Este é um livro que trata do Oculto e dos Poderes do Homem. É livro simples, no sentido de que nele não há “palavras estrangeiras”, palavras em sânscrito, nem coisa alguma de línguas mortas. A pessoa média quer SABER as coisas, e não ficar a adivinhar palavras que o autor médio tampouco compreende!
Se um autor sabe trabalhar, pode escrever, sem ter de disfarçar sua falta de conhecimento com o emprego de uma língua estrangeira. Um número demasiado de pessoas deixa-se envolver pela confusão. As leis da Vida são realmente simples; não há necessidade alguma de revesti-las de cultos místicos ou pseudo-religiões. Tampouco existe qualquer necessidade de que alguém afirme ter tido “revelações divinas”. QUALQUER PESSOA pode obter as mesmas “revelações”, se se esforçar por alcança-las… Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
T. LOBSANG RAMPA, e o livro “A CAVERNA DOS ANTIGOS”
Nenhuma religião tem em si as Chaves do Céu, nem pessoa alguma será condenada para sempre, por ter entrado em uma igreja com o chapéu na cabeça, ao invés de tirar os sapatos. À entrada das lamaserias tibetanas, lê-se a inscrição: “Mil monges, mil religiões”.
Qualquer que seja nossa crença, se ela englobar o “faze ao próximo o que queres que te seja feito”, teremos êxito, quando soar o Chamamento final. Alguns dizem que o Conhecimento Interior só pode ser obtido ingressando-se neste ou naquele culto, ao mesmo tempo em que se faça o pagamento de uma contribuição substancial.
As Leis da Vida dizem: “Procura e encontrarás”. Este livro é o fruto de toda uma vida, de ensinamentos obtidos nas grandes lamaserias do Tibete e de poderes conquistados por uma observância rigorosa das Leis. Trata-se de conhecimento transmitido pelos Antigos, e se acha inscrito nas Pirâmides do Egito, nos Altos Templos da Cordillheira dos Andes e no maior de todos os repositorios de conhecimentos ocultos do mundo, o Planalto do Tibete –
T. LOBSANG RAMPA [Nasceu: Cyril Henry Hoskin-8 April 1910, em Plympton, Devon, United Kingdom – Morte: 25 January 1981 (aged 70) Calgary, Alberta, Canada]
Capítulo 1
A noite era quente, deliciosa, invulgarmente quente para aquela época do ano. Erguendo-se com suavidade no ar onde não soprava vento algum, o odor doce do incenso trazia tranqüilidade ao nosso espírito. Muito longe, o sol se punha, em um resplendor de glória, por trás dos cumes altos dos picos dos Himalaias, conferindo às montanhas de cimos nevados a coloração de vermelho-sangue, como a prevenir que o solo tibetano se impregnaria de sangue, em dias futuros.
Sombras que se alongavam morosamente rastejavam em direção à cidade de Lhasa, vindas dos picos gêmeos da Potala e de nosso próprio Chakpori. Abaixo de nós, à direita, uma caravana retardada de viajantes vindos da Índia serpenteava em direção ao Pargo Kaling, ou Portão Ocidental. Os piedosos peregrinos que haviam ficado para trás seguiam desajeitadamente apressados em seu circuito da Estrada Lingkor, como a recear serem apanhados pela escuridão aveludada da noite, que se aproximava com rapidez. O Kyi Chu, o Rio Feliz, corria alegremente em sua intérmina jornada até o mar, apresentando clarões brilhantes de luz, como homenagem ao dia que findava. A cidade de Lhasa refulgia com o brilho dourado das lâmpadas de manteiga.
Da Potala próxima, uma trombeta soou, ao final do dia, suas notas estendendo-se pelo Vale, repercutindo nas superfícies rochosas e regressando a nós, com o timbre modificado. Olhei para o cenário conhecido, fitei a Potala, as centenas de janelas iluminadas, enquanto os monges de todos os graus tratavam de suas atividades, ao encerramento do dia. Por cima do edifício imenso, próxima aos Túmulos Dourados, uma figura solitária, distante e sozinha, estava em vigilância. Quando os últimos raios do sol desapareceram abaixo das cordilheiras, voltou a soar uma trombeta e um canto profundo ergueu-se do Templo, lá embaixo.
Pargo Kaling, ou Portão Ocidental em Lhasa, Tibete
Com rapidez, os últimos vestígios de luz se desvaneceram e as estrelas no céu formaram um esplendor de pedraria contra um pano de fundo purpúreo. Um meteoro rebrilhou no céu, explodindo em glória chamejante, antes de cair na Terra como poeira fumegante.
— Uma bela noite, Lobsang! — disse a voz que eu tanto amava.
— Uma bela noite, não há dúvida, — respondi, enquanto me punha rapidamente em pé, para poder fazer reverência ao Lama Mingyar Dondup. Ele sentou-se ao lado de uma muralha e me fez um gesto para que o imitasse. Apontando para cima, disse:
—Você percebe que gente, você e eu, podemos ter um aspecto como aquele? Eu o fitei espantado, sem saber como poderia eu ter o aspecto de miríades de estrelas no céu noturno.
