A Revelação Templária – 2A – No Mundo Secreto
Posted by Thoth3126 on 27/05/2017
CAPÍTULO II A – NO MUNDO SECRETO: A nossa investigação do «Leonardo Da Vinci (secreto) desconhecido» iria tornar-se uma longa busca, incrivelmente complicada – dir-se-ia mais uma iniciação do que uma simples deslocação de A para B.
Ao longo do caminho, encontramo-nos em muitos becos sem saída e enredamo-nos no submundo dos que estão ligados às SOCIEDADES SECRETAS e que têm prazer não só em se entregar a jogos sinistros mas também em ser agentes de desinformação e de confusão. Muitas vezes, ficamos estupefatos, perguntando a nós mesmos como uma simples investigação da vida e da obra de Leonardo da Vinci nos podia ter introduzido num mundo que não acreditávamos que existisse fora dos filmes impenetráveis do grande surrealista francês Jean Cocteau, como o seu Orfeu, com a descrição de um submundo em que se penetra através de espelhos mágicos …
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Capítulo 02 A – NO MUNDO SECRETO – Livro “The Templar Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ” de Lynn Picknett e Clive Prince.
CAPÍTULO II A – NO MUNDO SECRETO
… De fato, foi este verdadeiro expoente do bizarro – Jean Cocteau – que nos iria fornecer mais indicações, não só acerca das crenças de Leonardo mas também da existência de uma continuada tradição secreta que tinha as mesmas preocupações. Iríamos descobrir que Cocteau (1889-1963), ele próprio, parece ter estado implicado nesta sociedade – a prova da sua implicação será adiante discutida. Mas, em primeiro lugar, analisemos o gênero mais imediato de prova testemunhal – a dos nossos olhos e descobertas.
Espantosamente próxima das luzes brilhantes e do ruído de Leicester Square, em Londres, encontra-se a Igreja de Notre Dame de Paris. Situada em Leicester Square, virtualmente contígua a uma elegante sorveteria, é muito difícil encontrá-la, porque a sua fachada não se anuncia com a arquitetura flamejante que nos habituamos a associar às grandes igrejas católicas. Podemos passar sem reparar nela e, certamente, sem fazer ideia de que a sua decoração é significativamente diferente da decoração da maioria das outras igrejas católicas.
Originalmente construída em 1865, num local com associações aos Cavaleiros Templários, Notre Dame de France foi quase totalmente destruída durante os ataques aéreos nazistas a Londres durante a II Guerra Mundial e reconstruída no final da década de 50. Transposto o seu modesto exterior, o visitante encontra-se num vasto átrio, arejado e de grande altura, que, a princípio, pode parecer típico do moderno traçado católico.
Quase desprovida da aparatosa estatuária que adorna excessivamente muitos edifícios mais antigos, ela contém, todavia, pequenas placas decorativas que representam a Via Sacra, um altar-mor, abaixo de uma grande tapeçaria de uma jovem virgem loira, rodeada por animais que a veneram – a qual, embora um tanto sugestiva de uma das mais graciosas cenas de Disney, ainda está dentro dos limites do que constitui uma representação aceitável da jovem Maria – e algumas imagens de santos, presidindo às capelas laterais.
Mas, à esquerda do visitante, quando está voltado para o altar-mor, há uma pequena capela que não tem nenhuma estátua de culto mas, no entanto, tem o seu grupo de fiéis muito particulares. Os visitantes vêm admirar e fotografar o seu invulgar mural, obra de Jean Cocteau, que o terminou em 1960, e a igreja orgulha-se de vender postais ilustrados da sua obra de arte, muito particular e justamente famosa. Mas, tal como no caso das chamadas pinturas «cristãs» de Leonardo, este afresco, quando meticulosamente examinado, revela simbolismo muito pouco ortodoxo. E a comparação com a obra de Leonardo não é acidental.
Mesmo dada a distância de cerca de quinhentos anos, poderia dizer-se, no entanto, que Leonardo e Cocteau estavam, de algum modo, a colaborar, ao longo dos séculos?
