As Digitais dos deuses (26) – Uma Espécie Nascida no Longo Inverno da Terra
Posted by Thoth3126 on 14/06/2019
Em tudo aquilo que chamamos de “história” – tudo que lembramos claramente sobre nós mesmos como espécie -, a humanidade nem uma única vez chegou perto da aniquilação total. Em várias regiões e em tempos variados ocorreram terríveis calamidades naturais.
Mas não houve uma única ocasião nos últimos 5.000 anos em que se possa dizer que a humanidade como um todo enfrentou o perigo de extinção. Mas foi sempre assim? Ou será possível, se recuarmos bastante no passado, descobrir uma época em que nossos ancestrais foram quase riscados da face da terra? São justamente épocas como essas que parecem constituir o tema principal dos grandes mitos sobre cataclismos.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Livro “AS DIGITAIS dos DEUSES”, uma resposta para o mistério das origens e do fim da civilização
Capítulo 1: Brasil e o mapa de Piri Reis
Capítulo 2: Rios na Antártida
Capítulo 3: Impressões Digitais de uma Ciência Perdida
Capítulo 4: O Vôo do Condor
Capítulo 4: A Trilha Inca Para o Passado
Por Graham Hancock, livro “AS DIGITAIS DOS DEUSES”, Tradução de Ruy Jungmann, editora Record 2001.
CAPÍTULO 26 – Uma Espécie Nascida no Longo Inverno da Terra
De modo geral, estudiosos ( os “grandes eruditos acadêmicos”) os atribuem a “fantasias” de poetas antigos. Mas, e se os (grandes eruditos acadêmicos) pesquisadores estiverem enganados? E se uma série terrível de catástrofes naturais reduziu efetivamente nossos ancestrais pré-históricos a um punhado de indivíduos espalhados por aqui e ali na face da terra, bem separados e sem contatos entre si? Estamos à procura de uma época que se ajuste tão bem aos mitos como o sapatinho ao pé de Cinderela. Nessa busca, contudo, evidentemente não há razão para investigar qualquer período anterior ao aparecimento de seres humanos reconhecidamente “modernos” neste planeta.
Não estamos interessados aqui no Homo habilis, no Homo erectus ou mesmo no Homo sapiens neanderthalensis. Interessa-nos apenas o Homo sapiens sapiens, nossa própria espécie, e a verdade é que não estamos aqui há tanto tempo assim. Estudiosos do homem primitivo discordam até certo ponto sobre quanto tempo vivemos na Terra. Alguns pesquisadores, como teremos oportunidade de ver, alegam que restos humanos parciais de mais de 100.000 anos podem ser “inteiramente modernos”. Outros defendem uma antiguidade reduzida, na faixa de 35.000-40.000 anos, ao passo que terceiros propõem um número conciliatório de 50.000 anos. Mas ninguém sabe com certeza. “A origem de seres humanos inteiramente modernos, denotada pelo nome da subespécie Homo sapiens sapiens continua a ser um dos grandes enigmas da paleoantropologia”, reconhece “uma autoridade”.
Cerca de três e meio milhões de anos de evolução mais ou menos relevante são sugeridos pelo registro fóssil. Para todos os fins práticos, o registro começa com um pequeno hominídeo bípede (apelidado de Lucy), cujos restos foram descobertos em 1974 na seção etíope do Great Rift Valley, na África Oriental. Com uma capacidade cerebral de 400cc (menos de um terço da média moderna), Lucy, definitivamente, não era humana. Mas tampouco era um símio e tinha alguns aspectos notavelmente “parecidos com os humanos”, especialmente o andar ereto, a forma da pelve e os maxilares. Por essas e outras razões, a espécie de Lucy – classificada como Australopithecus afarensis – é “aceita” pela maioria dos paleoantropologistas como nosso mais antigo ancestral direto.
A cerca de dois milhões de anos, representantes do Homo habilis, os membros fundadores da linhagem Homo à qual nós mesmos pertencemos, começaram a deixar crânios e esqueletos fossilizados. À medida que passava o tempo, essa espécie demonstrava claros sinais de evolução para uma forma ainda mais “graciosa” e refinada e para um cérebro maior e mais versátil. O Homo erectus, que coincidiu com o Homo habilis e o sucedeu, surgiu há cerca de 1,6 milhão de anos, com uma capacidade cerebral na faixa de 900cc (contra os 700cc do habilis). No milhão de anos, mais ou menos, que se seguiu, e chegando a 400.000 anos no passado, nenhuma mudança evolutiva ocorreu – ou nenhuma que tenha comprovação nos fósseis remanescentes. Em seguida, o Homo erectus cruzou os portais da extinção e entrou no oásis do hominídeo e, devagar – bem devagar -, começou a aparecer o que os paleoantropologistas chamam de “o grau sapiente”:
É difícil saber quando começou exatamente a transição para uma forma mais sapiente. Acreditam alguns estudiosos que a transição, envolvendo aumento da capacidade do cérebro e redução da espessura dos ossos cranianos, começou já há 400.000 anos. Por azar, simplesmente não há fósseis suficientes desse importante período que nos deem certeza do que estava acontecendo.
O que, definitivamente, não estava acontecendo há 400.000 anos era o aparecimento de qualquer coisa identificável como nossa subespécie Homo sapiens sapiens, contadora de histórias e criadora de mitos. Há consenso em que “seres humanos sapientes devem ter evoluído do Homo erectus” e é verdade que certo número de populações “arcaicas sapientes” de fato surgiu entre os anos 400.000 e 100.000 no passado. Infelizmente, está longe de clara a relação entre essas espécies de transição e a nossa. Conforme notado antes, os primeiros candidatos à filiação ao clube exclusivo do Homo sapiens sapiens foram datados por alguns pesquisadores como pertencentes à última parte desse período. Mas esses restos são incompletos e de modo nenhum sua identificação é geralmente aceita. O mais antigo, parte de uma calota craniana, é um suposto espécime humano moderno, de cerca de 113.000 anos a.C. Por volta dessa época, surgiu o Homo sapiens neanderthalensis, uma subespécie bem distinta e que a maioria de nós conhece como “Homem de Neandertal”.
