sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

MEUS LIVROS NA FEIRA DO LIVRO DE RIO GRANDE


Encontram-se à disposição dos leitores meus livros, que estão disponíveis no estande da FURG.

SANCTA LUCREZIA DEI CATTANEI

Este livro, que abre o percurso de Oscar Brisolara como escritor, retrata as visões ou delírios do velho Giuseppe Amorevole. O protagonista ítalo-brasileiro percorre uma odisseia, por várias cidades italianas, em busca da história de sua família. Na contemporaneidade visita mosteiros, castelos e cemitérios que remontam ao Renascimento. Através de sua mediunidade, ou de sua loucura, diversos personagens falecidos manifestam-se e seus discursos remontam a história da família Bórgia. A voz mais presente é a de Sancta Lucrezia Dei Cattanei ─ nomeia a obra ─ conhecida como Lucrécia Bórgia e considerada uma das personagens femininas mais cruéis da história. Entretanto, no romance, a filha do Papa Alexandre VI procura desconstruir sua imagem de promíscua e assassina.
Ficção histórica que permite ao autor do romance descrever a Igreja Católica — representada pelos Bórgias — com todo tipo de crimes. Brisolara aproveita os escândalos da família papal para revelar, em um presente familiarizado com o imaginário cristão, devido ao aumento de igrejas e de fiéis, uma face pouco mencionada da historia da cultura religiosa cristã, qual seja, o aspecto feminino e sexual da religião católica.

DOS SEGREDOS DE EVA BRAUN

Depois do sucesso de "Sancta Lucrezia dei Cattanei", que aborda a polêmica vida de Lucrécia Bórgia, este é mais um livro do escritor gaúcho Oscar Luiz Brisolara. Professor de Letras Clássicas na FURG (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE), em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, escreve agora um livro de reminiscências de neto de imigrantes italianos e alemães. Narra o que viu e ouviu nos galpões coloniais a propósito das lutas de seus antepassados nas guerras europeias. Aborda também os problemas de identidade e rejeição entre os diversos grupos

"HÁ PÓ DE ESTRELAS PELAS ESTRADAS..."



“Há Pó de Estrelas pelas Estradas...” constitui-se de uma coletânea de crônicas e contos produzidos nos últimos tempos. Aborda, desde situações específicas da região como a figura do carvoeiro antigo ou do posteiro de estância, situações pessoais como a história de uma professorinha do campo, minhas convivências com as formigas ou com os cupins do campo, vivências do seminário franciscano.


