sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS E A ARCA DA ALIANÇA, PARTE 8


Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, capítulo 8
Posted by Thoth3126 on 05/01/2018

O que exatamente se sabia a respeito da antiga terra de Edom? Não somente a Bíblia, como também textos de países do Oriente Médio, além de Judá, referiam-se a ela. Ao examinar esses diversos relatos, a área descrita como Edom correspondia, grosso modo, à metade sul do Deserto de Negev, que em tempos bíblicos formava as partes habitadas ao sul e ao leste do Deserto de Sinai.
Ela, hoje, continua da mesma forma que no passado. Até onde os olhos alcançam, o sol bate impiedoso sobre rochas maciças e abrasadoras, em uma terra sem vida. Dia após dia, anos após ano, o solo arde sob o calor estonteante (n.T. uma grande diferença hoje é a existência da usina Nuclear de Dimona, onde Israel produziu e armazena cerca de 300 bombas atômicas). 

Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch

Livro Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, de Graham Phillips, Editora Madras – Capítulo VIII – O Vale do Edom


8. O Vale de Edom

Nesse deserto seco e rochoso, com 200 quilômetros de comprimento e 200 quilômetros de largura, as temperaturas podem chegar a mais de quarenta graus na sombra. À noite, porém, a temperatura mergulha chegando a congelar o ar, e um frio cortante desce sobre o campo estéril. As Montanhas de Shara passam bem ao meio dessa devastação árida, e bem no meio delas, está o vale que outrora fora chamado de Vale de Edom. Alimentado por correntezas de montanhas frias e ladeado por altos penhascos, o lugar era um porto para a vida sofrida em terrenos mais hostis.

Hoje, embora o vale seja muito mais cheio de vida do que o deserto adjacente, não pode ser considerado um lugar fértil como há três mil anos, quando as pancadas de chuva eram mais constantes e inúmeros riachos alimentavam seu solo. Localizado cerca de vinte quilômetros dentro do que hoje é chamado de reino da Jordânia, o Vale de Edom tem aproximadamente oitocentos metros de largura por cinco quilômetros de comprimento. Embora toda a parte sul de Negev fosse conhecida como a terra de Edom, na época dos antigos israelitas, o reino dos edomeus era um domínio muito pequeno, centralizado sobre esse vale fértil.


Parece, então, que esse vale isolado era a terra da qual Moisés teve de pedir permissão para o rei de Edom deixá-los cruzar após criar a fonte milagrosa de água. Como o incidente acontecera em Horebe, e Horebe era um outro nome do Monte Sinai, tudo indica que uma das montanhas que circundavam o Vale de Edom era a misteriosa Montanha de Deus. Nos tempos antigos, uma importante rota de comércio passava bem ao meio do Vale de Edom, de leste a oeste. A rota ligava o Egito à África com o mundo árabe e o Oriente, e os edomeus que a controlaram por mais e mil anos até o século IV, prosperavam com as tarifas que cobravam.

O vale era uma fortaleza natural com trechos facilmente protegidos, e as entradas para a rota de comércio eram desfiladeiros tão estreitos em alguns lugares, que animais de transporte só podiam passar em fila indiana. De acordo com o relato do Êxodo, o incidente da fonte milagrosa aconteceu na “rocha em Horebe” (Ex 17:5-6), e do relato dos Números podemos deduzir que o mesmo incidente aconteceu em um lugar chamado Kadesh (Cades) — o lugar sagrado — na fronteira do reino dos edomeus (Nm 20:9-17). Se os israelitas tinham vindo do sul do Deserto de Sinai, teriam chegado, então, na fronteira do reino dos edomeus em um desfiladeiro que é hoje conhecido como Siq al Barid, que em árabe quer dizer “canal frio” e chamado apenas de Siq como abreviação. Se minha teoria estivesse certa, era ali que o Monte Sinai seria encontrado.

Ao viajar para o sul de Jerusalém de ônibus, cruzei a fronteira de Israel até a Jordânia para chegar logo em seguida na cidade de Elji, que fica na extremidade externa do desfiladeiro de Siq. Elji não era nada parecido com o que eu esperava. Havia imaginado um calmo e pequeno vilarejo, habitado por apenas alguns poucos fazendeiros locais e suas famílias. No entanto, o lugar era um espaço popular entre os turistas com hotéis e lojas modernas de presentes e lembranças.

