terça-feira, 5 de novembro de 2013

MEMÓRIAS DE ESCOLA E VIDA

Foto: O velho limoeiro encheu-se de parasitas... quantas vezes daqui, por dois longos anos, observei o mato em frente. O que haverá por trás dele? Nunca soube. São as brumas do desconhecido. Como os anos eram longos nesse tempo... O Natal custava uma eternidade para chegar... os dias eram enormes... as noites, sem luz elétrica e sem mídia,... os ventos nas noites de tempestade... o roncar das águas dos arroios nas grandes chuvas de inverno... tudo ficava isolado... nunguém podia ir a parte alguma... Depois, tudo serenava e voltava a ser como sempre... apenas silêncio... No ermo onde morávamos, nunca aparecia um carro... somente o padre... um velho capuchinho... umas duas vezes por ano vinha com seu velho gipe americano... eu achava bonito... um dia, bati-me dali e fiz-me frade... mas os matos, os riachos, os rochedos, o lajeado grande... esses ficaram na minha alma... o corujão mocho da figueira velha do tronco oco... a cascavel em que eu jogava pedras na fenda do rochedo alto... os lagartos cinzentos que fugiam de mim... esses habitam a minha alma para todo sempre... junto com os sabiás que poetavam ao entardeder com seus papos alaranjados por entre os ramos, com trinados intermináveis... e os bem-te-vis... os joões-de-barro, forneiras, a gente chamava,... os ninhos... os filhotes, no seu tempo... buscava lenha com mamãe pelo campo e pela beira do mato... galhos secos que a gente catava e trazia para fogo da noite e o café da manhã... todos os dias a mesma coisa... e era bonito... não havia rotina... o mesmo pão era tão gostoso... sem geladeira... sem lâmpada... só o velho lampeão à noite... o vidro embaçado de fumaça, tisnado, a gente dizia... a alma não... mamãe lia para agente... e se vivia feliz...
   O velho limoeiro encheu-se de parasitas... quantas vezes daqui, por dois longos anos, observei o mato em frente. O que haverá por trás dele? Nunca soube. São as brumas do desconhecido. Como os anos eram longos nesse tempo... O Natal custava uma eternidade para chegar... os dias eram enormes... as noites, sem luz elétrica e sem mídia,... os ventos nas noites de tempestade... o roncar das águas dos arroios nas grandes chuvas de inverno... tudo ficava isolado... nunguém podia ir a parte alguma... Depois, tudo serenava e voltava a ser como sempre... apenas silêncio... No ermo onde morávamos, nunca aparecia um carro... somente o padre... um velho capuchinho... umas duas vezes por ano vinha com seu velho gipe americano... eu achava bonito... um dia, bati-me dali e fiz-me frade... mas os matos, os riachos, os rochedos, o lajeado grande... esses ficaram na minha alma... o corujão mocho da figueira velha do tronco oco... a cascavel em que eu jogava pedras na fenda do rochedo alto... os lagartos cinzentos que fugiam de mim... esses habitam a minha alma para todo sempre... junto com os sabiás que poetavam ao entardeder com seus papos alaranjados por entre os ramos, com trinados intermináveis... e os bem-te-vis... os joões-de-barro, forneiras, a gente chamava,... os ninhos... os filhotes, no seu tempo... buscava lenha com mamãe pelo campo e pela beira do mato... galhos secos que a gente catava e trazia para fogo da noite e o café da manhã... todos os dias a mesma coisa... e era bonito... não havia rotina... o mesmo pão era tão gostoso... sem geladeira... sem lâmpada... só o velho lampeão à noite... o vidro embaçado de fumaça, tisnado, a gente dizia... a alma não... mamãe lia para agente... e se vivia feliz... 
 

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