lhes é atribuído -, esta obsessão com Batista parece um tanto complicada. Está ela em conformidade com os interesses do Priorado de Sião?

Giovanni (João em italiano), o nosso misterioso informador, deixou-nos com esta intrigante e exasperante pergunta: «Por que os grão-mestres desta sociedade são sempre chamados de João (ou Joana, se mulher)?» Nessa altura, consideramos esta pergunta como uma espécie de alusão semivelada à escolha do seu próprio pseudônimo e concluímos que ele não ocupava uma posição secundária. Mas, de fato, ele estava a chamar-nos a atenção para uma outra questão, muito mais significativa.

Apesar de os grão-mestres do Priorado serem conhecidos na organização como «Nautonnier» (timoneiro), eles também adotam o nome «Jean» (João) ou Jeanne (Joana), se são mulheres. Leonardo, por exemplo, figura nas suas listas como Jean IX. Vale a pena frisar que, por estranho que possa parecer numa antiga ordem cavaleiresca, o Priorado sempre reclamou ser uma sociedade secreta com igualdade de oportunidades (entre os sexos, diferentemente da maçonaria…), e quatro dos seus grão-mestres foram mulheres. (Hoje, uma das seções francesas do Priorado está sob o controle de uma mulher.) No entanto, esta política (A igualdade entre HOMEM e MULHER) é totalmente consistente com a verdadeira natureza e objetivos do Priorado – tal como os viemos a entender.

As preocupações do Priorado são indicadas pelos títulos usados na sua hierarquia organizativa. Segundo os seus estatutos, abaixo do Nautonnier há um grau formado por três iniciados, chamado «Prince Noachite de Notre Dame», e a este segue-se um grau, formado por nove membros, chamado «crisé de Saint Jean», ou «Cruzado de São João» (este último surge simplesmente como «Condestável» nas últimas versões dos estatutos).

M, símbolo da Constelação de VIRGEM: No vale do Eufrates, onde foram criadas as constelações, a Virgem simbolizava a deusa Ishtar, filha do céu e a rainha das estrelas/sóis. Representada com uma espiga na mão, constituía o símbolo da fertilidade. 

Eratóstenes (+ 194 a.C.) identificou a Virgem com ÍSIS, a deusa de mil-nomes, com a espiga de trigo em sua mão e que foi mais tarde deixada cair de maneira a formar a Via Láctea (OU OS SÓIS QUE A FORMAM), ou segurando em seus braços seu filho HÓRUS, o deus do sol, o último dos reis divinos. Este simbolismo antigo reapareceu na Idade Média como a Virgem Maria com seu filho Jesus e através das palavras eternas de Shakespeare (Francis Bacon-Saint Germain): Good Boy in Virgo’s lap (O Bom Menino no Colo da Virgem). Na Índia, Virgo era Kanya, e representada como deusa sentada diante do fogo. No Zodíaco Cingalês, era a Mulher no Navio e segurando um ramo de trigo em sua mão. Possivelmente, o navio era nomeado a partir das estrelas Beta, Eta, Gamma, Delta e Epsilon da constelação, representando a quilha do navio. Na Pérsia, Virgo era Khosha, o ramo de trigo, bem como nomeada como a Virgem inteiramente Pura. Os turcomanos conheciam esta constelação como a Pura Virgem, Dufhiza Pakhiza. Os chineses a conheciam como She Sang Neu, a Donzela Frígida. No pais dos Judeus, a Virgem era Bethulah e sempre associada com a idéia de abundância na colheita. Virgem tem sempre sido a figura dos céus mais nomeada e mais simbolizada! Virgem representa a mais antiga e puramente alegórica representação de inocência, de virtude e DO PODER FEMININO DA DIVINDADE, a BASE DO MUNDO MATERIAL UNIVERSAL.

Existem mais seis graus, mas os três primeiros, que compreendem os treze membros da mais alta hierarquia, formam o corpo dirigente. Coletivamente, este corpo dirigente é conhecido como Arch Kyria – a última palavra, KYRIA em grego, é uma designação respeitosa de mulher, o equivalente ao português «senhora». Especificamente, no mundo helenístico dos primeiros anos antes da era cristã, era um epíteto da deusa ÍSIS.

O primeiro grão-mestre da sociedade era, devemos dizê-lo, um verdadeiro João – Jean de Gisors, um fidalgo francês do século XII. Mas o verdadeiro enigma reside no fato curioso de que o seu título do Priorado foi, na verdade, «Jean II». Como divagam os autores de The Holy Blood and The Holy Grail:

Uma questão importante, evidentemente, era saber qual João. João Batista? João Evangelista – «o Discípulo Amado» do Quarto Evangelho? Ou João, o Divino, autor do livro da Revelação-Apocalipse? Parecia que tinha de ser um destes três… Quem foi, então, Jean I?

Outra ligação a «João» que desperta reflexão é a mencionada em Rennes-le-Château: capitale secréte de l’histoire de France (1982) de Jean Pierre Deloux e Jacques Brétigny. Os dois autores são conhecidos por estarem intimamente ligados a Pierre Plantard de Saint-Clair – por exemplo, faziam parte da sua entourage quando Baigent, Leigh e Lincoln o conheceram, nos anos 80 – e ele, certamente, deu uma enorme contribuição para o livro. Uma clara propaganda do Priorado, o livro explica como a sociedade secreta se formou. (Deloux e Brétigny também escreveram artigos relativos ao Priorado de Sião, na revista L’ Inexpliqué – a versão francesa de The Unexplained (O Inexplicável) – que, segundo algumas pessoas, foi lançada e financiada pelo Priorado. 


