As Digitais dos deuses (31) – Os Números de Osíris
Posted by Thoth3126 on 29/06/2019
A árqueo-astrônoma Jane B. Seller, que estudou egiptologia no Instituto Oriental, da Universidade de Chicago, passa os invernos em Portland, Maine, e os verões em Ripley Neck, um enclave do século XIX na “baixa” costa rochosa do Maine. “Nesse lugar”, diz ela, “os céus noturnos podem ser tão claros como no deserto e ninguém se importa se a gente lê em voz alta, para as gaivotas, os Textos das Pirâmides…” Sendo uma das poucas estudiosas sérias a submeter a teste a teoria proposta por Santillana e Von Dechend no livro Hamlet’s Mill, Seller vem sendo elogiada por ter chamado atenção para a necessidade de usar a astronomia e, de modo especial, a precessão dos equinócios, para o estudo correto do Egito antigo e de sua religião.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Livro “AS DIGITAIS dos DEUSES”, uma resposta para o mistério das origens e do fim da civilização
Por Graham Hancock, livro “AS DIGITAIS DOS DEUSES”, Tradução de Ruy Jungmann, editora Record 2001.
CAPÍTULO 31 – Os Números de Osíris
Em suas palavras:
“Os arqueólogos, de modo geral, não compreendem bem a precessão e este fato lhes afeta as conclusões sobre mitos antigos, deuses antigos e alinhamentos astronômicos dos templos antigos. (…) Para os astrônomos, a precessão dos equinócios é um fato sobejamente comprovado. Os que trabalham no campo de estudo do homem antigo têm a responsabilidade de compreendê-la.”
Alega Sellers, de forma eloqüente em seu livro, The Death of Gods in Ancient Egypt, que o mito de Osíris pode ter sido deliberadamente codificado com um grupo de números-chaves, que constituem “excesso de bagagem” no que interessa à narrativa, mas que oferecem um cálculo eterno através do qual valores surpreendentemente exatos podem ser derivados para se obter o seguinte:
O tempo necessário para que o lento bamboleio da Terra do ciclo de precessão faça com que a posição do nascer do sol no equinócio de inverno complete uma mudança de um grau ao longo da eclíptica (em relação ao conjunto de estrelas do fundo estelar);
O tempo necessário para que o sol passe através de um segmento zodiacal completo de trinta graus;
O tempo necessário para que o sol passe através de dois segmentos zodiacais completos (totalizando sessenta graus);
O tempo necessário para ocasionar o “Grande Retorno”, isto é, para que o sol mude 360 graus ao longo da eclíptica, encerrando um ciclo completo de precessão ou “Grande Ano”(25.960 anos solares).
Computando o Grande Retorno
Os números da precessão destacados por Sellers no mito de Osíris são 360, 72, 30 e 12. A maioria deles é encontrada em uma seção do mito que nos fornece detalhes biográficos sobre os vários personagens. Esses números foram convenientemente resumidos por E. A. Wallis Budge, ex-curador das Antiguidades Egípcias, do Museu Britânico:
A deusa Nut, esposa do deus do sol, Rá, era amada pelo deus Geb. Ao descobrir a intriga, Rá amaldiçoou a esposa e determinou que ela não teria filho em qualquer mês do ano. Em seguida, o deus Thoth, que também amava Nut, jogou cartas com a Lua e ganhou dela cinco dias completos. Ele juntou estes aos 360 dias que, nessa ocasião, compunham o ano [itálicos nossos]. No primeiro desses cinco dias, nasceu Osíris e, no momento de seu nascimento, uma voz foi ouvida proclamando que nascera o senhor da criação.
