domingo, 12 de maio de 2019

AS DIGITAIS DOS DEUSES (13) - O SANGUE E OTEMPO NO FIM DO MUNDO


As Digitais dos deuses: (13) O Sangue e o Tempo no Fim do Mundo
Posted by Thoth3126 on 12/05/2019

Às minhas costas, varando o ar a quase 35m de altura, erguia-se um zigurate perfeito, o Templo de Kukulkan. Suas quatro escadarias tinham 91 degraus cada Juntamente com a plataforma superior, que contava também como mais um degrau, o total chegava a 365 degraus, o que correspondia ao número de dias completos do ano solar. Além disso, o projeto geométrico e a orientação da antiga estrutura haviam sido graduados com uma precisão de relógio suíço para atingir um objetivo tão espetacular quanto esotérico: nos equinócios da primavera e outono, com a regularidade de um mecanismo de relógio, padrões triangulares de luz e sombra se combinavam para criar a ilusão de uma serpente gigantesca, ondulando na escadaria norte.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Livro “AS DIGITAIS dos DEUSES”, uma resposta para o mistério das origens e do fim da civilização
Capítulo 2: Rios na Antártida
Por Graham Hancock, livro “AS DIGITAIS DOS DEUSES”, Tradução de Ruy Jungmann, editora Record 2001.
CAPÍTULO 13 O Sangue e o Tempo no Fim do Mundo
Chichen Itza, norte de Yucatán, México

Em ambas as ocasiões, nos equinócios da primavera e outono, a ilusão durava três horas e 22 minutos, exatamente! Deixei para trás o Templo de Kukulkan e tomei a direção leste. À minha frente, desmentindo redondamente a falácia frequentemente repetida de que os povos da América Central jamais conseguiram usar a coluna como recurso arquitetônico, erguia-se uma floresta de colunas de pedra branca que, em alguma ocasião no passado, deviam ter sustentado um telhado maciço. O sol brilhava forte e quente através do azul translúcido de um céu sem nuvens e as sombras frias e profundas da área constituíam um convite tentador. Passei pelo local e dirigi-me para o pé dos degraus altos que levavam ao Templo dos Guerreiros, uma estrutura adjacente.

Piramide de Kukulkan emitindo um PILAR DE LUZ !

No alto dos degraus, e tornando-se inteiramente visível apenas depois de eu ter começado a galgá-los, destacava-se uma figura gigantesca, o ídolo de Chacmool, meio deitado, meio sentado, em uma postura estranhamente dura e expectante joelhos dobrados projetando-se para a frente, panturrilhas fortes puxadas para trás, tocando as coxas, calcanhares juntos colados às nádegas, cotovelos plantados no chão, mãos dobradas sobre o ventre, segurando um prato vazio, e as costas em um ângulo estranho, como se a figura estivesse justamente pronta para erguer-se. Se tivesse feito isso, calculei, ela teria cerca de 2,40m de altura. Mesmo reclinada, enrascada e fortemente comprimida, parecia transbordar de uma energia feroz e impiedosa. As feições quadradas tinham lábios finos e implacáveis, tão duros como a pedra em que haviam sido talhados, os olhos virados para oeste, que era tradicionalmente a direção das trevas, da morte e da cor preta.

Lugubremente, continuei a subir os degraus do Templo dos Guerreiros como se fosse um peso na mente, havia o fato inesquecível de que rituais de sacrifícios humanos haviam sido rotineiramente praticados nesse local em tempos pré-colombianos. O prato vazio que Chacmool segurava junto ao estômago servira em eras remotas para receber corações recém-extraídos do peito. “Se o coração de uma vítima ia ser extirpado”, escreveu um observador espanhol do século XVI, ela era conduzida com grande pompa (…) e colocada sobre a pedra sacrificial. Quatro ajudantes seguravam-lhe os braços e as pernas, estirando-os. Chegando em seguida o carrasco, com uma faca de sílex na mão, ele, com grande perícia, fazia uma incisão entre as costelas do lado esquerdo e abaixo do bico do seio. Em seguida, enfiava a mão e, como se fosse um tigre faminto, arrancava o coração vivo, que depositava no prato… Que tipo de cultura poderia ter cultivado e celebrado esse costume demoníaco?