Antes de voltarmos a nossa atenção para o curioso mural de Cocteau, examinemos a igreja, de modo geral. Embora não seja única, é invulgar que uma igreja católica seja redonda, e esta forma é aqui acentuada em vários pormenores. Por exemplo, há uma surpreendente clarabóia, em forma de cúpula, decorada com um desenho de anéis concêntricos que não é demasiado fantasista interpretar como um gênero de teia de aranha. E as paredes, tanto no interior como no exterior, ostentam o repetido motivo de cruzes de braços iguais, alternadas – e ainda mais círculos.
Jean Cocteau durante o seu trabalho de realizaçãodo mural no interior da Igreja de Notre Dame de France, em 1959
Esta igreja do pós-guerra, embora seja nova, ergueu-se orgulhosamente, incorporando uma placa de pedra que fora retirada da Catedral de Chartres, essa jóia da coroa da arquitetura gótica – e, como iríamos descobrir, o ponto de convergência (a Catedral de Chartres) destes grupos, cujas crenças religiosas não são, de modo nenhum, tão ortodoxas como os livros de História nos levavam a pensar.
Pode objectar-se que não há nada de particularmente profundo ou sinistro na inclusão desta pedra – afinal, durante a guerra, esta igreja foi um ponto de encontro das forças de Libertação Francesas e uma peça de Chartres era, seguramente, um símbolo vivo do que a pátria francesa sempre representou. Contudo, a nossa investigação ia mostrar que era, de fato, muito mais importante do que isso.
Dia após dia, muitas pessoas – tanto londrinos como visitantes – passam por Notre Dame de France para rezar e participar nos serviços religiosos. A igreja parece ser uma das mais frequentadas de Londres e também representa um refúgio conveniente para os sem-abrigo, que são tratados com grande bondade (como os próprios Templários costumavam tratar os desafortunados). Mas é o mural de Cocteau que atua como um ímã para a maioria dos que visitam a igreja, como parte do seu passeio a Londres, embora também se possam deter para aproveitar um oásis de calma, no meio do grande movimento da capital.
De início, o mural pode decepcionar, porque – como grande parte da obra de Cocteau – parece, ao primeiro olhar, ser pouco mais do que um esboço pintado, uma cena apenas esboçada nalgumas cores, sobre o simples estuque. Representa a Crucificação: a vítima está rodeada de aterradores soldados romanos, de mulheres e discípulos pesarosos. Certamente que contém, podia pensar-se, todos os ingredientes de uma cena da Crucificação tradicional, mas, como A Última Ceia de Leonardo, ela merece um exame mais minucioso, mais crítico – e mesmo mais sensato.
A figura central, a vítima da mais horrível das mortes por tortura, pode bem ser Jesus. Mas também é verdade que não temos a certeza da sua identidade, porque apenas o vemos dos joelhos para baixo. A parte superior do corpo não é mostrada. E, aos pés da cruz, está uma enorme rosa vermelho-azulada.
Em primeiro plano, há uma figura que não é romana nem discípulo, que está afastada da cruz e parece estar fortemente perturbada pela cena que se desenrola atrás de si. Na verdade, é um acontecimento profundamente perturbador – assistir à morte de qualquer pessoa, nestas circunstâncias, é, seguramente, pungente, mas estar presente quando Deus encarnado está derramando o seu sangue seria indescritivelmente traumático. Todavia, a expressão desta personagem não é a do humanitarismo horrorizado, nem a do venerador consternado. Se formos sinceros, a testa franzida e o olhar de soslaio são os de uma testemunha decepcionada, mesmo desagradada. Não é a reação de alguém que esteja remotamente disposto a dobrar o joelho, em sinal de respeito, mas de alguém que expressa a sua opinião de igual para igual.
Então, quem é esta presença desaprovadora no acontecimento mais sagrado da Cristandade? É nada menos do que o próprio Jean (João) Cocteau. Se nos lembrarmos de que o próprio Leonardo se auto-retratou, desviando o olhar da Sagrada Família, na Adoração dos Magos, e de Jesus, em A Última Ceia, há, no mínimo, poderíamos dizer, uma semelhança secreta entre estas duas pinturas. E, quando se afirma que os dois artistas pertenciam à alta hierarquia da mesma sociedade secreta e herética, continuar a investigação torna-se irresistível.
