Posted by Thoth3126 on 16/10/2020
Capítulo VI – A HERANÇA DOS TEMPLÁRIOS
Certamente que Leonardo viveu numa época em que os grandes movimentos intelectuais e místicos representavam um ímã para os que estavam ávidos de conhecimento e de poder.
Devido às hostilidades e perseguição da Igreja romana, estes movimentos tiveram de se manter secretos, mas os três principais ramos, que floresceram secretamente, foram a alquimia, o hermetismo e o gnosticismo.
O hermetismo, que foi um impulso tão importante para o iluminismo renascentista/rosacruz, e o gnosticismo, que deu origem aos cátaros, são dois desenvolvimentos das mesmas ideias cosmológicas.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Capítulo 06B – A REVELAÇÃO DOS TEMPLÁRIOS – Livro “The Templar Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ”, de Lynn Picknett e Clive Prince.
http://www.picknettprince.com/
CAPÍTULO VI – A HERANÇA DOS TEMPLÁRIOS
O mundo da matéria é o mais inferior de uma hierarquia de «mundos» – «esferas», em termos cosmológicos, «planetas» ou «dimensões», na terminologia atual – na qual o grau mais elevado e final é Deus.
O homem é um ser, outrora divino, que está «prisioneiro» do seu corpo material mas ainda retém uma centelha divina. (Uma frase hermética muito citada era: «Não sabeis que sois deuses?») É possível – na verdade é o dever do Homem – tentar a reunião com o divino. Os gnósticos expressavam esta ideia em termos religiosos (considerando a reunião com o divino como a salvação), ao passo que os herméticos a consideravam em termos mágicos, mas a ideia básica é a mesma.
É impossível traçar uma linha entre o gnosticismo e o hermetismo, tal como é impossível traçar uma linha divisória entre religião e magia. Além disso, tanto o gnosticismo como o hermetismo remontam à mesma época e lugar – o fermento de ideias que se verificou no antigo Egito, e mais próxima e particularmente em Alexandria, no primeiro e segundo séculos antes de Cristo.
Este enorme cadinho de ideias religiosas e filosóficas valeu-se de crenças de muitas culturas – grega, persa, hebraica, do antigo Egito, e mesmo de religiões do Extremo Oriente – para criar ideias que sustentam toda a nossa cultura. (A estreita relação entre gnosticismo e hermetismo é ilustrada pelo fato de os «Evangelhos gnósticos», encontrados em Nag Hammadi, incluírem tratados que contêm diálogos de Hermes Trismegisto – Thoth).
A cosmologia de Pistis Sophia – o Evangelho gnóstico, em que Maria Madalena tem um papel tão importante – não difere, no essencial, da cosmologia dos magos renascentistas, como Marsílio Ficino, Cornélio Agripa ou Robert Fludd. As mesmas ideias, a mesma cultura, época e lugar deram origem à alquimia. Embora também se valesse de conceitos muito mais antigos, a alquimia era – no sentido em que é, atualmente, entendida – um produto do Egito dos primeiros séculos da era cristã. As raízes da alquimia e os seus paralelos com o hermetismo e o gnosticismo são explorados em The Origins of Alchemy in Graeco-Roman Egypt (1970) de Jack Lindsay.
Não é difícil compreender o fascínio do gnosticismo, embora ele não fosse uma opção fácil – dada a ênfase na responsabilidade pessoal das ações individuais -, mas a ameaça para a Igreja de Roma é óbvia. Como supostamente Hermes Trismegisto escreveu: «Oh! Que milagre é o Homem!», uma exclamação que encerra a ideia de que a Humanidade contém a centelha divina. Nem os gnósticos nem os herméticos se humilhavam ante o seu deus. Ao contrário dos católicos, eles não se consideravam criaturas inferiores e perversas destinadas ao Purgatório, se não mesmo ao Inferno.
