Atlântida: Um Habitante de dois planetas (11) – O Relato da princesa Lolix
Posted by Thoth3126 on 16/06/2019
“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor ideias teóricas. Se levares alguns pontos pequenos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali meditares neles, verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . . “Este é o espírito com que o autor propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão. O que é a experiência? Dois componentes: o conjunto das sensações que compõem uma dada situação e a percepção pessoal ou “tradução” individual desse conjunto de sensações. Que este livro seja lido pelo fascínio da narrativa, como “lenha atirada à sua fogueira pessoal”, alimento para o seu “fogo interior“! Jogue a lenha na sua fogueira e deixe queimar. Os produtos dessa queima – calor e luz – ativarão ou reativarão um processo interno de pensar e sentir em você mesmo, um processo de ser, no cadinho da vida. Conhecer. . . A verdade. . . Quem pode decidir? – O Tibetano
“Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso“. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. – Aforismo de Narada.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Lvro: “Um Habitante de Dois Planetas ou a Divisão do Caminho”, de Philos, o Tibetano – LIVRO UM, CAPÍTULO XI: O RELATO DA PRINCESA LOLIX
CAPITULO XI – Narração da Princesa Lolix sobre uma demonstração de poder ESPIRITUAL Mágico em Suern (Índia)
O RELATO da Princesa Lolix:
“Mailzis”, disse o príncipe, “sirva-nos vinho com especiarias”- Enquanto apreciávamos a refrescante bebida, que não era fermentada, passamos a ouvir a emocionante narrativa que se segue: “Creio que tendes conhecimento de meu país natal, visto que fazeis comércio com a nação Sald (n.t. o povo SALDEU, que muito mais tarde se chamariam Caldeus, depois do Dilúvio, quando se mudaram para a Mesopotâmia). Deveis igualmente ter sido informados a respeito do grande exército enviado por nosso governante contra a terrível Suern. Ah! Como sabíamos pouco sobre aquele povo!” -exclamou a bela mulher, apertando as pequenas e delicadas mãos numa agonia de aterrorizada retrospecção.
“Cento e sessenta mil guerreiros tinha meu pai sob seu comando. Metade desse número era formado por acompanhantes. Nossa cavalaria era o nosso orgulho, com seus veteranos experimentados e tão sedentos de sangue! Eram esplêndidas as nossas armas, cintilantes espadas e lanças. . . Oh, era um maravilhoso conjunto de bravos homens!” Diante dessa exaltação a armas tão primitivas os ouvintes não conseguiram reprimir um sorriso. Por um momento isto pareceu desconcertar a princesa, mas não por muito tempo, pois ela continuou: “Dessa poderosa e esplêndida maneira – ah, como eu amo o poder! -avançamos saqueando tudo pelo caminho que nos levava à cidade de Suern.
Quando chegamos perto, depois de muitos dias, não pudemos vê-la, pois se encontrava numa parte baixa da região. Não obstante, estávamos seguros de obter uma vitória fácil, pois alguns prisioneiros que havíamos feito nos informaram que Suern não tinha muralhas nem defesas semelhantes, e que nenhum exército se reuniria para nos combater. Efetivamente, em parte alguma tínhamos visto cidades muradas no país de Suern, nem havíamos encontrado resistência; por isso não derramáramos sangue, contentando-nos em torturar os cativos para nos divertirmos, libertando-os em seguida.” “Que horror!” – murmurou Menax entre dentes. “Bárbaros sem coração!” “Que dissestes, meu senhor?” – perguntou imediatamente a jovem. “Nada, senhora, nada! Apenas pensei alto na esplêndida marcha das hostes de Sald.”
Embora parecesse duvidar um pouco da exatidão dessas palavras, a Saldu continuou seu relato. “Tendo chegado a Suern, como eu estava dizendo, detivemos nossa marcha à beira de um desfiladeiro pouco profundo mas bastante largo, onde o Rai de Suern, pouco sábio e pouco belicoso, tinha construído sua capital, e assim mandamos um mensageiro oferecendo-lhe condições de guerra favoráveis. Como resposta, veio até nós um velho desarmado e sozinho, acompanhando nosso mensageiro. Ele era alto, ereto e tinha um porte tão cheio de dignidade que dava prazer contemplá-lo. Em verdade, ele pareceria o próprio poder encarnado! Eu deveria odiá-lo, mas não pude deixar de amá-lo! Se ele fosse mais jovem, eu o cortejaria para fazer dele meu companheiro.”