A ideia primordial era, segundo se afirma, formar um «governo secreto,» tendo Godefroi de Bouillon – um dos líderes da Primeira Cruzada – como seu inspirador. Na Terra Santa, Godefroi se deparou com uma organização (n.t. secreta) chamada a IGREJA DE JOÃO e, como resultado, «formou um grande desígnio». «Pôs a sua espada ao serviço da Igreja de João, essa Igreja esotérica e iniciadora que representava a Tradição. A Igreja que baseava a sua primazia no Espírito.» Foi a partir deste grande desígnio que se formaram tanto o Priorado de Sião – a organização que chama sempre «João» aos seus grão-mestres – como a ordem dos CAVALEIROS TEMPLÁRIOS.

E, como diz Pierre Plantard de Saint-Clair, por intermédio de Deloux e Brétigny: Assim, no princípio do século XII, estavam reunidos os meios, temporais e espirituais, que vieram a permitir a realização do sonho sublime de Godefroi de Bouillon; a Ordem do Templo seria o braço armado da Igreja de João e o porta-estandarte da primeira dinastia, as armas que obedeciam ao espírito de Sião.

A consequência deste fervoroso «joanismo» deveria ser um «renascimento espiritual» que «voltasse a Cristandade às suas origens».

Apesar da sua óbvia importância para o Priorado, a ênfase em «João» permaneceu extremamente obscura – no princípio desta investigação, nem sabíamos qual João era tão venerado e, muito menos, o POR QUÊ ?. Mas qual é a razão desta obsessão? Por que não nos indicam a QUAL JOÃO estão se referindo? E por que deveria a veneração (mesmo que extrema) de qualquer dos santos de nome João começar por ameaçar precisamente as raízes do catolicismo romano (n.t. este sim, uma heresia completa)?

É possível, pelo menos, supor a que João o Priorado se reteria, se a obsessão de Leonardo com Batista puder servir de orientação. Contudo, como vimos, a ideia do Priorado sobre o papel de Jesus dificilmente era ortodoxa, e parece absurdo que dispensasse esta veneração ao homem que, alegadamente, apenas era importante como precursor de Jesus. Será possível que o Priorado, tal como Leonardo, venere secretamente João Batista acima do próprio Jesus?

Godefroy de Bouillon em francês (Bolonha-sobre-o-Mar, 1058 – Jerusalém, 18 de Julho de 1100), foi um nobre e militar franco, duque da Baixa Lorena (1087-1100), Protetor do Santo Sepulcro – Advocatus Sancti Sepulchri, senhor de Bouillon (1076-1096), um dos líderes da Primeira Cruzada e o primeiro soberano do Reino Latino de Jerusalém, após a sua conquista, apesar de recusar o título de rei.

É um conceito muito extravagante. Se existissem quaisquer razões para acreditar que Batista foi superior a Jesus, então as repercussões seriam inconcebivelmente traumáticas para a Igreja. Mesmo que o conceito «joanino» se baseasse num equívoco, mão se pode duvidar dos efeitos que esta crença teria se fosse mais amplamente conhecida (caso fosse aceita). Seria quase a heresia final – e os Arquivos Secretos acentuam, repetidamente, o caráter anti-clerical dos descendentes merovíngios e do seu possível encorajamento da heresia. O Priorado está interessado em transmitir a ideia de que a heresia é uma coisa boa, por alguma razão específica própria.

Compreendemos que a suposta heresia baptista tinha espantosas implicações e que, se continuássemos a investigar o Priorado, teríamos de nos confrontar, em primeiro lugar, com a questão de João Batista, embora, no início, não estivéssemos convencidos de que encontraríamos qualquer prova que apoiasse a heresia. Naquele momento, tudo o que tínhamos como prova das ideias do Priorado acerca de Batista era a manifesta obsessão de Leonardo com ele e o fato de o Priorado chamar (n.t. apenas de) «João» aos seus grão-mestres. Sinceramente, não tínhamos, então, qualquer esperança verdadeira de encontrar algo mais concreto que isso, mas, à medida que o tempo passava, iríamos descobrir provas muito mais sólidas de que o Priorado, de fato, fazia parte dessa tradição «joanina».

Com ou sem provas a apoiá-la, esta heresia conseguiu, mesmo assim, ser «acreditada» por gerações de membros do Priorado. Mas fazia ela parte, pelo menos, do grande segredo que se julga que eles possuem e guardam tão tenazmente?

A outra figura do Novo Testamento que tem enorme significado para o Priorado é, como vimos repetidamente, Maria Madalena. Os autores de The Holy Blood and The Holy Grail explicaram que a sua particular importância reside unicamente no (alegado) fato de ter casado com Jesus e ser a mãe dos seus filhos. Mas, considerando a admiração, menos que total, do Priorado por Jesus, esta explicação parece fraca.

Para aquela organização, Madalena parece ter alguma importância, por direito próprio, e o próprio Jesus é quase irrelevante – na história do «documento Montgomery», por exemplo, o seu papel limita-se a ser o pai do filho de Madalena e não desempenha qualquer outro papel no resto da narrativa. Poder-se-ia ir ao ponto de dizer que, mesmo sem Jesus, havia algo nesta mulher que a tornava de suprema importância.

Na continuação das nossas investigações, conseguimos contatar com Pierre Plantard de Saint-Clair e fazer-lhe algumas perguntas acerca do interesse do Priorado em Maria Madalena. Recebemos uma resposta do secretário de Plantard, Gino Sandri – um italiano que vive em Paris -, a qual, embora curta e concisa, era, todavia, sugestiva do famoso sentido malicioso do Priorado. Nela, Sandri dizia que podia ser possível ajudar, mas «talvez voces já tenham informação sobre este assunto?» – era, claramente, uma «piada» maliciosa sobre alguma coisa que ele sabia a nosso respeito, mas o elogio indireto deu-nos ânimo. 

Parecia estar sugerindo que já tínhamos toda a informação que precisávamos conhecer – mas que competia a nós compreendê-la. Mas a carta de Sandri escondia ainda outra nota de malícia: embora trazendo o carimbo de 28 de Julho, a carta estava datada de 24 de Junho – o Dia de S. João Batista.

