Atlântida: Um Habitante de dois planetas (1) – A Rainha das Ondas
Posted by Thoth3126 on 30/05/2019
Esta é uma história contada na primeira pessoa, pelo próprio personagem que a viveu, há milhares de anos, no então continente de Atlântida, a sua vida passada na ilha continente hoje perdida sob às águas do oceano Atlântico, veio ao conhecimento do público no final do século XIX, quando sua história foi publicada na Califórnia, Santa Bárbara. Ela ilumina a escuridão sobre um período longínquo da história da própria humanidade, que é descartada como lenda e mito pelo establishment dos eruditos acadêmicos que também duvidavam da existência de Troia e Micenas até que Heinrich Schliemann as descobrisse em 1870.
“Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso”. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. – Aforismo de Narada.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Livro concluído em 1886 e publicado em 1905 por Baumgardt Publishing Company: “Um Habitante de Dois Planetas ou a Divisão do Caminho”, de Philos, o Tibetano
Philos, o Tibetano
“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor ideias teóricas. Se levares alguns pequenos pontos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali meditares neles, verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . .
“Este é o espírito com que o autor propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão…… O que é a experiência? Dois componentes: o conjunto das sensações que compõem uma dada situação e a percepção pessoal ou “tradução” individual desse conjunto de sensações. Que este livro seja lido pelo fascínio da narrativa, como “lenha atirada à sua fogueira pessoal”, alimento para o seu “fogo interior“! Jogue a lenha na sua fogueira e deixe queimar. Os produtos dessa queima – calor e luz – ativarão ou reativarão um processo interno de pensar e sentir em você mesmo, um processo de ser, no cadinho da vida. Conhecer. . . A verdade. . . Quem pode decidir? – Philos, o Tibetano
LIVRO PRIMEIRO – CAPÍTULO I – ATLÂNTIDA, A RAINHA DAS ONDAS
“Por que não?” – perguntei a mim mesmo, parando no meio da neve da montanha, lá tão alto sobre o mar que o Rei da Tempestade imperava supremo, embora o verão reinasse lá embaixo.
“Por acaso não sou um atlante, um poseidano, e não é este nome sinônimo de liberdade, honra e poder? Não é esta, minha terra natal, a mais gloriosa sob o Sol? Sob Incal?” Novamente me inquiri:
“Por que não? Por que não tentar tornar-me um dentre os maiores de minha orgulhosa pátria? Firme está a Rainha do Mar, sim, rainha do mundo, pois todas as nações nos pagam tributos de honra e comércio, todas nos emulam. Governar Poseid, então, não significa governar toda a Terra? Pois tentarei conquistar esse prêmio, e o conseguirei! E tu, Ó pálida e gélida Lua, sê testemunha de minha resolução” – gritei em voz alta, levantando as mãos para o céu –“e também vós, rútilos diamantes do firmamento”.
Se é verdade que o esforço resoluto assegura o êxito, o fato é que eu sempre conseguia o que me determinasse a alcançar. Ali então, naquela grande altitude, acima do oceano e do planalto que se estendia para oeste por duas mil milhas {3.200 km} até Caiphul, a Cidade Real, fiz meus votos. Tão elevado era o local que abaixo de mim havia picos e cadeias de montanhas gigantescas, mas que se apequenavam diante do ápice onde eu me encontrava. À minha volta estendia-se a neve eterna, mas eu não me importava. Tão cheia de resolução estava minha mente, do desejo de tornar-me poderoso na minha terra natal, que nem sentia o frio. Na verdade, eu mal me dava conta de que o ar estava frio, gelado como as vastidões árticas do remoto Norte.
Muitos obstáculos teriam de ser superados no cumprimento do meu desígnio, pois quem era eu naquele instante? Apenas o filho de um montanhês, pobre, sem pai, mas graças sejam dadas aos Fados! – não sem mãe! Pensar em minha mãe – a muitas milhas de distância, lá onde as florestas perenes ondulam, onde raramente cai a neve, sozinha com a noite e com o pensamento em mim – isso bastou para me trazer lágrimas aos olhos, pois eu não passava de um menino que muitas vezes ficava triste quando as dificuldades que ela suportava vinham à sua lembrança. Essas reflexões eram incentivos que se acrescentavam à minha ambição de ser e agir.
De novo meus pensamentos se voltaram para as dificuldades que eu teria de enfrentar em minha luta pelo sucesso, pela fama e pelo poder. Atlântida, ou Poseid, era um império cujos súditos gozavam da liberdade concedida por um poder monárquico limitado. A lei geral de sucessão oficial oferecia a todos os cidadãos do sexo masculino a oportunidade de escolha para o cargo máximo do país . O próprio imperador tinha uma posição eletiva, assim como os seus ministros, o Conselho dos Noventa ou Príncipes do Reino, cargos análogos aos do Governo da República Americana, que é seu legítimo sucessor.