Iluminando a cena, um SOL NEGRO lança os seus raios sinistros no céu circundante. Frente ao sol, encontra-se uma pessoa – provavelmente um homem – cujos olhos levantados e protuberantes, perfilados contra o horizonte, são notavelmente semelhantes a seios atrevidos. Quatro soldados romanos assumem uma atitude épica, em volta da cruz, mantendo as lanças em ângulos estranhos e, aparentemente, significativos – um deles agarra um escudo que ostenta o desenho de um falcão (n.t. símbolo de Hórus, filho de ÍSIS…) estilizado. E, aos pés de dois soldados, vê-se um pano, sobre o qual estão espalhados dados. A soma total dos números que os dados apresentam é cinquenta e oito – 58.
Um homem jovem e insípido aperta as mãos em torno da base da cruz, e o seu olhar, um tanto inexpressivo, fixa-se vagamente numa das duas mulheres desta cena. Estas, por sua vez, parecem estar ligadas pela forma de um grande «M», exatamente abaixo do homem com olhos semelhantes a seios. A mulher mais velha, cheia de dor, olha para baixo e parece estar a chorar sangue; a mais nova está literalmente mais distante, apesar de estar de pé, junto da cruz, todo o seu corpo está afastado dela. A forma do «M» aberto repete-se na frente do altar, imediatamente abaixo do mural.
Jean Cocteau pintou a si mesmo no mural (Direita) ao lado do Falcão e dos dados que aparecem à esquerda.
A última figura desta cena, no extremo direito da pintura, é um homem de idade indefinida, cujo único olho visível tem a forma distinta de um peixe.
Alguns comentadores chamam a atenção para o fato de os ângulos das lanças dos soldados formarem um pentagrama – em si, uma característica pouco ortodoxa de uma cena tradicional cristã. Esta caraterística, apesar de intrigante, não faz parte da nossa presente investigação. Como vimos, parecem existir elos superficiais entre as mensagens subliminares das obras religiosas de Leonardo e de Cocteau, e foi esta utilização comum de determinados símbolos que chamou a nossa atenção.
Os nomes de Leonardo da Vinci e de Jean Cocteau figuram na lista dos grão-mestres daquela que alega ser uma das mais antigas e mais influentes sociedades secretas da Europa – o Prieuré de Sion, o Priorado de Sião. Altamente polêmica, a sua própria existência tem sido posta em questão e, portanto, quaisquer das suas alegadas atividades são, geralmente, ridicularizadas e as suas implicações ignoradas. De princípio, compreendemos este tipo de reação, mas as nossas investigações posteriores revelaram que a questão não era assim tão simples.
A sociedade secreta Priorado de Sião chamou a atenção do mundo de língua inglesa apenas em 1982, através do best-seller “The Holy Blood and the Holy Grail”, de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, embora, em França, a sua pátria, se tivesse tornado público, de forma gradual, a partir de 1960. É uma ordem secreta quase maçônica ou de cavalaria, com determinadas ambições políticas e, parece, considerável poder oculto. Dito isto, é muito difícil classificar o Priorado, talvez porque exista algo de essencialmente quimérico em informação de todos os movimentos que foram dados pelo representante do Priorado, informação que conhecemos no princípio de 1991 – o encontro foi o resultado de uma série de cartas bizarras, que nos foram enviadas após uma discussão radiofônica acerca do Sudário de Turim.
O que conduziu a este encontro, ligeiramente surrealista, está pormenorizado no nosso livro anterior, mas, de momento, será suficiente dizer que um certo «Giovanni» (João em italiano)- que sempre conhecemos sob este pseudônimo – um italiano que alegava ser um dos membros da alta hierarquia do Priorado de Sião, nos observara, cuidadosamente, durante as primeiras fases da nossa investigação sobre Leonardo e o Sudário de Turim. Por qualquer razão, ele decidira, por fim, informar-nos de certos interesses daquela organização, e talvez mesmo implicar-nos nos seus planos. Grande parte daquela informação iria conduzir eventualmente – depois de a termos verificado, de forma algo tortuosa – na confecção do nosso livro sobre o Sudário de Turim, mas essa informação de modo algum foi importante para aquela obra e, por conseguinte, foi omitida.