A energia da Kundalini é essencialmente feminina… é a “SERPENTE” que deve ser elevada …

Para um leigo, qualquer ligação particularmente esotérica entre Maria Madalena e João Batista é uma questão de fantasia, porque os textos evangélicos conhecidos não registram que eles se tivessem conhecido. Contudo, aqui, temos um segredo aparentemente antigo que implica – e venera – ambos, e não de uma maneira vaga. Que havia nestas figuras do século I que assegurou esta tradição duradoura, embora «herética»? Que poderiam eles ter representado que fosse tão perturbador para a Igreja?

Como se pode imaginar, era muito difícil saber por onde começar. Mas, onde quer que investigássemos a história de Madalena, uma área, que ficava consideravelmente mais próxima de nós do que Israel, continuava a surgir como sendo importante. O Priorado sublinhava particularmente a lenda que a trouxe para o Sul da França, após a ressurreição de CRISTO, portanto, era ali que tínhamos de ir, para descobrir por nós próprios se esta história era apenas uma invenção medieval que, como o Sudário de Turim, se destinava a atrair um lucrativo comércio de peregrinações.

Mas havia, desde o princípio, alguma coisa especialmente fascinante na ligação desta enigmática figura do Novo Testamento com aquela determinada área, algo que ultrapassava estas considerações mercenárias. Decidimos investigar o segredo de Madalena no seu próprio terreno.

Link das partes anteriores:

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Turkish March Mozart


sábado, 27 de maio de 2017

O MUNDO SECRETO DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS

ACYGPH Leonardo da Vinci, 15.4.1452 - 2.5.1519, Italian painter and sculptor, engraving after self portrait, 19th century, later colour

A Revelação Templária – 2A – No Mundo Secreto

Posted by Thoth3126 on 27/05/2017

CAPÍTULO II A – NO MUNDO SECRETO: A nossa investigação do «Leonardo Da Vinci (secreto) desconhecido» iria tornar-se uma longa busca, incrivelmente complicada – dir-se-ia mais uma iniciação do que uma simples deslocação de A para B.
Ao longo do caminho, encontramo-nos em muitos becos sem saída e enredamo-nos no submundo dos que estão ligados às SOCIEDADES SECRETAS e que têm prazer não só em se entregar a jogos sinistros mas também em ser agentes de desinformação e de confusão. Muitas vezes, ficamos estupefatos, perguntando a nós mesmos como uma simples investigação da vida e da obra de Leonardo da Vinci nos podia ter introduzido num mundo que não acreditávamos que existisse fora dos filmes impenetráveis do grande surrealista francês Jean Cocteau, como o seu Orfeu, com a descrição de um submundo em que se penetra através de espelhos mágicos …
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch

Capítulo 02 A – NO MUNDO SECRETO – Livro “The Templar Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ” de Lynn Picknett e Clive Prince.

CAPÍTULO II A – NO MUNDO SECRETO

… De fato, foi este verdadeiro expoente do bizarro – Jean Cocteau – que nos iria fornecer mais indicações, não só acerca das crenças de Leonardo mas também da existência de uma continuada tradição secreta que tinha as mesmas preocupações. Iríamos descobrir que Cocteau (1889-1963), ele próprio, parece ter estado implicado nesta sociedade – a prova da sua implicação será adiante discutida. Mas, em primeiro lugar, analisemos o gênero mais imediato de prova testemunhal – a dos nossos olhos e descobertas.
Espantosamente próxima das luzes brilhantes e do ruído de Leicester Square, em Londres, encontra-se a Igreja de Notre Dame de Paris. Situada em Leicester Square, virtualmente contígua a uma elegante sorveteria, é muito difícil encontrá-la, porque a sua fachada não se anuncia com a arquitetura flamejante que nos habituamos a associar às grandes igrejas católicas. Podemos passar sem reparar nela e, certamente, sem fazer ideia de que a sua decoração é significativamente diferente da decoração da maioria das outras igrejas católicas.



    Fachada da Igreja de Notre Dame de France, situada em Leicester Square, em Londres
Originalmente construída em 1865, num local com associações aos Cavaleiros Templários, Notre Dame de France foi quase totalmente destruída durante os ataques aéreos nazistas a Londres durante a II Guerra Mundial e reconstruída no final da década de 50. Transposto o seu modesto exterior, o visitante encontra-se num vasto átrio, arejado e de grande altura, que, a princípio, pode parecer típico do moderno traçado católico.
Quase desprovida da aparatosa estatuária que adorna excessivamente muitos edifícios mais antigos, ela contém, todavia, pequenas placas decorativas que representam a Via Sacra, um altar-mor, abaixo de uma grande tapeçaria de uma jovem virgem loira, rodeada por animais que a veneram – a qual, embora um tanto sugestiva de uma das mais graciosas cenas de Disney, ainda está dentro dos limites do que constitui uma representação aceitável da jovem Maria – e algumas imagens de santos, presidindo às capelas laterais.
Mas, à esquerda do visitante, quando está voltado para o altar-mor, há uma pequena capela que não tem nenhuma estátua de culto mas, no entanto, tem o seu grupo de fiéis muito particulares. Os visitantes vêm admirar e fotografar o seu invulgar mural, obra de Jean Cocteau, que o terminou em 1960, e a igreja orgulha-se de vender postais ilustrados da sua obra de arte, muito particular e justamente famosa. Mas, tal como no caso das chamadas pinturas «cristãs» de Leonardo, este afresco, quando meticulosamente examinado, revela simbolismo muito pouco ortodoxo. E a comparação com a obra de Leonardo não é acidental.
Mesmo dada a distância de cerca de quinhentos anos, poderia dizer-se, no entanto, que Leonardo e Cocteau estavam, de algum modo, a colaborar, ao longo dos séculos?
Antes de voltarmos a nossa atenção para o curioso mural de Cocteau, examinemos a igreja, de modo geral. Embora não seja única, é invulgar que uma igreja católica seja redonda, e esta forma é aqui acentuada em vários pormenores. Por exemplo, há uma surpreendente clarabóia, em forma de cúpula, decorada com um desenho de anéis concêntricos que não é demasiado fantasista interpretar como um gênero de teia de aranha. E as paredes, tanto no interior como no exterior, ostentam o repetido motivo de cruzes de braços iguais, alternadas – e ainda mais círculos.