Se a morte chamasse o ocupante do trono ou um de seus conselheiros, era acionado o sistema eletivo, mas não em outros casos, a não ser demissão por má conduta no cargo, penalidade de que nem o próprio imperador estava isento, caso incorresse nessa grave falta. Duas grandes divisões sociais, abrangendo todas as classes de pessoas de ambos os sexos, estavam investidas no poder eletivo. O grande princípio subjacente à organização política de Poseid poderia ser descrito como “um sistema de avaliação educacional de cada votante, mas o sexo do dono do voto não era da conta de ninguém”. Os dois principais ramos sociais eram conhecidos pelos respectivos nomes de “Incala” e “Xioqua”, ou seja, a classe dos sacerdotes e a classe dos cientistas.
Perguntariam os leitores onde estaria a oportunidade que cada súdito comum teria num sistema que excluía os artesãos, os comerciantes e os militares que não fizessem parte das classes com direitos políticos? Qualquer pessoa tinha a opção de entrar no Colégio das Ciências, no Colégio do Incal, ou em ambos. Não havia consideração de raça, cor ou sexo; o único pré-requisito era que o candidato a admissão tivesse dezesseis anos de idade e uma boa educação, obtida nas escolas comuns ou em cursos de colégios menos importantes como o Xioquithlon na capital de alguns dos estados Poseidanos, por exemplo Numea, Terna, Idosa, Corosa e mesmo o colégio menor de Marzeus, que era o principal centro de arte manufatureira da Atlântida.
A duração do curso no Grande Xioquithlon era de sete anos, dez meses a cada ano, divididos em dois períodos de cinco meses dedicados ao trabalho ativo, com um mês de férias ao final de cada período. Qualquer estudante podia competir nos exercícios relativos aos exames anuais, realizados no fim do ano ou nas vésperas do equinócio de inverno. O nosso reconhecimento da lei natural da limitação mental fica óbvio ante o fato de que o curso de estudos era puramente opcional, ficando o estudante à vontade para escolher os tópicos, muitos ou poucos, que lhe fossem mais agradáveis, com a seguinte e necessária prescrição: somente os que possuíssem diplomas de primeira classe poderiam se candidatar a cargos oficiais, por mais modestos que fossem.
Esses certificados comprovavam um grau de aprendizado que abrangia uma variedade de conhecimentos grande demais para ser mencionada, a não ser por inferência, com o prosseguimento da narrativa. O diploma de segunda classe não conferia prestígio político, a não ser pelo fato de que era acompanhado do privilégio do voto e, embora ocorresse de uma pessoa não desejar um cargo público nem votar, o direito à instrução em qualquer ramo do conhecimento continuava a ser um privilégio gratuito em Atlântida. Mas aqueles, entretanto, que só aspiravam a uma educação limitada, com o propósito de exercer com mais êxito determinada profissão comercial – como instrução em mineralogia por um pretendente a mineiro, em agricultura por um fazendeiro, ou em botânica por um jardineiro mais ambicioso – não tinham voz no governo.
Embora o número dos pouco ambiciosos não fosse pequeno, o estímulo da obtenção de prestígio político era tão grande que um em cada doze habitantes possuía pelo menos um diploma de segunda classe, enquanto um terço do total obtinha diplomas de primeira classe. Devido a isso, os eleitores não sofriam por falta de pessoal para preencher todos os cargos eletivos do governo. Possivelmente ainda resta alguma dúvida na mente do leitor sobre qual seria a diferença entre os eleitores ou sufragistas sacerdotais e os científicos. Pois bem, a única diferença essencial era que o currículo no Incalithlon, ou Colégio dos Sacerdotes, além de todas as matérias adiantadas ministradas no Xioquithlon, incluía o estudo de um grande número de fenômenos ocultos e temas antropológicos e sociológicos, para que os formados nessas ciências tivessem oportunidade de se prepararem para atender qualquer necessidade que homens de menor erudição e menos compreensão das grandes leis {imutáveis} subjacentes da vida pudessem vivenciar em qualquer fase ou condição.
O Incalithlon era, na realidade, a mais elevada e completa instituição de ensino que o mundo de então conheceu ou – perdoe o leitor pelo que parece mas não é presunção atlante – ou que poderá conhecer nos próximos séculos. Em uma instituição acadêmica tão superior, seus estudantes deveriam forçosamente estar imbuídos de extraordinário zelo e determinada vontade e autodisciplina para tentar e conseguir certificados de formatura de sua junta examinadora. Na verdade, bem poucos tiveram um tempo de vida suficientemente longo para adquirir esse diploma; possivelmente, nem um em cada quinhentos dos que saíram honrosamente do Xioquithlon, que, por seu mérito, não ficava atrás da moderna Universidade de Cornell.
