quarta-feira, 12 de junho de 2019

AS DIGITAIS DOS DEUSES (25) - AS MUITAS MÁSCARAS DO APOCALIPSE


As Digitais dos deuses (25) – As Muitas Máscaras do Apocalipse
Posted by Thoth3126 on 12/06/2019

Da mesma forma que os índios hopi da América do Norte, os arianos avésticos da Pérsia (Irã pré-islâmico) acreditavam que, antes da nossa, houve três épocas de criação. Na primeira, o homem era puro e sem pecado, de alta estatura, longevo, mas, pouco antes de terminar esse tempo, o Maligno declarou guerra a Ahura Mazda, o deus sagrado, do que se seguiu um cataclismo pavoroso. Na segunda, o Maligno nenhum sucesso teve. Na terceira, o bem e o mal estiveram exatamente equilibrados. Na quarta era (a atual época do mundo), o mal triunfou logo no princípio e manteve a supremacia desde então! O fim da quarta época está previsto para breve, mas é o cataclismo que aconteceu ao fim da primeira era que nos interessa aqui. Não foi uma inundação, mas coincidiu de tantas maneiras com numerosas tradições globais de dilúvio que não podemos deixar de entrever uma forte ligação entre elas. 


Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch

Livro “AS DIGITAIS dos DEUSES”, uma resposta para o mistério das origens e do fim da civilização
Capítulo 2: Rios na Antártida
Capítulo 4: O Vôo do Condor

Por Graham Hancock, livro “AS DIGITAIS DOS DEUSES”, Tradução de Ruy Jungmann, editora Record 2001.

CAPÍTULO 25 – As Muitas Máscaras do Apocalipse

O fim da quarta época está previsto para breve, mas é o cataclismo que aconteceu ao fim da primeira que nos interessa aqui. Não foi uma inundação, mas coincidiu de tantas maneiras com numerosas tradições globais de dilúvio que não podemos deixar de entrever uma forte ligação entre elas. As escrituras avésticas levam-nos de volta a um tempo de paraíso na terra, quando os ancestrais remotos do antigo povo persa viviam na fabulosa Airyana Vaejo, a primeira e feliz criação de Ahura Mazda, que floresceu na primeira era do mundo: o berço mítico e lar original da raça ariana. Naqueles dias, Airyana Vaejo gozava de um clima suave e produtivo, com sete meses de verão e cinco de inverno. Rico em vida silvestre e em colheitas, em prados cortados por rios, esse jardim de delícias foi convertido em um deserto inabitável, de dez meses de inverno e apenas dois de verão, como resultado do ataque de Angra Mainyu, o Maligno:

A primeira das boas terras e países que eu, Ahura Mazda, criei foi Airyana Vaejo. (…) Em seguida, Angra Mainyu, que é a encarnação da morte, criou uma oposição a ela, uma poderosa serpente e a neve. Dez meses de inverno nela existem agora, dois meses de verão, estes são frios como a água, frios como a terra, frios como as árvores. (…) Lá, durante o ano todo, cai neve em abundância, que é a pior das pragas…

O leitor concordará que essas palavras indicam uma súbita e dramática mudança de clima em Airyana Vaejo. As escrituras avésticas não nos deixam em dúvida a esse respeito. Antes, elas descrevem um encontro dos deuses celestiais, convocado por Ahura Mazda, e nos dizem que o “louro Yima, O deus pastor, de grande renome em Airyana Vaejo”, compareceu a essa reunião em companhia de todos os seus excelentes mortais. É nesse ponto que começam a surgir os estranhos paralelos com o dilúvio bíblico, porque Ahura Mazda aproveita a reunião para alertar Yima sobre o que vai acontecer, como resultado do uso dos poderes do Maligno:

