sábado, 20 de junho de 2015

AFRODITE E VÊNUS, AS DIVINDADES DO AMOR , DA SEXUALIDADE E DA BELEZA FEMININA - MITOLOGIA GREGA E ROMANA –




Afrodite de Cnido, de Praxíteles,
cópia do século IV a.C.
AFRODITE - Na mitologia grega, há uma plêiade de divindades que abarcam todas as funções humanas. Quando os romanos entraram em contado com a cultura grega, a partir da tomada de Tarento, colônia grega ao sul da Itália, no século III a. C., receberam forte influência desses helenos.
A Grécia era conhecida como Hélade (Ἑλλάς), e congregava uma série de cidades-estados que se distribuíam desde o atual território grego, passando pelas ilhas do Mediterrâneo que circundam o país, e atingindo, no auge de suas conquistas, vastas regiões do Oriente próximo e norte da África.
Pois os helenos (Έλένοι), como eram conhecidos os gregos, construíram um rico conjunto de mitos, como nos apresenta brevemente o poeta Hesíodo em sua Teogonia ou Genealogia dos Deuses, datada do século VIII a. C.
Desse conjunto de divindades, fazia parte Afrodite (Ἀφροδίτη), divindade do amor, da beleza e da sexualidade. Segundo Hesíodo, seu nome provém do termo grego aphros (ἀφρός), espuma. Trata-se do mito segundo o qual Cronos, ao derrotar seu pai Uranos, ter-lhe-ia cortado o saco escrotal e jogado ao mar. Da espuma aí surgida, ergueu-se Afrodite.
Devido à beleza da nova deusa, temia-se no Olimpo, que adviesse um desentendimento entre os deuses que desejariam cortejá-la. Desposou ela então Hefesto ( Ήφαιστος), deus ferreiro, forjador das armas e da tecnologia de então, porém, portador de um defeito físico que o tornava manco.  Era filho de Zeus e Hera. Essa escolha pacificava o Olimpo.
Já nas ruínas de Pompéia, encontra-se uma parede com um afresco representando Vênus, a versão romana de Afrodite, como divindade do amor e da sexualidade.
Afresco da Deusa Vênus - afresco nas ruínas de Pompeia

Afrodite, no entanto, pela solidão em que Hefesto a deixava, pelas constantes atividades em sua forja, foi uma esposa infiel, tendo procurado a paixão de deuses, semideuses e homens, de cujos relacionamentos nasceram filhos famosos. É o caso de Hermafrodita, que gerou com Hermes, o mensageiro dos deuses.
VÊNUS CALIPÍGIA DO MUSEU DE NÁPOLIS -
SEGUNDO SE AFIRMA, ENCONTRAVA-SE
NA DOMUS ÁUREA DE NERO.
VÊNUS – No panteão romano, aparece a deusa Vênus, que corresponde à Afrodite grega e gera muitas confusões nas leituras literárias. Na versão romana mais divulgada, seria filha de Júpiter, o supremo deus da mitologia romana, equivalente a Zeus, e sua mãe seria a deusa Dione. Seria casada com Vulcano, equivalente a Hefesto da mitologia grega.
Os romanos consideravam-se descendentes da deusa Vênus, pois Eneias, herói troiano que deu origem a Rômulo, o fundador mítico da raça romana, era filho de Vênus com o mortal Anquises.
Segundo uma tradição muito antiga, Afrodite na cultura grega e Vênus na cultura latina seriam os modelos de beleza feminina, cujos moldes serviram depois à arte renascentista.
Vênus de Milos - Louvre - Paris -
Aphrodite of  Milos
Afrodite e Vênus recebiam também o nome de Afrodite Calipígia ou Vênus Calipígia, ou seja, das belas nádegas. Representavam uma estátua feminina completamente vestida que levantava o manto para mostrar a parte traseira, suas nádegas desnudas.  Atribui-se essas estátuas a um costume das jovens de Siracusa que, segundo uma tradição, teriam o hábito de comparar suas nádegas para ver qual a \seria a mais perfeita.