O lama era um homem grande, de belo aspecto, a cabeça de aparência nobre. Ainda assim, não se parecia com uma coleção de estrelas! Ele riu-se de minha expressão intrigada.
—Literal como sempre, Lobsang, literal como sempre, — comentou, sorrindo.
— Eu queria dar a entender que as coisas não são sempre o que parecem. Se você escrevesse “Om! Mani Padme Hum”, e com letras tão grandes que preenchessem todo o Vale de Lhasa, as pessoas não o conseguiriam ler, pois seria grande demais para ver. Èle se deteve na explicação, observando-me para verificar se eu a acompanhava, e depois prosseguiu:
—Do mesmo modo, as estrelas são “tão grandes” que não podemos determinar o que realmente formam. Olhei para ele, como se o meu guia houvesse enlouquecido. As estrelas, formando alguma coisa? As estrelas eram — bem — estrelas! Depois, pensei em uma escrita tão grande que enchesse o Vale e que assim se tornava ilegível, devido a tais dimensões. A voz gentil prosseguiu:
—Pense em você encolhendo, encolhendo, tornando-se tão pequeno quanto um grão de areia. Qual seria meu aspecto para você, então? Suponha que se torne ainda menor, tão pequeno que o grão de areia passe a ser tão grande quanto um mundo, para você. Nesse caso, o que seria de mim? — perguntou, detendo-se e passando a me fitar com um olhar penetrante.
— Bem? — perguntou. — O que você veria?
Palacio Potala, em Lhasa, Tibete.
Eu continuei sentado, boquiaberto, o cérebro paralisado com o pensamento, a boca aberta como se fosse um peixe que haviam acabado de atirar à terra.
—Você veria, Lobsang — disse o Lama —, um grupo de mundos amplamente espaçados, flutuando nas trevas. Devido a seu tamanho minúsculo, você veria as moléculas de meu corpo, como mundos separados, com espaço imenso entre elas. Você veria mundos girando ao redor de mundos, você veria “sóis”, que seriam as moléculas de certos centros psíquicos, você veria um universo!
Meu cérebro rangia, eu era capaz de jurar que a “maquinaria” acima de minhas sobrancelhas tinha um estremecimento convulsivo, com o esforço que eu despendia a fim de acompanhar todo aquele conhecimento estranho e emocionante. O meu guia, o Lama Mingyar Dondup, estendeu a mão à frente, e com gentileza ergueu meu queixo.
—Lobsang! — disse, com uma risadinha. — Os seus olhos estão ficando vesgos, no esforço por me acompanhar.
Voltou a sentar-se, rindo, e deu-me alguns momentos para que eu me pudesse recuperar um pouco. Em seguida, exclamou:
—Olhe o tecido de seu manto. Apalpe-o!
Obedeci, sentindo-me notavelmente aparvalhado enquanto fitava o traje velho e esfarrapado que eu usava. O Lama observou:
—É tecido, algo liso ao tato. Você não pode ver através dele, mas imagine que o examina por um vidro de aumento, que amplie dez vezes a visão. Pense nos fios grossos de lã iaque, cada qual, dez vezes mais grosso do que você está vendo, agora. Conseguiria perceber a luz entre os fios, mas amplie os mesmos um milhão de vezes, e conseguirá passar entre dois a cavalo, a não ser que cada fio se tornasse grande demais para escalar! Eu compreendia, agora que me era mostrado. Permaneci sentado, pensando, assentindo, enquanto o Lama dizia:
— Como uma mulher velha e decrépita!
— Senhor! — exclamei, finalmente.
— Nesse caso, toda a vida é uma porção de espaço, salpicado de mundos.
— Não é tão simples assim — respondeu ele — mas sente-se de modo mais confortável, e eu falarei de um pouco do Conhecimento que descobrimos na Caverna dos Antigos
— A Caverna dos Antigos! — exclamei, cheio de curiosidade ávida.
— O senhor ia falar-me sobre isso, e sobre a Expedição!
— Sim! — disse ele, para me acalmar.
— E vou falar, mas antes examinemos o Homem e a Vida, como os Antigos, nos dias da Atlântida, os concebiam.
Em segredo, eu estava muito mais interessado na Caverna dos Antigos, que uma expedição de altos lamas descobrira, e que continha repositórios fabulosos de conhecimento e artefatos, de uma Era em que a Terra era muito jovem. Conhecendo tão bem o meu guia, sabia que de nada adiantaria esperar que ele me contasse tal história enquanto não estivesse pronto para fazê-lo, e que tal momento ainda não chegara. Acima de nós, as estrelas brilhavam com todo seu esplendor, sem sofrerem quase diminuição alguma da luz, graças ao ar rarefeito e puro do Tibete. Nos Templos e Lamaserias, as luzes se apagavam, uma por uma.