Enquanto eu assim ponderava, parado ali entre as neves da montanha, decidi não visar muito alto, mas me determinei a ser um Xioqua, se houvesse a menor possibilidade. Embora dificilmente pudesse esperar alcançar a eminência conferida pelo título de Incala, prometi a mim mesmo que criaria a oportunidade de competir pelo outro título, se não se apresentasse outra diferente. Obter aquela elevada distinção exigiria, além do árduo estudo, a posse de amplos meios de recursos pecuniários para cobrir as despesas de manutenção de minhas necessidades usuais e de um inabalável propósito. Onde eu poderia obter isso? Acreditava-se que os deuses auxiliavam os necessitados.
Se eu, um rapazinho que ainda não completara dezessete verões, que tinha uma mãe que dependia de mim para as necessidades da vida, com nada que pudesse me ajudar a alcançar minhas aspirações a não ser minha própria energia, disciplina e vontade, não pudesse ser incluído naquela categoria, então quem seria necessitado? Pareceu-me que não podia haver maior prova de dependência e que era claramente apropriado que os deuses me dispensassem seu favor.
Tomado por reflexões como esta, subi ainda mais, para o topo do pico que apontava para o céu, perto da altura onde até então me encontrara, pois a aurora não estava distante e eu precisava estar na mais alta rocha para saudar o grande Incal (o Sol) quando conquistasse Navaz, para que Ele, senhor de todos os signos manifestos do grande e único verdadeiro Deus, cujo nome usava, cujo escudo Ele era, pudesse ouvir minha prece favoravelmente. Sim, Ele devia ver que o jovem suplicante não poupava esforços para prestar-Lhe homenagem, pois fora aquele o único propósito para que eu ali tinha subido sozinho, em meio àquela solidão, seguindo para o alto pela neve sem trilhas, sob o domo do firmamento estrelado.
Perguntei a mim mesmo: “existe outra crença mais gloriosa do que esta que é a do meu povo? Não são todos os Poseidanos adoradores do Grande Deus, a única e verdadeira Divindade, representada pelo brilhante Sol? Não pode haver nada mais santo e sagrado”. Assim falou o jovem cuja mente em amadurecimento havia absorvido a religião exotérica e realmente inspiradora, mas que não conhecia nenhuma outra mais profunda e sublime, nem iria conhecer nos dias da Atlântida.
Quando o primeiro lampejo de luz de trás de Seu escudo irrompeu através do negro abismo da noite, atirei-me de bruços na neve do cume, onde deveria permanecer até que o Deus de Luz se tornasse totalmente vitorioso contra Navaz (as Trevas). Afinal o triunfo! Então me levantei e, fazendo uma profunda reverência final, voltei sobre os meus passos pelo temível declive de gelo, neve e rocha nua, esta última negra e cruelmente pontiaguda, com suas saliências sobressaindo da capa branca e gelada, mostrando o dorso da montanha que se elevava a treze mil pés (cerca de 2.100 metros) acima do nível do mar, formando um dos mais incomparáveis picos do globo.
Leitura adicional:
Durante dois dias eu envidara ingentes esforços para alcançar o frígido pico e prostrar-me, qual oferenda viva, em seu grandioso altar, para honrar meu Deus. Indaguei-me sobre se Ele teria me ouvido e notado minha presença. Em caso afirmativo, teria Ele se importado? Teria se importado o suficiente para ordenar ao Seu vice-regente, o Deus da montanha, que me ajudasse? Sem saber por que, olhei para este último, esperando com o que pode parecer uma cega fatuidade, que me revelasse alguma espécie de tesouro ou. . .
Mas o que é esse brilho metálico na rocha, cujo coração meu bordão de alpinista com ponta de ferro havia desnudado para ser tocado pelos raios do Sol matinal? Ouro! Ó Incal! É mesmo ouro! Amarelo e precioso ouro! “Ó Incal!” – gritei, repetindo Seu nome – “Louvado sejas por responderes tão depressa a Teu humilde peticionário!” Ajoelhei-me ali mesmo na neve, descobrindo a cabeça em gratidão ao Deus de Todos os Seres, o Altíssimo, cujo escudo, o Sol derramava seus gloriosos raios. Então novamente olhei para o tesouro. Ah, que grande riqueza ali se encontrava!