Diante dessa inesperada observação olhamos com espanto e outras emoções para a narradora, e ouvimos Menax perguntar: “Astiku, estou ouvindo bem? Cortejar um homem? É costume de teu povo permitir que a mulher tome a iniciativa? Pensei ser versado nos costumes de todas as nações antigas e modernas, mas desconhecia este fato. Entretanto, é de se esperar coisas estranhas de. . . bem, de uma raça que só tem números para ser reconhecida por um povo como o de Poseid.” Ela retrucou, “Por que não ser franco, Zo Astika? Por que não dizer o que pensas, que nações civilizadas como a tua consideram uma raça como a Saldu inferior a ponto de seus costumes serem desconhecidos para ti?”
O Príncipe Menax corou fortemente com envergonhado embaraço, pois não estava acostumado a prevaricações, e replicou: “Admito que a franqueza é melhor, mas não queria ferir teus sentimentos, Astika.” Com uma risada musical, divertida, a Astiki disse: “Zo Astika, permita-me dizer que em Sald ambos os sexos têm liberdade para cortejar seu escolhido ou escolhida. Por que não? Julgo sensato, penso. Seguirei nosso costume nesse sentido quando tiver oportunidade. Meu escolhido deverá agradar a vista e ter a coragem do leão do deserto -, sim, do deserto de onde veio o grande leão, no continente de Suernota. Sim, eu o farei se a oportunidade surgir” – reiterou a jovem com um pequeno suspiro.
Por fim ela retomou o fio da história, com voz desanimada e triste.- “O Astika meu pai, chefe de nossos exércitos, disse ao garboso velho: “Que diz teu governante?” “Ele diz: “Que o estrangeiro parta antes que minha ira desperte, pois atenta que eu o destruirei se não me obedecer! Terrível é a minha ira”. “O que tu dizes! E o teu exército? Não vi nenhum sinal dele” – disse meu pai com o sorriso de um veterano a quem oferecem uma resistência desprezível. “Chefe” – disse o enviado em tom baixo e sério -“será melhor que partas. Eu sou esse Rai e também sozinho sou o meu exército. Abandona essa terra agora mesmo, pois em breve isto será impossível. Vai embora, eu te imploro!”
“Tu és o Rai? Homem imprudente! Digo que quando o Sol tiver alcançado o próximo signo tua coragem não te salvará, a menos que retornes agora mesmo e reúnas teu exército. Ou então mandarei tua cabeça para o teu povo. Só te dou esta opção. Após o prazo dado, atacarei e saquearei a cidade. Não precisas temer pela tua segurança pessoal neste momento. Eu não posso ferir um inimigo desarmado! Vai em paz. De manhã atacarei teu exército. Devo ter um oponente digno.” “Tens em mim um oponente à altura. Nunca ouviste falar de Suerni? Sim? E não acreditaste! Oh, é verdade! Vais embora, eu te peço, enquanto podes fazê-lo com segurança!” “Homem seu juízo! – disse o chefe. “Este é o teu ultimato? Que seja! Afasta-te! Não irei embora; avançarei”.
Então o chefe chamou os capitães das legiões de soldados e comandou: “Para a frente, marchem e conquistem!” “Reconsidera tua ordem por um instante. Desejo fazer uma pergunta” – disse o Rai de Suern. “Respeitando esse pedido, nossos homens, que haviam se enfileirado e apresentado armas, detiveram-se em posição de descanso. À frente das fileiras do exército de Sald, postada na pequena colina de onde se via a capital suerni, estava a fina flor de nossa hoste militar. Eram veteranos leais e experientes, homens de gigantesca estatura, em número de dois mil oficiais, líderes dos homens menos experimentados. Jamais esquecerei seu garbo, jamais. Tão fortes; eram a própria juba do nosso poderoso leão, cada homem capaz de carregar um boi nas costas.