De muito longe, trazido pelo ar da noite, veio o lamento de um cachorro, e os latidos de resposta dos que se achavam na Aldeia de Shö, abaixo de nós. A noite era calma, até mesmo plácida, e nenhuma nuvem encobria a face da Lua, que se erguera fazia pouco. As bandeiras de oração pendiam inertes e sem vida, nos mastros. De algum lugar, veio o estralejar débil de uma Roda de orações, enquanto algum monge piedoso, envolto na superstição e sem perceber a Realidade, fazia a Roda girar, na esperança inútil de conquistar a graça dos Deuses. O Lama, meu guia, sorriu ao ouvir aquele som, e disse:
—A cada qual segundo sua crença, a cada qual de acordo com sua necessidade. Os aparatos externos da religião cerimonial são um consolo para muitos, e não devemos condenar aqueles que ainda não percorreram uma distância suficiente, na Trilha, e não conseguem ficar em pé sem tais muletas. Vou-lhe falar, Lobsang, da natureza do Homem.
Eu me sentia muito achegado a esse Homem, o único que demonstrara consideração e amor por mim. Ouvia com atenção, a fim de corresponder à confiança que ele tinha em mim. Pelo menos, foi assim que comecei a ouvir, mas logo descobri que o assunto era fascinante, e que eu ouvia com interesse completo e indisfarçado.
—Todo o mundo é feito de vibrações, toda a Vida, tudo que é inanimado consiste de vibrações (ENERGIA). Até mesmo os poderosos Himalaias — disse o Lama
— São apenas uma massa de partículas suspensas, na qual nenhuma delas pode tocar a outra. O mundo, o Universo, consiste de partículas diminutas de matéria, ao redor das quais outras partículas de matéria rodopiam. Assim como o nosso Sol tem mundos a circular em torno de si, mantendo sempre a distância, sem se tocarem em momento algum, também tudo quanto existe é composto de mundos em rodopios.
Ele parou, fitando-me, como a querer saber se tudo aquilo estaria além de minha capacidade de compreensão, mas eu estava compreendendo tudo, com facilidade. Ele prosseguiu:
— Os fantasmas que nós, os clarividentes, vemos no Templo, são pessoas, pessoas vivas, que deixaram este mundo e entraram em um estado no qual suas moléculas se acham tão amplamente dispersas que o “fantasma” pode atravessar a parede mais densa, sem tocar uma só molécula da mesma.
— Honrado Mestre — disse eu
— Por que sentimos um formigamento, quando um “fantasma” passa perto de nós?
LHASA e palacio de Potala
— Cada molécula, cada pequenino sistema de “sol e planeta” (átomo) está cercado por uma carga elétrica, não o tipo de eletricidade que o Homem gera com máquinas, mas de um tipo mais refinado. A eletricidade que vemos brilhando no céu, em algumas noites. Assim como a Terra tem as Luzes Austrais, ou Aurora Boreal, brilhando nos pólos, também a partícula mais insignificante de matéria possui suas “Luzes Austrais”. Um “fantasma” que se aproxima demasiadamente de nós causa um choque suave à nossa aura, e é por isso que ficamos com esse formigamento.
Ao redor de nós, a noite estava calma, sem um só sopro de vento perturbando a tranqüilidade; reinava um silêncio que só se conhece em países como o Tibete.
—A aura, então, que nós vemos, é uma carga elétrica? —perguntei.
—Sim! — respondeu meu guia, o Lama Mingyar Dondup.
—Em países fora do Tibete, onde os fios carregam uma corrente elétrica em voltagens elevadas, estendidos sobre a terra, observa-se um “efeito de corona”, que é reconhecido pelos engenheiros elétricos. Nesse “efeito de corona” os fios parecem estar cercados por uma corona ou aura de luz azulada. Observa-se principalmente em noites escuras e nubladas, mas, naturalmente, está presente todo o tempo, para aqueles que podem ver. Dito isso, fitou-me com uma expressão reflexiva.
— Quando você for a Chungking, para estudar medicina, utilizará um instrumento que registra as ondas elétricas do cérebro. Toda a Vida, tudo que existe, é eletricidade e vibração.
— Agora, estou perplexo! — respondi.
— E como pode a Vida ser vibração e eletricidade? Eu entendo uma, mas não ambas.
— Mas, meu caro Lobsang, — disse o Lama, rindo
— Não pode haver eletricidade sem vibração, sem movimento! É o movimento que gera a eletricidade e, portanto, os dois se acham intimamente relacionados.
Notou que eu franzia a testa, espantado, e com seu poder telepático leu meus pensamentos.
—Não! — disse, então.