Depois de me instalar em um dos hotéis, olhei pela janela do quarto em direção às montanhas que se erguiam dos dois lados da entrada do desfiladeiro. Em contraste absoluto com o deserto, suas rochas eram uma paisagem de cores: marrom dourado, amarelo, laranja e vermelho. Se estivesse certo, uma dessas duas montanhas tinha de ter sido Horebe, onde Moisés criara a fonte milagrosa. Qual das duas, eu imaginava, teria sido o verdadeiro Monte Sinai, a Montanha de Deus?

No dia seguinte, contratei um guia local chamado Abdul, que quase imediatamente disse algo que me deixou impressionado. O Vale de Edom é hoje chamado de Wadi Musa, que em árabe quer dizer “o vale de Moisés”. Era assim chamado, Abdul me disse, porque existia uma tradição dos beduínos locais de que tinha sido ali que Moisés criara a fonte milagrosa na história do Antigo testamento. Eu achava que tinha sido muito esperto ao descobrir que o povo local acreditava nisso há anos. Na verdade, chegaram a construir um santuário no lugar exato onde acreditavam que o incidente tinha ocorrido, próximo à entrada do Siq. Chamada de Ain Musa — a Fonte de Moisés —, ela era uma pequena mesquita com uma cúpula erguida sobre um tanque retangular, ainda alimentado por uma fonte de água fresca.

A tradição de Ain Musa era de fato antiga, como descobri posteriormente. Ela é confirmada pelo cronista árabe medieval Numairi. Numairi era um egípcio e sua crônica, datada do século XIII, ainda sobrevive na Biblioteca Nacional do Egito, no Cairo. Ao mencionar a aproximação de Petra, Numairi escreveu: No pé da montanha há uma fonte, que dizem jamais secar. As pessoas da região dizem que Moisés, o Profeta de Deus, que descanse em paz, a gerou com sua vara. 

O deserto do Sinai

Se essa fonte fosse de fato a citada no relato do Êxodo — uma fonte surgiu em uma rocha “em Horebe” — ao que tudo indica, a montanha erguida acima dela nada mais era que o próprio Monte Horebe. Do lado de fora do santuário, avistei os altos penhascos de arenito que se erguiam diante de mim. Seria essa, de fato, a Montanha de Deus? Perguntei a Abdul se existiam quaisquer tradições que associavam a montanha ao Monte Sinai. Infelizmente, ele não conhecia nada a esse respeito. Entretanto, ele me disse que há muito tempo, ela fora considerada um lugar sagrado pelos beduínos da região. Era chamada de Jebel Madhbah — Montanha do Altar — porque havia um antigo santuário em seu pico, que tinha mais de três mil anos de idade.

O que me impressionou ainda mais, por tudo o que já sabia, era que nenhum estudioso bíblico, arqueólogo ou historiador que tentara buscar a Montanha de Deus parecia admitir a relevância do santuário de Ain Musa. Só podia supor que não haviam relacionado o relato do livro dos Números da criação da fonte milagrosa de Moisés, ao mesmo relato no livro do Êxodo. Abdul se ofereceu para me levar até Jebel Madhbah e me mostrar o santuário no cume da montanha. A única forma de chegar lá era por dentro da Wadi Musa, e o meio mais rápido para subir ao local seria à cavalo ou com um camelo.

Abdul tinha diversos cavalos à sua disposição, mas eu só havia cavalgado uma única vez na vida e duvidava que fosse capaz de subir com o animal, e muito menos controlá-lo. No entanto, não foi tão difícil quanto imaginei; o animal parecia saber o que fazer e simplesmente seguiu o cavalo de Abdul e parou ao mesmo tempo que ele. Assim como para os antigos israelitas, o único caminho para entrar no Vale de Edom pela extremidade sul, evitando a rebocadura íngreme das montanhas, era através do Siq, que se estendia ao leste por quase dois quilômetros de rochas sólidas.