Em outro trecho, o mito nos informa que o ano de 360 dias consiste em “12 meses de 30 dias cada”. E, de modo geral, observa Sellers, “são usadas frases que estimulam cálculos mentais simples e atenção aos números”. Até agora, fornecemos ao leitor três dos números de Sellers referentes à precessão: 360,12 e 30. O quarto número, que aparece mais tarde no texto, é de longe o mais importante. Conforme vimos no Capítulo 9, a divindade perversa chamada Set liderou um grupo de conspiradores na trama para matar Osíris. Eram 72 os conspiradores. Com este último número, sugere Sellers, estamos em condições de dar o boot e pôr para rodar um antigo programa de computador:
12 = número das constelações do zodíaco;
30 = número de graus destinados, ao longo da eclíptica, a cada constelação zodiacal;
72 = número de anos necessários para que o sol equinocial complete uma mudança de precessão de um grau ao longo da eclíptica;
72 x 30 = 2.160 (número de anos necessários para que o sol complete uma passagem de 30 graus ao longo da eclíptica, isto é, passe inteiramente por qualquer uma das 12 constelações do zodíaco);
2.160 x 12 (ou 360 x 72) = 25.920 (número de anos em um ciclo completo de precessão, o “Grande Ano”, e, dessa maneira, o número total de anos necessários para produzir o “Grande Retorno”).
Emergem também outros números e combinações de números, como, por exemplo:
36, o número de anos necessários para que o sol equinocial complete uma mudança de precessão, de metade de grau, ao longo da eclíptica;
4.320, número de anos necessários para que o sol equinocial complete uma mudança de precessão de 60 graus (isto é, duas constelações zodiacais).
Estes, acredita Sellers, constituem os componentes básicos de um código de precessão, que reaparece sempre, com uma estranha persistência, em mitos antigos e na arquitetura sagrada de várias culturas antigas. Em comum com grande parte da numerologia esotérica, trata-se de um código que permite que se mude à vontade casas decimais para a esquerda ou a direita e que use quase todas as combinações, permutações, multiplicações, divisões e frações concebíveis dos números essenciais (todos os quais se relacionam precisamente com a taxa de precessão dos equinócios).
No código, o principal número é o 72. A ele é frequentemente adicionado o número 36, obtendo-se 108, e é permissível multiplicar 108 por 100 para obter 10.800, ou dividi-lo por dois para obter 54, que poderá ser em seguida multiplicado por 10 e expressado como 540 (ou como 54.000, 540.000, 5.400.000, e assim por diante). De alta significação é também o número 2.160 (o número de anos necessário para que o ponto equinocial percorra uma constelação zodiacal inteira, ou 30º do arco celeste), que é às vezes multiplicado por 10 e por fatores de dez (obtendo-se 216.000, 2.160.000, e assim por diante) e, ocasionalmente, por 2 para produzir 4.320, ou 43.200, 432.000, ou 4.320.000, ad infinitum.
Melhor do que Hiparco
Se Sellers está correta em sua hipótese, de que o cálculo necessário para gerar esses números foi deliberadamente codificado no mito de Osíris, a fim de fornecer informações aos iniciados, encontramos uma anomalia intrigante. Se eles se referem realmente à precessão, esses números estão deslocados no tempo. A ciência que contêm é avançada demais para que tenham sido calculados por qualquer civilização conhecida da antiguidade. Não devemos esquecer que eles aparecem em um mito contemporâneo do próprio aparecimento da linguagem escrita no Egito (na verdade, elementos da história de Osíris são encontrados nos Textos da Pirâmide, que datam de cerca de 2450 a.C., em um contexto que sugere que eram extremamente antigos mesmo nessa época).
Hiparco, o indigitado “descobridor” da precessão, viveu no século II a.C. Ele propôs um valor de 45 ou 46 segundos de arco para um ano do movimento de precessão. Esses números produzem uma mudança de um grau em 80 anos ao longo da eclíptica (a 45 segundos de arco por ano) e em 78,26 anos (a 46 segundos de arco por ano). O número exato, calculado pela ciência de nosso século, é de 71,6 anos. Se a teoria de Sellers está correta, portanto, os “números de Osíris”, que fornecem um valor de 72 anos, são significativamente mais exatos do que os encontrados por Hiparco. Na verdade, dentro dos limites óbvios impostos pela estrutura de narrativa, é difícil entender como o número 72 poderia ter sido melhorado, mesmo que um número mais exato tivesse sido conhecido dos antigos criadores de mitos. Dificilmente podemos inserir 71,6 conspiradores em uma história, ao passo que 72 se encaixam perfeitamente. Trabalhando com esse número arredondado, o mito de Osíris pode gerar um valor de 2.160 anos para uma mudança na precessão através de uma casa completa do zodíaco.