Ali, em Chichen Itza, entre ruínas com mais de 1.200 anos de idade, tinha havido uma sociedade híbrida, produto do cruzamento de elementos maias e toltecas. Essa sociedade, porém, não fora absolutamente excepcional na propensão para cerimônias cruéis e bárbaras. Muito ao contrário, todas as grandes civilizações indígenas que se sabe que floresceram no México praticaram o extermínio ritualizado de seres humanos.

Matadouros – Villahermosa, Província de Tabasco

Nesse momento, eu olhava para o Altar de Sacrifício de Bebês. O local, criação dos olmecas, a denominada “cultura-matriz” da América Central, tinha mais de 3.000 anos de idade. Era um bloco de granito maciço, de cerca de 1,20m de espessura, tendo nos lados, em alto relevo, quatro homens usando curiosos adereços de cabeça. Todos tinham nas mãos um bebê sadio, gordinho, esperneando em um pavor claramente visível. A parte posterior do altar era destituída de decoração; já na frente, era representada uma figura tendo nos braços, como uma oferenda, o corpo de uma criança morta. Os olmecas foram a civilização antiga mais avançada do México antigo e o sacrifício de seres humanos constituía um de seus costumes tradicionais.


Dois mil e quinhentos anos mais tarde, por ocasião da conquista espanhola, os astecas eram os últimos (mas não os menos importantes) dos povos da região que davam prosseguimento a uma tradição extremamente antiga e profundamente enraizada. E praticavam-na com fanático entusiasmo. Consta dos anais, por exemplo, que Ahuitzod, o oitavo e mais poderoso imperador da dinastia real asteca, “celebrou a inauguração do templo de Huitzilopochtli, em Tenochitlán, mandando formar prisioneiros em quatro filas, que marcharam diante de equipes de sacerdotes que trabalharam durante quatro dias seguidos para dar cabo de todos eles. Nessa ocasião, nada menos de 80.000 indivíduos foram sacrificados em um único rito cerimonial”. Os astecas gostavam de se enfeitar com a pele arrancada das vítimas sacrificiais. Bernardino de Sahagun, um missionário espanhol, compareceu a uma dessas cerimônias pouco depois da conquista:

Os celebrantes esfolavam e esquartejavam os cativos. Em seguida, lubrificavam seus corpos nus com sebo e vestiam a pele. (…) Escorrendo sangue e gordura, esses homens sinistramente vestidos corriam através da cidade, apavorando aqueles a quem perseguiam… O rito do segundo dia incluiu também um banquete de carne humana para a família de cada guerreiro.

Outro sacrifício em massa foi presenciado por Diego de Durán, historiador espanhol. Nesse caso, as vítimas foram tão numerosas que, quando os riachos de sangue, que desciam pelos degraus do templo, “chegaram ao chão e coagularam, formaram grossos torrões, o suficiente para apavorar todos que se encontravam ali”. No total, estima-se que o número de vítimas sacrificiais no império asteca como um todo chegou a cerca de 250.000 ao ano, no início do século XVI. A que fim servia essa destruição insana de vidas humanas? De acordo com os próprios astecas, o ritual era praticado para retardar o fim do mundo.