Essa rachadura profunda e estreita foi criada há milhões de anos quando alguma sublevação geológica gigantesca literalmente partiu a montanha em duas. No início, esse desfiladeiro longo e espiralado tinha cerca de quatro metros e meio de largura, mas quanto mais caminhávamos por ele, mais estreito ele ficava, até que a luz do sol não mais brilhava por entre as paredes escarpadas dos dois lados. Aparentemente, é por isso que era chamado de “canal frio”. Finalmente, após cavalgarmos pelo que parecia uma eternidade, e exatamente quando o corredor profundo e escuro parecia fechar-se por completo diante de nós, alcançamos uma das vistas mais espetaculares que já vi.

A entrada do SIQ, um estreito desfiladeiro que leva até a antiga cidade de Petra, totalmente escavada na rocha.

Erguendo-se acima de nós no penhasco à frente havia uma edificação com 40 metros de um monumento gigantesco: duas fileiras de colunas altíssimas, frontões triangulares colossais, vãos para estátuas e cântaros esculpidos, todos cravados na curvatura da face da rocha. Era, disseram-me, a entrada para uma série de amplas câmaras que adentravam a montanha. Imediatamente, percebi que já tinha visto aquele monumento antes. Fora usado por Steven Spielberg como o repositório perdido do Santo Graal em seu filme Indiana Jones e a Última Cruzada. Hoje chamado de Al Khazneh — o Cofre — sua função original é um mistério, mas acredita-se tratar-se dos restos de uma tumba de dois mil anos de idade.

Por mais antigo que possa ser, o Cofre não estivera ali quando os edomeus ocuparam o Vale nos tempos do Antigo Testamento. Abdul explicou que aquele era um dos muitos monumentos construídos pelos nabateus que se mudaram para o Vale de Edom no século IV a.C. Forçados a ir para o oeste pelo crescente império babilônico, os nabateus surgiram ao redor do Golfo Árabe e foram inicialmente compelidos a levar uma existência nômade no Deserto da Arábia. Alguma coisa, talvez incursões dos babilônios, enfraqueceram os edomeus entre os séculos VI e IV a.C. o que fez com que os nabateus se mudassem para o Vale de Edom e ganhassem o controle do local.

No fim do século IV a.C, Alexandre, o Grande estabelecera a influência dos gregos por todo o leste do Mediterrâneo, e os nabateus logo passaram a controlar as novas rotas de comércio que surgiram nas Montanhas de Shara. Edificado em um cruzamento entre as terras do Mediterrâneo e as terras do Leste Próximo e da Ásia, o reino dos nabateus tornou-se rico e poderoso, e uma grande cidade, a cidade de Petra, desenvolveu-se no coração do vale. Uma das cidades mais importantes do Oriente Médio, Petra permaneceu independente até que foi incorporada pelos romanos, em 106 d.C.

Em Petra, na Jordânia, a enorme entrada do Al Khazneh (tradução árabe para “O Cofre/Tesouro”) é um dos maiores monumentos de Petra. A data da construção desse monumento é desconhecida, sendo atribuído, porém, a algo entre 200 a.C.e 100 D.C.

Abdul queria me mostrar todo o Cofre, por isso descemos de nossos cavalos e entramos no local. No interior escuro, passando por uma enorme entrada com uns seis metros de altura, deparei-me com um amplo corredor que dava acesso a salas vazias e frias, bem ao fundo da montanha. Enquanto acompanhava meu guia de uma câmara a outra, ele me contou que os arqueólogos acreditavam que ali havia sido a tumba de um importante rei nabateu que vivera em Petra nos tempos romanos. Quando perguntei o porquê de o lugar se chamar o Cofre, Abdul contou-me uma história fascinante de um tesouro escondido.

Ao que parece, no século XII, alguns Cavaleiros Cruzados europeus tinham encontrado jóias e artefatos de ouro puro escondidos em uma caverna da redondeza. Desde então, inúmeros caçadores de tesouros escavaram por todos os arredores do monumento, na esperança de encontrar mais peças. Quando saíamos do Cofre, dois grupos de turistas ocidentais chegaram no local. Ao ouvir vozes de pessoas falando em inglês, estava prestes a ir até eles para bater papo quando algo muito estranho aconteceu.