O número correto, de acordo com os cálculos modernos, é de 2.148 anos. Os números de Hiparco são de 2.400 e 2.347,8 anos, respectivamente. Por último, Osíris permite-nos calcular 25.920 como o número de anos requeridos para que se complete um ciclo de precessão através das 12 casas do zodíaco. Hiparco fornece-nos 28.800 ou 28.173,6 anos. O número correto, de acordo com as estimativas de hoje, é de 25.776 anos. Os cálculos de Hiparco para o Grande Retorno, portanto, estão cerca de 3.000 anos errados. Os cálculos de Osíris erram o número certo em apenas 144 anos e isso pode ter acontecido porque o contexto de narrativa obrigou a um arredondamento do número-base, do valor correto de 71,6 para um número mais manipulável de 72. Tudo isso, contudo, dá como certo que Sellers tenha razão em supor que os números 360, 72, 30 e 12 não entraram por acaso no mito de Osíris, mas foram nele deliberadamente inseridos por indivíduos que compreendiam – e haviam medido corretamente – a precessão. Terá Sellers razão?
Tempos de Decadência
O mito de Osíris não é o único que contém o cálculo da precessão. Os números relevantes continuaram a aflorar sob várias formas, múltiplos e combinações, em todo o mundo antigo. A esse respeito demos um exemplo no Capítulo 33 – o mito escandinavo dos 432.000 guerreiros que saíram do Valhalla para lutar contra “o Lobo”. Um novo exame desse mito mostra que ele contém várias permutações de “números ligados à precessão”. De idêntica maneira, conforme vimos no Capítulo 24, conta-se que antigas tradições chinesas, com referências a um cataclismo universal, foram postas no papel em um grande texto que consistia exatamente de 4.320 volumes. A vários milhares de quilômetros de distância, teria sido uma coincidência que o hinoriador babilônico Berossus (século III a.C.) tenha atribuído um reinado total de 432.000 anos aos reis míticos que governaram a terra da Suméria antes do dilúvio? E seria também coincidência que esse mesmo Berossus atribuísse 2.160.000 anos ao período “entre a criação e a catástrofe universal”? Agora uma pergunta: os mitos de antigos povos ameríndios, como os maias, contêm também ou nos permitem computar números tais como 72, 2.160, 4.320 etc.?
Provavelmente, jamais saberemos, graças aos conquistadores e frades espanhóis fanáticos que destruíram a herança tradicional da América Central e nos deixaram com tão pouca coisa com que trabalhar. O que podemos dizer, contudo, é que os números relevantes surgem também, em relativa profusão, no Calendário Maia de Longa Contagem. Os números necessários para calcular a precessão são encontrados nas fórmulas seguintes: 1 Katun = 7.200 dias; 1 Tun = 360 dias; 2 Tuns = 720 dias; 5 Baktuns = 720.000; 5 Katuns = 36.000; 6 Katuns = 43.200; 6 Tuns = 2.160 dias; 15 Katuns = 2.160 dias. Tampouco parece que o “código” de Sellers se limite à mitologia.
Nas selvas de Kampuchea, o complexo de templos de Angkor Vat dá a impressão de que poderia ter sido construído intencionalmente como uma metáfora da precessão. O complexo, por exemplo, possui cinco portões, a cada um dos quais chega uma estrada que passa por cima do fosso, infestado de crocodilos, que cerca todo o sítio. Todas essas estradas são ladeadas por uma fileira de gigantescas figuras de pedra, 108 por avenida, 54 de cada lado (540 estátuas no total) e cada uma delas segura uma imensa serpente Naga. Além disso, como destacam Santillana e Von Dechend no Hamlets Mill, as figuras não “seguram” a serpente, mas são mostradas “puxando-a”, o que indica que essas 540 estátuas estão “batendo o Oceano de Leite”.