Apesar das implicações da informação de Giovanni, muitas vezes espantosas, ou mesmo chocantes, fomos obrigados a tomar a sério pelo menos a maior parte dela, apenas porque a nossa investigação independente a confirmava. Por exemplo, a imagem do Sudário de Turim comporta-se como uma fotografia, porque é exatamente isso que ela é, como já demonstramos. E se, como ele afirmava, a informação de Giovanni tivesse origem nos arquivos do Priorado, então, havia razão para abordar a ideia da sua existência – talvez com algum ceticismo saudável, mas de modo algum com a completa negação de muitos dos seus detratores.
Quando começamos a envolver-nos no mundo secreto de Leonardo, depressa compreendemos que, se esta sociedade pouco definida fizera realmente parte integrante da sua vida, então, ela podia contribuir muito para explicar a força motivadora de Leonardo. Se, de fato, ele fizera parte de qualquer tipo de rede, poderosa e clandestina, os seus influentes patronos – como Lorenzo de Medici e Francisco I, de França – também podiam estar implicados. Parecia haver uma organização misteriosa por detrás das obsessões (n.t. e daquilo que ele sabia) de Leonardo: mas era essa organização, de fato, como alguns afirmam, o Priorado de Sião?
Se as reivindicações do Priorado são verdadeiras, então ele era já uma venerável organização quando Leonardo foi recrutado para as suas fileiras. Mas, qualquer que fosse a sua antiguidade, o Priorado devia ter exercido uma atração poderosa, talvez única, sobre o jovem artista e sobre vários dos seus colegas renascentistas, igualmente incrédulos. Talvez, como os maçônicos modernos, ela oferecesse progresso material e social, facilitando a carreira do jovem artista nas mais influentes cortes europeias, mas isso não explicaria a profundidade evidente das estranhas crenças de Leonardo. Fosse qual fosse a organização a que pertenceu, ela apelava ao seu espírito tanto como aos seus interesses materiais.
O poder subjacente ao Priorado de Sião é, no mínimo, parcialmente devido à sugestão de que os seus membros são, e sempre foram, guardiões de um grande segredo – um segredo que, se fosse tornado público, abalaria os verdadeiros alicerces tanto da igreja como do Estado. O Priorado de Sião, por vezes conhecido por Ordem de Sião ou Ordem da Nossa Senhora de Sião, assim como por outros títulos subsidiários, alega ter sido fundado em 1099, durante a Primeira Cruzada – e, mesmo então, foi apenas uma questão de formalizar um grupo cuja custódia deste conhecimento explosivo já datava de há muito tempo atrás.
O Priorado alega estar nos bastidores da criação dos Cavaleiros Templários – essa curiosa organização de monges-soldados medievais de sinistra reputação. O Priorado e os Templários tornaram-se, consoante se alega, virtualmente a mesma organização, presidida pelo mesmo grão-mestre, até sofrerem um cisma, em 1188, e seguirem caminhos distintos. O Priorado continuou sob a custódia de uma série de grão-mestres, incluindo alguns dos nomes mais ilustres da história, como Sir Isaac Newton, Sandro Felipepi (conhecido como Botticelli), Robert Fludd, o filósofo ocultista inglês – e, claro, Leonardo da Vinci, que, alegadamente, presidiu ao Priorado durante os últimos nove anos da sua vida.
Entre os seus líderes mais recentes, contam-se Vítor Hugo, Claude Debussy – e o artista, escritor, dramaturgo e realizador cinematográfico Jean Cocteau. E, embora não fossem grão-mestres, alegadamente, o Priorado tem atraído outros luminares, ao longo dos séculos, como Joana d’Arc, Nostradamus (Michel de Notre Dame) e mesmo o papa João XXIII.
Além destas celebridades, a história do Priorado de Sião, alegadamente, envolveu as mais importantes famílias reais e aristocráticas da Europa, geração após geração. Estas famílias incluíam os D’Anjou, os Habsburgo, os Sinclair e os Montgomery. O objetivo declarado pelo Priorado é proteger os descendentes da antiga dinastia merovíngia, reis do que hoje é a França – que reinaram desde o século V até ao assassinato de Dagoberto II, no final do século VII, e com ele a dinastia merovíngia. No entanto, os críticos afirmam que o Priorado de Sião existe apenas a partir de 1950 e é formado por um pequeno grupo de mitomaníacos sem poder efetivo – monárquicos com ilimitadas ilusões de grandeza.