Uma rajada de vento repentino e violento chicoteou a poeira do chão do vale, fazendo com que os cavalos começassem a relinchar, forçando os turistas a cobrir seus rostos enquanto uma areia quente e seca soprava na direção de meus olhos. Foi então que ouvi o som mais assustador da minha vida. Era um barulho ensurdecedor, como uma cacofonia bizarra de trombetas de orações budistas sendo sopradas em uníssono.

Incapaz de ver, tentei imaginar o que estaria acontecendo. Alguns segundos depois, o vento se acalmou e o ruído parou. Quando, finalmente, consegui abrir meus olhos, pude ver que os turistas estavam tão assombrados quanto eu. Olhavam ao seu redor em um silêncio perplexo, enquanto dois guias árabes riam enlouquecidos. Atrás de mim, Abdul se juntou a eles. “Isso sempre assusta os visitantes,” ele riu. Explicou que o som estranho era um fenômeno raro, porém natural, criado por um vento forte que às vezes uiva pelo Siq. Os beduínos locais, ele me disse, chamam-no de “a trombeta de Deus”.

A princípio, ri junto com eles. Os guias obviamente ainda não tinham dito aos turistas, que ainda estavam visivelmente abalados pelo som sobrenatural como a causa do barulho. De repente, porém, aquela cena me fez lembrar de algo que tinha, naquela mesma manhã, lido na Bíblia. Estivera relendo os versículos mais relevantes do Antigo Testamento que mencionava a primeira visita dos israelitas na Montanha de Deus. De acordo com Êxodo 9:11-27, enquanto Moisés preparava os israelitas para testemunhar a manifestação de Deus, eles acamparam ao pé da montanha.

No terceiro dia, Deus finalmente desceu sobre o Monte Sinai: Houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial. (Ex 19:16) Uma buzina mui forte! Podia essa ser uma antiga descrição do mesmo som que acabara de ouvir? Se os israelitas acamparam ao pé de Jebel Madhbah, eles podiam muito bem ter montado seu acampamento exatamente sobre o mesmo lugar onde eu estava naquele instante.

A enorme fenda, conhecida como SIQ, e o desfiladeiro montanha acima.

A passagem do Êxodo sugeria que uma tempestade violenta estava se formando — e com as tempestades vêm os ventos. (Hoje, essas tempestades são uma raridade na região, embora quando caem, as chuvas podem ser torrenciais.) Se o vento tivesse uivado pelo desfiladeiro como acabara de acontecer, os antigos israelitas podem muito bem ter ficado aterrorizados como os desnorteados turistas. Os israelitas consideraram o som que ouviram como um sinal de Deus. Os beduínos locais chegaram a chamar o fenômeno de a trombeta de Deus. Uma coincidência, talvez, mas algo, sem dúvida alguma,
fascinante!

Enquanto continuávamos nossa viagem pelo vale, olhei para o altocontemplando Jebel Madhbah, toda aquela imensidão que se erguia acima do Cofre. Será que os antigos israelitas, de fato, viram algo espetacular em algum lugar entre aquelas rochas primitivas e desgastadas pelo tempo — uma manifestação tão surpreendente que, para eles, não poderia ter sido outra coisa, senão do próprio Deus? Além do Cofre, havia um outro desfiladeiro, conhecido como o Siq Externo, flanqueado em suas duas laterais por uma parede de penhascos escarpados. Entretanto, não era nem um pouco estreita quanto o próprio Siq, com cerca de sessenta metros de largura.

O caminho nos levou até Wadi Musa, a aproximadamente quinhentos metros ao norte, onde uma planície larga e horizontal se dispunha entre montanhas escabrosas, que se estendiam diante de nós. Na época de Moisés, aquele lugar fora o lar dos edomeus, mas as ruínas que hoje dominam o vale, são os restos da cidade de Petra dos nabateus. São, na verdade, ruínas clássicas, que tiveram suas construções influenciadas pelas arquiteturas gregas e romanas — um anfiteatro, as paredes das casas, prédios administrativos e templos, todos dispostos ao redor de uma série de estradas pavimentadas.