O colossal complexo de templos de Angkor-Wat, no Camboja
Todo o complexo de Angkor Vat “transforma-se, dessa maneira, em um modelo colossal construído com autêntica fantasia e incongruidade hindus para expressar a idéia de precessão dos equinócios”. A mesma coisa talvez aconteça no famoso templo de Java, o Borobudur, com suas 72 stupas em forma de sino e talvez também nos megálitos de Baalbeck, no Líbano – que se considera como os maiores (e mais pesados) blocos de pedra cortada existente no mundo.
Borobudur, é um templo budista Mahayana do século IX na Regência de Magelang, não muito longe da cidade de Muntilan, no centro de Java, na Indonésia. É o maior templo budista do mundo.
Muito anteriores às estruturas romanas e gregas existentes no local, as árvores que formam a chamada “Trilithion” têm a altura de prédios de cinco andares e pesam 600 toneladas cada uma. Um quarto megálito tem quase 24 metros de comprimento e pesa 1.100 toneladas. Surpreendentemente, esses blocos gigantescos foram cortados, modelados com perfeição e, de alguma maneira, transportados para Baalbek procedentes de uma pedreira situada a vários quilômetros de distância. Além disso, foram encaixados habilmente, a uma grande altura acima do nível do chão, nos muros de arrimo de um templo magnífico. Esse templo era cercado por 54 colunas de tamanho e altura imensos.
Templo de BAALBEK, no atual Líbano, construído pelos Anunnaki…
No subcontinente da Índia (onde a constelação de Órion é conhecida como Kal-Purush, que significa Tempo-Homem), descobrimos que os números de Osíris a que se refere Sellers são transmitidos através de uma larga variedade de meios e isto de uma maneira cada vez mais difícil de atribuir ao acaso. Existem, por exemplo, 10.800 tijolos no Agnicayana, o altar do fogo indiano. O Rigveda, o mais antigo dos textos vedas e rico repositório de “mitologia” indu, é composto de 10.800 estrofes. Cada estrofe é composta de 40 sílabas, com o resultado de que a composição, no total, consiste de 432.000 sílabas… nem mais, nem menos. No Rigveda 1:64 (uma estrofe típica), lemos sobre “a roda de 12 aros, na qual estão estabelecidos 720 filhos de Agni”.
Na Cabala hebraica, há 72 anjos através dos quais os Sephiroth (poderes divinos) podem ser abordados ou invocados por aqueles que lhes sabem os nomes e números. A tradição Rosacruz fala de ciclos de 108 anos (72 mais 36), de acordo com os quais a fraternidade secreta manifesta sua influência. Analogamente, o número 72 e suas permutações e subdivisões são de grande importância para as sociedades secretas chinesas, como as Tríades. Um antigo ritual exige que cada candidato à iniciação pague uma taxa, incluindo “360 cash para ‘fazer trajes’, 108 cash ‘para a bolsa’, 72 cash ‘para instrução’ e 36 cash para decapitar o ‘sujeito traiçoeiro”‘. O “cash” (a velha moeda de cobre usada em toda a China, com um buraco quadrado no centro) não está mais, claro, em circulação, embora tenham sobrevivido os números transmitidos aos pósteros desde tempos imemoriais. Assim, na moderna Cingapura, candidatos à filiação numa Tríade pagam uma joia que é calculada de acordo com sua situação financeira, mas que deve sempre consistir de múltiplos de US$ 1,80, US$ 3,60, US$ 7,20, US$ 10,80 (e, portanto, de US$ 18, US$ 36, US$ 72, US$ 108,00, ou US$ 360, US$ 720, US$ 1.080, e assim por diante).