O Sol batia em suas lanças criando uma gloriosa fogueira de luz. Olhando para esses homens o Suerni disse: “Astika, não são estes os teus melhores homens?” “Sim.” “São estes de quem me disseram que torturaram meu povo por mero divertimento? E chamaram as vítimas de covardes, dizendo que homens que não resistem devem morrer e efetivamente mataram alguns de meus súditos?” “Não o nego” – disse meu pai. “Acaso pensas, Astika, que isso estava em teu direito? Não são dignos da morte homens que se vangloriam por derramar sangue?” “Possivelmente, mas que importa isso? Por acaso pensas em punir-me por esses atos?” – disse meu pai, com desprezo. “Sim, Astika. E depois partirás?” “Ora se o farei! Que boa brincadeira! Só que não estou com disposição para bravatas!” “Então te recusas a fazer a retirada, embora eu diga que permanecer é morrer?”
“Acaba com tuas tolices! Elas estão me cansando.” “Astika, sinto muito. Que seja como queres. Foste avisado de que devias partir. Ouviste falar do poder de Suern e não acreditastes. Pois agora prova dele!” “Com estas palavras o Rai fez um gesto amplo, apontando o dedo indicador para onde se encontrava o nosso maior orgulho – aqueles maravilhosos dois mil guerreiros. Seus lábios se moveram e mal consegui ouvir as palavras que ele murmurou-. “Senhor, fortalece minha fraqueza. Assim morre o culpado renitente.” “O que aconteceu então encheu todos os espectadores de tamanho horror, atingiu tanto sua superstição, que por cinco minutos não se ouviu qualquer som. De todos aqueles guerreiros veteranos, nenhum estava vivo.
A um gesto do velho mago Rai de Suerni suas cabeças penderam para a frente, as mãos soltaram as lanças e eles caíram no solo como bêbados. Nenhum som, a não ser o de sua queda; nenhuma reação; a morte chegara para eles como acontece com quem morre do coração. Ah, que assustador poder tens, Suernis!”
“E o Anjo da Morte estendeu suas asas sobre o mal E soprou fogo na face do inimigo ao passar.”
Senaqueribe era desconhecido naqueles tempos antediluvianos; a princesa saldu nunca ouvira o poema, mas nós o conhecemos, meu leitor, tu e eu, e isso é o bastante, pois a história repete-se a si mesmo. Ao descrever a ação do Rai de Suern, a princesa tinha ficado de pé, simulando ao mesmo tempo o gesto fatal do Rai Ernon de Suern.
Sua mímica foi tão convincente que o grupo de ouvintes à nossa esquerda se encolheu involuntariamente quando o braço dela passou por sobre suas cabeças. A Saldu percebeu isso e seus lábios se crisparam com desprezo. “Covardes!” – murmurou ela. Um poseidano ouviu e seu rosto corou quando ele disse: “Não, Astiku, não somos covardes! Considera nosso involuntário encolhimento um cumprimento aos teus poderes de comuni-tação.” Ela sorriu e disse: “Talvez seja assim”. Em seguida, abatida pela lembrança da aterradora força do poder invocado por Ernon, força que até a orgulhosa Atlântida temia, sentou-se molemente na cadeira, chorando.
Philos (Zailm) como o Tibetano
Um pouco de vinho refez-lhe as forças e a narração foi retomada. “Depois do ominoso silêncio que se abateu sobre os que haviam testemunhado a horrível visão, as mulheres, viúvas e filhas dos mais altos oficiais que haviam morrido, começaram a gritar aflitivamente. Muitos de nossos homens, assim que conseguiram compreender que as histórias que tinham ouvido e desacreditado não eram boatos inconsequentes, caíram por terra numa agonia de intenso terror. Ah! Naqueles momentos poderíeis ter ouvido súplicas a todos os deuses grandes e pequenos, os deuses em quem nosso povo confiava. Ha, ha!” – riu a princesa, amarga e desdenhosamente -“apelando para deuses de madeira, barro e metal, pedindo proteção contra aquele imenso poder! Bah! Como não posso viver em Suern por ter sido banida, também não viveria outra vez em minha terra natal!