Dos dois lados dessas avenidas retas, pilares de pedras, colunatas e estátuas quebradas marcam os caminhos que, há muito tempo, compunham as vias da antiga cidade. Cravados nos penhascos ao redor de Petra existem centenas de tumbas ornadas e dispersas, muitas delas parecidas com o Cofre, embora não tão grandes. Antes dos nabateus mudarem-se para o vale, a capital dos edomeus ficava nesse local. Pode ter sido menos elaborada, mas era uma cidade sofisticada para a época. Nas escavações de assentamentos dos edomeus foram encontrados cerâmicas decoradas, tábuas de argila com inscrições e muitos outros artefatos de trabalhos manuais de alto padrão, revelando uma população próspera e bem defendida.

Embora essa tenha sido uma colonização com casas simples de tijolos de barro, havia um complexo do palácio central de onde os líderes dos edomeus controlavam o reino de seu vale. O mais antigo nível de ocupação foi descoberto como datado de cerca de 1500 a.C, o que mostrou a existência da presença dos edomeus no vale quando os israelitas podem ter chegado ali, por volta de 1360 A.C. “Os antigos edomeus tinham uma cultura avançada”, Abdul me disse enquanto descíamos de nossos cavalos com um dos funcionários do anfiteatro de estilo romano olhando-nos da entrada do Siq Externo.

As tumbas na região de Petra.

“O santuário no cume de Jebel Madhbah foi construído por eles, e para conseguirem chegar até ele, fizeram isso”. Ele apontou para um lance de degraus desenhado na lateral do penhasco que subia em forma de ziguezague pelo lado da montanha. Abdul estava muito mais em forma do que eu, e depois de termos escalado mais de trinta metros acima do vale, eu estava exausto. Finalmente, chegamos em um platô de pedras, com cerca de sessenta metros de comprimento por trinta metros de largura. Era conhecido como o Terraço dos Obeliscos, Abdul me explicou, por causa de dois enormes monumentos que havia ali. Sobre o terraço, com uma distância de trinta metros entre elas, havia dois obeliscos altos: enormes pilares de rocha sólida, cada um deles com cerca de seis metros de altura.

Após recompor minha respiração e examinar os monumentos, logo percebi que o trabalho necessário para criar aquelas estruturas gigantescas era algo ainda mais impressionante do que podia imaginar. Elas foram esculpidas a partir do alicerce da montanha. Para dar forma àqueles obeliscos, os construtores tiveram que extrair rochas sólidas de seus arredores, Abdul explicou. Todo o terraço, com 6.000 metros quadrados ao todo, era uma construção artificial — uma realização surpreendente para um povo sem tecnologia moderna.

Mais incrível ainda, não fora a civilização dos nabateus que a criara, mas sim os primeiros edomeus Escavações das pedras encontradas ao redor do platô revelaram restos orgânicos — como por exemplo, ossos de animais — que tinham sido datados por meio de testes de radiocarbono de cerca de 1500 a.C. Notavelmente, portanto, esses monumentos já estariam ali quando os israelitas parecem ter deixado o Egito para vagar pelo Deserto de Sinai, por volta de 1360 a.C. 

O local deve ter sido ainda mais impressionante quando foi criado. Arqueólogos encontraram grandes placas quebradas de ardósia trabalhada na mestra do reboco ao redor do platô e concluíram que as pedras, que não eram naturais da região, haviam sido usadas para formar um área pavimentada ao redor dos obeliscos. Após examinar os fragmentos da ardósia em detalhes, os arqueólogos calcularam que haviam sido polidas para criar uma superfície azulada brilhante para a afluência de pessoas onde, ao que parece, cerimônias religiosas aconteciam.

“Esses obeliscos parecem ter sido a entrada processional do santuário que fica ali no pico”, disse Abdul, indicando o topo da montanha, que era ligado ao terraço por um sulco estreito com cerca de cento e oitenta metros de comprimento. “Os beduínos ainda consideram esse platô como um solo sagrado; chamam esses monumentos de Al-Serif, que significa ‘os pés’, porque têm uma tradição de que Deus esteve aqui presente.” 

Eu esperava encontrar lendas locais que estabelecessem uma conexão entre Jebel Madhbah e o aparecimento bíblico de Deus, e agora tinha uma. Além disso, a topografia da montanha era equivalente às descrições da Montanha de Deus no Antigo Testamento. O nível do rompimento do terreno de Jebel Madhbah — o terraço dos obeliscos abaixo do santuário no pico da montanha — certamente se encaixava com o que sabemos a respeito do primeiro encontro dos israelitas com Deus no Monte Sinai.