Jean Cocteau durante o seu trabalho de realizaçãodo mural no interior da Igreja de Notre Dame de France, em 1959
Esta igreja do pós-guerra, embora seja nova, ergueu-se orgulhosamente, incorporando uma placa de pedra que fora retirada da Catedral de Chartres, essa jóia da coroa da arquitetura gótica – e, como iríamos descobrir, o ponto de convergência (a Catedral de Chartres) destes grupos, cujas crenças religiosas não são, de modo nenhum, tão ortodoxas como os livros de História nos levavam a pensar.
Pode objectar-se que não há nada de particularmente profundo ou sinistro na inclusão desta pedra – afinal, durante a guerra, esta igreja foi um ponto de encontro das forças de Libertação Francesas e uma peça de Chartres era, seguramente, um símbolo vivo do que a pátria francesa sempre representou. Contudo, a nossa investigação ia mostrar que era, de fato, muito mais importante do que isso.
Dia após dia, muitas pessoas – tanto londrinos como visitantes – passam por Notre Dame de France para rezar e participar nos serviços religiosos. A igreja parece ser uma das mais frequentadas de Londres e também representa um refúgio conveniente para os sem-abrigo, que são tratados com grande bondade (como os próprios Templários costumavam tratar os desafortunados). Mas é o mural de Cocteau que atua como um ímã para a maioria dos que visitam a igreja, como parte do seu passeio a Londres, embora também se possam deter para aproveitar um oásis de calma, no meio do grande movimento da capital.
De início, o mural pode decepcionar, porque – como grande parte da obra de Cocteau – parece, ao primeiro olhar, ser pouco mais do que um esboço pintado, uma cena apenas esboçada nalgumas cores, sobre o simples estuque. Representa a Crucificação: a vítima está rodeada de aterradores soldados romanos, de mulheres e discípulos pesarosos. Certamente que contém, podia pensar-se, todos os ingredientes de uma cena da Crucificação tradicional, mas, como A Última Ceia de Leonardo, ela merece um exame mais minucioso, mais crítico – e mesmo mais sensato.
A figura central, a vítima da mais horrível das mortes por tortura, pode bem ser Jesus. Mas também é verdade que não temos a certeza da sua identidade, porque apenas o vemos dos joelhos para baixo. A parte superior do corpo não é mostrada. E, aos pés da cruz, está uma enorme rosa vermelho-azulada.


Em primeiro plano, há uma figura que não é romana nem discípulo, que está afastada da cruz e parece estar fortemente perturbada pela cena que se desenrola atrás de si. Na verdade, é um acontecimento profundamente perturbador – assistir à morte de qualquer pessoa, nestas circunstâncias, é, seguramente, pungente, mas estar presente quando Deus encarnado está derramando o seu sangue seria indescritivelmente traumático. Todavia, a expressão desta personagem não é a do humanitarismo horrorizado, nem a do venerador consternado. Se formos sinceros, a testa franzida e o olhar de soslaio são os de uma testemunha decepcionada, mesmo desagradada. Não é a reação de alguém que esteja remotamente disposto a dobrar o joelho, em sinal de respeito, mas de alguém que expressa a sua opinião de igual para igual.
Então, quem é esta presença desaprovadora no acontecimento mais sagrado da Cristandade? É nada menos do que o próprio Jean (João) Cocteau. Se nos lembrarmos de que o próprio Leonardo se auto-retratou, desviando o olhar da Sagrada Família, na Adoração dos Magos, e de Jesus, em A Última Ceia, há, no mínimo, poderíamos dizer, uma semelhança secreta entre estas duas pinturas. E, quando se afirma que os dois artistas pertenciam à alta hierarquia da mesma sociedade secreta e herética, continuar a investigação torna-se irresistível.
Iluminando a cena, um SOL NEGRO lança os seus raios sinistros no céu circundante. Frente ao sol, encontra-se uma pessoa – provavelmente um homem – cujos olhos levantados e protuberantes, perfilados contra o horizonte, são notavelmente semelhantes a seios atrevidos. Quatro soldados romanos assumem uma atitude épica, em volta da cruz, mantendo as lanças em ângulos estranhos e, aparentemente, significativos – um deles agarra um escudo que ostenta o desenho de um falcão (n.t. símbolo de Hórus, filho de ÍSIS…) estilizado. E, aos pés de dois soldados, vê-se um pano, sobre o qual estão espalhados dados. A soma total dos números que os dados apresentam é cinquenta e oito – 58.
Um homem jovem e insípido aperta as mãos em torno da base da cruz, e o seu olhar, um tanto inexpressivo, fixa-se vagamente numa das duas mulheres desta cena. Estas, por sua vez, parecem estar ligadas pela forma de um grande «M», exatamente abaixo do homem com olhos semelhantes a seios. A mulher mais velha, cheia de dor, olha para baixo e parece estar a chorar sangue; a mais nova está literalmente mais distante, apesar de estar de pé, junto da cruz, todo o seu corpo está afastado dela. A forma do «M» aberto repete-se na frente do altar, imediatamente abaixo do mural.