Não quero mais saber de um povo que idolatra objetos insensíveis e os desafia. Não, Astika” – disse ela em resposta a uma pergunta de Menax -“nunca adorei ídolos; a maioria dos meus concidadãos o faz, mas nem todos. Não sou apóstata, mas reverencio o poder. Eu deveria odiar Ernon de Suern, mas não o odeio. Na verdade, se me fosse permitido, viveria em sua presença e idolatraria sua maravilhosa força que leva a morte aos seus inimigos com apenas um gesto de suas mãos. Como não me é permitido isso, prefiro permanecer entre teu povo que é uma grande raça, embora não se iguale à de Suern, é melhor e mais poderosa que a minha; oh, muito, muito mais!”
“Meu pai era inteligente demais para imaginar que aquilo fosse um truque tramado por um povo astuto e compreendeu, por aquela amarga lição, que a reputação atribuída a Suern pelos viajantes não era invenção de desocupados. Mas não se acovardou diante do Rai, pois tinha o espírito altaneiro demais para isso. Enquanto olhávamos estarrecidos para aquela terrível cena de morte, outra coisa não menos apavorante aconteceu. Nós, os sobreviventes, toda a hoste menos os dois mil, estávamos colocados entre os mortos e o rio a oeste da cidade. O Rai Ernon baixou a cabeça e orou – que profundo temor esse ato causou em nosso povo! Ouvi-o dizer: “Senhor, eu te suplico, concede o que teu servo pede!” “Então, vi as vítimas se levantarem uma por uma, tomando cada uma sua lança, escudo e elmo. Em seguida, em esquadras irregulares marcharam em nossa direção, em minha direção.
Oh, meu Deus! Passaram por nós na direção do rio. Percebi que seus olhos estavam semicerrados e opacos; o movimento de seus membros era mecânico; eles caminhavam como se estivessem presos por fios e suas armaduras ressoavam fazendo um barulho fantasmagórico… Então, um por um, os esquadrões foram direto para o rio, onde entraram na corrente, mais e mais, até que as águas se fecharam sobre as suas cabeças, e eles se foram para sempre, alimentando os crocodilos que já rugiam e rosnavam sobre suas presas para baixo do fluxo das águas do grande rio Gunja (n.t. hoje o rio Ganges).
Ninguém havia para liderá-los, não havia ninguém para carregar seus corpos; cada um deles entrando no rio como se ainda estivesse vivo, embora estivessem todos mortos; aquela soturna procissão, a mil passos de distância, completou a horrível sensação de medo e desesperado terror que se apossou do grande exército, que então e finalmente debandou horrorizado, deixando tudo para trás. Em breve só um punhado de soldados fiéis havia restado. Eles haviam ficado com seu comandante e estado-maior, prontos a partilhar com eles a morte a que estavam certos de que seriam submetidos. Também permaneceram ali algumas mulheres.
O Rai Ernon então falou: “Não te disse que devias partir ou que eu te puniria? Estás pronto para partir agora? Olha teu exército em fuga! Essa debandada não terá bom termo; milhares nunca mais verão Sald porque perecerão no caminho, contudo uma boa parte chegará ao seu lar. Mas tu nunca mais irás para casa, nem tu nem tuas mulheres. Contudo, elas não ficarão em minha terra, nem na terra delas, mas num país estranho para onde enviarei-as.” “Aquele antes altivo e agora humilhado soldado, meu pai, colocou um joelho em terra diante do Rai, e disse:
“Poderoso Rai, o que farias com essas inocentes mulheres? Disseste que meus guerreiros eram culpados; eu o admito e não me isento de culpa. Mas estas minhas mulheres não feriram homem algum. Tuas palavras me fizeram acreditar que a justiça é o teu princípio guia; teus atos dizem outra coisa, pois quando podias abater todos nós, fizeste um exemplo de uns poucos culpados. Imploro-te, portanto, que tenhas misericórdia das mulheres e talvez dos meus oficiais.”