O Terraço de Obeliscos

Após ter criado a fonte milagrosa, e os israelitas montarem seu acampamento no pé da montanha, Moisés preparou seu povo para se encontrar com o próprio Deus: O Senhor descerá diante dos olhos de todo o povo sobre o monte Sinai… E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do monte. (Ex 19:11, 17)
Está implícito aqui que havia dois níveis para o lugar sagrado onde Deus seria encontrado. Como o “pé” do monte significa um nível “inferior,” as pessoas estavam em algum lugar abaixo do precinto do topo da montanha santa onde Moisés mais tarde recebeu os Dez Mandamentos — exatamente como teria acontecido se os israelitas tivessem subido em Jebel Madhbah, no lugar do Terraço dos Obeliscos, e olhassem em direção ao cume do monte, a cento e oitenta metros ao norte. Em uma outra ocasião, os anciãos israelitas foram mais uma vez convidados a subir até a parte inferior da montanha:
Depois (Deus) disse a Moisés: Sobe ao Senhor, tu e Aarão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel; e adorai de longe. E só Moisés se chegará ao Senhor: mas eles não se cheguem; nem o povo suba com ele… E subiram Moisés e Aarão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel: E viram
o Deus de Israel: e debaixo de seus pés havia como que uma pavimentação de pedra de safira. (Ex 24:1-10) Surpreendentemente, essa passagem poderia ser uma descrição exata do Terraço dos Obeliscos. A pedra azul polida que os arqueólogos encontraram pode muito bem ter feito com que o terraço brilhasse com o reflexo da luz do sol “como que uma pavimentação de pedra de safira”.
Os pés de Deus são inclusive mencionados, estabelecendo uma ligação com a antiga tradição da escritura dos beduínos. A lenda pode muito bem ter surgido de uma antiga associação entre o relato bíblico e o Terraço dos Obeliscos. Por diversas vezes, o Antigo Testamento se refere aos marcos sagrados como os anexos de Deus. Por exemplo, a colina sobre a qual a cidade de Samaria se erguia era chamada de o “Punho de Deus”, e havia também Penuel, a “face de Deus” — um penhasco no vale da Jordânia. Quando Abdul finalmente me conduziu pela passagem que levava ao santuário no pico da montanha, vi-me diante de uma outra estrutura de antiga engenharia bastante impressionante.
Conhecido como o Lugar Superior, aquele era um antigo templo ao ar livre, com mais de novecentos metros acima do nível do mar. Como os obeliscos, a estrutura fora alicerçada nas rochas sólidas do monte e acredita-se ser datada do mesmo período. Uma grande depressão retangular, medindo cerca de quinze por seis metros, fora cortada com perfeição a partir do arenito a uma profundidade de aproximadamente quinze polegadas, e ao seu redor estavam os restos dos bancos de pedras lapidadas onde os adoradores se sentavam. Próximo ao centro deste pátio, como os arqueólogos se referem a este espaço, havia uma plataforma de pedras, de dois por um metro, erguida ao lado de uma enorme bacia de pedra quase do mesmo tamanho. O altar principal tinha
degraus escarpados e era provavelmente de onde os sacerdotes edomeus presidiam seus rituais, enquanto que a bacia, ao que tudo indica, era usada para depositar o sangue dos animais sacrificados.
Se Jebel Madhbah era o Monte Sinai, esse templo ao céu aberto é onde Moisés teria vindo sozinho para receber os Dez Mandamentos: Então disse o Senhor a Moisés, Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tabelas (tábuas) de pedra, e a lei, e os mandamentos que tenho escrito para vos ensinar. (Ex 24:12) Se esse santuário de fato datava do mesmo período do Terraço dos Obeliscos, como os arqueólogos acreditavam, então, seria ali que, no tempo de Moisés, a história teria acontecido. E se o historiador judeu Josephus estivesse certo, o povo da região ao redor do Monte Sinai já o considerava uma montanha santa antes de Moisés ou dos israelitas ali chegarem.


