quinta-feira, 16 de abril de 2015

EM MEMÓRIA DE MEU TIO PEDRINHO, FALECIDO AOS SEIS ANOS, HÁ MAIS DE UM SÉCULO

Cemitério do Morro Redondo
Não conheci meu tio Pedrinho. Minha mãe também não. A dor da sua partida foi tamanha, que sempre senti no coração e nas palavras de minha mãe uma imensa sombra dele, irmão um pouco mais velho, o único homem, entre nove mulheres. E se foi tão inocente. E a dor se repetia no coração de minha avó. Sempre amei o Pedrinho, sem jamais tê-lo visto. Porém, no domingo que passou, fui ao cemitério onde ele foi enterrado aos seis aninhos e nada encontrei mais. Muitas campas sem nome. Pedras e tijolos esverdeados pelo tempo num lugarzinho pequeno. Eu havia visto este tumulozinho há muitos anos. Como não há nome algum, nem curz marcada, nem lápide alguma, não fui capaz de encontrá-lo. Todos os que haviam ouvido falar nele devem já ter partido. Então, escrevi este pequeno réquiem para ele. Eu sempre o amei, porque todos os que me falavam dele o amavam. Requiescat in pace!
Ainda o Morro Redondo

PEDRINHO NINGUÉM

Houve um tempo em que me atormentavam
Temores  e sestros noturnos de espíritos finados.
Aos pucos, no entanto, essas visitas constantes
tornaram-se aprazíveis devaneios.
Tantos espiraram a meu lado,
Mesmo comigo falando.
Pois, nessa noite, um cão longínquo
Ladrava na madrugada,
Longos uivos tão plangentes
Que enchiam a noite lânguida.
As velhas pedras e tijolos, 
As lápides enegrecidas das umidades de tantos outonos,
As flores de painera enfeitavam o chão atapetado de rosa.
Naquele ermo recanto de colina,
Não era possível...
Dele nada restara:
Nem minúscula tumba,
Uma cruz esverdeada,
Uma lápide,
Nada...
Somente a mesma sombra de ciprestes...
Os mesmos muros caiados...
Fora-se tão cedo,
Seis aninhos, disseram, 
Pedro, tio Pedrinho,
Ora pro nobis!
Quando eu também me for,
Somente restarão estes versos,
Que te poderão ressuscitar, um dia,
Nas almas de incautos leitores,
Se os houver...
Per omnia saecula saeculorum.

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