terça-feira, 1 de abril de 2014

LITERATURA ITALIANA - LUIGI PIRANDELLO


LITERATURA ITALIANA – LUIGI PIRANDELLO
Dramaturgo italiano nascido em Agrigento, na Sicília, em 1867 e falecido em Roma em 1936.
Pirandello constitui-se em um dos mais criativos dramaturgos italianos do fim do século XIX e início do século XX. Caracteriza-se por seu humor profundamente inovador.

O humor se constrói sempre sobre as questões mal resolvidas da sociedade. Além de grande narrador e dramaturgo, escreveu também textos teóricos na área da literatura. No aspecto teórico separa o cômico do humorístico. A atitude humorística elimina o distanciamento e a superioridade em que aquele que ri procura entender as razões que o levaram ao riso.
O seu primeiro grande sucesso foi o romance O Finado Mattia Pascal, escrito nas noites de vigília enquanto cuidava a esposa doente. Em 1925, após a morte da esposa, funda a companhia Teatro d’Arte di Roma com a qual viaja pelo mundo tendo se apresentado até mesmo na Broadway com imenso sucesso de suas comédias. Em 1934, recebe o Prêmio Nobel de Literatura.

Obras de Pirandello:
Duas de suas obras são mais conhecidas universalmente:
O Finado Mattia Pascal. Il Fu Mattia Pascal.
Seis Personagens à Procura de um Autor. Sei Personaggi in cerca d'Autore.

Demais obras do autor traduzidas para o português:
A armadilha: contos. Porto: Portugalia, 1946.
A excluída.São Paulo: Germinal.
A luz da outra casa: novelas escolhidas. São Paulo: Piratininga. 1932.
A morta e a viva (e outras novelas). São Paulo: Martins. 1960.
Cadernos de Serafino Gubbio Operador. Petrópolis: Vozes. 1990.
Dona Mimma (Novelas para um ano). São Paulo: Berlendis & Vertecchia. 2002.
Entre duas sombras (e outras novelas).São Paulo: Martins. 1962.
Esta noite improvisa-se.Lisboa: Estampa / Seara Nova. 1974.
Kaos e outros contos sicilianos. São Paulo: Nova Alexandria. 2001.
O enxerto, o homem, a besta e a virtude. São Paulo: Edusp. 2003.
O humorismo. São Paulo: Experimento. 1996.
O marido de minha mulher (e outras novelas). São Paulo: Martins. 1963.
O velho Deus (Novelas para um ano). São Paulo: Berlendis & Vertecchia. 2002.
O velório (e outras novelas). São Paulo: Martins. 1963.
Os gigantes da montanha. Rio de Janeiro: 7 Letras. 2005.
Os velhos e os moços. São Paulo: Instituto Progresso Editorial. 1947.
Seis personagens à procura de autor. São Paulo: Peixoto Neto. 2004.
Sol e sombra (e outras novelas). São Paulo: Martins. 1963.
Henrique IV e Pirandello: roteiro para uma leitura. Aurora Fornoni Bernardini. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1990.
Um, nenhum e cem mil. São Paulo: Cosac & Naify.
Uma jornada (Novelas para um ano). São Paulo: Berlendis & Vertecchia. 2006.
Vestir os nus. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Veja-se o exemplo do gostoso humor de Pirandello:

“Todo suado e empoeirado, padre Elígio desce da escada e vem respirar um pouco de ar fresco, na pequena horta que conseguiu fazer nascer aqui, atrás da abside, protegida, em toda a volta, por fasquias e puas de madeira.

- Ora, meu reverendo amigo – digo-lhe, sentado na mureta, o queixo apoiado no castão da bengala, enquanto ele cuida de suas alfaces. – Não me parece mais, o atual, tempo de escrever livros, nem por brincadeira. No que diz respeito à literatura, como a tudo o mais, devo repetir meu costumeiro estribilho: “Maldito seja Copérnico!“

- Oh, oh, oh, que tem Copérnico a ver com isso?! – exclama Padre Elígio, erguendo o busto, o rosto afogueado sob o grande chapéu de palha.

- Tem, sim, Padre Elígio. Porque, quando a Terra não girava…

- Ora esta! Mas se sempre girou!

- Não é verdade. O homem não sabia disso e, portanto, era como se não girasse. Para muitos, ela continua a não girar também agora. Disse que girava, no outro dia, a um velho camponês; sabe o que ele me respondeu? Que era uma boa desculpa para bêbados. Aliás, o senhor também, tenha paciência, não pode pôr em dúvida que Josué fez o sol parar. Mas deixemos isto. Digo que, quando a Terra não girava e o homem, vestido de grego ou de romano, nela fazia boa figura, formando tão elevado conceito de si e comprazendo-se tanto com sua própria dignidade, acredito perfeitamente que pudesse ter acolhida favorável uma narração minuciosa e repleta de inúteis pormenores. Lê-se ou não se lê em Quintiliano, como o senhor me ensinou, que a História devia ser feita para narrar e não para demonstrar?

