terça-feira, 5 de novembro de 2013

A VIDA DOS CAMPONESES DE OUTRORA

Foto: E havia pitangas no seu twempo... era lá por novembro em nossos campos... então eram umas três semanas felizes... as pitangueirinhas baixinhas... vermelhas de frutos maduros... comíamos a nos fartar... 
Em seguida, vinha o verão com muita fruta... eram uvas, pêssegos e muita fruta do mato... as gabirobas eram gostosas, mas ficava um apimentamento na língua... Em fevereiro, as goiabas do pomar... mais gostosos, porém, eram os araçás do campo, na beira das sangas... os araçás-limões, então... baixinhos os pés... os frutos grandes para o seu porte... as velhas faziam doce... faziam doce de tudo... das cascas de laranja, das abóboras, das cascas de melancia, dos figos verdes... ah os figos... a casca queimava os lábios de um leite ácido que tinham... 
No inverno tinha muita laranja e bergamota à vontade, mas ainda no verão, havia os campos de melancia...ninguém vendia melancia... aliás, ninguém vendia nada... só pra gente da cidade que vinha buscar de carroça grande...  quem não tinha vinha, vinha buscar um balaio de batata ou de cebola, uma cosedura de feijão, umas vagens pro almoço... carne quase não tinha... às vezes, de quanto em quanto tempo, alguém carneava uma rês...avisava os vizinhos... eu quero um peso de costela... eu, carne pra bife... fazia-se bife de quase tudo. só não dava de pescoço... e se pagava, barato, pesado na balança de gancho... o bicho carneado, suspenso por um balancim de carroça numa árvore forte, ia sendo divido... em pouco não ficava nada... o preço era de cabeça... dois quilos... dez mirréis... os mais pobres, sem dinheiro algum... muito ninguém tinha... não estaria lá... mas, os mais pobres levavam os miúdos, fígado, rim, cabeça, até mesmo os bofes, diziam, pros cachorros, não se cobrava por isso... as tripas iam pra a sanga... esgotadas e bem lavadas... depois descheiradas com limão e viradas pelo avesso, viravam linguiça... junto com o boi, morria, geralmente, algum porco, para fazer a mistura da carne moída para a linguiça... salame era coisa de estancieiro rico... Quem vinha para ajudar, o carneador, que sabia corear sem estragar o couro com picotes de faca, levava um peso de graça... o resto, todo mundo sabia fazer... sem geladeira, tudo tinha de ser comido muito ligeiro e ninguém levava muito...
Todo muito criava galinhas... chocadas no mato, apareciam com uma ninhada de pintinhos, quando as raposas ou as mãos-peladas não comiam tudo... Depois, vieram os galinheiros para proteger dos bichos... e os cachorrros cuidadavam, especialmente de noite... mas tinha cachorro comedor de ovo... então se dava pra ele ovo com pimenta ou quebrava-se um ovo quente na boca do bicho só pra perder o vício...
Só muito tempo depois vieram o caminhão e o atravessador... comprava tudo por quse nada e vendia caro na cidade...  muitos anos mais tarde, vieram os carneadores dos sábados... alguns hoje têm matadouros grandes e até frigoríficos...
Veio então a desgraça do ladrão de gado... de  noite, a tiro, levava um boi de serviço... uma vaca de leite... e lá se ficava alguém a recuperar-se da miséria...
   E havia pitangas no seu tempo... era lá por novembro em nossos campos... então eram umas três semanas felizes... as pitangueirinhas baixinhas... vermelhas de frutos maduros... comíamos a nos fartar...seguida, vinha o verão com muita fruta... eram uvas, pêssegos e muita fruta do mato... as gabirobas eram gostosas, mas ficava um apimentamento na língua... Em fevereiro, as goiabas do pomar... mais gostosos, porém, eram os araçás do campo, na beira das sangas... os araçás-limões, então... baixinhos os pés... os frutos grandes para o seu porte... as velhas faziam doce... faziam doce de tudo... das cascas de laranja, das abóboras, das cascas de melancia, dos figos verdes... ah os figos... a casca queimava os lábios de um leite ácido que tinham...
   No inverno tinha muita laranja e bergamota à vontade, mas ainda no verão, havia os campos de melancia...ninguém vendia melancia... aliás, ninguém vendia nada... só pra gente da cidade que vinha buscar de carroça grande... quem não tinha vinha, vinha buscar um balaio de batata ou de cebola, uma cosedura de feijão, umas vagens pro almoço... carne quase não tinha... às vezes, de quanto em quanto tempo, alguém carneava uma rês...avisava os vizinhos... eu quero um peso de costela... eu, carne pra bife... fazia-se bife de quase tudo. só não dava de pescoço... e se pagava, barato, pesado na balança de gancho... o bicho carneado, suspenso por um balancim de carroça numa árvore forte, ia sendo divido... em pouco não ficava nada... o preço era de cabeça... dois quilos... dez mirréis... os mais pobres, sem dinheiro algum... muito ninguém tinha... não estaria lá... mas, os mais pobres levavam os miúdos, fígado, rim, cabeça, até mesmo os bofes, diziam, pros cachorros, não se cobrava por isso... as tripas iam pra a sanga... esgotadas e bem lavadas... depois descheiradas com limão e viradas pelo avesso, viravam linguiça... junto com o boi, morria, geralmente, algum porco, para fazer a mistura da carne moída para a linguiça... salame era coisa de estancieiro rico... Quem vinha para ajudar, o carneador, que sabia corear sem estragar o couro com picotes de faca, levava um peso de graça... o resto, todo mundo sabia fazer... sem geladeira, tudo tinha de ser comido muito ligeiro e ninguém levava muito...Todo muito criava galinhas... chocadas no mato, apareciam com uma ninhada de pintinhos, quando as raposas ou as mãos-peladas não comiam tudo... Depois, vieram os galinheiros para proteger dos bichos... e os cachorros cuidavam, especialmente de noite... mas tinha cachorro comedor de ovo... então se dava pra ele ovo com pimenta ou quebrava-se um ovo quente na boca do bicho só pra perder o vício...
   Só muito tempo depois vieram o caminhão e o atravessador... comprava tudo por quase nada e vendia caro na cidade... muitos anos mais tarde, vieram os carneadores dos sábados... alguns hoje têm matadouros grandes e até frigoríficos...
   Veio então a desgraça do ladrão de gado... de noite, a tiro, levava um boi de serviço... uma vaca de leite... e lá se ficava alguém a recuperar-se da miséria...
 

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