Entre todas as sociedades secretas, a mais misteriosa e antiga é, de longe, a Liga Hung, que estudiosos acreditam ser “a depositária da velha religião dos chineses”. Em um ritual de iniciação Hung, o neófito passa por uma sessão de perguntas e respostas mais ou menos assim:
P. O que foi que você viu em seu passeio?
R. Vi dois vasos com bambu vermelho.
P. Sabe quantas plantas havia neles?
R. Em um vaso havia 36 e, no outro, 72, e juntos, 108.
P. Levou alguns para casa para usar?
R. Levei, levei para casa 108 plantas…
P. De que maneira pode provar isso?
R. Posso provar isso com um verso.
P. Como é esse verso?
R. O bambu vermelho de Cantão é raro no mundo. Nos bosques há 36 e 72 deles.
Quem é no mundo que conhece o significado disso? Quando começarmos a trabalhar, saberemos o segredo. A atmosfera de curiosidade despertada por trechos como esse é acentuada pelo comportamento reticente da própria Liga Hung, uma organização que lembra a Ordem dos Cavaleiros Templários, uma organização medieval (e os graus mais altos da moderna maçonaria), de muitas maneiras que não cabe no escopo deste livro descrever. É curioso ainda que o caractere chinês hung, composto de água e murtas, significa inundação, isto é, o Dilúvio. Finalmente, voltando à Índia, vale a pena estudar o conteúdo das escrituras sagradas conhecidas como Puranas. Falam elas de “quatro eras da terra, denominadas Yugas, que, juntas, se estenderiam por 12.000 “anos divinos”. As respectivas durações dessas épocas, em “anos divinos“, são:
Krita Yuga = 4.800;
Treta Yuga = 3.600;
Davpara Yuga = 2.400 e
Kali Yuga = 1.200 anos.
Em anos terrestres, a nossa medida de tempo, os períodos são os seguintes:
Satya Yuga: 1,728,000 anos dos mortais ( nosso ano solar de 365,25 dias)
Treta Yuga: 1,296,000 anos dos mortais
Dvapara Yuga: 864,000 anos dos mortais
Kali Yuga: 432,000 anos dos mortais
Os Puranas ainda nos dizem que “um ano dos mortais é igual a um dia dos deuses”. Além do mais, e exatamente como no mito de Osíris, descobrimos que o número de dias nos anos de deuses e mortais foi estabelecido artificialmente em 360, de modo que um ano dos deuses equivale a 360 anos dos mortais. A Kali Yuga, portanto, com 1.200 anos dos deuses, tem uma duração de 432.000 anos dos mortais. Uma Mahayuga, ou Grande Era (constituída dos 12.000 anos contidos nas quatro Yugas inferiores), equivale a 4.320.000 anos dos mortais. Mil dessas Mahayugas (que constituem um Kalpa, ou (apenas) UM Dia de Brahma) estendem-se por 4.320.000.000 anos comuns, fornecendo, mais uma vez, os dígitos para os cálculos básicos da precessão dos equinócios.
Separadamente, seguem-se os Manvantaras (períodos de Manu), sobre os quais as escrituras dizem que “cerca de 71 sistemas de quatro Yugas ocorrem durante cada Manvantara”. O leitor deve recordar-se que um grau do movimento de precessão ao longo da eclíptica requer 71,6 anos para ser completado, número este que pode ser arredondado para baixo, “mais ou menos 71” na Índia, com tanta facilidade com que é arredondado para cima, chegando a 72 no antigo Egito. A era (atual) do Kali Yuga, com uma duração de 432.000 anos dos mortais, é, por falar nisso, a era em que vivemos. “Na Era de Kali”, dizem as escrituras, “a decadência aumentará, até que a raça humana se aproxime da aniquilação.”
O Retorno de Kalki Avatar: Depois de 432.000 anos, diz-se que o Kali-yuga será levado ao fim pelo retorno de Vishnu / Krishna no avatar de Kalki, a 22ª encarnação de Deus. Cavalgando seu nobre corcel branco Devadatta, Kalki descerá do céu brandindo uma espada ardente (a Arma de Parabrahman) para matar os ímpios e sem Deus.”