Josephus nos diz que, quando Moisés pisou pela primeira vez na montanha, o povo local não permitia a pastagem em suas ladeiras porque os “homens de opinião diziam que Deus habitava ali”. Se a montanha já era considerada sagrada, imaginamos que já existia ali algum tipo de templo, e o Lugar Superior no pico de Jebel Madhbah, pode muito bem ter sido esse santuário.
Os edomeus eram parentes próximos dos israelitas, e portanto sua religião pode ter sido bastante semelhante. Independentemente de qual divindade os edomeus adoravam em Jebel Madhbah, porém, se este era o Monte Sinai, o santuário pode ter sido o lugar onde acreditava-se que Deus aparecera para Moisés: E, subindo Moisés ao monte, a nuvem cobriu o monte. E a glória do Senhor repousou sobre o monte Sinai, e a nuvem o cobriu por seis dias; e ao sétimo dia chamou a Moisés do meio da nuvem. E o parecer da glória do Senhor era como um fogo consumidor no cume do monte, aos olhos dos filhos de Israel. (Ex 24:15-17)
Quando perguntei a Abdul se ele conhecia alguma lenda que dissesse respeito ao santuário, ele me disse algo que podia muito bem explicar o que os israelitas tinham de fato visto. Abdul não conhecia nenhuma lenda específica, mas tinha informações acerca de um fenômeno interessante — uma estranha luz que diziam ter visto no pico de Jebel Madhbah. A última vez que fora relatada foi em 1993. Uma equipe de arqueólogos ingleses estava trabalhando ao redor do santuário, quando foram pegos por um temporal com trovões nada comum.
De acordo com o testemunho de mais de uma dúzia de pessoas, os arqueólogos corriam tentando escapar da ameaça de serem atingidos por raios que caíam sobre a montanha, quando viram uma bola de luz vermelha que parecia fogo, que estimaram ter um metro e meio de diâmetro, e que pairava a alguns metros no ar sobre as ruínas do templo. Ficou visível por cerca de cinco minutos, movimentando-se calmamente para frente e para trás antes de desaparecer. Abdul me garantiu que sabia de muitas pessoas que haviam testemunhado o espetáculo, e mais tarde cheguei a falar com mais de seis residentes idosos de Elji que juravam ter visto a bola.
Esse estranho fenômeno podia muito bem ser descrito “como um fogo devorador” — a glória do Senhor que os israelitas dizem ter visto — mas o que seria aquilo? A primeira possibilidade era de que se tratava de algo conhecido como o relâmpago da esfera: bolas de partículas altamente carregadas criadas pela atmosfera eletrificada de um temporal com raios. O relâmpago da esfera acontece com maior freqüência em lugares elevados, como por exemplo picos de montanhas, topos de arranha-céus e ao redor de mastros de rádios.
No entanto, a cor, tamanho e longevidade do espetáculo não pareciam se encaixar na descrição do relâmpago da esfera. Esse relâmpago tem coloração azulada, não sendo maior que uma bola de futebol, e somente permanece visível por alguns segundos. As testemunhas do fenômeno de Jebel Madhbah descreveram-no como tendo uma cor vermelha ou amarela, muito maior de tamanho e visível por cerca de cinco minutos. Há, no entanto, um outro fenômeno natural que parecia mais coerente com o que fora relatado — uma rara anomalia eletromagnética conhecida como geoplasma.
O plasma é um gás eletricamente carregado que tem propriedades peculiares. Em um gás comum, cada átomo contém um número igual de cargas positivas e negativas, e as cargas positivas no núcleo são cercadas por um número igual de elétrons negativamente carregados. Se uma fonte de energia externa faz com que os átomos de um gás liberem elétrons, os átomos são deixados com uma
carga positiva e dizem que o gás fica ionizado. Quando átomos suficientes são ionizados, o gás incendeia-se com uma “chama fria” que carrega uma forte carga estática. Isso é conhecido como plasma. Por ser tão leve quanto o ar ao seu redor, o plasma pode pairar ou ficar pendurado no ar como uma esfera ou uma coluna de gás luminoso, que pode se movimentar ou ficar parada, dependendo das condições, e pode continuar nesse estado por vários minutos.