O reconhecimento da sua centelha divina conferia-lhes, automaticamente, o que hoje chamaríamos «autoestima» ou confiança – o ingrediente mágico do processo de realização do potencial individual. Esta foi a chave no período do Renascimento no seu todo, e a coragem, que ela motivou, pode ser constatada na súbita abertura ao mundo através das explorações marítimas e da exploração de novas terras.
Pior ainda, no que diz respeito à Igreja, esta ideia de potencial individual de divindade implicava que as mulheres estavam em pé de igualdade com os homens, em todos os sentidos. As mulheres gnósticas sempre tiveram voz e celebravam mesmo cerimônias religiosas: esta foi uma das maiores ameaças que o gnosticismo colocou à ortodoxia patriarcal da Igreja Católica. Além disso, a ideia do status essencialmente divino da Humanidade (homem e mulher) não estava de acordo com a ideia católica de «pecado original» – a ideia de que todos os homens e mulheres nascem pecadores, devido à queda de Adão e Eva (especialmente da última).
Porque todas as crianças são resultado do ato sexual «indigno», esta ideia associava as mulheres e as crianças, de forma inextricável, a uma espécie de conspiração perpétua contra os homens puros e um deus vingativo. Os gnósticos e os herméticos, de modo geral, não tinham nada a ver com «pecado original».
Cada indivíduo era encorajado a explorar os seus mundos interior e exterior por si próprio – experimentando a gnósis, conhecimento do divino. Esta insistência na salvação individual era totalmente contrária à insistência da Igreja de que apenas os sacerdotes eram os canais através dos quais Deus podia se comunicar com a Humanidade. A ideia gnóstica de uma ligação direta com Deus, por assim dizer, ameaçava a própria existência da Igreja romana.
Sem o domínio sacerdotal sobre o rebanho, que possibilidade tinha a Igreja de manter o seu controle sobre tudo e todos? Como no caso da alquimia, foi prudente manter o gnosticismo e o hermetismo ocultos dos olhos da Igreja romana. A combinação de ciência proibida e de filosofia (conhecimento verdadeiro) excomungada significava que os praticantes destas crenças estavam para além dos limites aceitáveis, e foi inevitável a sua associação em sociedades e redes secretas.
Muitas destas pessoas (e os alquimistas renascentistas incluíam mulheres) tinham crenças invulgares relativamente a questões como a arquitetura e a matemática, além de alimentarem ideias teológicas, excepcionalmente heterodoxas. Estas pessoas eram perigosas e tornadas duplamente perigosas pelo poder do segredo que é hábito das heterodoxias. Uma manifestação importante desta heresia foi o movimento da Ordem Rosacruz.
O termo «rosacruz» data apenas do início do século XVII, mas foi certamente criado para descrever um movimento que, nessa altura, já estava bem implantado. O seu primeiro florescimento importante, como o de tantos outros movimentos relevantes, verificou-se durante a Renascença – de fato, não é exagero dizer que a Ordem Rosacruz era a própria Renascença. A segunda metade do século XV conheceu uma explosão de interesse no hermetismo e nas ciências ocultas em toda a Europa.
Muito pouco da verdadeira informação envolvida era, de fato, nova, embora existissem muitas influências e personalidades contemporâneas, e esta época conheceu um desejo sem precedentes de explorar as implicações mais vastas do hermetismo. Subitamente, este foi considerado como tema de debate intelectual, para além dos enclaves secretos que, até então, tinham sido os seus guardiães. Se dependesse dos entusiastas renascentistas, o hermetismo deixaria de ser secreto.
O aumento súbito do fascínio por tudo o que era hermético centrava-se, nesta época, na corte dos Médici, em Florença (onde teve uma poderosa influência sobre Leonardo da Vinci, entre muitos outros grandes pensadores). Sob o patrocínio dos Medici – especialmente, Cosimo, o Velho (1389-1460) e seu neto Lourenço, o Magnífico (1449-1492) – empreendeu-se a primeira grande síntese de muitas e diversas ideias ocultistas.