Alto, com músculos fortemente desenvolvidos, arcadas superciliares proeminentes e face afocinhada, o Homem de Neandertal tinha um tamanho médio de cérebro maior do que o dos seres humanos modernos (1.400cc contra nossos 1.360cc). A posse de um cérebro tão grande constituía sem dúvida um ativo para essas “criaturas inteligentes, espiritualmente sensíveis, férteis em recursos” e o registro fóssil sugere que elas foram a espécie dominante no planeta desde 100.000 até 40.000 anos no passado. Em algum momento nesse período longo e pouco entendido, o Homo sapiens sapiens estabeleceu-se, deixando para trás restos fósseis de cerca de 40.000 anos de idade que são inequivocamente de seres humanos modernos, suplantando por completo os Neandertais por volta do ano 35.000 a.C.
Em suma, seres humanos como nós, pelos quais poderíamos passar na rua sem piscar, se eles estivessem barbeados e usando roupas modernas, foram as criaturas humanas dos últimos 115.000 anos, no máximo – e, com maior probabilidade, apenas nos últimos 50.000 anos. Segue-se que se os mitos do cataclismo que vimos estudando
refletem uma época de sublevação geológica experimentada pela humanidade, essas sublevações ocorreram nos últimos 115.000 anos e, com maior probabilidade, nos últimos 50.000.
O Sapatinho da Cinderela
Constitui uma coincidência estranha da geologia e da paleoantropologia que o início e o desenvolvimento da última Era Glacial, e o aparecimento e proliferação do homem moderno, ocorreram na mesma época. É curioso também que muito pouco se saiba sobre ambos. Na América do Norte, a última Era Glacial é conhecida como Glaciação Wisconsin (nome dado como referência a depósitos rochosos estudados no estado de Wisconsin) e sua fase mais antiga foi datada pelos geólogos como tendo ocorrido há 115.000 anos. Após essa data, ocorreram vários avanços e recuos do lençol de gelo, tendo a taxa mais rápida de acumulação ocorrido entre 60.000 e 17.000 anos atrás – processo este que culminou no Avanço Tazwell, quando a glaciação atingiu sua extensão máxima, por volta do ano 15.000 a.C. No ano. 13000 a.C., porém, milhões de metros quadrados de gelo haviam derretido, por motivos que nunca foram devidamente explicados, e, por volta do ano 8000 a.C., a Wisconsin havia se retirado inteiramente.
A Era Glacial foi um fenômeno global, que afetou tanto o hemisfério Norte quanto o Sul. Condições climáticas e geológicas semelhantes, portanto, prevaleceram também em muitas outras partes do mundo (notadamente, na Ásia oriental, Austrália, Nova Zelândia e América do Sul). Houve glaciação maciça na Europa, descendo o gelo da Escandinávia e Escócia para cobrir a maior parte da Grã-Bretanha, Dinamarca, Polônia, Rússia, grandes regiões da Alemanha, toda a Suíça e grandes pedaços da Áustria, Itália e França. (Conhecida tecnicamente como Glaciação Wurm, essa Idade de Gelo europeia começou há uns 70.000 anos, um pouco mais tarde do que sua contrapartida americana, mas chegou à extensão máxima na mesma época, 17.000 anos no passado, ocorrendo em seguida a mesma rápida retirada e compartilhando da mesma data terminal). Os estágios cruciais da cronologia da Idade de Gelo, portanto, parecem ter sido os seguintes:
Cerca de 60.000 anos atrás, quando a Wurm, a Wisconsin e outras glaciações já estavam bem adiantadas;
Cerca de 17.000 anos atrás, quando os lençóis de gelo atingiram sua extensão máxima tanto no Velho quanto no Novo Mundo;
Os 7.000 anos de degelo que se seguiram.
O aparecimento do Homo sapiens sapiens, portanto, coincidiu com um longo período de turbulência geológica e climática, um período assinalado, acima de tudo, por violento congelamento e inundações. Os muitos milênios durante os quais o gelo avançou implacavelmente devem ter sido terríveis e apavorantes para nossos ancestrais. Os 7.000 anos finais do fim da glaciação, em especial os episódios de degelo muito rápido e extenso, devem ter sido os piores. Não devemos, no entanto, chegar a conclusões apressadas sobre o estado do desenvolvimento social, religioso, científico ou intelectual dos seres humanos que sobreviveram ao colapso demorado dessa tumultuosa época. Talvez seja errado o estereótipo popular de que todos eles foram habitantes primitivos de cavernas.
Na realidade, pouco se sabe sobre eles e quase que a única coisa que se pode dizer com certeza é que foram homens e mulheres exatamente iguais a nós em termos fisiológicos e psicológicos. É possível que, em várias ocasiões, tivessem estado próximos da extinção total; é possível também que os grandes mitos de cataclismo, aos quais os “eruditos estudiosos” nenhum valor histórico atribuem, possam conter registros precisos e relatos de testemunhas oculares de eventos reais. Conforme veremos no capítulo seguinte, se estamos procurando uma época que se ajuste tão bem aos mitos como o sapatinho ao pé de Cinderela, parece que a última Era Glacial é a candidata mais forte.
Mais informações, leitura adicional:
Permitida a reprodução desde que mantida na formatação original e mencione as fontes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário