flores de abóbora, masculinas e femininas |
A aboboreira, o nome é estranho, cucurbitácea, espreguiça-se
e se contorce pelo solo das lavouras, espalhando flores e enormes bolotas pelo
solo. Suas folhas grandes, verdes elevam-se de talos verdes, viçosos.
Isso me faz lembrar aquele reformador do mundo que de sob
uma gigantesca jabuticabeira criticava o Criador. Esta árvore tão grande, com
esses frutinhos miúdos e a coitada da aboboreira, com seus disformes frutos,
sofrendo aí no campo. Não seria mais justo que a mais forte, a mais alta
carregasse mais peso?
Eis que despenca uma pequena jabuticaba do alto do galho mais
extremo e espatifa-se no nariz do "sábio" reformador. Ainda limpando
uma mancha de sangue misturada à massa mole do fruto, constata: se fosse uma
abóbora, teria sido uma tragédia.
Flor de abóbora frita:
Essa receita veio da Itália, do tempo de minha bisavó, que a
foi passando a todas as suas filhas e que minha mãe executava com prática e
rapidez.
Ela ia ao campo, que estava muito próximo de nossa casa, e
recolhia uma cesta de flores de aboboreira. Dizia, flor de abóbora é inútil. As
flores fecundas agora são abóboras. As não fecundadas não servem para nada. Se
não as comermos, as joaninhas e formigas o farão. Ou, então, irão apodrecer na
terra.
Chegava com elas, lavava. Ovo, farinha e frigideira. Em
pouco, estavam na mesa. Era muito rápido.
Acho que não tinham gosto de nada. Era o sabor do ovo
batido, do sal e dos temperinhos. Mas lá no fundo havia o carinho agasalhado no
calor do azeite e, bem no fundo, os sonhos de minha mãe. Essa era toda a
diferença. Cada vez que lembro as flores de abóbora no prato farto retomo os
sonhos da infância.
Propriedades medicinais e alimentares da flor de abóbora:
Pouca gente sabe que flores de abóbora são comestíveis.
Quase ninguém comeu flores de abóbora. Veja os benefícios que elas podem trazer
para a saúde:
1 – São ricas em cálcio e fósforo, por isso são indicadas
para a fase de crescimento. Evitam especialmente a osteoporose e outros males resultantes
da descalcificação.
2 – Também são responsáveis pela formação de enzimas
reparadoras e enzimas anticancerígenas, e ajudam a bloquear o desenvolvimento
de células malignas.
3 – Estimulam a produção dos leucócitos responsáveis pelo
processo imunológico de todo o corpo, defendendo o organismo contra agentes
infecciosos ou outros ataques externos.
4 – Contribuem para a proteção contra problemas de visão,
como catarata, retinopatia diabética e degeneração macular, que geralmente
aparecem em pessoas na meia idade ou em pessoas que sofrem com diabetes, a qual
causa danos aos vasos sanguíneos que irrigam a retina.
5 – É responsável pela oxidação do LDL, o colesterol ruim, e
pela preservação e produção do HDL, ou seja, o colesterol bom.
6 – Têm papel importante no processo digestivo garantindo o
bom funcionamento de todo o sistema. O consumo das flores e da própria abóbora
é importantíssimo para crianças, que estão formando o próprio organismo, para
os adultos na manutenção dos processos orgânicos, e na velhice, retardando
males próprios dessa fase da vida.
"As flores, amarelas, podem ser refogadas, recheadas
com carne, queijo ou legumes, empanadas, misturadas a risotos e omeletes,
servidas como salada ou batidas em sucos. Já os brotos e as folhas novas,
chamados de cambuquira, são ótimos para reforçar sopas e refogados. Também
podem ser consumidos como saladas e fazem boa parceria com farinha de milho. Há
ainda as sementes: assadas com sal e um fio de azeite, tornam-se um delicioso
aperitivo."
Como minha mãe fazia, evite colher para consumo aquelas
flores que por baixo possuem uma aboborinha. Essas são as fêmeas e são
responsáveis pelas novas abóboras. Deve-se consumir apenas as flores
masculinas, assim se evita perda de produção. Essas se caracterizam por serem
apenas um cálice, sem um pequeno fruto por baixo.
