CAPÍTULO I
CONFIDÊNCIAS E DELÍRIOS I
Não me olhes com os padrões de beleza forjados pelos milênios de arte e cultura que te precederam. Procura despir-te dos valores incutidos em ti por incontáveis filósofos, poetas, sacerdotes e mestres...
Às luzes deles, ver-me-ás horrível... minha mãe será uma megera intumescida... meu pai, um velho rechonchudo e criminoso... nossa vida, uma tragédia detestável e crudelíssima...
Procura, se puderes, olhar para nós com os padrões dos nossos tempos... dos nossos contemporâneos... somente assim poderás compreender um pouco das angústias que torturaram nossos espíritos infelizes e frágeis... o que parece arrogância e desfaçatez é, em última análise, expressão de fragilidade e pequenez...
Se não puderes me amar, vê se me podes compreender, pelo menos... eu fui assim... para sempre... irremediavelmente...
Da tua Lucrezia, que te espera do outro lado da cortina do destino.
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