Não só Cosimo enviou emissários em busca de pergaminhos, escritos e tomos lendários, como o Corpus Hermeticum, alegadamente escrito pelo próprio Hermes (Thoth) Trismegisto, como também patrocinou a sua tradução. A corte dos Medici era um salão para famosos – e talvez com má reputação – pensadores ocultistas, como Marsilio Ficino (1433-1499), tradutor de Corpus Hermeticum, e Pico della Mirandola (1463-1494). A maior contribuição deste último foi a introdução da teoria e da prática cabalística neste cadinho de ideias ousadas.
Mirandola, talvez devido a um falso sentido de segurança que lhe oferecia o seu aristocrático patrono, foi demasiado explícito nas suas ideias ocultistas e, em breve, viu os seus livros incluídos no Index papal, e a si próprio sob a ameaça do papa Inocêncio VIII. Durante algum tempo, pareceu que Mirandola seguiria o caminho dos que se opunham ao Vaticano, mas aconteceu uma coisa estranha.
O novo papa, Alexandre VI – membro da família Bórgia -, misteriosamente, deixou cair todas as acusações e ameaças contra ele, dirigindo-lhe uma carta pessoal de apoio – mas por quê? Talvez uma pista resida no fato de este papa ter decorado o seu apartamento privado do Vaticano com murais representando antigos temas egípcios, incluindo a deusa ÍSIS.
Os “historiadores (eruditos) modernos” tendem a menosprezar o poder e a influência do oculto. Se chegam a discuti-lo, é apenas para sublinhar, por comparação, o triunfo da Idade das Luzes, quando estes «absurdos supersticiosos» foram rejeitados por todos os que tinham o sentido da razão. Mas o ocultismo sobreviveu e, de fato, tomou-se a força que maior influência exerceu sobre a Renascença. O fascínio com o ocultismo não foi apenas um sintoma da nova abertura às ideias, mas foi, de fato, a causa.
D. Frances A. Yates, numa série de livros, fez o levantamento da história do verdadeiro papel do ocultismo no surgimento da Renascença. Como ela demonstra, a nova filosofia ocultista expandiu-se do norte da Itália para o resto da Europa, culminando na campanha europeia do grande pregador hermético Giordano Bruno (1548-1600), queimado pela igreja romana por heresia. Fazendo largas viagens por países como a Alemanha e a Inglaterra, ele pregava um retorno ao que era essencialmente a antiga religião egípcia e foi caracteristicamente explícito em relação ao que ele considerava o mal da corrente dominante do catolicismo romano.
Como vimos, pensava-se que o hermetismo tinha sido fundado pelo próprio «Hermes três-vezes-grande», via fragmento da Tábua da Esmeralda, na qual estavam inscritos vários e profundos segredos. Embora poucos herméticos acreditassem, de fato, neste mito, eles acreditavam no continuado significado do panteão egípcio. Mas, apesar de a maioria dos herméticos acreditar que os seus segredos provinham do Egito faraônico anterior à época de Moisés, eles provinham de uma época mais próxima da era de Jesus.
As raízes das suas ideias podem ser reconstituídas até ao Egito dos séculos I-III: para além dessa época, temos de admitir a influência de muitas culturas. Contudo, estudos recentes reconheceram que, enquanto gerações anteriores tinham tendência para acentuar a influência da filosofia grega, as ideias, que acabaram por fazer remontar essa influência aos antigos egípcios, tiveram mais influência no desenvolvimento das ideias herméticas do que se pensava até então.
Os herméticos reconheceram que, embora a antiga Grécia tivesse muito a oferecer aos pensadores, era sobretudo o Egito que (sempre) detinha as chaves do conhecimento que eles procuravam. Também perceberam que esse conhecimento não estava lá pronto a ser apreendido: o sistema egípcio fora codificado numa escola de mistério, e os segredos exigiam que o estudante dedicado os adquirisse pelo esforço e dedicação nos estudos, através de fases árduas de iniciação progressiva.