Classificação Botânica:
"As abóboras pertencem à Família das Cucurbitaceae e à Tribo das Cucurbiteae. O gênero Cucurbita compreende vinte e sete
espécies conhecidas. As cinco mais comumente cultivadas nas nossas hortas são
as seguintes: 1. Cucurbita pepo. Um
certo número de variedades no seio dessa espécie, é brenhosa. As folhas e os
caules possuem espinhos. As folhas, sempre profundamente cortadas, também se
caracterizam por lóbulos angulosos. O pedúnculo dos frutos se caracteriza por
divisões (de 5 a 8, e às vezes mais) muito marcadas e não se alarga no lugar da
inserção. Essas divisões se prolongam, sobre os frutos como costelas ou
colorações diferentes. As sementes são esbranquiçadas e achatadas. Elas estão
sempre na margem e são de cor branco-cinza uniforme."
A flor de abóbora na literatura:
Pela milenar cultura de seu povo, na China, as pessoas têm
pelo menos três nomes: o primeiro, recebem ao nascer; na idade escolar; recebem
o segundo, pelo qual são conhecidas por professores e colegas, entre os sete e
nove anos; e, por fim, o terceiro, pelo qual vão ser designadas na sociedade, o
nome social. Esse é definido entre os dezesseis e vinte e cinco anos.
Pois, Flor de Abobrinha detestou seu segundo nome. Era sua
festa de aniversário. Havia presentes para comemorar o evento. Ela, porém,
profundamente revoltada, a-se a participar dos festejos. Exigia que se
escolhesse outro nome.
Foi então que se recorreu ao avô, Mil Bocas, que conseguiu
convencê-la, narrando a fantástica história do Dragão da Noite. Aí apareciam a
Lua de Outono, o Perfume do Vento, A Estrela Fantástica, A alegria dos Bosques.
A Flor de Aboborinha passeava no céu entre as estrelas e encontrava um Príncipe
Encantado que por ela se apaixonava e saíam pelo Céu Infinito num passeio
fantástico.
E a menina sorriu, abriu os presentes. Comeram todos os
quitutes e foi uma noite muito feliz para todos. Na escola, como todos eram
apresentados por seus novos nomes, ninguém estranhou nome algum e ela passou a
ser Flor de Aboborinha, por toda a fase escolar, sem trauma nem dor.
As abóboras aparecem em muitos mitos, contos de fadas e seus
carros. Mesmo o grande filósofo latino Sêneca escreveu uma sátira contra o
imperador romano Claudius, intitulada Divi Claudius Apocolocyntosis (ou seja, O
Divino Cláudio que se Transformou em Abóbora).
Carro da Cinderela |
A Abóbora é uma planta que se tornou um objeto icônico nas
narrativas da Cinderela. Desde então passou a fazer parte do imaginário
popular.
Quando Cinderela precisava comparecer ao baile do príncipe,
a Fada Madrinha percebeu que ela não tinha uma carruagem. Então, encantou a
planta mais próxima e chamou-a em sua direção. Ao chegar à casa da mocinha,
transformara-se numa bela carruagem e transportou a jovem ao requintado salão da casa real.
De verdade? Eu não tenho coragem de comer uma flor.
ResponderExcluirMeu pai plantava abóboras no quintal dos fundos quando eu era pequena. A plantação ocupava todo o espaço, e minha mãe mandou-o arrancá-las, pois não tinha lugar para nós - as crianças - brincarmos. Ele ficou muito triste, mas atendeu ao pedido dela...
Mas eu sinto falta das abóboras esparramadas no chão, e das flores.
É uma delicia, na Itália é bem comum
ExcluirMinha querida Ana, elas são muito gostosas. Como digo no artigo, acho que gostoso é o ovo e o tempero. Respeito sua sensibilidade em não comer flores. Eu fui criado no campo. Lá se comia de tudo. Pequenos animais silvestres, peixinhos e muitas flores. Havia uma muito comum nos jardins, a maravilha (mirabilis Jalapa do Mendel) que a gente chupava e bebia um suquinho doce que ela tem.
ResponderExcluirEu adoro chás de flores: de jasmim, de rosas, de hibiscos e tantos outros.
Como disse, admiro sua sensibilidade. Amo flores e tenho dois jardins em minha casa. Não me dedico mais à agricultura porque a idade e a academia não me permitem, embora aposentado já da universidade. Continue com seus textos encantadores. Quando estou com sede de sentimentos profundos, visito suas páginas.
Um abraço com fraternal carinho.