quarta-feira, 15 de abril de 2015

O DIABO NA LIVRARIA DO CÔNEGO – INCONFIDÊNCIA MINEIRA

Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara
No campo que pertenceu a meu avô
Eduardo Frieiro, um ilustre professor da Universidade Federal de Minas Gerais, já falecido escreveu um livro em que analisa a Inconfidência Mineira, que culminou com a condenação de Tiradentes e muitos de seus colegas. Em livro memorável, intitulado “O Diabo na Livraria do Cônego”, aborda especialmente a presença de um cônego incluído entre os inconfidentes.
Trata-se do cônego Luís Vieira da Silva, condenado como conspirador. Pouco se sabe sobre esse pobre cônego. O que restou na devassa feita pelos inspetores da rainha é quase um milheiro de livros. Era, possivelmente, a maior biblioteca do Brasil. Para se entender melhor esse fato, observemos que Immanuel Kant, o maior filósofo desses tempos, que vivia na Alemanha culta, não possuía mais de trezentos livros.
Fazendo uma retrospectiva, era um período de grandes transformações sociais. Vivia-se a época mais dura dos expurgos da Revolução Francesa. Em 1776, houvera a declaração de independência dos Estados Unidos do domínio inglês. E, certamente, havia um clima de insatisfação com a submissão do Brasil a Portugal.
Aqui, as descobertas de ouro e diamantes geravam rendimentos fantásticos a Portugal. Porém, a progressiva diminuição do produto das minas conduziu ao aumento de impostos.
Esse aumento provocou um movimento conhecido como Inconfidência Mineira. Seria um movimento que incluía mineradores, intelectuais e escritores. Há mesmo quem afirme não ter havido uma inconfidência formal, pelo menos, o movimento, se de fato aconteceu, teria sido de muito menor vulto do que aquele apresentado pelos inspetores do reino. A rainha D. Maria I, sofria de ataques nervosos, sendo mesmo considerada demente por parte da corte lisboeta. Sentia-se insegura diante da administração de um reino tamanho. Por outro lado, crescia o papel do Marquês de Pombal junto à corte.
Concluem alguns que, de fato, havia uma insatisfação generalizada com a administração portuguesa. Porém, há mesmo pesquisadores que acreditam não ter havido inconfidência alguma. Tiradentes seria um líder muito insignificante para congregar um grupo de intelectuais, juízes, advogados, ricos proprietários de empresas de mineração, a elite local em prestígio e poder.
Numa tentativa de mostrar serviço à rainha, teriam juntado em seus relatórios todos os potenciais conspiradores e colecionado provas reais e outras tantas forjadas, como sói acontecer até hoje, de tal forma que a grande conspiração tomou uma aparência de realidade. Depois, a condenação e execução de Tiradentes, bem como o exílio de outros tantos, reprimiram, por longo tempo, os movimentos separatistas.
Assim, o cônego Luís Vieira da Silva provavelmente tenha sido apenas um intelectual e alfarrabista de seu tempo, cujo maior crime teria sido possuir uma das maiores bibliotecas particulares de seu tempo. Como intelectual, provavelmente não estivesse conformado com a administração portuguesa. Mas daí até sua inclusão entre os inconfidentes formais, se é que os houve, vai um exagero próprio dos sistemas arbitrários e opressores.

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