- Não nego – responde Padre Elígio -, mas, também, é verdade que nunca se escreveram tantos livros, tão pormenorizados, ou melhor, tão carregados das mais secretas minudências, como desde quando, no seu modo de dizer, a Terra começou a girar.

- Está bem: o senhor conde levantou-se cedo, às oito horas e meia em ponto… A senhora condessa pôs um vestido lilás, ricamente guarnecido de rendas no pescoço… Terezinha estava morrendo de fome… Lucrécia consumia-se de amor… Oh meu Deus do céu! Que importância isso pode ter para mim? Estamos ou não estamos num invisível piãozinho, para o qual um fio de sol serve de chicote, num grãozinho de areia enlouquecido, que gira e continua a girar, sem saber por quê, sem chegar nunca a destinação, como se achasse muito divertido girar assim, para fazer-nos sentir ora um pouco mais de calor, ora um pouco mais de frio, e, no fim, fazer-nos morrer (a miúdo, com a consciência de ter cometido uma série de pequenas tolices), após cinquenta ou sessenta giros? Copérnico, Copérnico, meu caro Padre Elígio, estragou a humanidade irremediavelmente. Agora, todos já nos adaptamos, aos poucos, à nova concepção de nossa infinita pequenez e a nos considerarmos menos do que nada, no Universo, com todas as nossas lindas descobertas e invenções. Que valor quer, então, que tenham as notícias, já não digo das misérias privadas, mas das nossas calamidades gerais? Histórias de minhocas, as nossas, agora. Leu a respeito daquele pequeno desastre nas Antilhas? Nada de importante. A Terra, coitada, cansada de girar, como quer aquele cônego polonês, sem qualquer finalidade, teve um pequeno movimento de impaciência e soprou um pouco de fogo por uma de suas muitas bocas. Sabe-se lá o que foi que lhe agitou essa espécie de bílis! Talvez a estupipez dos homens, que nunca foram tão cacetes como agora. Resultado: vários milhares de minhocas torradas. E toca para a frente! Quem fala mais nisso?

Padre Elígio Pellegrinotto, porém, faz-me observar que, por mais esforços que empreguemos no cruel intento de arrancar, de destruir as ilusões que a previdente natureza criou para o nosso bem, não o conseguimos. Por sorte, o homem distrai-se facilmente.”


Pirandello, Luigi. O Finado Mattia Pascal. 

Texto original em italiano:
[..] Maledetto sia Copernico!
- Oh oh oh, che c’entra Copernico! – esclama don Eligio, levandosi su la vita, col volto infocato sotto il cappellacio di paglia.
- C’entra, don Eligio. Perché, quando la Terra non girava…
- E dàlli! Ma se ha sempre girato!
- Non è vero. L’uomo on lo sapeva, e dunque era come se non girasse. Per tanti, anche adesso, non gira. L’ho detto l’altro giorno a un vecchio contadino, e sapete come m’ha risposto? Ch’era una buona scusa per gli ubriachi. Del resto, anche voi, scusate, non potete mettere in dubbio che Giosuè fermò il Sole. Ma lasciamo stare questo. Io dico che quando la Terra non girava, e l’uomo, vestito da greco o da romano, vi faceva così bella figura e così altamente sentiva di sé e tanto si compiaceva della propria dignità, credo bene che potesse riuscire accetta una narrazione minuta e piena d’oziosi particolari. Si legge o non si legge in Quintiliano, come voi m’avete insegnato, che la storia doveva esser fatta per raccontare e non per provare?

- E va bene! Il signor conte si levò per tempo, alle ore otto e mezzo precise… La signora contessa indossò un abito lilla con una ricca fioritura di merletti alla gola… Teresina si moriva di fame… Lucrezia spasimava d’amore…
Oh, santo Dio! E che volete che me n’importi? Siamo o non siamo su un’invisibile trottolina, cui fa da ferza un fil di sole, su un granellino di sabbia impazzito che gira e gira e gira, senza saper perché, senza pervenir mai a destino, come se ci provasse gusto a girar così, per farci sentire ora un po’ più di caldo, ora un po’ più di freddo, e per farci morire – spesso con la coscienza d’aver commesso una sequela di piccole sciocchezze – dopo cinquanta o sessanta giri? Copernico, Copernico, don Eligio mio, ha rovinato l’umanità, irrimediabilmente. Ormai noi tutti ci siamo a poco a poco adattati alla nuova concezione dell’infinita nostra piccolezza, a considerarci anzi men che niente nell’Universo, con tutte le nostre belle scoperte e invenzioni; e che valore dunque volete che abbino le notizie, non dico delle nostre miserie particolari, ma anche delle generali calamità? Storie di vermucci ormai, le nostre. Avete letto di quel piccolo disastro delle Antille? Niente. La Terra, poverina, stanca di girare, come vuole quel canonico polacco, senza scopo, ha avuto un piccolo moto d’impazienza, e ha sbuffao un po’ di fuoco per una delle tante sue bocche. Chi sa che cosa le aveva mosso quella specie di bile. Forse la stupidità degli uomini che non sono stati mai così nojosi come adesso. Basta. Parecchie migliaja di vermucci abbrustoliti. E tiriamo innanzi. Chi ne parla più?

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