 Durante os séculos, artistas de muitos movimentos estéticos reproduziram Afrodite e Vênus em suas obras, realizando maravilhas em todos os estilos. Houve alguns deles que reproduziram a imagem de suas amadas sob a forma da divindade clássica do amor e da sexualidade.
Um exemplo famoso é "O Nascimento de Vênus",  uma pintura de Sandro Botticelli, encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Medici para a sua Villa Medicea di Castello, também conhecida como Villa Reale, ou Villa l'Olmo, ou ainda Villa Il Vivaio, situada ba região montanhosa de Castello, nas proximidades de Florença.
A pintura representa a deusa romana Vênus emergindo da espuma do mar,  já mulher adulta e perfeita, conforme descrito na mitologia clássica. Provavelmente, a obra tenha sido criada em 1485, sob encomenda, para Lorenzo de Meidici, com o fim de ornar sua residência. Alguns estudiosos creem que a Vênus pintada para Pierfrancesco tenha sido outra, que não a obra exposta em Florença e estaria perdida até o momento.
Há os que afirmam ter sido esta obra uma homenagem ao amor de Juliano de Medici (que morreu em 1478), que viveu em Portovenere, uma cidadela à beira-mar. Qualquer que tenha sido a inspiração do artista, parece haver influências de obras literárias importantes como "As Metamorfoses/" e os "Fasti" do poeta romano Ovídio, que abordam o mito.
Sandro Botticelli - La nascita di Venere - Galleria degli Uffizi - Florença
Outra pintura de renome, representando a deusa romana do amor, é a obra renascentista de Tiziano, pintada  em 1538, em óleo sobre tela. Exibe a desa Vênus nua, deitada sobre um leito suntuoso. Também se encontra na Galleria degli Uffizi, em Florença.
Vênus de Urbino - Ticiano


Ainda representou o Nascimento de Vênus, com grande maestria, o pintor francês Jean-Auguste Dominique Ingres,  em obra conhecida como Vênus Anadriômene, imitando o quadro do pintor grego Apeles, já desaparecido, mas descrito na obra de Plínio, o Velho, em sua Naturalis Historiae.

Ingres - Venere Anadiomene

O ilustre pintor francês William Bouguereau também homenageou a deusa com uma tela. A pintura é uma representação clássica do nascimento da deusa romana do amor e da beleza. O seu autor, arquétipo da pintura acadêmica francesa, presta com a obra uma homenagem à v
Vênus de Sandro Botticelli, ao Triunfo de Galateia de Rafael e à Vênus Anadiômene, de Jean-Auguste-Dominique Ingres. A deusa, com sua pele de porcelana e os cabelos esvoaçantes, emerge de uma concha, rodeada de tritões admirados, ninfas marinhas e querubins. Vênus, no entanto, foi apenas um pretexto para criar um nu voluptuoso e idealizado.



O Nascimento de Vênus - William Bouguereau - 1879


Outro mestre da arte francesa que pintou Vênus foi Alexandre Cabanel, representante do Neoclassicismo Acadêmico. Dedicou-se a assuntos históricos, mitológicos e religiosos. Foi também autor de retratos, paisagens e composições decorativas. Excelente aquarelista. Veja-se sua representação do Nascimento de Vênus:

Alexandre Cabanel -The Birth of Venus 1863


Também o pintor brasileiro Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, mais conhecido como Di Cavalcanti, que, além de pintor, foi  caricaturista e ilustrador,  pintou um quado sobre o nascimento de Vênus. Ele nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 1897 e faleceu em 26 de outubro de 1976. Foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, expondo 11 obras de arte e elaborando a capa do catálogo. Seu estilo artístico é marcado pela influência do expressionismo, cubismo e dos muralistas mexicanos (Diego Rivera, por exemplo). Abordou temas tipicamente brasileiros como, por exemplo, o samba. Em suas obras são comuns também, os temas sociais do Brasil (festas populares, operários, as favelas, protestos sociais, etc). O MAC possui em seu acervo, além de pinturas, uma série de mais de 500 desenhos, que cobrem o período que vai da década de 20 até o ano de 1952: grafites, aquarelas, guaches e nanquins, generosamente doados pelo artista. O quadro "O Nascimento de Vênus" de Di Cavalcanti, é uma releitura da obra de Sandro Botticelli, o qual apresenta a deusa Vênus da mitologia grega, porém em circunstâncias e contextos distintos. Com isso, nota-se que existem alguns aspectos parecidos,como, por exemplo, as formas que as supostas deusas localizam suas mãos, e ao fundo da obra aparece o mar, como um símbolo do tropicalismo brasileiro. A obra foi pintada em 1940, com 54 cm de altura e 65 cm de largura. É uma peça de tinta à óleo sobre tela.
O Nascimento de Vênus de Di Cavalcanti
Três pinturas ilustres representam Vênus diante do espelho. A primeira é do pintor renascentista italiano Ticiano.
Vênus do Espelho - TICIANO 1555 -


Outro pintor que representa Vênus no Espelho é Diego Velazquez, artista espanhol, que produz seu quadro entre 1647 e 1651, cuja obra se encontra na National Gallery, em Londres.