Assim, por um lado, temos as reivindicações do Priorado à sua genealogia e raison d’étre e, por outro lado, os argumentos dos seus detratores. Fomos confrontados com este abismo, aparentemente intransponível, e – para ser honesto – tivemos dúvidas em continuar com esta linha particular de investigação. Contudo, compreendemos que, embora uma avaliação do Priorado se dividisse logicamente em duas partes – as questões da sua existência, em tempos recentes, e das suas pretensões históricas -, o problema era complexo, e nada ligado a esta organização era transparente.
Uma ligação dúbia ou uma contradição aparente, relativas às atividades do Priorado, levava, inevitavelmente, os céticos a considerarem toda a situação como um disparate completo, do princípio ao fim. Mas devemos lembrar que estamos lidando com criadores de mitos que, muitas vezes, estão mais preocupados em transmitir IDEIAS PODEROSAS, e mesmo chocantes, através de imagens de arquétipo do que em comunicar a verdade literal.
Não tínhamos dúvidas da existência moderna do Priorado. Os nossos contatos com Giovanni convenceram-nos de que ele, pelo menos, não era um impostor casual e que a sua informação era digna de confiança. Não apenas nos revelou fatos preciosos acerca do Sudário de Turim como nos forneceu pormenores acerca de vários indivíduos que, atualmente, estão implicados no Priorado e noutras organizações esotéricas, talvez aliadas, tanto no Reino Unido como na Europa continental. Por exemplo, ele mencionou, como membro, um consultor editorial com o qual um de nós trabalhara nos anos 70. À primeira vista, a afirmação de Giovanni referente a este homem parecia uma fantasia maliciosa da sua parte, mas, alguns meses depois, aconteceu uma coisa muito estranha.
Pelo que foi certamente uma coincidência espantosa, esse mesmo editor assistiu a uma festa organizada por uma das nossas amigas, em Novembro de 1991, num restaurante de que ela gostava particularmente – que não era, de modo nenhum, a sua casa num dos condados junto a Londres, mas que ficava muito próximo da casa de um de nós. Assim, foi verdadeiramente surpreendente encontrar entre os convidados, tão perto da nossa casa, alguém que fora mencionado por Giovanni. Depois mantivemo-nos em contato com ele e fomos convidados para a sua casa, no Surrey. Sendo boa companhia, não foi difícil passar algum tempo com ele e com a sua mulher, mas, gradualmente, um fato tornou-se evidente. Ele era membro do Priorado de Sião.
O nosso contato com ele, durante este período, culminou com um convite para uma festa, após o Natal, na sua casa de campo. A festa foi uma fascinante reunião de amigos, e os outros convidados eram cosmopolitas encantadores, que estavam todos notavelmente – e, talvez, por percepção tardia, excessivamente – interessados no nosso trabalho sobre Leonardo e o Sudário. Foi muito lisonjeador, mas um pouco inquietante, sobretudo porque eram todos membros do cenário bancário internacional.
Já sabíamos que o nosso anfitrião era membro de um gênero de organização maçônica, mas, apesar do seu espírito vivo e, por vezes, exuberante, era também um praticante do ocultismo. Sabíamos que isso era verdade, em parte, porque ele próprio nos informara, no que foi claramente uma atitude deliberada. Obviamente, ele queria que conhecêssemos alguma coisa acerca das tendências ocultistas dele próprio e do seu círculo – mas o quê exatamente? Fosse qual fosse a natureza da agenda oculta do nosso anfitrião, ficamos sabendo que o Priorado existia entre homens e mulheres, cultos e influentes, que falavam inglês. Giovanni também mencionou um certo diretor de uma empresa de publicidade de Londres, também nosso conhecido, como membro do Priorado.
Embora não conseguíssemos confirmar a sua qualidade de membro daquela organização, descobrimos que o seu interesse no ocultismo ultrapassava os artigos e os livros ocasionais que escrevia sobre o assunto usando pseudônimos. Também desempenhara um papel importante na publicidade de The Holy Blood and The Holy Grail quando foi publicado, em 1982. (E, certamente, não é coincidência que ele tenha uma segunda casa muito próximo de uma certa aldeia francesa que tem, como veremos, um papel importante a desempenhar no drama que rodeia o Priorado de Sião.)