Cães, Tios e Vingança
E foi um cão que nos trouxe até estes tempos de decadência. Chegamos aqui passando por Sírius (a mais brilhante estrela dos céus da Terra), a estrela principal, a alfa da constelação de Canis Major (Cão Maior), que se encontra ao lado da gigantesca constelação de Órion (o caçador), onde ela aparece alta no céu, acima do Egito. Nessa terra, conforme vimos, Órion é Osíris, o deus da morte e da ressurreição, cujos números – talvez não por acaso – são 12, 30, 72 e 360. Mas poderá o acaso explicar o fato de que esses e outros números, que fazem parte do cálculo da precessão dos equinócios, continuam a aflorar em mitologias originárias de regiões em todas as partes do mundo, supostamente sem nenhuma relação entre si, e em veículos duradouros como sistemas de calendário e obras de arquitetura através do mundo antigo inteiro?
Santillana e Von Dechend, Jane Sellers e um número crescente de outros pesquisadores excluem a possibilidade de acaso, argumentando que a persistência dos detalhes indica uma mão orientadora. Se estão errados, precisamos encontrar outra explicação para o motivo por que esses números específicos e inter-relacionados (cuja única função óbvia consiste em servir para calcular a precessão dos equinócios) poderiam, por acaso, ter impregnado de maneira tão profunda a cultura humana. Mas vamos supor que eles não estejam errados. Suponhamos que certa mão orientadora esteve realmente por trás das cenas. Às vezes, quando estudamos o mundo do mito e mistério de Santillana e Von Dechend, podemos quase sentir a influência dessa mão… Vejamos o caso do cão… ou do chacal, do lobo, ou da raposa. A maneira sutil como esse misterioso canino se esgueira de um mito a outro é peculiar – deixando-nos curiosos, em seguida perplexos, mas sempre nos puxando para a frente.
Na verdade, foi essa isca que seguimos desde o Moinho de Amlodhi até o mito de Osíris, no Egito. Ao longo do caminho, de acordo com a intenção de antigos sábios (se Sellers, Santillana e Von Dechend têm razão), fomos inicialmente encorajados a formar uma clara imagem mental da esfera celeste. Em seguida, eles nos forneceram um modelo mecanicista, de modo a que pudéssemos visualizar as grandes mudanças que a precessão dos equinócios introduz periodicamente em todas as coordenadas da esfera. Finalmente, depois de permitir que Sírius abrisse os caminhos para nós, eles nos deram os números para calcular a precessão com relativa exatidão. Sírius, porém, em seu posto eterno ao lado de Órion, o “caçador” não é o único personagem canino em volta de Osíris. Vimos no Capítulo 11 que ÍSIS (simultaneamente ESPOSA e IRMÃ de Osíris) procurou o cadáver do marido assassinado por Set (que, incidentalmente, era também seu irmão e de Osíris).
Na busca, de acordo com a tradição antiga, ela foi ajudada por cães (chacais, em algumas versões). De idêntica maneira, textos mitológicos e religiosos de todos os períodos da história egípcia afirmam que o deus-chacal Anúbis cuidou do espírito de Osíris após a morte e que lhe serviu de guia no submundo. (Vinhetas remanescentes mostram Anúbis com uma aparência virtualmente idêntica à de Upuaut, o Desbravador de Caminhos.) Finalmente, mas não de menor importância, acreditava-se que o próprio Osíris assumiu a forma de lobo quando voltou do submundo para ajudar o seu filho Hórus na batalha final contra seu irmão (de Osíris) Set. Investigando esse tipo de material, sentimos às vezes a sensação sobrenatural de que estamos sendo manipulados por uma inteligência antiga, que descobriu uma maneira de chegar até nós através das imensidões do tempo e que, por alguma razão, nos propõe para solucionar um enigma que usa a linguagem do mito.
A constelação de Órion, o caçador, à esquerda e a estrela Sírius, acima à direita.