“Terei clemência por teus oficiais, que te são fiéis, embora só esperem a morte como recompensa. Ordena-lhes que partam com o que sobre de teu exército. Eles não estão acostumados a cuidar das necessidades do corpo; portanto, com toda certeza perecerão, a menos que eu os salve. Tendo o poder, eu o usarei com misericórdia. Nenhum morrerá no caminho; nenhum passará fome e sede, nem sofrerá de qualquer doença. Ó Senhor! No caminho para casa nenhum se perderá, embora nenhum precise comer. Em volta deles as feras se agitarão e, ainda que estejam desarmados, nenhum animal lhes fará mal, pois o espírito do Senhor com eles, será seu abrigo e salvaguarda. Sim, Ele fará muito mais, pois entrará em suas almas para que esses que agora são guerreiros um dia se tornem Seus profetas, e elevarão teu povo e farão com que o Seu nome seja conhecido em todas as eras; serão uma raça de homens educados, de astrólogos, falando de Deus por suas obras celestiais.
Mas ainda assim chegará um dia daqui a cerca de seis mil anos, tempo que os homens da futura Caldeia tentarão mais uma vez prevalecer sobre o meu povo e novamente falharão como aconteceu agora; mas tu estarás há longo tempo com teus pais, adormecido após uma segunda vida, seguro no Nome do Senhor através do qual eu obro. Chamas inocentes as mulheres que voluntariamente vieram, envoltas na insolência de um suposto poder e invencibilidade, para assassinar meu povo? Inocentes! Elas que vieram testemunhar a rapina de minhas cidades e se deleitar com os sofrimentos de meus súditos? Inocentes! Não, não é assim! Portanto, ficarás retido aqui com tuas mulheres e moças. Atenta! Eu disse que não sairás daqui; as mulheres ficarão retidas por algum tempo, mas tu jamais sairás destas terras. Irás para uma prisão que não tem grades nem paredes; contudo, não há esperança de que tu possas fugir dela.”
“Queres dizer que vamos todos morrer, Zo Rai?” – perguntou meu pai com voz baixa e triste. “Não será assim. Zo Astika, pensas que posso condenar o assassínio e eu mesmo cometê-lo desnecessariamente? Não. Eu disse que não podes sair de Suern e que isso não será possível no futuro, apesar de que não estarás impedido por grades, nem vigiado por qualquer homem.” “Foi uma coisa trágica assistir à despedida entre os que tinham de ir e os que deviam ficar. Mas afinal, assim são as sinas da guerra e os fracos devem obedecer aos fortes. Eu havia me rejubilado com nosso imaginado , mas falso poderio e não me importava quem havia sido derrotado. Poder, ah, o poder! Penso que senti uma sombria satisfação em te contemplar,
Poder, meu ídolo, causando uma destruição tão rápida!” A princesa disse as últimas palavras pensativamente, aparentemente alheia ao ambiente, sentada com as mãos apertadas, com a admiração estampada no belo rosto, os olhos distantes, mas tão cruel afinal de contas! De porte real, personalidade dominadora, bela, maravilhosamente bela – diria o mundo de hoje como o de então. Ela tinha a aparência espantosamente parecida com a das mulheres americanas louras de hoje. Só que estas com certeza, não são como ela que se inclinava sempre para o poder triunfante, como as leoas. A verdadeira mulher americana (n.t. o livro foi escrito no final do século XIX), compassiva, autêntica, graciosa como um pássaro, doce como uma rosa recém «desabrochada, é como Lolix nesses traços, cessando aí qualquer paralelo, pois essa mulher de hoje se apega ao pai, ao irmão, ao amado, chova ou faça Sol, no triunfo e na derrota, fiel até a morte.
Tais mulheres sempre recebem sua recompensa. Houve um dia em que Lolix foi alterada para se tornar como as modernas jovens de hoje, mas isso foi anos depois. Existem alguns tipos de rosa que parecem cheias de espinhos enquanto estão em botão, mas que maravilhas de beleza são elas quando finalmente abrem o coração para o Sol e para o orvalho! Ao que parece, o Príncipe Menax ainda não tinha ouvido Lolix lalar tanto tempo, tendo esperado aquela ocasião, para que eu também pudesse ouvi-la. Consequentemente, foi uma revelação para ele ouvir de alguém tão bela e doce demonstrar uma natureza tão sem coração com seu relato, que tinha sido também uma reintrospecção meditativa para ela.