— Não é qualquer vibração que serve! Vou-lhe explicar o seguinte: Imagine um teclado musical realmente vasto, que se estenda daqui ao infinito. As vibrações, que consideramos como corpos sólidos, estarão representadas por uma nota nesse teclado. A seguinte pode representar o som, e a outra, a visão. Outras notas indicarão as sensações, os sentidos, os intuitos, dos quais não temos compreensão alguma, enquanto nos achamos nesta Terra. Um cão pode ouvir notas mais altas do que o ser humano, e este pode ouvir notas mais baixas do que um cachorro. Palavras poderiam ser ditas ao cachorro em tons altos que ele ouviria, sem que o humano sequer o percebesse. Do mesmo modo, as pessoas do chamado Mundo Espiritual se comunicam com aquelas ainda nesta Terra, quando o ser terreno tem o dom especial da audição especial. O Lama fez uma pausa, e riu de leve.
“Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses!” – João 10:34
—Não o estou deixando dormir, Lobsang, mas você terá a manhã de folga, para descontar isso — declarou, e fez um movimento com a mão, em direção às estrelas que brilhavam com tanta clareza no ar puríssimo.
— Desde que visitei a Caverna dos Antigos e experimentei os instrumentos maravilhosos de lá, instrumentos que ficaram intactos desde os dias da Atlântida, muitas vezes me diverti com um capricho. Gosto de pensar em duas pequenas criaturas sencientes, menores do que o menor dos vírus. Não importa que forma tenham, basta concordar que sejam inteligentes e disponham de instrumentos super poderosos. Imagine as mesmas, de pé sobre um espaço aberto em seu próprio mundo infinitesimal (exatamente como estamos agora!) “Puxa! É uma bela noite!”, exclama A, fitando o céu com atenção. “Sim”, responde B, “faz a gente ficar pensando no propósito da Vida, no que somos, para onde vamos.” A se cala, pensativo, fitando as estrelas que se estendem nos céus, em número infinito. “Mundos sem limite, milhões, bilhões deles. Quantos serão habitados?” “Bobagens! Sacrilégio! Ridículo”! Gagueja B, “você sabe que não há vida senão em nosso mundo, pois os Sacerdotes não afirmam que somos feitos à Imagem de Deus? E como pode haver outra vida, senão exatamente igual à nossa? Não, é impossível, você está ficando doido!” A murmura para si próprio, com raiva, enquanto se afasta: “Eles podem estar errados, você sabe, eles podem estar errados!” O Lama Mingyar Dondup sorriu para mim, dizendo:
—Sei, até mesmo, de uma seqüência para isso! Eila: em algum laboratório distante, dispondo de uma ciência com a qual nem sequer sonhamos, e onde existiam microscópios de poder fantástico, dois cientistas estavam trabalhando. Um, sentado num banco, os olhos colados ao super-super microscópio pelo qual espiava. De repente, teve um sobressalto, empurrando o banco para trás, fazendo ruído e riscando o soalho luzidio. “Olhe, Chan!” gritou para seu ajudante. “Venha ver isto!” Chan se levantou, foi ter com o Superior agitado, sentando-se diante do microscópio. “Estou com a milionésima parte de um grão de sulfato de chumbo na lâmina”, disse o Superior. “Olhe só!” Chan ajustou os controles e assoviou com surpresa completa. “Puxa!” exclamou. “É como olhar o Universo, por um telescópio. Um sol brilhando, planetas em órbita…!” O Superior falou, em tom sôfrego: “Será que teremos uma ampliação suficiente para ver um desses mundos individuais, será que existe vida ali?” “Bobagens!” disse Chan, com brusquidão. “Naturalmente que não existe vida senciente. Não pode haver, pois os Sacerdotes não afirmam que somos feitos à Imagem de Deus? Assim sendo, como é possível haver vida inteligente ali?”
Acima de nós, as estrelas seguiam em seu curso, infinitas, eternas. Sorrindo, o Lama Mingyar Dondup enfiou a mão no manto e dali retirou uma caixa de fósforos, tesouro trazido da longínqua Índia. Devagar, retirou um palito de fósforo e o suspendeu.
—Vou mostrar-lhe a Criação, Lobsang! — disse, em tom alegre. Com gestos deliberados, passou o fósforo pela superfície áspera da caixa e, enquanto o mesmo irrompia em fogo, ele o segurava. Em seguida, soprou, apagando-o!
—A Criação e a dissolução — declarou.
— O fósforo aceso emitiu milhares de partículas, cada qual a separar-se das demais, em explosão. Cada uma delas era um mundo separado, o conjunto era um Universo. E o Universo morreu, quando a chama se extinguiu. Você pode afirmar que não havia vidas nesses mundos? Eu o olhei com ar de dúvida, sem saber o que dizer.
—Se eles eram mundos, Lobsang, e se tinham vida em si, para essa Vida os mundos teriam durado milhões de anos. E nós, seremos apenas um fósforo aceso? Estaremos nós vivendo aqui, com nossas alegrias e pesares… na maior parte pesares! . . . pensando que este é um mundo sem fim ? Pense, e conversaremos amanhã mais um pouco.