Jean Cocteau pintou a si mesmo no mural (Direita) ao lado do Falcão e dos dados que aparecem à esquerda.
A última figura desta cena, no extremo direito da pintura, é um homem de idade indefinida, cujo único olho visível tem a forma distinta de um peixe.
Alguns comentadores chamam a atenção para o fato de os ângulos das lanças dos soldados formarem um pentagrama – em si, uma característica pouco ortodoxa de uma cena tradicional cristã. Esta caraterística, apesar de intrigante, não faz parte da nossa presente investigação. Como vimos, parecem existir elos superficiais entre as mensagens subliminares das obras religiosas de Leonardo e de Cocteau, e foi esta utilização comum de determinados símbolos que chamou a nossa atenção.
Os nomes de Leonardo da Vinci e de Jean Cocteau figuram na lista dos grão-mestres daquela que alega ser uma das mais antigas e mais influentes sociedades secretas da Europa – o Prieuré de Sion, o Priorado de Sião. Altamente polêmica, a sua própria existência tem sido posta em questão e, portanto, quaisquer das suas alegadas atividades são, geralmente, ridicularizadas e as suas implicações ignoradas. De princípio, compreendemos este tipo de reação, mas as nossas investigações posteriores revelaram que a questão não era assim tão simples.
A sociedade secreta Priorado de Sião chamou a atenção do mundo de língua inglesa apenas em 1982, através do best-seller “The Holy Blood and the Holy Grail”, de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, embora, em França, a sua pátria, se tivesse tornado público, de forma gradual, a partir de 1960. É uma ordem secreta quase maçônica ou de cavalaria, com determinadas ambições políticas e, parece, considerável poder oculto. Dito isto, é muito difícil classificar o Priorado, talvez porque exista algo de essencialmente quimérico em informação de todos os movimentos que foram dados pelo representante do Priorado, informação que conhecemos no princípio de 1991 – o encontro foi o resultado de uma série de cartas bizarras, que nos foram enviadas após uma discussão radiofônica acerca do Sudário de Turim.


O que conduziu a este encontro, ligeiramente surrealista, está pormenorizado no nosso livro anterior, mas, de momento, será suficiente dizer que um certo «Giovanni» (João em italiano)- que sempre conhecemos sob este pseudônimo – um italiano que alegava ser um dos membros da alta hierarquia do Priorado de Sião, nos observara, cuidadosamente, durante as primeiras fases da nossa investigação sobre Leonardo e o Sudário de Turim. Por qualquer razão, ele decidira, por fim, informar-nos de certos interesses daquela organização, e talvez mesmo implicar-nos nos seus planos. Grande parte daquela informação iria conduzir eventualmente – depois de a termos verificado, de forma algo tortuosa – na confecção do nosso livro sobre o Sudário de Turim, mas essa informação de modo algum foi importante para aquela obra e, por conseguinte, foi omitida.
Apesar das implicações da informação de Giovanni, muitas vezes espantosas, ou mesmo chocantes, fomos obrigados a tomar a sério pelo menos a maior parte dela, apenas porque a nossa investigação independente a confirmava. Por exemplo, a imagem do Sudário de Turim comporta-se como uma fotografia, porque é exatamente isso que ela é, como já demonstramos. E se, como ele afirmava, a informação de Giovanni tivesse origem nos arquivos do Priorado, então, havia razão para abordar a ideia da sua existência – talvez com algum ceticismo saudável, mas de modo algum com a completa negação de muitos dos seus detratores.
Quando começamos a envolver-nos no mundo secreto de Leonardo, depressa compreendemos que, se esta sociedade pouco definida fizera realmente parte integrante da sua vida, então, ela podia contribuir muito para explicar a força motivadora de Leonardo. Se, de fato, ele fizera parte de qualquer tipo de rede, poderosa e clandestina, os seus influentes patronos – como Lorenzo de Medici e Francisco I, de França – também podiam estar implicados. Parecia haver uma organização misteriosa por detrás das obsessões (n.t. e daquilo que ele sabia) de Leonardo: mas era essa organização, de fato, como alguns afirmam, o Priorado de Sião?
Se as reivindicações do Priorado são verdadeiras, então ele era já uma venerável organização quando Leonardo foi recrutado para as suas fileiras. Mas, qualquer que fosse a sua antiguidade, o Priorado devia ter exercido uma atração poderosa, talvez única, sobre o jovem artista e sobre vários dos seus colegas renascentistas, igualmente incrédulos. Talvez, como os maçônicos modernos, ela oferecesse progresso material e social, facilitando a carreira do jovem artista nas mais influentes cortes europeias, mas isso não explicaria a profundidade evidente das estranhas crenças de Leonardo. Fosse qual fosse a organização a que pertenceu, ela apelava ao seu espírito tanto como aos seus interesses materiais.
O poder subjacente ao Priorado de Sião é, no mínimo, parcialmente devido à sugestão de que os seus membros são, e sempre foram, guardiões de um grande segredo – um segredo que, se fosse tornado público, abalaria os verdadeiros alicerces tanto da igreja como do Estado. O Priorado de Sião, por vezes conhecido por Ordem de Sião ou Ordem da Nossa Senhora de Sião, assim como por outros títulos subsidiários, alega ter sido fundado em 1099, durante a Primeira Cruzada – e, mesmo então, foi apenas uma questão de formalizar um grupo cuja custódia deste conhecimento explosivo já datava de há muito tempo atrás.