O BEIJO DE MESSALINA


O livro de Oscar Luiz Brisolara intitulado “O Beijo de Messalina” foi lançado na 44ª Feira do Livro da FURG de 2017, não se trata apenas da narrativa da conturbada existência da infeliz e libidinosa imperatriz romana Valeria Messala Minor. Desafortunada esposa do imperador Claudius, Valeria Messalina foi desafeta ferrenha de Agripina, sua prima e mãe de Nero, a qual a substituiu no leito desse imperador, e provocou sua condenação à morte.
A existência da deslumbrante princesa transcorreu entre as relações promíscuas, escandalosas e extremadas de fogosa amante, por um lado; e, por outro, o terno amor de mãe que dedicou a seus dois diletos filhos Octavia e Britanicus. 
Assim, o antigo império dos césares fundava-se em valores perversos que levaram à disputa do poder a qualquer preço, gerando fratricídios, parricídios, matricídios e assassinatos de toda a ordem. Essa era a essência do paganismo romano. Messalina resumia em si mesma toda essa filosofia de vida. 
Na sequência do Império Romano, no século IV, o imperador Constantinus simulara uma conversão ao cristianismo. Porém, como trazia no íntimo a mesma perversão do antigo paganismo, em lugar de cristianizar o paganismo, paganizou a pobre e ingênua Igreja cristã. Deu um palácio e muito dinheiro aos papas. Assim, semeou a corrupção que atingiu muitos deles. Esse espírito pagão e nefasto ainda permanece em alguns ambientes e corações da administração da Igreja atual. 
O autor costura fatos e filosofias através de um narrador em primeira pessoa, que viaja para Roma, na busca de dados para sua obra. Nessa cidade, encontra um ex-colega de cátedra que trabalha no Vaticano. Esse lhe fornece a cópia única de textos milenares, palimpsestos, com dados secretos sobre a vida íntima da imperatriz Valeria Messalina. Em Roma, conhece também outro jesuíta que lhe fornece informações secretas a respeito das disputas internas no Vaticano. As constantes contendas pelo poder, muitas vezes ocorridas mesmo no seio da Santa Sé, assemelham-se muito mais às perversas disputas já existentes no antigo Império romano, do que à luminosa trilha da fé e do amor divino que se acreditaria mover a ação dos líderes de entidade de tamanho prestígio.
Narra, de modo especial, a disputa entre os cardeais pela coroa papal. Há mesmo dados desconhecidos do público sobre a atuação de eminências cujos nomes são sobejamente conhecidos, tanto nos meios eclesiásticos, quanto na política externa universal da Santa Sé. 
Esses dados deixam evidente que organismos de informação e repressão criticados na Igreja medieval permanecem atuantes hoje, sob a máscara de eufêmicas siglas e afáveis expressões de linguagem. 
Eleições, renúncia, mortes e substituições em cargos privilegiados são a parte visível de um conturbado universo de competições e mesquinharias. 
Recuperando os primeiros séculos da história do Império Romano, o escritor encontra nos perversos atores dessa detestável política de corrupção e hipocrisia, parâmetros de comparação com a “impoluta” atuação de alguns agentes eclesiásticos de agora. 
Valeria Messalina é uma personagem que engloba em seu ser a maldade, a malícia, o interesse pessoal a qualquer custo, de uma parte, e a infantilidade, a inocência e o amor familiar de outro. 
Assim como houve homens generosos e honestos naquele mundo perverso de Roma, em que se criaram as bases de toda a exploração e violência, os há também, em números significativos entre os agentes da fé católica. 
Desse modo, na trama que sustenta ambos os percursos narrativos, o do chamado paganismo romano, e o do cristianismo salvador, o bem e o mal entrecruzam-se e se interinfluenciam a passo e passo. 
Nesse conluio entre o sacro e o demoníaco, o beijo da musa romana pagã Valeria Messala Minor chegou à face de religiosos contemporâneos, maculando o seio de seminários e mosteiros, dioceses e paróquias. O beijo sensual e libidinoso de Messalina atingiu a face mesma de alguns papas. 
Em contraposição, um poderoso movimento surgiu do amável coração de Cristo, que estendeu seu generoso manto de caridade e fé sobre uma imensa multidão de desvalidos que encontram cada vez mais justiça e paz. A ação salvadora da fé se aparece na pessoa do padre Víctor, que, mesmo diante dos pecados de alguns colegas do Vaticano, continua lutando pelo bem e pela lisura íntima de um cristianismo autêntico.

COMENTÁRIOS

1. José Luiz Fiorin -comentário sobre "Sancta Lucrezia de Cattanei"

Quanto ao seu livro Sancta Lucrezia dei Cattanei, penso que a construção, com sua pluralidade de vozes, é o elemento estrutural que chama a atenção. É de um domínio da técnica narrativa impressionante. Além disso, você consegue apresentar os fatos históricos sob uma luz completamente diferente, mostrando que a história, no fundo, é uma construção discursiva. 

Prof. Dr. José Luiz Fiorin, doutor e livre-docente em Linguística, escritor e professor da USP.