O fato importante que emergiu dos nossos contatos com estes homens é que o moderno Priorado de Sião não é, como alegam os críticos, uma simples invenção de um pequeno grupo de franceses com fantasias monárquicas. Devido aos nossos recentes contatos e experiência, não duvidamos de que o Priorado existe ainda agora, hoje.
A sua alegada genealogia histórica, no entanto, é uma outra questão. Temos de admitir que os críticos do Priorado têm razão quanto à sua primeira referência documentada, que data apenas de 25 de Junho de 1956. Segundo a lei francesa, todas as associações têm de se registrar, por paradoxal que isso possa parecer, no caso das chamadas sociedades «secretas». No momento do registo, o Priorado declarou que o seu objetivo era oferecer «estudos e auxílio mútuo aos membros» – uma declaração que, embora pickwickiana no seu malicioso altruísmo, é também um caso de cuidadosa neutralidade.
O Priorado declarou apenas uma atividade, a publicação de um jornal chamado Circuit que se destinava, nas palavras do Priorado, «à defesa e informação dos direitos e liberdades da habitação-de-renda-reduzida» (foyers HLM – literalmente o equivalente à habitação social inglesa). Esta declaração referia quatro funcionários da associação, o mais interessante – e o mais conhecido – dos quais era um certo Pierre Plantard, que era também o editor do Circuit.
Desde aquela obscura declaração, o Priorado de Sião tornou-se conhecido de uma audiência mais vasta. Não apenas os seus estatutos surgiram na imprensa, completados pela assinatura do seu alegado anterior grão-mestre, Jean Cocteau (embora, evidentemente, ela possa ser uma falsificação), mas também o Priorado surgiu em vários livros. A sua estréia ocorreu em 1962, em Les Templiers sont parrmis nous (Os Templários Estão entre Nós), de Gérard de Sède, que incluía uma entrevista com Pierre Plantard.
O Priorado, no entanto, teve de esperar vinte anos para ter impacto no mundo de língua inglesa. Em 1982, o fenomenal best-seller The Holy Blood and The Holy Grail, de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln chegou às livrarias, e a controvérsia subsequente tornou o Priorado de Sião um tema de debate em voga entre um público muito mais vasto. O que esse livro reivindicava para a organização, e o que extrapolava dos seus alegados objetivos, será, no entanto, tratado mais tarde.
Pierre Plantard emerge dos elementos tornados públicos como uma figura plausível, que aperfeiçoou a arte dos políticos: olhar de frente para o entrevistador, enquanto, habilmente, consideram a verdadeira pergunta de modo muito diferente. Nascido em 1920, tornou-se conhecido do público, pela primeira vez, na França ocupada de 1942, como editor de um jornal, chamado Vaimcre pour ume jeume chevalerie (A Conquista de Uma Jovem Cavalaria) – que era nitidamente tolerante com os opressores nazistas e que foi, de fato, publicado com a sua autorização.
Oficialmente, este jornal era o órgão da Ordem Alpha-Galates, uma sociedade quase maçônica e cavaleiresca, sedeada em Paris, da qual Plantard se tornou grão-mestre, aos 22 anos. De princípio, os seus editoriais surgiram sob o nome de «Pierre de France», depois «Pierre de France-Plantard e, finalmente, simplesmente «Pierre Plantard». A obsessão com que considerava ser a versão correcta do seu nome verificou-se novamente quando adotou o título mais grandioso de «Pierre Plantard de Saint-Clair», o nome sob o qual surgiu em The Holy Blood and The Holy Grail – e que usou quando foi grão-mestre do Priorado de Sião, entre 1981 e 1984. (Vaimcre passou agora para o título do boletim interno do Priorado, que foi editado por Pierre Plantard de Saint-Clair e por seu filho Thomas.
Este antigo desenhador de uma firma de acessórios para fogões, que, alegadamente, tinha dificuldade, por vezes, em pagar às próprias contas, exerceu, todavia, uma considerável influência na história europeia. Foi Pierre Plantard de Saint-Clair – sob o pseudônimo de «Capitão Way» – que esteve por detrás da organização dos Comitês de Salvação Pública que promoveram o regresso ao poder na França pós guerra do general Charles de Gaulle, em 1958.