Acredita-se que o geoplasma é um fenômeno causado por geodinâmica — em linguagem simplificada, certos tipos de rocha ao serem esfregadas uma contra a outra por meio de uma atividade sísmica para ionizar o ar acima delas. Por causa da raridade e irregularidade do geoplasma, pesquisas científicas a seu respeito só foram conduzidas de forma adequada nas últimas duas décadas. Em 1981, Brian Brady, o então ministro de Minas e Energia dos Estados Unidos, foi o primeiro a produzir o que parecia ser geoplasma miniatura em um laboratório. Quando o centro de um granito cornalina era comprimido em condições escurecidas, pequeninas faíscas de luzes vermelhas e amarelas eram vistas esvoaçando-se ao redor da câmara do moedor das rochas. 
Estranhas luzes, como essas descritas em Jebel Madhbah, foram relatadas em vários locais em todo o mundo, geralmente em regiões com tendências a terremotos e tremores, e em áreas com tipos específicos de rochas que contém grandes quantidades de óxido de ferro e quartzo, como por exemplo, o arenito e o granito cornalina. Embora terremotos sejam algo raro ao redor de Jebel Madhbah, a montanha apresenta pequenos tremores, e o pico é composto de arenito. Quando mais tarde li relatórios dessas anomalias e a pesquisa acerca do geoplasma, não pude deixar de imaginar se esses fenômenos eram a causa de Jebel Madhbah ter sido considerada sagrada.
Se os antigos edomeus tinham testemunhado esse fenômeno, eles, sem dúvida, os teriam considerado sobrenaturais em sua origem. Esse pode ter sido o motivo, se Josephus estivesse se referindo à mesma montanha, de os homens acreditarem que era ali que Deus habitava. Isso poderia perfeitamente explicar por que o santuário e o Terraço dos Obeliscos foram construídos. Nos anos 90, alguns geólogos propuseram que fatores além do tipo de rocha e da atividade sísmica eram necessários para produzir o geoplasma em um ambiente natural.
O geólogo norueguês Erling Strang considerava que variações locais no campo magnético da Terra eram um fator contribuinte, e John Derr, do Instituto Geológico Americano, sugeriu que a água era um elemento essencial na produção de geoplasma na paisagem. O calor produzido por movimento tectônico, ele afirmou, cria um revestimento de vapor que cobre as margens de uma fenda geológica e serve para isolar o desenvolvimento de uma carga eletromagnética. A maior parte dos fenômenos geoplasmáticos são de fato relatados durante ou após chuvas fortes. O evento testemunhado pelos arqueólogos em Jebel Madhbah em 1993 é um desses casos.
Chuvas fortes também acompanharam a aparição da “glória do Senhor”, conforme testemunhado pelos antigos israelitas. Êxodo 19:16 nos conta que havia “trovões e relâmpagos, e uma nuvem espessa sobre o monte.” Na verdade, a comparação do Êxodos da “glória do Senhor” com o “fogo devorador” é uma excelente descrição de um fenômeno geoplasmático. Eu estava agora convencido de que Jebel Madhbah era a Montanha de Deus citada na Bíblia. As passagens do Antigo Testamento indicavam que a montanha ficava na terra de Edom, especificamente na fronteira do reino de Edom onde Moisés criou a fonte milagrosa.

Os beduínos locais há muito tempo acreditavam que o santuário próximo à entrada para o Siq, ao pé de Jebel Madhbah, era o local da fonte milagrosa. Os dois níveis da montanha se encaixavam com a descrição física do Monte Sinai, e aquele era considerado um lugar sagrado quando os israelitas chegaram. Havia ainda dois estranhos fenômenos naturais que podiam explicar as descrições no relato do Antigo Testamento da aparição de Deus no monte santo — em outras palavras, o bizarro som de trombetas no Siq e as peculiares luzes relatadas no cume da montanha. Se essa era, de fato, a verdadeira Montanha de Deus, era aqui que diziam que o profeta Jeremias havia escondido a Arca.


Mas Jebel Madhbah era uma montanha enorme. Seria eu capaz de encontrar a caverna que o livro de Macabeus dizia ser o lugar onde Jeremias escondera a Arca? Precisava, antes, resolver um dilema crucial. Por que os antigos israelitas consideravam a montanha dos edomeus como o lugar da habitação de seu próprio Deus?

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