E Ahura Mazda falou a Yima, dizendo: “Yima, o louro… Sobre o mundo material, um inverno fatal está prestes a descer, que trará uma geada forte e destruidora. Sobre o mundo corpóreo descerá o mal do inverno e nele a neve cairá com grande abundância. E todos os três tipos de animais perecerão, os que vivem nas florestas, os que vivem nos cumes das montanhas e os que vivem nas profundezas dos vales sob abrigo dos estábulos. Por isso, faz para ti um var (hipogeu, ou espaço fechado subterrâneo), com o comprimento, nos quatro lados, de uma pista de corrida de cavalos. Para lá levarás representantes de todos os tipos de animais, grandes e pequenos, de gado, de todos os animais de carga, e de homens, de cães, de aves, e de fogos que queimam vermelhos. Lá farás água correr. Lá colocarás as aves nas árvores, ao longo da beira da água, em um verdor que será eterno. Lá colocarás espécimes de todas as plantas, as mais lindas e mais perfumadas, e de todos os frutos os mais suculentos. Todos esses tipos de coisas e criaturas não perecerão enquanto estiverem no var. Mas não põe nele criatura deformada, ou impotente, ou louca, nem má, nem enganadora, nem rancorosa, nem ciumenta, nem homem com dentes tortos, nem leproso…

Representação de Ahura Mazda

À parte a escala da operação, só há uma diferença autêntica entre o var divinamente inspirado de Yima e a arca divinamente inspirada de Noé: a arca é um meio para sobreviver a uma inundação terrível e devastadora, que destruirá todas as criaturas vivas ao afogar o mundo em água; o var é um meio para sobreviver a um terrível e devastador “inverno”, que destruirá todas as criaturas vivas ao cobrir a terra com um lençol congelante de gelo e neve.

No Bundahish, outra das escrituras zoroastrianas (que se acredita que contenha material antigo de uma parte perdida do Avesta original), mais informações são dadas sobre o cataclismo da glaciação que destruiu Airyana Vaejo. Quando Angra Mainyu enviou a “geada forte e destruidora”, ele também “atacou e desorganizou o céu”. O Bundahish nos diz que o ataque permitiu ao Maligno “dominar um terço do céu e cobri-lo de escuridão”, à medida que o gelo invasor apertava sua empunhadura.

Frio, Fogo, Terremotos e Desorganização Indescritíveis nos Céus

Os arianos avésticos da antiga Pérsia (atual Irã), que se sabe que emigraram para a Ásia ocidental vindos de alguma outra terra natal distante, não foram os únicos possuidores de tradições arcaicas que lembram, de maneiras que dificilmente seriam coincidências, o ambiente básico do grande dilúvio. Na verdade, embora essas tradições estejam mais comumente ligadas ao dilúvio, aos temas conhecidos de aviso divino e de salvação do resto da humanidade da calamidade universal, elas são também encontradas em muitas diferentes partes do mundo, ligadas ao inesperado aparecimento de condições glaciais. Na América do Sul, por exemplo, os índios toba, da região do Gran Chaco, que se estende pelas atuais fronteiras do Paraguai, Argentina e Chile, ainda repetem um mito antigo da chegada do que chamam de “o Grande Frio”. O aviso é dado por um herói semi-divino chamado Asin:

Asin disse a um homem que juntasse toda madeira que pudesse e que cobrisse sua cabana com uma grossa camada de palha, porque ia chegar um tempo de grande frio. Logo que a cabana foi preparada, Asin e o homem se trancaram dentro dela e esperaram. Quando o grande frio chegou, pessoas tremendo dos pés à cabeça apareceram para lhes implorar um pedaço de lenha aceso. Asin era duro de coração e deu brasas apenas àqueles que haviam sido seus amigos. Os pedintes estavam congelando e choraram a noite inteira. À meia-noite, todos haviam morrido, jovens e velhos, homens e mulheres… Esse período de gelo e granizo durou por longo tempo e todos os fogos foram apagados.

A geada era tão grossa quanto couros.

Da mesma forma que nas tradições avésticas, parece que o grande frio foi acompanhado por grande escuridão. Nas palavras de um ancião toba, essas aflições haviam sido mandadas “porque, quando está cheia de gente, a terra tem que mudar. A população tem que ser dizimada para salvar o mundo… No caso da longa escuridão, o sol simplesmente desapareceu e o povo passou fome. Acabando o alimento, os homens começaram a comer os filhos. No fim, todos morreram…”

O Popol Vuh maia fala em uma inundação com “muito granizo, chuva negra, nevoeiro e frio indescritível”. E diz também que foi um período “nublado e de penumbra em todo o mundo (…) as faces do sol e da lua estavam encobertas”. Outras fontes maias confirmam que esses fenômenos estranhos e terríveis foram experimentados pela humanidade, “no tempo dos anciãos. A terra escureceu… Aconteceu que o sol ainda estava brilhante e claro. Em seguida, ao meio-dia, escureceu… A luz do sol só voltou vinte e seis anos depois do dilúvio”. O leitor talvez se lembre de que numerosos mitos sobre dilúvio e catástrofes contêm referências não só à descida de uma grande escuridão, mas a outras mudanças no aspecto dos céus. Na Terra do Fogo, por exemplo, dizia-se que a terra e a lua “caíram do céu” e, na China, que “os planetas alteraram seus cursos. O sol, a lua e as estrelas mudaram seus movimentos” (mudança dos polos).