Consideremos, agora, a natureza essencialmente paradoxal do Priorado de Sião. Primeiro, donde vem, de fato, a informação pública acerca desta organização e até que ponto ela é digna de confiança? Como foi citado em The Holy Blood and The Holy Grail, a fonte primordial é uma coleção de apenas sete enigmáticos documentos, conservados na Biblioteca Nacional de Paris, conhecidos como Dossiers secrets (arquivos secretos). À primeira vista, parecem uma miscelânea de textos e de genealogias históricas e de obras alegóricas, mais modernas, atribuídas a autores anônimos ou a autores com pseudônimos banais ou ostentam nomes de pessoas que nada têm a ver com eles.
A maioria destes registros diz respeito à suposta obsessão merovíngia da sociedade e centra-se no famoso mistério do pequeno vilarejo francês de Rennes-le-Château, a remota aldeia do Languedoc, que foi o ponto de partida da investigação de Baigent, Leigh e Lincoln. Contudo, emergem outros temas que, para nós, são muito mais importantes e que trataremos resumidamente. O primeiro artigo dos arquivos secretos foi depositado em 1964, embora esteja datado de 1956. O último artigo foi depositado em 1967.
Sensatamente, podíamos considerar grande parte do conteúdo dos arquivos como sendo qualquer tipo de brincadeira. Contudo, abstivemo-nos desta reação imediata porque sabíamos, pela nossa experiência do Priorado de Sião e do seu modus operandi, que ele se vangloria de desinformação deliberada e pormenorizada. Por detrás desta cortina de fumaça de total disparate, prevaricação e ofuscação, existe um propósito muito sério e muito deliberado.
Contudo, o que nunca poderia ter fascinado e motivado nomes ilustres, como Leonardo ou Isaac Newton, durante tanto tempo era esta suposta obsessão de reconduzir a descendência merovíngia, há muito desaparecida, a uma posição de poder na França moderna. Face às provas apresentadas nos arquivos secretos, a causa da sobrevivência da dinastia, para além de Dagoberto II, para não mencionar a continuação de uma clara linha de descendência até ao fim do século XX, é, na melhor das hipóteses, frágil, e, na pior das hipóteses, claramente fictícia.
A Dinastia Merovíngia dos primeiros reis da França teria origem na descendência de Jesus e Maria Madalena….
Afinal, qualquer pessoa que tenha estado a investigar a sua própria árvore genealógica para além das duas ou três gerações anteriores, em breve descobre que todo o processo é complexo e problemático. Assim, mantém-se a pergunta: esta causa podia ter inspirado homens e mulheres de grande inteligência, geração após geração? É difícil imaginar que pessoas como Isaac Newton e Leonardo tivessem sido muito influenciadas, por exemplo, por uma sociedade britânica cujos objetivos fossem reconduzir ao poder os descendentes do rei Haroldo II (morto pelas tropas de Guilherme, o Conquistador, em 1066).
Para o moderno Priorado de Sião, existem grandes dificuldades na realização do seu objetivo de restaurar a descendência merovíngia. Não existe apenas o problema de transformar a França republicana na monarquia que ela rejeitou, há mais de dois séculos, mas, mesmo assim (supondo que a sucessão merovíngia pudesse ser provada), aquela mesma dinastia não tem qualquer direito ao trono porque a nação francesa não existia durante a era merovíngia. Como o escritor francês Jean Robin expôs a questão, de forma sucinta: «Dagoberto era… um rei em França, mas, de modo algum, rei da França.”
Os arquivos secretos podem parecer um completo disparate, mas a simples dimensão do esforço e dos recursos investidos neles e na manutenção das suas pretensões faz-nos hesitar. Mesmo o escritor francês Gérard de Sède, que dedica muitas páginas, minuciosamente argumentadas, à destruição das alegadas provas de defesa da causa merovíngia, apresentadas nos arquivos, admitiu que a investigação e os recursos eruditos e acadêmicos que estes implicaram eram desproporcionadamente impressionantes. Apesar de criticar severamente «este mito delirante», ele conclui, todavia, que existe um verdadeiro mistério por detrás de tudo isto. Uma característica curiosa dos arquivos é a implicação constante e subjacente de que os autores tinham acesso aos arquivos oficiais do Governo e da Polícia.