O Priorado alega estar nos bastidores da criação dos Cavaleiros Templários – essa curiosa organização de monges-soldados medievais de sinistra reputação. O Priorado e os Templários tornaram-se, consoante se alega, virtualmente a mesma organização, presidida pelo mesmo grão-mestre, até sofrerem um cisma, em 1188, e seguirem caminhos distintos. O Priorado continuou sob a custódia de uma série de grão-mestres, incluindo alguns dos nomes mais ilustres da história, como Sir Isaac Newton, Sandro Felipepi (conhecido como Botticelli), Robert Fludd, o filósofo ocultista inglês – e, claro, Leonardo da Vinci, que, alegadamente, presidiu ao Priorado durante os últimos nove anos da sua vida.
Entre os seus líderes mais recentes, contam-se Vítor Hugo, Claude Debussy – e o artista, escritor, dramaturgo e realizador cinematográfico Jean Cocteau. E, embora não fossem grão-mestres, alegadamente, o Priorado tem atraído outros luminares, ao longo dos séculos, como Joana d’Arc, Nostradamus (Michel de Notre Dame) e mesmo o papa João XXIII.
Além destas celebridades, a história do Priorado de Sião, alegadamente, envolveu as mais importantes famílias reais e aristocráticas da Europa, geração após geração. Estas famílias incluíam os D’Anjou, os Habsburgo, os Sinclair e os Montgomery. O objetivo declarado pelo Priorado é proteger os descendentes da antiga dinastia merovíngia, reis do que hoje é a França – que reinaram desde o século V até ao assassinato de Dagoberto II, no final do século VII, e com ele a dinastia merovíngia. No entanto, os críticos afirmam que o Priorado de Sião existe apenas a partir de 1950 e é formado por um pequeno grupo de mitomaníacos sem poder efetivo – monárquicos com ilimitadas ilusões de grandeza.
Assim, por um lado, temos as reivindicações do Priorado à sua genealogia e raison d’étre e, por outro lado, os argumentos dos seus detratores. Fomos confrontados com este abismo, aparentemente intransponível, e – para ser honesto – tivemos dúvidas em continuar com esta linha particular de investigação. Contudo, compreendemos que, embora uma avaliação do Priorado se dividisse logicamente em duas partes – as questões da sua existência, em tempos recentes, e das suas pretensões históricas -, o problema era complexo, e nada ligado a esta organização era transparente.
Uma ligação dúbia ou uma contradição aparente, relativas às atividades do Priorado, levava, inevitavelmente, os céticos a considerarem toda a situação como um disparate completo, do princípio ao fim. Mas devemos lembrar que estamos lidando com criadores de mitos que, muitas vezes, estão mais preocupados em transmitir IDEIAS PODEROSAS, e mesmo chocantes, através de imagens de arquétipo do que em comunicar a verdade literal.
Não tínhamos dúvidas da existência moderna do Priorado. Os nossos contatos com Giovanni convenceram-nos de que ele, pelo menos, não era um impostor casual e que a sua informação era digna de confiança. Não apenas nos revelou fatos preciosos acerca do Sudário de Turim como nos forneceu pormenores acerca de vários indivíduos que, atualmente, estão implicados no Priorado e noutras organizações esotéricas, talvez aliadas, tanto no Reino Unido como na Europa continental. Por exemplo, ele mencionou, como membro, um consultor editorial com o qual um de nós trabalhara nos anos 70. À primeira vista, a afirmação de Giovanni referente a este homem parecia uma fantasia maliciosa da sua parte, mas, alguns meses depois, aconteceu uma coisa muito estranha.

Pelo que foi certamente uma coincidência espantosa, esse mesmo editor assistiu a uma festa organizada por uma das nossas amigas, em Novembro de 1991, num restaurante de que ela gostava particularmente – que não era, de modo nenhum, a sua casa num dos condados junto a Londres, mas que ficava muito próximo da casa de um de nós. Assim, foi verdadeiramente surpreendente encontrar entre os convidados, tão perto da nossa casa, alguém que fora mencionado por Giovanni. Depois mantivemo-nos em contato com ele e fomos convidados para a sua casa, no Surrey. Sendo boa companhia, não foi difícil passar algum tempo com ele e com a sua mulher, mas, gradualmente, um fato tornou-se evidente. Ele era membro do Priorado de Sião.
O nosso contato com ele, durante este período, culminou com um convite para uma festa, após o Natal, na sua casa de campo. A festa foi uma fascinante reunião de amigos, e os outros convidados eram cosmopolitas encantadores, que estavam todos notavelmente – e, talvez, por percepção tardia, excessivamente – interessados no nosso trabalho sobre Leonardo e o Sudário. Foi muito lisonjeador, mas um pouco inquietante, sobretudo porque eram todos membros do cenário bancário internacional.
Já sabíamos que o nosso anfitrião era membro de um gênero de organização maçônica, mas, apesar do seu espírito vivo e, por vezes, exuberante, era também um praticante do ocultismo. Sabíamos que isso era verdade, em parte, porque ele próprio nos informara, no que foi claramente uma atitude deliberada. Obviamente, ele queria que conhecêssemos alguma coisa acerca das tendências ocultistas dele próprio e do seu círculo – mas o quê exatamente? Fosse qual fosse a natureza da agenda oculta do nosso anfitrião, ficamos sabendo que o Priorado existia entre homens e mulheres, cultos e influentes, que falavam inglês. Giovanni também mencionou um certo diretor de uma empresa de publicidade de Londres, também nosso conhecido, como membro do Priorado.
Embora não conseguíssemos confirmar a sua qualidade de membro daquela organização, descobrimos que o seu interesse no ocultismo ultrapassava os artigos e os livros ocasionais que escrevia sobre o assunto usando pseudônimos. Também desempenhara um papel importante na publicidade de The Holy Blood and The Holy Grail quando foi publicado, em 1982. (E, certamente, não é coincidência que ele tenha uma segunda casa muito próximo de uma certa aldeia francesa que tem, como veremos, um papel importante a desempenhar no drama que rodeia o Priorado de Sião.)
O fato importante que emergiu dos nossos contatos com estes homens é que o moderno Priorado de Sião não é, como alegam os críticos, uma simples invenção de um pequeno grupo de franceses com fantasias monárquicas. Devido aos nossos recentes contatos e experiência, não duvidamos de que o Priorado existe ainda agora, hoje.
A sua alegada genealogia histórica, no entanto, é uma outra questão. Temos de admitir que os críticos do Priorado têm razão quanto à sua primeira referência documentada, que data apenas de 25 de Junho de 1956. Segundo a lei francesa, todas as associações têm de se registrar, por paradoxal que isso possa parecer, no caso das chamadas sociedades «secretas». No momento do registo, o Priorado declarou que o seu objetivo era oferecer «estudos e auxílio mútuo aos membros» – uma declaração que, embora pickwickiana no seu malicioso altruísmo, é também um caso de cuidadosa neutralidade.
O Priorado declarou apenas uma atividade, a publicação de um jornal chamado Circuit que se destinava, nas palavras do Priorado, «à defesa e informação dos direitos e liberdades da habitação-de-renda-reduzida» (foyers HLM – literalmente o equivalente à habitação social inglesa). Esta declaração referia quatro funcionários da associação, o mais interessante – e o mais conhecido – dos quais era um certo Pierre Plantard, que era também o editor do Circuit.
Desde aquela obscura declaração, o Priorado de Sião tornou-se conhecido de uma audiência mais vasta. Não apenas os seus estatutos surgiram na imprensa, completados pela assinatura do seu alegado anterior grão-mestre, Jean Cocteau (embora, evidentemente, ela possa ser uma falsificação), mas também o Priorado surgiu em vários livros. A sua estréia ocorreu em 1962, em Les Templiers sont parrmis nous (Os Templários Estão entre Nós), de Gérard de Sède, que incluía uma entrevista com Pierre Plantard.