Dito isso, ficou em pé e desapareceu. Eu segui com passos pesados pelo telhado, tateando às cegas, para o patamar da escada que dava para lá. Nossas escadas eram diferentes das usadas no mundo ocidental, e consistiam de postes com entalhes. Encontrei o primeiro entalhe, o segundo, o terceiro, e logo meu pé escorregou onde alguém derramara manteiga de uma lâmpada. Eu caí estrepitosamente, chegando ao pé da escada de qualquer maneira, vendo mais “estrelas” do que havia no céu par cima, e fazendo surgir muitos protestos dos monges que dormiam. Uma mão surgiu, na escuridão, aplicando-me um cachação que fez minha cabeça retinir. Com rapidez, pus-me em pé e saí correndo para a segurança da escuridão ao redor.
Tão silenciosamente quanto possível, descobri um lugar onde dormir, envolto no manto e abandonando o controle da consciência. Nem mesmo o arrastar de pés rápidos me incomodava, nem as conchas e sinetas de prata interromperam meus sonhos. A manhã já ia alta, quando fui despertado por alguém que, com grande entusiasmo, me dava pontapés. Os olhos pesados, fitei o rosto de um chela imenso.
—Acorda! Acorda! Pela Adaga Sagrada, tu és um lorpa preguiçoso! Ato contínuo, deu-me novos pontapés — e com força. Estendi a mão, apanhei-lhe o pé e o torci. Com um estrondo de quebrar ossos, ele caiu ao chão, gritando.
—O Senhor Abade! O Senhor Abade! Ele quer falar contigo, imbecil!
Desferindo-lhe um bom pontapé, para compensar os muitos que ele me dera, endireitei o manto e segui apressadamente. “Não comi… não fiz desjejum!” resmungava para mim mesmo. “Por que motivo todo mundo quer falar comigo, quando está na hora de comer?” Seguindo às pressas pelos corredores sem fim, passando de carreira pelas esquinas, quase causei ataque cardíaco a alguns monges velhos que caminhavam por ali, tropegamente, mas cheguei à sala do Senhor Abade sem perder tempo. Entrando com afobação, caí de joelhos e fiz minhas mesuras demonstrativas de respeito. O Senhor Abade examinava meu Registro, e em certo momento ouvi que ele conseguia abafar, às pressas, o riso.
—Ah! — disse ele. — O rapaz rebelde, que cai nos penhascos, passa graxa nas andas e provoca mais agitação do que qualquer outro daqui! Fez uma pausa, fitando-me com severidade, e prosseguiu:
—Mas você estudou bem, extraordinariamente bem. Suas capacidades metafísicas são de tal natureza, e você se adiantou tanto no estudo, que vou mandá-lo estudar, de modo especial e individual, com o Grande Lama Mingyar Dondup. Você recebe uma oportunidade sem precedentes, pela ordem expressa de Sua Santidade. Agora, apresente-se ao Lama, seu guia.
Mandando-me embora, com um aceno da mão, o Senhor Abade voltou-se novamente para seus documentos. Aliviado pelo fato de que nenhum dos meus numerosos “pecados” fora descoberto, saí à toda pressa. O meu guia, o Lama Mingyar Dondup, estava sentado e à minha espera. Fitando-me com atenção, quando entrei, ele disse:
— Já quebrou o seu jejum?
— Não, Senhor — respondi —, o Reverendo Senhor Abade mandou-me chamar, enquanto eu ainda dormia. . . eu estou com fome! Ele riu e disse:
—Ah! Notei que você tinha um ar acabrunhado, como o de quem sofreu algo. Vá saindo, faça seu desjejum e volte para cá.
Não foi preciso ordenar duas vezes — eu estava com fome, e isso não me agradava. Pouco sabia, naquela ocasião, embora houvesse sido predito, que a fome me acompanharia por muitos anos de minha vida. Retemperado por um bom desjejum, mas abatido em espírito pelo pensamento de mais trabalho duro à frente, voltei a ter com o Lama Mingyar Dondup. Ele se pôs em pé quando entrei.
— Venha! — disse. — Vamos passar uma semana na Potala.
Seguindo à frente, saiu do Salão, até um local onde um monge-palafreneiro esperava, com dois cavalos. Cheio de presságios, examinei o animal que me era destinado. Com aspecto ainda mais agourento, o animal me fitou, demonstrando a meu respeito opinião menos lisonjeira do que a que eu tinha dele. Tomado do pressentimento de desastre iminente, montei e segurei-me na sela. Os cavalos eram criaturas terríveis, inseguras, temperamentais e não tinham freios. Andar a cavalo era uma de minhas habilitações menos destacadas. Seguimos aos trancos pela trilha montanhosa que parte de Chakpori. Atravessando a estrada Mani Lakhang, tendo o Pargo Kaling à nossa direita, logo entramos na Aldeia de Shö — onde meu guia fez uma parada rápida, e depois subimos penosamente os degraus íngremes da Potala. Montar em cavalo que sobe degraus íngremes é uma experiência desagradável, e minha preocupação principal era não cair da sela!