Velazquez - Vênus no Espelho

O terceiro pintor a reproduzir a deusa romana ao espelho é Peter Paul Rubens, que, em 1614–15, mostra a divindade com o seu cabelo tradicionalmente louro. Como a Vênus de Velázquez, a imagem refletida da deusa não encaixa essa porção da sua face visível sobre a tela. Em contraste com a bela e arredondada forma ideal de Rubens, Velázquez pintou uma figura feminina mais delgada.
Rubens - Venus at a Mirror - 1615

Outros pintores têm representado a divindade do amor junto a outras personagens, como é o caso da representação de Vênus em companhia de Adônis, belíssimo jovem, que nascera do amor incestuoso entre seu pai, o rei Ciniras, de Chipre e a própria filha Mirra. Por ele, apaixonaram-se as deusas Afrodite e Perséfone. Quadro de Ticiano.
Vênus e Adônis, Ticiano (1560) Venus and Adonis by Titian

O pintor francês François Lemoyne também pintou um quadro representando Vênus e Adônis. Progressivamente, suas composições para os conjuntos decorativos de Versalhes e igrejas parisienses revelam obras progressivamente mais claras e uma palheta mais definida, seguindo o modelo Rococó.
Venus and Adonis. Francois Lemoyne 
Também é famosa a obra do pintor François Boucher, representando Vênus consolando Eros. Embora tendo vivido no século XVIII, dominado pelo Barroco, dedicou-se ao estilo Rococó, que é o Barroco levado ao exagero, próprio da arte francesa do período das luzes. Reproduz o triângulo amoroso que ocorre em uma floresta profunda. Uma estátua de Vênus, estando em grande solidão, desenvolve um cérebro humano. É inverno, neva e no final, quando o gelo derrete no rio, à medida que a primavera chega, David e Eros, passeiam pelos campos contíguos à floresta. Vênus apaixona-se perdidamente por David. Durante um sonho Vênus torna-se humana e percebe David também a ama. Eros enche-se de ciúmes e é consolado por Vênus.

 
Vênus Consolando Eros, Venus Consoling Love, François Boucher, 1751.

Além dos pintores, também os escultores dedicaram-se à representação de Afrodite e Vênus, como se pode constatar nas primeiras imagens deste trabalho. Houve a multiplicação de muitas estátuas dessas deusas por toda parte. Veja-se a imagem abaixo:



Afrodite Calipígia - Museu de Nápoles
Abaixo, a imagem de Afrodite de Cápua, que se encontra também no Museu de Nápoles.




Abaixo, uma estátua de Vênus Calipígia do Louvre, já da arte Barroca de 1863 - escultura de François Barrois.


Vênus (Afrodite) e Amor (Eros), por Theodor Heinrich Bäumer, 1886. DRESDEN.







Afrodite de Cynidian, cópia romana em mármore(tronco e coxas), com cabeça restaurada, braços, pernas e cortinas de apoio, modestamente, protegendo seus órgãos genitais com a mão direita. A original, era uma das mais famosas obras do antigo Praxíteles, escultor grego de Atenas (século 4  a. C). Tanto a original como as suas cópias são muitas vezes referidas como a Pudica Vênus (Venus modesta), por conta de sua mão direita cobrir a virilha e a genitália.

Museu Louvre/Paris
O importante escultor italiano Antonio Canova representou Vênus de diversas maneiras. Uma dessas imagens é a que reproduz Pauline Bonaparte Borghese, irmã mais jovem de Napoeleão, como Venus Vitrix, hoje fazendo parte do famoso museu de Roma, conhecido como Galleria Borghese.

Pauline Bonaparte as VenusVictrix

Antonio Canova (1757-1822) era arquiteto e antiquário, mas é mais lembrado como escultor. Foi um dos mais importantes reprodutores da arte clássica grega e romana. Vênus foi uma das divindades a quem consagrou diversas de suas obras. Veja-se sua escultura abaixo, representando Vênus e Marte:

Antonio Canova - Vênus e Marte

Outra de suas obras primas, representando a deusa do amor, da beleza e sexualidade é a Vênus Itálica.

Antonio Canova - Vênus Itálica.
Muitíssimos artistas dedicaram seus trabalhos às duas deusas, que se confundem em uma única divindade, expressando a beleza, a feminilidade, os encantos feminis. Tantos são, que aqui trazemos apenas uma pálida imagem dessa produção. A nudez, a beleza do traço, a candura estão dissiminados por muitíssimos museus e casas de cultura distruídos por tudo o mundo. 

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