2. Prof. Aldyr Garcia Schlee -   
Prof. Dr. sociólogo e escritor 
Oscar Luiz Brisolara, o autor deste romance, é um respeitado e conceituado professor que se distinguiu por trinta anos nas áreas de Latim, Linguística, Literatura e Língua Portuguesa da Universidade Católica de Pelotas e que agora atua no Instituto de Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande. Ao nos apresentar seu livro de estreia, que tenho aqui a satisfação e a honra de prefaciar, Oscar Brisolara afirma-se também como ficcionista, aproveitando-se de um importante lastro cultural que, incluindo o domínio da língua portuguesa e do latim, adquiriu em aprofundados estudos feitos quando seminarista – e que o fizeram sempre interessado em temas como os que tão bem romanceia neste seu Sancta Lucrezia dei Cattanei, uma surpreendente, inquietante e original história de Lucrécia Bórgia, sublinhada muito apropriadamente com a frase “Solatio est miseris habere communis malorum”. De Lucrécia Bórgia muito se soube, como também de sua família e do tanto que se atribuiu a ela e à família; mas já se sabe pouco ou quase nada, na medida em que o tempo foi se encarregando de borrar e apagar o que se sabia – e toda a documentação, todos os textos, todas as imagens, todos os registros artísticos quedaram-se como que perdidos num passado cada vez mais remoto e inacessível. Nem mesmo a literatura ou o cinema – nem a televisão recente – incursionando pela vida dos Bórgia, têm conseguido recuperar o que já (ainda) não sabemos antes de ler Sancta Lucrezia dei Cattanei. A História conta – e consta em qualquer anotação vulgar – que Lucrécia Bórgia era filha do Papa Alexandre VI. Nascera em 1480 e morreria com apenas 39 anos de idade, tendo casado três vezes para satisfazer interesses políticos do pai. Aos 13 anos, fizeram-na esposar João Sforza, mas o casamento seria anulado por Alexandre VI para ela que casasse com Afonso de Aragão, assassinado depois por interesses da família; finalmente, seria feita esposa de Afonso d’Este, Duque de Ferrara – e se tornaria Duquesa de Ferrara. Sancta Lucrezia Dei Cattanei • Oscar Luiz Brisolara 8 As notas biográficas de Lucrécia Bórgia geralmente não dizem que a mãe dela, Rosa Giovanna dei Cattanei, era uma prostituta conhecida por Vanoza dei Cattanei. Também não revelam que “Orlando Furioso”, a obra prima do grande poeta Ariosto, era dedicada a Lucrécia; e que César Bórgia, irmão dela, fora tomado como modelo por Maquiavel em “O Príncipe”. E não dizem, ainda, que ela seria e foi Sancta Lucrezia dei Cattanei, eternizada numa pintura de Bartolomeu Veneziano, na qual aparece com um seio à mostra, um enigmático e desafiante olhar enviesado e algo na mão direita – talvez um punhal sangrento, em forma de crucifixo, que o leitor verá na capa deste romance. A imagem de Santa Lucrécia, aliás Sancta Lucrezia dei Cattanei, na capa deste livro, é bem a imagem da protagonista do romance, muito mais próxima da literariedade com que foi construída por Oscar Brisolara do que da obscura e multifacetada realidade com que terá sido vista, retratada e esquecida por seus coevos. Já por aí começa a se distinguir, por sua singularidade, esta obra de ficção posta desafiadoramente sobre a História. É assim que, tratando de História, Brisolara faz Literatura. Faz Literatura, trabalhando predominantemente com e a partir da memória de Lucrécia Bórgia, personagem histórica transformada em figura literária. A memória de Lucrécia, com a qual o escritor trabalha neste livro, recuperando-a entre muitas e reveladoras vozes, insuspeitadas confidências, disparatados delírios, imprevisíveis horrores e confessados suplícios, é contraponteada aqui e – de certa maneira – reposta no tempo por uma sucessão de diálogos entre dois personagens vivendo no presente: um, crente; e, um outro, ateu. O livro, desenvolvido em torno de cinquenta aparentes capítulos, compõe-se na verdade em um bem elaborado e muito adequado arranjo dessas partes em conjuntos que nos remetem ao desenvolvimento da trama ficcional, a qual se alterna num crescendo entre vozes do passado (principalmente de Lucrécia) e vozes do presente (muito especialmente as do bancário Pio Sguelti, crente, e do professor Demétrio da Silva, ateu). O leitor perceberá, no andamento da leitura de Sancta Lucrezia dei Cattanei, que o autor, muito habilmente o prenderá numa teia de interesse, dúvida e mistério, construída e desenvolvida em pelo menos três grandes tempos (ou grandes partes) do livro. Uma, inicial, compreendendo vozes, confidências, delírios e horrores, com mínima ocorrência de diálogos entre o crente e o ateu; outra, final, predominantemente ocupada por nove trechos atribuídos a Sancta Lucrezia dei Cattanei e outros nove, de diálogos presentes entre o bancário e o professor. Intermediando esses grandes tempos da história (memória) de Lucrécia, há um desfilar dos marcantes “suplícios de Savonarola” e das Sancta Lucrezia Dei Cattanei • Oscar Luiz Brisolara 9 pungentes vozes de “uma prostituta romana” (sem interferência do professor ateu e do bancário crente). A tensão da leitura (escritura) constitui marca preponderante e característica desta obra de estreia de Brisolara que, tendo sua temática voltada para o velho, inscreve-se desde logo e por isso mesmo, como algo de novo no plano geral da narrativa literária brasileira. O novo, finalmente, apresenta-se aqui como forma de assediar, de invadir, de conquistar e de incorporar o velho. O novo que aproveita e recupera o ontem esquecido, o passado oculto, o decorrido inimaginável – e alcança no velho uma nova dimensão estritamente literária, criativa e original. Oscar Luiz Brisolara estreia, assim, com um romance cujo fascínio e novidade estão em não ser necessariamente um romance histórico nem uma biografia de Lucrécia Bórgia; mas em ser a reconstrução ficcional da história de uma certa Sancta Lucrezia dei Cattanei, sempre e sempre posta diante do leitor como uma protagonista literária de bem urdida e cativante trama. O autor assume-se, assim, como um escritor pronto e acabado como seu próprio romance. Recuperando a memória de Lucrécia Bórgia e legando-nos com seu rememorar a lembrança de Lucrécia, ele alcança já no seu primeiro livro, a condição de um escritor que sabe o que quer, sabe o que faz e sabe o legado de que é capaz, no desenvolvimento de sua atividade literária.