O Priorado, no entanto, teve de esperar vinte anos para ter impacto no mundo de língua inglesa. Em 1982, o fenomenal best-seller The Holy Blood and The Holy Grail, de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln chegou às livrarias, e a controvérsia subsequente tornou o Priorado de Sião um tema de debate em voga entre um público muito mais vasto. O que esse livro reivindicava para a organização, e o que extrapolava dos seus alegados objetivos, será, no entanto, tratado mais tarde.
Pierre Plantard emerge dos elementos tornados públicos como uma figura plausível, que aperfeiçoou a arte dos políticos: olhar de frente para o entrevistador, enquanto, habilmente, consideram a verdadeira pergunta de modo muito diferente. Nascido em 1920, tornou-se conhecido do público, pela primeira vez, na França ocupada de 1942, como editor de um jornal, chamado Vaimcre pour ume jeume chevalerie (A Conquista de Uma Jovem Cavalaria) – que era nitidamente tolerante com os opressores nazistas e que foi, de fato, publicado com a sua autorização.
Oficialmente, este jornal era o órgão da Ordem Alpha-Galates, uma sociedade quase maçônica e cavaleiresca, sedeada em Paris, da qual Plantard se tornou grão-mestre, aos 22 anos. De princípio, os seus editoriais surgiram sob o nome de «Pierre de France», depois «Pierre de France-Plantard e, finalmente, simplesmente «Pierre Plantard». A obsessão com que considerava ser a versão correcta do seu nome verificou-se novamente quando adotou o título mais grandioso de «Pierre Plantard de Saint-Clair», o nome sob o qual surgiu em The Holy Blood and The Holy Grail – e que usou quando foi grão-mestre do Priorado de Sião, entre 1981 e 1984. (Vaimcre passou agora para o título do boletim interno do Priorado, que foi editado por Pierre Plantard de Saint-Clair e por seu filho Thomas.
Este antigo desenhador de uma firma de acessórios para fogões, que, alegadamente, tinha dificuldade, por vezes, em pagar às próprias contas, exerceu, todavia, uma considerável influência na história europeia. Foi Pierre Plantard de Saint-Clair – sob o pseudônimo de «Capitão Way» – que esteve por detrás da organização dos Comitês de Salvação Pública que promoveram o regresso ao poder na França pós guerra do general Charles de Gaulle, em 1958.
Consideremos, agora, a natureza essencialmente paradoxal do Priorado de Sião. Primeiro, donde vem, de fato, a informação pública acerca desta organização e até que ponto ela é digna de confiança? Como foi citado em The Holy Blood and The Holy Grail, a fonte primordial é uma coleção de apenas sete enigmáticos documentos, conservados na Biblioteca Nacional de Paris, conhecidos como Dossiers secrets (arquivos secretos). À primeira vista, parecem uma miscelânea de textos e de genealogias históricas e de obras alegóricas, mais modernas, atribuídas a autores anônimos ou a autores com pseudônimos banais ou ostentam nomes de pessoas que nada têm a ver com eles.
A maioria destes registros diz respeito à suposta obsessão merovíngia da sociedade e centra-se no famoso mistério do pequeno vilarejo francês de Rennes-le-Château, a remota aldeia do Languedoc, que foi o ponto de partida da investigação de Baigent, Leigh e Lincoln. Contudo, emergem outros temas que, para nós, são muito mais importantes e que trataremos resumidamente. O primeiro artigo dos arquivos secretos foi depositado em 1964, embora esteja datado de 1956. O último artigo foi depositado em 1967.
Sensatamente, podíamos considerar grande parte do conteúdo dos arquivos como sendo qualquer tipo de brincadeira. Contudo, abstivemo-nos desta reação imediata porque sabíamos, pela nossa experiência do Priorado de Sião e do seu modus operandi, que ele se vangloria de desinformação deliberada e pormenorizada. Por detrás desta cortina de fumaça de total disparate, prevaricação e ofuscação, existe um propósito muito sério e muito deliberado.
Contudo, o que nunca poderia ter fascinado e motivado nomes ilustres, como Leonardo ou Isaac Newton, durante tanto tempo era esta suposta obsessão de reconduzir a descendência merovíngia, há muito desaparecida, a uma posição de poder na França moderna. Face às provas apresentadas nos arquivos secretos, a causa da sobrevivência da dinastia, para além de Dagoberto II, para não mencionar a continuação de uma clara linha de descendência até ao fim do século XX, é, na melhor das hipóteses, frágil, e, na pior das hipóteses, claramente fictícia.