Chagpori visto desde o palácio Potala
Monges, lamas e visitantes, numa procissão incessante, subiam e desciam os degraus, alguns parando para admirar a vista, enquanto outros, que tinham sido recebidos pelo próprio Dalai Lama, só pensavam nessa entrevista. No fim dos degraus, nós paramos, e eu desmontei do cavalo, cheio de satisfação, porém absolutamente sem estilo. Ele, pobre coitado, deu um relincho de desagrado e voltou as costas para mim! Prosseguimos caminhando, subindo escada após escada, até chegarmos ao nível alto da Potala, onde o Lama Mingyar Dondup tinha aposentos permanentes, próximos à Sala das Ciências. Dispositivos estranhos, vindos de países de todo o mundo, encontravam-se ali, mas os mais estranhos de todos eram aqueles que tinham vindo de um passado muito mais distante.
Assim, chegamos finalmente a nosso destino, e eu me instalei por algum tempo no que era agora o meu quarto. Da minha janela, bem alta, na Potala, apenas um andar abaixo do Dalai Lama, eu podia examinar Lhasa, no Vale. Bem ao longe, podia ver a grande Catedral (Jo Kang), seu telhado dourado a refulgir. A Estrada Circular, ou Língkor, estendia-se a distância, fazendo um circuito completo da Cidade de Lhasa. Peregrinos piedosos a congestionavam, todos eles vindos para prostrar-se diante do maior centro mundial de conhecimentos ocultos. Fiquei maravilhado por minha boa sorte, em ter um guia tão maravilhoso quanto o Lama Mingyar Dondup; sem ele, eu seria um chela comum, vivendo num dormitório escuro, ao invés de estar quase no ponto mais alto do mundo. De repente, e tão de súbito que emiti um grito de surpresa, braços fortes agarraram os meus, erguendo-me no ar. Uma voz penetrante disse:
—Então! Tudo que pensa, sobre o seu guia, é que ele o traz para cima, na Potala, e que lhe dá aqueles confeitos enjoativamente doces, que vêm da Índia? — perguntou, rebatendo meus protestos com risadas, e eu estava cego ou confuso demais para compreender que ele sabia o que eu pensava a seu respeito! Finalmente, ele disse:
—Nós estamos em rapport, nós nos conhecemos muito bem em uma vida anterior. Você já tem todo o conhecimento dessa vida passada, e só precisa ser lembrado. Agora, é preciso trabalhar. Venha a meu quarto.
Endireitei o manto, recoloquei no mesmo minha tigela, que caíra quando eu fora erguido no ar, e segui apressadamente para o quarto de meu guia. Ele, com um gesto da mão, mandou-me sentar e, após eu o ter feito, disse:
—E já pensou sobre a questão da Vida, em nossa conversa de ontem à noite? Baixei a cabeça, um tanto desalentado, enquanto respondia.
—Senhor, eu tive de dormir, depois o Senhor Abade quis falar comigo, em seguida o senhor quis falar comigo, e eu precisei comer, e depois o senhor quis falar comigo outra vez. Não tive tempo de pensar em coisa alguma hoje! Havia um sorriso no rosto dele, enquanto dizia:
—Nós vamos falar mais tarde sobre os efeitos da comida, mas antes disso voltemos a falar sobre a Vida. Fez silêncio, estendendo a mão para um livro que estava escrito em alguma língua estrangeira exótica. Hoje sei que essa língua era o inglês. Passando as páginas, ele encontrou finalmente aquela que procurava. Entregando-me o livro, aberto de modo a ver uma ilustração, ele perguntou:
—Você sabe o que é isto? Examinei a ilustração, e notei que era tão comum que examinei também as palavras estranhas escritas por baixo da mesma. Aquilo não significava coisa alguma para mim. Devolvendo o livro, eu disse, em tom recriminador:
— O senhor sabe que eu não posso lê-lo, Honrado Lama!
— Mas você reconheceu o desenho? — persistiu ele.
— Bem, sim, é só um Espírito da Natureza, sem diferença das coisas daqui. Eu me tornava cada vez mais perplexo. De que se tratava, afinal de contas? O Lama abriu novamente o livro e disse:
Pico do monte Everest, maior montanha do planeta
—Em um país distante, no outro lado do mar, a capacidade geral de ver os Espíritos da Natureza foi perdida. Se alguém, por lá, vir um Espírito assim, passa a ser assunto de galhofa, e o vidente é literalmente acusado de “estar vendo coisas que não existem”. Os ocidentais não acreditam senão nas coisas que possam ser retalhadas e examinadas, ou seguras com as mãos, ou postas em uma gaiola. Um Espírito da Natureza recebe, por lá, o nome de Duende… e eles não acreditam nas histórias de Duendes. Isso me deixou bastante espantado. Eu via Espíritos à todo momento, e os considerava inteiramente naturais. Sacudi a cabeça, procurando clarear as idéias. O Lama Mingyar Dondup voltou a falar:
—Toda a Vida, como eu lhe disse ontem à noite, consiste de Matéria em vibração rápida, gerando uma carga elétrica, a eletricidade é a Vida da Matéria. Como na música, existem diversas oitavas. O Homem comum vibra em certa oitava, e um Espírito Natural e um Fantasma vibram numa oitava acima. Devido ao fato de que o Homem Comum vive, pensa e crê em apenas uma oitava, os seres das demais oitavas lhes são invisíveis!