Os incas acreditavam que, “nos tempos antigos, os Andes foram fendidos em dois, quando o céu fez guerra contra a terra”. Os tarahumara do norte do México preservaram lendas da destruição do mundo baseadas em uma mudança na trajetória do Sol. Um mito africano do baixo Congo diz que, “há muito tempo, o sol encontrou a lua e contra ela lançou lama, o que a tornou menos brilhante. Quando ocorreu esse encontro, houve uma grande inundação…” Os índios cahto da Califórnia dizem simplesmente que “o céu caiu”. Os antigos mitos greco-romanos contam que o dilúvio de Deucalião foi imediatamente precedido de pavorosos acontecimentos no céu. Esses eventos são vividamente simbolizados na história de Faetonte, filho do sol, que aprestou a carruagem do pai mas não conseguiu dirigi-la pelo curso que ele seguia:

Logo depois, os árdegos cavalos sentiram que as rédeas estavam em mãos inexperientes. Empinando as patas dianteiras e virando-se para o lado, seguiram para onde quiseram. Nesse momento, toda a terra espantou-se ao ver que o glorioso Sol, em vez de manter seu curso majestoso e benéfico pelo céu, parecia correr torto no alto e descer furioso como se fosse um meteoro.

Este não é o lugar para especular sobre o que pode ter causado as alarmantes perturbações nos aspectos do céu que aparecem ligadas a lendas sobre cataclismos em todo o mundo. Para os nossos atuais objetivos, é suficiente notar que essas tradições parecem referir-se à mesma “desorganização do céu” que acompanhou o inverno fatal e o espalhamento dos lençóis de gelo descritos no Avesta iraniano. Mas ocorrem também outras ligações. O fogo, por exemplo, frequentemente precede ou segue a inundação. No caso da aventura de Faetonte com o Sol, “a grama murchou; as colheitas foram crestadas; os bosques subiram em fogo e fumaça; e em seguida sob eles a terra nua rachou e desmoronou e rochas enegrecidas partiram-se violentamente sob efeito do calor”.

Vulcanismo e terremotos são frequentemente mencionados em conjunto com inundações, especialmente nas Américas. Os auracanianos do Chile dizem explicitamente que “a inundação foi resultado de erupções vulcânicas, acompanhadas de violentos terremotos”. Os mam maias, de Santiago Chimaltenango, nas montanhas da região oeste da Guatemala, conservam memórias de “uma inundação de breu fervente” que, dizem, foi um dos instrumentos da destruição do mundo. No Gran Chaco da Argentina, os índios mataco falam de “uma nuvem negra que veio do sul na época da inundação e cobriu todo o céu. Raios caíram e trovejou. Mas, as gotas que caíram não eram iguais às de chuva. Elas eram de fogo…”


Um Monstro Perseguiu o Sol

Há uma cultura antiga que, talvez mais do que qualquer outra, preserva memórias mais vívidas de seus mitos, a da denominada cultura das tribos teutônicas da Alemanha e Escandinávia, uma cultura mais lembrada pelas canções dos bardos e pelos sábios nórdicos. As histórias contadas por essas canções têm raízes em um passado que talvez seja muito mais remoto do que os estudiosos imaginam e combinam imagens conhecidas com estranhos artifícios simbólicos e linguagem alegórica para relembrar um cataclismo de pavorosa magnitude:

Em uma distante floresta no leste, uma mulher gigante trouxe ao mundo uma prole inteira de jovens lobos, cujo pai era Fenrir. Um desses monstros perseguiu o sol, para dele se apossar. Durante muito tempo, a perseguição foi vã, mas, a cada estação, o lobo tornava-se mais forte e, finalmente, alcançou o sol. Seus raios brilhantes foram, um após outro, apagados. O sol adquiriu uma tonalidade vermelha sangrenta e, em seguida, desapareceu por completo. Daí em diante, o mundo foi envolvido por um horrendo inverno. Tempestades de neve desciam de todos os pontos do horizonte. Guerras explodiram por toda a terra. Irmão matou irmão, filhos não mais respeitaram os laços de sangue. Nesse tempo, os homens não eram melhores do que os lobos, ansiosos como estavam para se destruírem mutuamente. Antes de muito tempo, o mundo ia mergulhar no abismo do nada.