3.  Professora Trícia Amaral - 
Professora de latim na FURG, doutoranda UFSC
Sobre O Beijo de Messalina 

Meu querido Professor Oscar! 
Primeiro, preciso dizer do privilégio que foi poder ler O Beijo de Messalina antes mesmo do lançamento. Aliás, privilégio e gratidão por tamanha honra. 
Sempre acreditei que escrever, apesar de ser uma prática que pode ser aprendida, também requer certa pitada de dom. É daí que vem a magia na composição do texto, no estilo, na escolha das palavras que, por consequência, inebriam, envolvem, fazem o leitor querer mais. Mas também é preciso conhecer do mundo, conhecer da vida... para estória (história!) ser mais instigante ainda. Bem, és perspicaz como autor e como leitor, então já sabes onde quero chegar.... Tens a prática. Tens o dom. Tens o conhecimento. E aí... temos O Beijo de Messalina. 
Que grata obra para quem a ler! Que presente! Quando comecei, não consegui parar, envolta nos diversos mistérios dos múltiplos tempos que trazes. Naturalmente, as incursões na história do Império Romano, que se confunde com a Igreja Católica e com a Língua Latina, me tiveram um sabor especial, dado o momento que vivo em minha carreira, como tua jamais substituta e eterna aprendiz. 
Deu-me uma vontade louca de estudar mais sobre tudo. De ser o narrador (de ser o senhor!) que de tanto buscar e conhecer e não se acomodar, vai “desaprendendo umas coisas por outras”, vai deixando de ser Luizinho. Se quero deixar de ser Luizinho? Não. Não quero deixá-lo morrer em mim. Mas também não quero sê-lo para sempre. Quero ter ingenuidade, quero ver beleza no simples, quero ter fé. E quero desconfiar de quedas de aviões com ministros, quero ver o quanto o poder pode corromper e ser feio, quero ser como o ateu Padre Eusébio. E quero lutar. E quero ter fé de novo. A fé inabalável do Padre Victor. 
E é assim que me sinto ao final da minha leitura. Querendo ser. Envolvida pelo mistério que brilhantemente trazes ao teu leitor e que, de leve, se descortina, mas mantém uma aura de dúvidas e questionamentos. Bem... A vida é um palimpsesto. Às vezes precisamos de uma luz forte, como o teu livro. Às vezes está tudo na superfície, basta querer ver. 
Um grande beijo da tua eterna aluna e sempre admiradora. E sempre grata. Sucesso! 
Carinho, Trícia 
Em 23 de janeiro de 2017. 



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