Os caminhos entre os dois mitos muito diferentes de Osíris e o Moinho de Amlodhi (embora pareça que ambos contêm dados científicos exatos sobre a precessão dos equinócios) são mantidos abertos por outro estranho fator comum. Há relacionamentos familiares em jogo. Amlodhi/Amleth/Hamlet é sempre um filho que vinga o assassinato do pai, encurralando e matando o assassino. O assassino, além disso, é sempre o irmão do pai, isto é, o tio de Hamlet. Esse é precisamente o cenário do mito de Osíris. Ele e Seth são irmãos. Seth assassina Osíris. Hórus, filho de Osíris, vinga-se do tio. Outro desvio é que o personagem Hamlet mantém algum tipo de relacionamento incestuoso com a irmã. No caso de Kullervo, o Hamlet finlandês, há uma cena pungente, na qual o herói, voltando para casa após longa ausência, encontra uma donzela no bosque, colhendo amoras. Deitam-se juntos. Só depois descobrem que são irmão e irmã. A moça suicida-se por afogamento.
Mais tarde, com o “cão negro Musti” seguindo-o aos tornozelos, Kullervo entra na floresta e se joga contra a própria espada. Não há suicídios no mito egípcio de Osíris, mas há incesto, entre ele e a irmã, Ísis. Dessa união nasce Hórus, o vingador. Em vista disso, parece mais uma vez razoável perguntar: o que é que está acontecendo? Por que todas essas visíveis ligações e conexões? Por que temos essa “fieira” de mitos, aparentemente sobre assuntos diferentes, todos os quais são capazes, à sua própria maneira, de lançar luz sobre o fenômeno da precessão dos equinócios? E por que, em todos esses mitos, perpassam cães e personagens que parecem estranhamente propensos ao incesto, ao fratricídio e à vingança? E, certamente, é levar o ceticismo aos seus limites sugerir que tantos recursos literários idênticos poderiam continuar a reaparecer apenas por acaso em tantos contextos diferentes. Se não por obra do acaso, contudo, quem foi exatamente o responsável por criar esse modelo complicado e habilmente interligado? Quem foram os autores e executores desse enigma e que motivos poderiam ter tido?
Cientistas com Algo a Dizer
Quem quer que tenham sido, não há dúvida de que foram sabidos – com conhecimento o suficiente para ter observado o arrastamento infinitesimal do movimento de precessão dos equinócios ao longo da eclíptica e calculado sua taxa com um valor extraordinariamente próximo do que é obtido pela avançada tecnologia de hoje. Segue-se, portanto, que estamos falando de indivíduos altamente civilizados. Na verdade, estamos falando de indivíduos que merecem ser chamados de cientistas. Eles devem, além do mais, ter vivido em uma antiguidade extremamente remota, porque podemos ter certeza de que a criação e disseminação da herança comum de mitos sobre a precessão, em ambos os lados do Atlântico, não ocorreu em tempos históricos. Ao contrário, a prova sugere que todos esses mitos “estavam cambaleando de velhice” quando aquilo que chamamos de história começou, há cerca de 5.000 anos.
O grande poder das histórias antigas era o seguinte: além de estarem para sempre à disposição de todos e poderem ser adaptadas sem necessidade de pagamento de direitos autorais, elas, como se fossem camaleões intelectuais, sutis e ambíguos, tinham capacidade de mudar de cor para adequar-se ao ambiente. Em ocasiões diferentes, em continentes diferentes, as histórias antigas podiam ser recontadas de uma grande variedade de maneiras, mas sempre reter seu simbolismo básico e continuar a transmitir os dados codificados sobre a precessão, que desde o início haviam sido codificados para fazer. Mas com que fim em vista? Conforme veremos no capítulo seguinte, os longos e lentos ciclos das precessões não se limitam, em suas consequências, a mudar o aspecto do céu. Esse fenômeno celeste, causado pelo bamboleio do eixo da Terra, produz efeitos diretos sobre a própria Terra e sobre quem vive no planeta, os seres humanos. Na verdade, parece que é um dos principais correlatos do aparecimento súbito de idades de gelo e de sua retirada igualmente súbita e catastrófica.
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