Giordano Bruno chegou a Inglaterra em 1583 e, rapidamente, travou conhecimento com pessoas ilustres como Sir Philip Sidney, autor – entre várias obras – de Arcadia. Sidney, que fora aluno do grande ocultista inglês Dr. John Dee (1527-1606), que era uma figura importante deste mundo misterioso porque Bruno dedicou-lhe duas das suas obras, enquanto esteve na Inglaterra.
Também é possível que uma outra figura destes círculos entrecruzados da sociedade isabelina e do ocultismo estivesse presente, quando Bruno e Sidney se encontraram – um certo William (n.t. Francis Bacon-Saint Germain) Skakespeare. (É significativo que o original Globe Theatre de Londres fosse construído segundo os princípios da geometria sagrada e também que o último drama de Shakespeare, The Tempest, seja considerado relativo ao Dr. Dee, encarnando muitos conceitos rosacruzes.)
Em Bruno, temos uma figura de estatura semelhante a Lutero ou a Calvino, mas o seu nome raramente é mencionado na história que é ensinada nas escolas. Como eles – e, na verdade, como os grandes nomes da Contra-Reforma -, ele foi intransigente e implacável, à maneira da sua época. Mas, ao contrário deles, Bruno não pregava qualquer versão de um cristianismo oficial, e, apenas por essa razão, os seus dias estavam contados.
Acrescentemos a isto a sua natureza bombástica, e é demasiado fácil prever o seu destino. Bruno foi condenado à fogueira em 1600, em Roma, depois de ter sido traído e denunciado à Inquisição por um discípulo desencantado. Bruno fundou a sua sociedade secreta, a Giordanisti, na Alemanha. Pouco se sabe sobre ela, mas ela tornou-se uma das principais influências no desenvolvimento da Ordem Rosacruz na Europa.
Mas igual crédito deve ser concedido ao já citado Dr. John Dee, um verdadeiro mago galês. Homem de muitos talentos, não foi apenas astrólogo e conselheiro de Isabel I (n.t. mãe de Francis Bacon) mas também chefe de espionagem – além de alquimista e necromante. (É um fato que não é muito conhecido: o número de código do Dr. Dee, como espião, era 007 !). Destas raízes ocultistas nasceu a Ordem Rosacruz, um dos movimentos mais misteriosos da história.
A sua existência tornou-se conhecida quando dois panfletos anônimos, Fama et Fraternitatis, ou Uma Descoberta da Fraternidade da Muito Nobre Ordem da Rosacruz e Confessio Fraternitatis, ou A Confissão da Louvável Fraternidade da Honorável Ordem da Rosacruz, circularam na Alemanha, em 1614 e 1615. Estas publicações anunciavam a existência de uma irmandade secreta de conhecedores de magia – os rosacruzes, que tomaram o nome do seu mítico fundador, Christian Rosenkreutz (Cristão Rosa Cruz).
Supostamente, este herói viajou pelo Egito e pela Terra Santa, coligindo conhecimento secreto e ocultista, que transmitiu a uma nova geração de adeptos na Europa. Mas se a sua vida foi invulgar, a sua morte e enterro ainda foram mais bizarros. Diz-se que Rosen Kreutz morreu aos 106 anos, em 1484, e foi enterrado num lugar secreto que se mantinha iluminado por um «sol interior». Também se dizia que o corpo se manteve incorrupto – permaneceu com o aspecto de vivo e não se decompôs (um fenômeno que parece acompanhar os estados pós- morte de um número surpreendente de pessoas, principalmente de santos católicos).
Estes manifestos rosacruzes, como as publicações se tornaram conhecidas, não revelavam qualquer segredo novo, mas, ao anunciar a existência da irmandade, eles também sugeriam que qualquer pessoa que desejasse obter mais informações entrasse em contato com eles. Provavelmente, este era um tipo de teste de iniciativa, porque não se indicava qualquer endereço para a correspondência. Este processo foi suficiente para que os manifestos merecessem o desprezo de todos os “historiadores (os “eruditos”) importantes”, que os consideraram um gênero de mistificação incompreensível.