Entrementes, o lobo Fenrir, que os deuses muito tempo antes haviam acorrentado com todo cuidado, soltou-se finalmente e escapou. Sacudiu-se todo e o mundo tremeu. O freixo (árvore) Yggdrasil (que se imaginava fosse o eixo da terra) tremeu das raízes até os mais altos galhos. Montanhas desmoronaram ou se partiram de cima a baixo. Os anões que tinham nelas suas moradas subterrâneas procuraram em desespero e em vão entradas conhecidas há tanto tempo, mas que nesse momento não existiam mais. Abandonados pelos deuses, os homens foram expulsos de seus lares e a raça humana foi varrida da superfície da terra. A própria terra estava começando a perder sua forma.

As estrelas já começavam a mover-se à deriva pelo céu e a cair no vazio abismal. Elas eram como andorinhas que, cansadas de uma viagem longa demais, caem e desaparecem nas ondas. O gigante Surt ateou fogo a toda a terra e o universo nada mais era do que uma imensa fornalha. Chamas jorravam de fissuras nas rochas e em toda parte se ouvia o silvo de vapor. Todas as coisas vivas, toda vida vegetal, foram destruídas. Restou apenas o solo nu, mas, tal como o próprio céu, a terra nada mais era do que rachaduras e fendas. Nesse instante, todos os rios, todos os mares, subiram e transbordaram. De todos os lados, ondas se chocavam. Engrossaram e ferveram lentamente sobre todas as coisas. A terra mergulhou sob o mar… Ainda assim, nem todos os homens pereceram na grande catástrofe. Fechados dentro da madeira do freixo Yggdrasil – que as chamas devoradoras da conflagração universal não conseguiram consumir – os ancestrais de uma futura raça de homens escaparam da morte. Nesse abrigo, eles descobriram que seu único alimento fora o orvalho da manhã. E foi assim que, dos destroços de um mundo antigo, um mundo novo nasceu. Lentamente, a terra emergiu das ondas. Montanhas subiram novamente e delas escorreram cataratas de águas cantantes.

Esse novo mundo que o mito teutônico anunciava é o nosso. Dispensa dizer que, tal como o Quinto Sol dos astecas e maias, ele foi criado há muito tempo e não é mais jovem. Poderia ser uma coincidência que um dos muitos mitos de dilúvio da América Central sobre a “quarta época”, 4 Atl (“água”), não coloque o casal Noé em uma arca, mas dentro de uma grande árvore, exatamente igual ao Yggdrasil? O mundo 4 Atl foi destruído por inundações. As montanhas desapareceram… Duas pessoas sobreviveram, porque um dos deuses lhes ordenou que abrissem um buraco no tronco de uma árvore muito grande e rastejassem para dentro dela quando os céus caíssem. O casal entrou e sobreviveu. Seus filhos repovoaram a terra. Não é estranho que a mesma linguagem simbólica continue a reaparecer nas tradições antigas de tantas regiões tão separadas do mundo? Como explicar esse fato?

Estaremos falando sobre alguma enorme onda subconsciente de telepatia inter-cultural, ou poderiam os elementos constituintes desses notáveis mitos universais ter sido concebidos, em tempos imemoriais, por indivíduos inteligentes e com uma finalidade em vista?

Qual dessas hipóteses improváveis tem maior possibilidade de ser a verdadeira?

Ou haverá outras explicações para o enigma dos mitos?

Voltaremos a essas questões no devido tempo. Enquanto isso, o que devemos concluir sobre as visões apocalípticas de fogo e gelo, inundações, vulcanismo e terremotos, presentes em todos os mitos?

Em todos eles identificamos um realismo insistente e conhecido. Poderia isso acontecer porque eles nos falam de um passado que suspeitamos ser o nosso, mas que nem podemos lembrar claramente nem esquecer de todo?

Mais informações, leitura adicional:

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