Citando apenas dois exemplos, entre muitos: em 1967, um folheto, chamado Le serpent rouge (A Serpente Vermelha), foi anexado aos arquivos e atribuído a três autores – Pierre Feugère, Louis Saint-Maxent e Gaston de Koker – datado de 17 de Janeiro de 1967, embora o talão de depósito na Biblioteca Nacional esteja datado de 15 de Fevereiro. Este extraordinário texto de treze páginas, geralmente muito apreciado como exemplo de talento poético, também engloba simbolismo astrológico, alegórico, esotérico e alquímico. Mas o que isto tem de sinistro é que os três autores foram todos encontrados enforcados, com intervalo de vinte e quatro horas, a 6/7 de Março desse mesmo ano. A implicação sugere que as suas mortes foram consequência da sua colaboração na composição de Le serpent rouge.
Contudo, a investigação subsequente revelou que a obra fora anexada aos arquivos a 20 de Março – depois de todos terem sido encontrados mortos e que o talão de depósito fora deliberadamente falsificado para indicar a data de Fevereiro. Mas, indiscutivelmente, a coisa mais espantosa em todo este estranho caso é que os três alegados autores não tinham, de fato, qualquer ligação com este panfleto ou com o Priorado de Sião… Presumivelmente, alguém aproveitara o fato destas três mortes, bizarramente sincronizadas, e usara-as para estranhos objetivos pessoais.
Mas porquê? E, como indica De Sède, decorreram apenas treze dias entre as três mortes e o depósito do panfleto na Biblioteca Nacional – o que foi um trabalho tão rápido que levantou fortes suspeitas de que o(s) verdadeiro(s) autor(es) tinha(m) conhecimento interno das investigações confidenciais da Polícia. E Franck Marie, escritor e detetive particular, provou, de forma concludente, que a mesma máquina de escrever fora usada para compor Le serpent rouge e alguns dos documentos posteriores dos arquivos secretos.
Depois verificou-se o caso da falsificação dos documentos do Lloyds Bank. Pergaminhos, alegamente do século XVII, encontrados por um sacerdote francês, no fim do século passado, e que, supostamente, provavam a continuidade da linha de descendência merovíngia, foram comprados por um cavalheiro inglês, em 1955, e depositados numa caixa-forte de uma agência do Lloyds Bank em Londres. Embora ninguém tivesse visto estes documentos, conhecia-se a existência de cartas que confirmavam o fato de estes terem sido depositados e que estavam assinados por três importantes homens de negócio ingleses, todos eles com ligações anteriores aos Serviços Secretos Ingleses.
Os merovíngios foram uma dinastia franca saliana que governou os francos numa região correspondente, grosso modo, à antiga Gália da metade do século V à metade do século VIII. Eles eram citados às vezes por seus contemporâneos como os “reis de cabelos longos” (em latim reges criniti), por não cortarem simbolicamente os cabelos (tradicionalmente, os líderes tribais dos francos exibiam seus longos cabelos como distinção dos cabelos curtos dos romanos e do clero). O termo “merovíngio” deriva do latim medieval Merovingi ou Merohingi (“filhos de Meroveu”). O domínio merovíngio foi encerrado por um golpe de Estado em 751 quando Pepino o Breve formalmente depôs Childeric III, dando início à dinastia carolíngia.
Mas durante as investigações para The Messianic Legacy. (a sequencia de The Holy Blood and The Holy Grail), Baigent, Leigh e Lincoln conseguiram provar que as cartas eram uma falsificação – embora incorporassem partes de documentos genuínos, com assinaturas verdadeiras, e cópias dos certificados de nascimento dos três homens de negócios. No entanto, a questão mais importante e de maior alcance é que quem quer que os forjasse parece ter obtido as partes genuínas dos documentos nos arquivos do Governo francês, de um modo que implica fortemente os Serviços Secretos Franceses.
Mais uma vez, somos confrontados com uma sensação de grande estranheza. Um enorme montante de tempo, esforço e talvez mesmo riscos e perigo pessoal deve ter estado envolvido na montagem deste cenário. Mas, ao mesmo tempo, em última análise, ele parece ser completa e absolutamente desprovido de significado. Nesse aspecto, todo o caso se limita a seguir a velha tradição dos Serviços (e sociedades) Secretos, em que poucas coisas são o que parecem ser e os fatos aparentemente de mais fácil compreensão podem bem ser exercícios de completa desinformação.
Continua em 2B …
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