Mas, como demonstrou Frances Yates, os autores dos manifestos revelaram um profundo e genuíno conhecimento da sabedoria hermética, ocultista e alquímica. Curiosamente, os manifestos consideravam a alquimia como uma disciplina espiritual, de modo algum relacionada com a criação de ouro, que eles designaram de «ímpio e maldito».
Seja qual for a verdade relativamente às origens dos rosacruzes, eles influenciaram muitos pensadores famosos, como Robert Fludd (1574-1637) e Sir Isaac Newton. Mesmo, surpreendentemente, o famoso racionalista Francis (Saint Germain) Bacon foi, essencialmente, um rosacruz. No entanto, isto faz sentido porque o movimento Rosacruz era uma síntese de todos os conceitos herméticos e ocultistas: a única coisa verdadeiramente nova era o fato de agora terem um nome.
E Francis Yates não tem escrúpulos em descrever Leonardo – precisamente ele – como «um rosacruz precoce». Como vimos, o nome de Leonardo figura na lista dos grão-mestres do Priorado de Sião, mas ele não se teria intitulado um rosacruz porque, na sua época, o termo ainda não fora criado. Contudo, outros nomes daquela lista não têm esse problema – como Johann Valentin Andraea (1586-1645), o dramaturgo e poeta alemão que fora também pastor luterano. Os Arquivos Secretos afirmam que ele esteve ao leme do Priorado de Sião entre 1637 e 1654, mas é muito mais largamente aceito que foi ele o autor dos manifestos rosacruzes ou, pelo menos, o seu inspirador.
Em definitivo, Andrea escreveu o que, essencialmente, foi o terceiro manifesto, O Casamento Químico de Christian Rosenkreutz, em 1616, muitos anos antes de, alegadamente, se ter tornado mestre do Priorado. Talvez fosse o seu papel de líder da Ordem Rosacruz que lhe assegurou o cargo. Parece que o tema da Rosacruz era o fio comum que uniu os quatro alegados grão-mestres, cujo exercício do cargo abrangeu todo o século XVII. Em certo sentido, este fato aumenta a credibilidade da lista porque foi apenas a partir de 1970 que Frances Yates provou a existência e a influência do legado rosacruz.
A sucessão rosacruz entre os grão-mestres do Priorado começou, no mínimo, com Robert Fludd, o alquimista inglês que exerceu o cargo entre 1595 e 1637. Fludd afirmou que tentara encontrar os rosacruzes depois de ler os manifestos, mas não conseguira. No entanto, ele escreveu muito sobre o tema e incorporou ideias dos manifestos nas suas obras extremamente influentes, como Utriusque Cosmi Historia (História de Dois Mundos) (1617) . (Curiosamente, o comentador ocultista Lewis Spencer observou que Robert Fludd, escrevendo por volta de 1630, usa «linguagem que sugere fortemente a Maçonaria» e que organizou a «sua sociedade» em graus.) A Fludd sucedeu o próprio Andraea, que foi grão-mestre até à morte, em 1654, a quem, por sua vez, sucedeu Robert Boyle, o químico de Oxford.
Tanto quanto se pode averiguar, Boyle nunca mencionou a palavra «rosacruz» nos seus escritos, mas eles revelam mais do que uma familiaridade passageira com o conteúdo dos manifestos. E quando Boyle fundou o que se tornaria a Royal Society, sob o nome de «O Colégio Invisível», este foi uma referência irônica à descrição comum que os rosacruzes faziam de si próprios: uma sociedade «invisível».
Depois surgiu Isaac Newton, alegado grão-mestre do Priorado entre 1691 e 1727. Há muito conhecido como praticante de alquimia, também possuía um exemplar da tradução inglesa dos manifestos, embora haja provas de que reconhecia a história de Rosenkreutz como o mito que se destinava a ser. (Os comentadores esotéricos, pelo menos, sempre compreenderam que ele não se destinava a ser considerado como verdade literal.) Só recentemente foi reconhecido o grau de envolvimento de Newton com o ocultismo: mais de 10% dos seus livros eram tratados alquímicos. E o mais significativo, talvez, é que ele também desenhou uma planta reconstruída do Templo de Salomão.