Após alguns momentos, Menax disse: “Astiku, contaste que sua Majestade de Suern não agiu contigo e tuas companheiras conforme tinhas antecipado, pois era o costume nacional de teu povo usar as prisioneiras mulheres para satisfazer o desejo lúbrico dos homens e suas paixões mais grosseiras.” “Astika Menax, não me julgarás desrespeitosa se te chamar amigo daqui por diante? Confesso que fiquei muito surpresa quando o Rai Ernon não agiu dessa forma. Eu não teria reclamado, pois assim são as vicissitudes da guerra. Mas ele, em vez disso, declarou que nem ele nem o povo de Suern precisavam de nós e mandou-nos para uma terra estrangeira, Atlântida. Será essa a nossa sorte aqui?”
“Não! De forma alguma!” – replicou Menax, os lábios se apertando de desgosto diante dessa crua insinuação. “Aqui tereis o apoio do governo até que cidadãos de Poseid escolham algumas de vós como esposas, se assim desejarem. Nosso povo às vezes revela preferências bem estranhas!” “És sarcástico, Astika!” A não ser por um leve erguer de sobrancelhas, ele não se dignou responder a essa observação; mesmo esse gesto foi tão discreto que eu não o teria percebido se não estivesse perto, olhando para o seu rosto. Depois de um silêncio um tanto prolongado, Menax disse que elas estavam proibidas para sempre de voltar para Sald porque. . . “Não é mais o meu lar!” – interrompeu apressadamente a mulher. “Mas é a terra de teu nascimento!” – disse Menax com certa aspereza, para voltar a ficar calado.
Lolix se levantou e, entrelaçando as mãos, exclamou com veemência : “Não desejo rever minha terra natal, nunca mais! Daqui por diante escolho lançar minha sorte em Poseid – e chamá-la meu lar!” “Como quiseres” -disse Menax. “Sem dúvida és uma mulher muito estranha. Por amor ao poder abandonaste teus deuses, teu lar e tua pátria. E as outras, tuas amigas cativas – não, espera! Talvez não sejam tuas amigas, uma vez que caíram em desgraça! Elas se esqueceram de seu país como tu?” Inclinando a encantadora cabeça, a princesa fixou os seus gloriosos olhos azuis no rosto do seu crítico. Duas lágrimas caíram de suas espessas pestanas, seus lábios tremeram e ela juntou as pequeninas mãos enquanto dizia: “Ah, Astika, és cruel!” – voltando-se e andando em pranto para o lugar onde eu a vira ao entrar.
Dessa forma, o botão de rosa não desabrochado foi confundido com a flor do espinheiro. Quanto a mim, uma estranha mistura de sentimentos tomou conta de mim, uma mistura de dúvida e aprovação. Tentei saber que tipo de natureza era aquela que podia ser tão desapiedada e ler tanta sede de poder a ponto de romper todo laço natural para ir atrás dele e, ao mesmo tempo, ser tão essencialmente feminina a ponto de se magoar tão profundamente diante da expressão de uma reprovação natural de sua conduta. Tive pena dela por ser tão ingênua e tão sinceramente honesta em sua falta de espírito, contando tão simplesmente sua história mais recente, obviamente esperando aprovação e ficando tão magoada pelo efeito contrário que havia obtido.
Finalmente a aprovação dividiu minhas emoções, porque o príncipe tinha feito uma censura bem merecida que, embora tivesse doído, não podia deixar de ter um efeito salutar. Minhas reflexões foram interrompidas nesse ponto por Menax, que disse: “Zailm, vamos ao Xanatithlon (construção própria para flores) onde tudo é silencioso e bonito entre as flores. Estaremos a sós lá. Eu poderia dispensar as pessoas do palácio, mas prefiro não perturbar mais essa jovem saldeia.”
Continua no XII Capítulo…
Mais informações sobre ATLÂNTIDA-AGHARTA, leitura adicional:
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