Remexi em meu manto, pensando no caso: aquilo não fazia sentido para mim. Eu conseguia ver fantasmas e espíritos naturais e, portando, qualquer um deveria poder vê-los também. O Lama, lendo meus pensamentos, respondeu:
— Você vê a aura dos seres humanos. A maioria dos outros seres humanos não a vê. Você vê os espíritos naturais e os fantasmas. A maioria dos outros seres humanos não os vê. Todas as crianças muito novas podem ver essas coisas, porque os infantes são mais receptivos. E depois, à medida que a criança se torna mais velha, as ocupações da vida embrutecem suas percepções. No Ocidente, as crianças que dizem aos pais que brincaram com Espírito são castigadas por estarem mentindo, ou se vêem ridicularizadas por sua “imaginação vívida”. A criança não gosta de tal tratamento e, após algum tempo, convence-se a si mesma de que tudo foi imaginação! Você, devido à sua criação especial, vê fantasmas e espíritos naturais, e os verá sempre. . . assim como verá sempre a aura humana.
— Quer dizer que até os espíritos naturais que tratam das flores são o mesmo que nós? — perguntei.
— Sim — respondeu ele —, o mesmo que nós, a não ser que vibram mais depressa, e que suas partículas de matéria são mais difusas. É por isso que você pode atravessá-los com a mão, assim como pode atravessar com a mão um raio de sol.
— O senhor já tocou… o senhor sabe, segurou… um fantasma? — indaguei.
— Sim, toquei! — respondeu ele. — Isso pode ser feito, quando se eleva a velocidade das vibrações. Eu lhe falarei a respeito. Meu guia tocou a sineta de prata, presente dado por um Alto Abade de uma das Lamaserias mais conhecidas do Tibete. O monge-criado, conhecendo-nos bem, trouxe, não o tsampa, mas chá de plantas indianas e aqueles bolinhos doces que eram trazidos pelas cordilheiras, especialmente para Sua Santidade, o Dalai Lama, e dos quais eu, um simples cheia, gostava tanto. “Recompensa pelos esforços especiais no estudo”, como Sua Santidade dissera muitas vezes.
O Lama Mingyar Dondup percorrera o mundo, tanto no plano físico quanto no astral. Uma de suas pouquíssimas fraquezas era a preferência pelo chá indiano, fraqueza essa que eu endossava com o maior gosto! Nós nos sentamos a cômodo, e assim que eu terminei os meus bolinhos, o meu guia e amigo falou:
—Há muitos anos, quando eu era jovem, passei correndo por uma esquina, aqui, na Potala… exatamente como você, Lobsang! Estava atrasado para o Serviço, e para meu horror vi um abade enorme, impedindo a passagem. Também ele estava com pressa! Não havia tempo para desviar-me; eu ensaiava minhas desculpas, quando colidimos, com toda a força. Ele ficou tão alarmado quanto eu, mas eu estava tão estupidificado, que continuei correndo, e assim não cheguei atrasado, ou atrasado demais, afinal de contas. Eu ri, pensando no digno Lama Mingyar Dondup, correndo! Ele sorriu, prosseguindo:
—Bem tarde, aquela noite, pensei no assunto. E pensei: “Por que eu não posso tocar em um fantasma?” Quanto mais pensava, tanto mais me decidi a tocar um deles. Preparei os planos com cuidado, li todas as Escrituras antigas que tratam dessas questões. Consultei também um homem muito sábio, que vivia em uma caverna bem alta, nas montanhas. Ele me contou muita coisa, pôs-me no caminho certo, e eu vou contar como foi, porque leva diretamente ao tema de tocar um fantasma. Serviu-se de mais chá e sorveu-o durante algum tempo, antes de prosseguir.
—A Vida, como lhe disse, consiste em uma massa de partículas, pequeninos mundos circulando ao redor de pequenos sóis. O movimento gera uma substância que, por falta de expressão melhor, chamaremos “eletricidade”. Se comermos de modo sensato, poderemos aumentar nossa cadência de vibrações. Uma dieta sensata, que nada tem a ver com aquelas idéias de certos cultos extravagantes, aumenta a saúde da pessoa, e aumenta a cadência básica de vibração. Assim, aproximamo-nos mais da cadência de vibração do fantasma. Ele se deteve, acendendo um novo bastão de incenso. Satisfeito ao ver que a extremidade do mesmo brilhava de modo satisfatório, voltou a dedicar-me sua atenção.
—O fito único do incenso é aumentar a cadência de vibrações do lugar onde é queimado, e a cadência daqueles que se encontram nesse lugar. Utilizando-se o incenso correto, pois todos são preparados para uma certa vibração, podemos atingir determinados resultados. Por uma semana, eu me ative a uma dieta rígida, que aumentou minha vibração ou “freqüência”. Também durante essa semana, queimei constantemente o incenso apropriado, em meu quarto. Ao final desse período, estava quase “fora” de mim mesmo; achava que flutuava, ao invés de andar, sentia dificuldade em manter minha forma astral dentro da forma física. Olhou para mim, sorrindo, enquanto prosseguia:
—Você não teria gostado de uma dieta tão rigorosa! “Não”, eu estava pensando, “prefiro uma boa refeição sólida a qualquer fantasma!”
—Ao fim da semana — disse o Lama, meu Guia — desci para o Santuário Interno e queimei mais incenso, enquanto implorava que um fantasma viesse e me tocasse. De repente, senti o calor de uma mão amiga no ombro. Voltando-me para ver quem perturbava minha meditação, quase caí de costas, ao ver que estava sendo tocado pelo espírito de um que “morrera” mais de um ano antes. O Lama Mingyar Dondup parou abruptamente, e depois riu alto, ao recordar a experiência de antes.
— Lobsang! — exclamou, finalmente. — O velho Lama “morto” riu para mim, e perguntou por que motivo eu me dera a todo aquele trabalho, quando tudo que tinha a fazer era entrar no plano astral! Confesso que fiquei mortificadíssimo em pensar que uma solução tão óbvia me escapara. Ora, como você sabe muito bem, nós passamos ao astral para conversar com os fantasmas e os seres da natureza.
— Naturalmente, o senhor falava por telepatia — observei —, e eu não conheço qualquer explicação para a telepatia. Eu a uso, mas como a uso?
— Você faz as perguntas mais difíceis, Lobsang! — disse meu guia, rindo. — As coisas mais simples são as mais difíceis de explicar. Diga-me, como explicaria o processo da respiração? Você respira, todos respiram, mas como se explica esse processo? Eu assenti, carrancudo. Sabia que eu estava sempre fazendo perguntas, mas esse era o único meio de aprender as coisas. A maioria dos demais chelas não se interessava, desde que recebesse comida e o trabalho não fosse muito pesado, com o que se dava por satisfeito. Eu queria mais, eu queria saber.
—O cérebro — disse o Lama — é como um aparelho de rádio, como o dispositivo que esse homem Marconi está usando para mandar mensagens através dos oceanos. A coleção de partículas e cargas elétricas que constitui um ser humano tem o dispositivo elétrico, ou rádio, do cérebro, para lhe dizer o que fazer. Quando uma pessoa pensa em mover um órgão, correntes elétricas percorrem os nervos apropriados para galvanizar os músculos, levando-os à ação desejada. Do mesmo modo, quando uma pessoa pensa, ondas de rádio ou elétricas. . . na verdade, elas vêm da parte superior do espectro de rádio… são irradiadas do cérebro. Certos instrumentos podem registrar as radiações e até marcá-las no que os médicos ocidentais chamam “linhas alfa, beta, delta e gama”. Eu assenti, com movimentos lentos da cabeça. Já ouvira falar nessas coisas, junto aos Lamas Médicos.
— Pois bem — meu guia prosseguiu — as pessoas sensíveis também podem perceber essas radiações, e compreendê-las. Eu leio seus pensamentos, e quando você o tentar, poderá ler os meus. Quanto mais duas pessoas estejam em simpatia, em harmonia, uma com a outra, tanto mais fácil será para elas ler essas radiações cerebrais que são os pensamentos. Assim é que temos a telepatia. Os gêmeos, muitas vezes, são inteiramente telepáticos um quanto ao outro. Os gêmeos idênticos, onde o cérebro de um é a cópia fiel do outro, são tão telepáticos entre si que muitas vezes se torna realmente difícil determinar qual dos dois deu origem a um pensamento.
— Respeitável Senhor — disse eu — como sabe, posso ler a maioria das mentes. Por que é assim? Existem muitos outros com essa capacidade?
— Você, Lobsang — respondeu meu guia — tem dons especiais, e recebe treinamento especial. Os seus poderes estão sendo aumentados por todos os métodos de que dispomos, porque tem à frente uma tarefa difícil a desempenhar na Vida. Dito isso, sacudiu a cabeça, com ar solene, acrescentando:
—Uma tarefa difícil, sem dúvida. Nos Dias Antigos, Lobsang, a humanidade vivia em comunhão telepática com o mundo animal. Nos anos vindouros, após a Humanidade ter percebido a loucura das guerras, tal capacidade será recuperada; mais uma vez o Homem e o Animal viverão juntos, em paz, sem qualquer desejo de um causar mal ao outro. Lá embaixo um gongo soou repetidamente. Houve o clangor de trombetas e o Lama Mingyar Dondup se pos em pé num salto, dizendo:
—Temos de apressar-nos, Lobsang, o Serviço do Templo vai começar, e Sua Santidade estará presente. Eu me ergui depressa, arrumei o manto e saí atrás de meu guia, já na extremidade do corredor e quase desaparecendo.
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