A Ordem Rosacruz também teve uma forte ligação com o florescimento da Maçonaria. Os primeiros dois maçônicos ingleses conhecidos – Elias Ashmole e o alquimista Sir Robert Moray – estavam ligados ao movimento Rosacruz. Ashmole, em particular, era um conhecido rosacruciano, enquanto Moray, segundo Frances Yates, «fez mais, provavelmente, do que qualquer outro indivíduo para encorajar a fundação da Royal Society».
Também existem várias referências na primitiva literatura maçônica que, explicitamente, associam «os Irmãos da Ordem Rosacruz» aos maçônicos, embora elas pareçam indicar que as duas irmandades se mantinham sociedades relacionadas – mas distintas. A interligação entre Rosacruz, Maçonaria, hermetismo e alquimia – prévia e cuidadosamente reconstruída por historiadores como Frances Yates – foi dramaticamente confirmada, em anos recentes, pela descoberta de uma colecção de documentos que ilustram o grau de interligação destes movimentos e temas.
Em 1984, Joy Hancox, uma professora de Música de Manchester, em consequência da investigação da história da casa em que vivia, deparou com uma coleção de papéis, sobretudo diagramas e desenhos geométricos, que tinham sido reunidos por John Byrom (1691-1763) e conservados pelos seus descendentes, que desconheciam a sua importância. Estes documentos, que são mais de 500, estão relacionados, principalmente, com geometria sagrada, arquitetura e símbolos cabalísticos, maçônicos e alquímicos.
A importância da «Coleção Byrom» reside na luz que lança sobre a relação entre estes temas e sobre os indivíduos – a nata da comunidade intelectual e científica da época – que se preocupavam com eles. Byrom, uma figura importante do movimento jacobita, que pretendia repor os Stuarts no trono de Inglaterra, era membro da Royal Society e um maçônico. Fazia parte do «Cabala Club», também conhecido por «Sun Club», que se reunia num edifício de St. Paul’s Churchyard e que também albergava uma das quatro primeiras lojas maçônicas da Grande Loja da Maçonaria Inglesa. O seu diário revela que ele estava em contato com os mais importantes intelectuais da sua época.
O trabalho, incorporado na sua coleção, foi deduzido a partir de todas as sociedades e indivíduos que já discutimos, incluindo os rosacruzes John Dee (com quem Byron estava relacionado pelo casamento), Robert Fludd, Robert Boyle – e mesmo os Cavaleiros Templários.
A coleção inclui diagramas que especificam a geometria sagrada de numerosos edifícios de muitas épocas e, por conseguinte, revela a continuidade do conhecimento dos princípios subjacentes a estes edifícios. Por exemplo, um diagrama mostra que o desenho da capela de King’s College, em Cambridge, de meados do século XV – «uma das últimas grandes estruturas góticas deste país» – era baseado na Árvore da Vida cabalística (uma conclusão a que Nigel Pennick, uma autoridade em simbolismo esotérico, já chegara).
Aparentemente, o desenho da capela foi inspirado na catedral de Albi, do século XIV, no Languedoc, um antigo centro cátaro. A coleção também inclui um diagrama da Temple Church de Londres, assim como de outros edifícios dos Cavaleiros Templários, demonstrando que todos estes edifícios faziam parte de uma tradição contínua e que os membros das irmandades rosacruz/maçônica do século XVIII tinham consciência dela. A coleção Byrom inclui também elementos relativos ao Templo de Salomão e à Arca da Aliança.
Se, como parece ser o caso, os maçônicos são descendentes dos Templários, seria possível que os rosacruzes também pertencessem à mesma linhagem? O próprio nome «rosacruz» transmite uma forte sugestão daqueles cavaleiros, com o seu emblema de uma cruz vermelha ou rosa. Em Chemical Wedding de Andraea, a cruz vermelha sobre fundo branco é um tema recorrente e a sua obra, de modo geral, transmite fortes conotações com as histórias do Graal – e, por conseguinte, com os Templários. E a presença de elementos templários nos documentos de Byrom, predominantemente rosacruz, sugere que esta fraternidade e os maçônicos partilhavam uma origem comum, a Ordem dos Cavaleiros Templários.