Os Filhos do Quinto Sol

Tais como os muitos e diferentes povos e culturas que os precederam no México, os astecas acreditavam que o universo funcionava de acordo com grandes ciclos. Os sacerdotes afirmavam, como fato corriqueiro, que quatro desses ciclos, ou “Sóis”, já haviam transcorrido desde a criação da raça humana. Na época da conquista, prevalecia o Quinto Sol, o mesmo Quinto Sol, ou época, que a humanidade ainda vive hoje. A explicação seguinte foi extraída de uma coleção rara de documentos astecas, conhecida como Vaticano-Latin Codex:

-Primeiro Sol, Matlacli Atl; duração: 4.008 anos. Os que viveram nesse tempo comiam milho d’água, chamado atzitzintli. Nessa época, viviam os gigantes. (…) O Primeiro Sol foi destruído pela água no signo Matlactli Atl (Dez Águas). Foi chamado de Apachiohualiztli (inundação, dilúvio), ou a arte da feitiçaria da chuva permanente. Os homens foram transformados em peixes. Dizem alguns que escapou apenas um casal, protegido por uma velha árvore que crescia perto da água. Outros dizem que houve sete casais, que se esconderam em uma caverna até passar a enchente e baixarem as águas. Eles repovoaram a terra e foram adorados como deuses em suas nações…

-Segundo Sol, Ehecoatl; duração: 4.010 anos. Os que viveram nessa época comiam frutos silvestres, como o acotzintli. Esse Sol foi destruído por Ehecoatl (Serpente do Vento) e os homens foram transformados em macacos. (…) Um homem e uma mulher, no alto de uma rocha, foram salvos da destruição…

-Terceiro Sol. Tleyquiyahuillo; duração: 4.081 anos. Os homens, descendentes do casal sobrevivente do Segundo Sol, comiam uma fruta chamada tzincoacoc. Esse Terceiro Sol foi destruído pelo fogo…

-Quarto Sol. Tzontlilic; duração: 5.026 anos. Os homens morreram de fome após um dilúvio de sangue e fogo…


Outro “documento cultural” dos astecas que sobreviveu à destruição da conquista é a denominada “Pedra do Sol”, do governante Axayacatl, o sexto imperador da dinastia real. Esse monólito gigantesco, talhado em basalto maciço por volta do ano 1479 d.C., pesa 24,5 toneladas e consiste numa série de círculos concêntricos com inscrições, todas elas ostentando intrincadas afirmações simbólicas. Da mesma forma que no códex, essas afirmações concentram-se na crença em que o mundo já passou por quatro épocas, ou Sóis. A primeira e mais antiga delas é representada pelo Ocelotonatiuh, o deus jaguar:

“Durante esse Sol, viveram os gigantes criados pelos deuses, mas eles foram finalmente atacados e devorados pelos jaguares”. O Segundo Sol é representado pela cabeça de serpente de Ehecoatl, o deus do ar. “Durante esse período, a raça humana foi destruída por fortes ventos e tufões, tendo sido os homens transformados em macacos”. O símbolo do Terceiro Sol era a nuvem de tempestade e o fogo celestial: “Nessa época, tudo foi destruído por uma certa chuva de fogo que caiu do céu e por formação de lava. Todas as casas foram queimadas. Os homens foram convertidos em aves para sobreviver à catástrofe”. O Quarto Sol é representado pela cabeça da deusa da água, Chalchiuhlicue: “A destruição chegou sob a forma de chuvas torrenciais e de inundações. As montanhas desapareceram e os homens foram transformados em peixes”.

O símbolo do Quinto Sol, a época atual, é a face de Tonatiuh, o próprio deus-sol. Sua língua, apropriadamente descrita como uma faca de obsidiana, projeta-se faminta da boca, sinalizando a necessidade de alimento sob a forma de sangue e corações humanos. Suas feições são enrugadas, a fim de indicar idade avançada, e ele aparece dentro do símbolo Ollin, que significa Movimento. Por que será o Quinto Sol conhecido como “O Sol do Movimento”? Porque, “dizem os anciãos: nele haverá um movimento da Terra (mudança do eixo polar-axial do planeta…em breve) e disso todos nós morreremos”. E quando acontecerá essa catástrofe? Logo, segundo os sacerdotes astecas.