A Dinastia Merovíngia dos primeiros reis da França teria origem na descendência de Jesus e Maria Madalena….
Afinal, qualquer pessoa que tenha estado a investigar a sua própria árvore genealógica para além das duas ou três gerações anteriores, em breve descobre que todo o processo é complexo e problemático. Assim, mantém-se a pergunta: esta causa podia ter inspirado homens e mulheres de grande inteligência, geração após geração? É difícil imaginar que pessoas como Isaac Newton e Leonardo tivessem sido muito influenciadas, por exemplo, por uma sociedade britânica cujos objetivos fossem reconduzir ao poder os descendentes do rei Haroldo II (morto pelas tropas de Guilherme, o Conquistador, em 1066).
Para o moderno Priorado de Sião, existem grandes dificuldades na realização do seu objetivo de restaurar a descendência merovíngia. Não existe apenas o problema de transformar a França republicana na monarquia que ela rejeitou, há mais de dois séculos, mas, mesmo assim (supondo que a sucessão merovíngia pudesse ser provada), aquela mesma dinastia não tem qualquer direito ao trono porque a nação francesa não existia durante a era merovíngia. Como o escritor francês Jean Robin expôs a questão, de forma sucinta: «Dagoberto era… um rei em França, mas, de modo algum, rei da França.”
Os arquivos secretos podem parecer um completo disparate, mas a simples dimensão do esforço e dos recursos investidos neles e na manutenção das suas pretensões faz-nos hesitar. Mesmo o escritor francês Gérard de Sède, que dedica muitas páginas, minuciosamente argumentadas, à destruição das alegadas provas de defesa da causa merovíngia, apresentadas nos arquivos, admitiu que a investigação e os recursos eruditos e acadêmicos que estes implicaram eram desproporcionadamente impressionantes. Apesar de criticar severamente «este mito delirante», ele conclui, todavia, que existe um verdadeiro mistério por detrás de tudo isto. Uma característica curiosa dos arquivos é a implicação constante e subjacente de que os autores tinham acesso aos arquivos oficiais do Governo e da Polícia.
Citando apenas dois exemplos, entre muitos: em 1967, um folheto, chamado Le serpent rouge (A Serpente Vermelha), foi anexado aos arquivos e atribuído a três autores – Pierre Feugère, Louis Saint-Maxent e Gaston de Koker – datado de 17 de Janeiro de 1967, embora o talão de depósito na Biblioteca Nacional esteja datado de 15 de Fevereiro. Este extraordinário texto de treze páginas, geralmente muito apreciado como exemplo de talento poético, também engloba simbolismo astrológico, alegórico, esotérico e alquímico. Mas o que isto tem de sinistro é que os três autores foram todos encontrados enforcados, com intervalo de vinte e quatro horas, a 6/7 de Março desse mesmo ano. A implicação sugere que as suas mortes foram consequência da sua colaboração na composição de Le serpent rouge.
Contudo, a investigação subsequente revelou que a obra fora anexada aos arquivos a 20 de Março – depois de todos terem sido encontrados mortos e que o talão de depósito fora deliberadamente falsificado para indicar a data de Fevereiro. Mas, indiscutivelmente, a coisa mais espantosa em todo este estranho caso é que os três alegados autores não tinham, de fato, qualquer ligação com este panfleto ou com o Priorado de Sião… Presumivelmente, alguém aproveitara o fato destas três mortes, bizarramente sincronizadas, e usara-as para estranhos objetivos pessoais.
Mas porquê? E, como indica De Sède, decorreram apenas treze dias entre as três mortes e o depósito do panfleto na Biblioteca Nacional – o que foi um trabalho tão rápido que levantou fortes suspeitas de que o(s) verdadeiro(s) autor(es) tinha(m) conhecimento interno das investigações confidenciais da Polícia. E Franck Marie, escritor e detetive particular, provou, de forma concludente, que a mesma máquina de escrever fora usada para compor Le serpent rouge e alguns dos documentos posteriores dos arquivos secretos.
Depois verificou-se o caso da falsificação dos documentos do Lloyds Bank. Pergaminhos, alegamente do século XVII, encontrados por um sacerdote francês, no fim do século passado, e que, supostamente, provavam a continuidade da linha de descendência merovíngia, foram comprados por um cavalheiro inglês, em 1955, e depositados numa caixa-forte de uma agência do Lloyds Bank em Londres. Embora ninguém tivesse visto estes documentos, conhecia-se a existência de cartas que confirmavam o fato de estes terem sido depositados e que estavam assinados por três importantes homens de negócio ingleses, todos eles com ligações anteriores aos Serviços Secretos Ingleses.

Os merovíngios foram uma dinastia franca saliana que governou os francos numa região correspondente, grosso modo, à antiga Gália da metade do século V à metade do século VIII. Eles eram citados às vezes por seus contemporâneos como os “reis de cabelos longos” (em latim reges criniti), por não cortarem simbolicamente os cabelos (tradicionalmente, os líderes tribais dos francos exibiam seus longos cabelos como distinção dos cabelos curtos dos romanos e do clero). O termo “merovíngio” deriva do latim medieval Merovingi ou Merohingi (“filhos de Meroveu”). O domínio merovíngio foi encerrado por um golpe de Estado em 751 quando Pepino o Breve formalmente depôs Childeric III, dando início à dinastia carolíngia.
Mas durante as investigações para The Messianic Legacy. (a sequencia de The Holy Blood and The Holy Grail), Baigent, Leigh e Lincoln conseguiram provar que as cartas eram uma falsificação – embora incorporassem partes de documentos genuínos, com assinaturas verdadeiras, e cópias dos certificados de nascimento dos três homens de negócios. No entanto, a questão mais importante e de maior alcance é que quem quer que os forjasse parece ter obtido as partes genuínas dos documentos nos arquivos do Governo francês, de um modo que implica fortemente os Serviços Secretos Franceses.
Mais uma vez, somos confrontados com uma sensação de grande estranheza. Um enorme montante de tempo, esforço e talvez mesmo riscos e perigo pessoal deve ter estado envolvido na montagem deste cenário. Mas, ao mesmo tempo, em última análise, ele parece ser completa e absolutamente desprovido de significado. Nesse aspecto, todo o caso se limita a seguir a velha tradição dos Serviços (e sociedades) Secretos, em que poucas coisas são o que parecem ser e os fatos aparentemente de mais fácil compreensão podem bem ser exercícios de completa desinformação.

Continua em 2B …

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