Contudo, enquanto os maçônicos eram, e são, uma organização definida, com membros e lugares de reunião conhecidos, a Ordem Rosacruz tem sido considerada bastante mais elusiva, a ponto de a palavra «rosacruz» ser tomada mais como referência a um ideal do que à descrição da qualidade de membro daquela associação – na verdade, os próprios manifestos referem a Ordem Rosacruz como uma «sociedade invisível».
Mas a primeira sociedade rosacruz «concreta e visível» foi a Ordem da Cruz Ouro e Rosa, fundada na Alemanha, em 1710, por Sigmund Richter, cujo principal objetivo era a investigação alquímica. Contudo, sessenta anos mais tarde, esta ordem transformou-se numa loja maçônica da Estrita Observância Templária, embora conservasse a sua natureza alquímica. Sob esta forma, teve membros muito influentes, incluindo Franz Anton Mesmer (1734-1815), que descobriu o «magnetismo animal» (embora não fosse, como é frequentemente afirmado, o pioneiro do hipnotismo). O próprio fato de uma sociedade rosacruz se poder transformar, tão facilmente, numa loja da Estrita Observância Templária revela a sua herança comum.
Depois de 1750, a história torna-se irremediavelmente confusa. Onde outrora existiam claras distinções entre maçônicos, rosacruzes e outras organizações que reclamavam ser de origem templária, subitamente, todos estes grupos se tornam tão intimamente entrelaçados que parecem virtualmente idênticos. Por exemplo, nalgumas formas de maçonaria, os iniciados tomam o título de «Cavaleiro Templário» e de «rosacruz», e é impossível concluir se isto acontece porque existia uma genuína linha de descendência ou, simplesmente, porque estes títulos tinham para eles uma ressonância grandiosa. Calcula-se que mais de 800 graus e rituais foram acrescentados à Maçonaria entre 1700 e 1800.
As tentativas para encontrar uma linha direta de sucessão templária na Maçonaria e na Ordem Rosacruz, depressa se malograram devido à enorme proliferação de ritos e sistemas maçônicos. Esta situação é particularmente confusa porque, em muitos casos, é impossível determinar quais os sistemas que são inovações do século XVIII e quais são os genuinamente mais antigos.
Contudo, é possível encontrar um fio comum entre certos sistemas maçônicos, que foram renegados ou rejeitados pela Maçonaria oficial. Existem variações da Maçonaria «ocultista», e todas remontam à Estrita Observância Templária do barão Von Hund, cujo desenvolvimento ocorreu principalmente na França. A chave desta situação é um sistema maçônico, conhecido por Rito Escocês Retificado, que se dedica especificamente a estudos ocultistas e que atribui maior importância às suas origens templárias. É também esta a forma de Maçonaria que tem ligações mais próximas com as sociedades dos rosacruzes.
O uso da palavra «Templário» tornou-se um problema para esta escola de Maçonaria. Existe um atrito entre os seus membros e a corrente dominante dos maçônicos, que, oficialmente, rejeitam a sugestão de origens templárias – ficando especialmente irritados com a seguinte declaração de Von Hund: «Todo maçônico é um Templário.» Mais preocupante era a suspeita que eles despertavam às autoridades, porque corriam numerosos rumores sobre o plano secreto dos Templários para se vingarem da monarquia francesa e do papado pela extinção da sua ordem e pela excomunhão e queima na fogueira de seu último Grão Mestre conhecido, Jacques de Molay.
Por isso, realizou-se em Lyons, em 1778, uma convenção de «maçônicos templaristas» na qual foi criado o Rito Escocês Retificado, com uma ordem interior chamada o Chevalier Bienfaisant et la Cité Sainte. Esta ordem, no entanto, era apenas outra designação de «Templários».
Continua …
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