Acreditavam eles que o Quinto Sol já era muito velho e que se aproximava do fim de seu ciclo (daí as rugas na face de Tonatiuh). Tradições antigas da América Central datavam o início dessa época em um período remoto correspondente ao quarto milênio a.C. de acordo com o calendário cristão. O método para lhe calcular o fim, porém, havia sido esquecido ao tempo dos astecas. Na falta dessa informação essencial, sacrifícios humanos eram aparentemente realizados na esperança de adiar a catástrofe iminente. Na verdade, os astecas vieram a considerar-se um “povo eleito”. Estavam convencidos de que haviam sido encarregados da missão divina de fazer guerra e oferecer o sangue dos cativos para alimentar Tonatiuh, preservando, dessa maneira, a vida do Quinto Sol. Stuart Fiedel, autoridade na pré-história das Américas, resumiu toda essa questão nas palavras seguintes:

“Os astecas acreditavam que, para prevenir a destruição do universo, que já ocorrera quatro vezes no passado, os deuses tinham que ser propiciados com uma dieta regular de corações e sangue humano.”

A mesma crença, com um número notavelmente pequeno de variações, foi compartilhada por todas as grandes civilizações da América Central. Ao contrário dos astecas, porém, alguns dos povos mais antigos calcularam exatamente quando um grande movimento da terra poderia ser esperado, levando ao fim o Quinto Sol.

O Portador da Luz

Nenhum documento, salvo esculturas sombrias e ameaçadoras, chegou até nós com origem na era olmeca. Os maias, porém, com toda razão considerados como a maior civilização antiga surgida no Novo Mundo, deixaram uma grande riqueza de calendários. Traduzidos em termos do moderno sistema de datação, essas inscrições enigmáticas transmitem uma mensagem muito curiosa: o Quinto Sol, ao que parece, chegaria ao seu fim no dia 23 de dezembro de 2012. No clima intelectual racional de fins do século XX, é coisa fora de moda levar a sério profecias sobre o dia do Juízo Final. O consenso é que elas são produtos de mentes supersticiosas e que podem ser ignoradas sem perigo.

Enquanto viajava pelo México, no entanto, de vez em quando eu era incomodado pela intuição insistente de que as vozes dos sábios antigos poderiam merecer, afinal de contas, alguma atenção. Quero dizer, suponhamos que, por algum acaso maluco, eles não fossem os selvagens supersticiosos que sempre acreditamos que tenham sido. Suponhamos que soubessem de alguma coisa que não sabemos. Mais pertinente que tudo, suponhamos que a data projetada para o fim do Quinto Sol acabe sendo correta. Suponhamos, em outras palavras, que alguma catástrofe geológica realmente horrível já esteja se desenvolvendo, bem no fundo das entranhas da terra, como previram os sábios maias.

No Peru e na Bolívia, tornei-me consciente do interesse obsessivo pelos cálculos sobre o tempo demonstrado pelos incas e seus predecessores. Nesse momento, no México, eu descobria que os maias, que acreditavam ter descoberto a data do fim do mundo, haviam sido vítimas da mesma compulsão. Na verdade, para esse povo, praticamente tudo se resumia em números, na passagem dos anos e nas manifestações de fatos. A crença era que, se os números que davam substância às manifestações pudessem ser compreendidos, seria possível prever com exatidão o momento em
que os próprios fatos aconteceriam. Eu nenhuma inclinação sentia para ignorar as implicações lógicas das destruições repetidas da humanidade, descritas de forma tão vívida nas tradições da América Central. Completas com gigantes e dilúvios, essas tradições eram sobrenaturalmente semelhantes às da distante região andina.

Além do mais, eu estava muito interessado em seguir outra e correlata linha de indagação, que dizia respeito a uma divindade barbuda, de pele branca, chamada Quetzalcoatl, que se acreditava ter, na antiguidade remota, chegado ao México pelo mar. A ele era dado o crédito pela criação das avançadas fórmulas matemáticas e relativas à confecção de calendários que os maias usariam mais tarde para calcular a data do fim do mundo. Ele exibia também uma semelhança notável com Viracocha, o deus branco dos Andes, que chegara a Tiahuanaco “no tempo das trevas”, trazendo as dádivas da luz e da civilização.

Mais informações, leitura adicional:

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