Partindo em pedaços o quartzo com minhas pancadas excitadas, vi que o precioso metal o mantinha coeso, tão forte era o seu veio. As pontas agudas da pedra frágil cortaram minhas mãos, fazendo o sangue escorrer de vários lugares e, quando agarrei o quartzo que havia me ferido, minhas mãos que sangravam congelaram-se sobre ela, formando uma união de sangue e riqueza! Não importa! Separei a mão da pedra com força, indiferente à dor, tão excitado me sentia.
“Ó Incal” -exclamei –“és bondoso para com Teu filho, concedendo-lhe com tanta liberalidade o tesouro que lhe permitirá realizar seu desejo antes que seu coração tenha tempo para esmorecer de tanto esperar!” Enchi meus grandes bolsos com tudo que podia carregar, escolhendo as peças de quartzo aurífero mais ricas e valiosas. Como marcar o local para encontrá-lo em outra oportunidade? Para alguém nascido na montanha isso não era difícil e logo estava feito. Então segui para baixo, para a frente, para casa, com passo alegre, com o coração leve, embora levasse uma carga pesada. Por essas montanhas, na verdade a menos de duas milhas do meu “pico do tesouro”, serpenteava a estrada do imperador na direção do grande oceano, a centenas de milhas, do outro lado da planície de Caiphalia. Uma vez alcançada essa estrada, a parte mais fatigante da viagem teria sido realizada, embora apenas uma quinta parte da distância total tivesse sido percorrida.
Muito mais tarde, o Faraó Akhenaton (Amenhotep IV) da XVIII Dinastia instituiu a adoração do Sol (Aton) como o único Deus do Egito, como também foi milênios antes, na Atlântida. Houve uma profunda conexão entre estas duas civilizações, através de Thoth!
Para dar uma ideia das dificuldades encontradas na escalada e descida da gigantesca montanha, devo observar que os últimos cinco mil pés da ascensão só” podiam ser galgados por uma única e tortuosa rota. Um estreito desfiladeiro, uma simples fissura vulcânica, oferecia um apoio muito precário para os pés, sendo todas as outras escarpas intransponíveis. Esse apoio mínimo existia nos primeiros mil pés. Acima desse ponto a fissura desaparecia. Quase na sua extremidade superior existia uma pequena caverna, da altura de um homem e com espaço para talvez vinte pessoas. No outro extremo desse recinto rochoso havia uma abertura, uma fenda mais larga no sentido horizontal que no vertical.
Ao insinuar-se nessa fenda, arrastando-se como uma serpente, o explorador aventureiro veria que por várias centenas de passos teria de descer um declive acentuado, se bem que a fenda se alargasse aos primeiros doze passos, permitindo uma posição mais ou menos vertical. Do fim de seu curso descendente, ela fazia uma curva e novamente se alargava formando um túnel, subindo em voltas tortuosas, com a parede oferecendo suficiente apoio para formar a subida segura, embora fazendo um ângulo de cerca de quarenta graus, enquanto em algumas partes um grau ainda maior de perpendicularidade marcasse a passagem. Dessa forma, uma subida de cerca de trezentos pés era realizada, com as sinuosidades do caminho aumentando a distância que seria percorrida no sentido vertical.
Esse, leitor, era o único meio de alcançar o pico da mais alta montanha de Poseid, ou Atlântida, que é como chamam o continente-ilha. Por mais árdua que fosse sua passagem, havia lugar mais que suficiente na velha e seca chaminé, ou curso de água, fosse o que fosse. Com certeza tinha sido originalmente uma chaminé de vulcão, embora tivesse sido tão desgastada pela água a ponto de tornar a ideia de sua formação ígnea mera conjetura. Em determinado ponto, essa longa cavidade se alargava formando uma vasta caverna. Esta se distanciava da chaminé em ângulo reto para baixo, cada vez mais para baixo, até que nas entranhas da montanha, a milhares de pés, pareceria na medonha escuridão, a quem se aventurasse tão longe, estar na beira de um vasto abismo cujo único lado visível seria aquele onde se encontrasse; além desse ponto, qualquer progresso era impossível a não ser para entes dotados de asas, como os morcegos, mas destes não havia nenhum naquela terrível profundeza.
Nenhum som jamais ecoou nesse assustador abismo, e nenhum brilho de archote já revelou seu outro lado; nada havia senão um mar de eterna escuridão. Contudo, ele nunca me trouxe terrores; antes, provocou minha fascinação. Embora outros possam ter conhecido esse lugar, nunca encontrei um companheiro com suficiente temeridade para enfrentar o desconhecido e ficar ao meu lado em sua hórrida beira, onde me encontrei não uma e sim várias vezes no passado. Por três vezes eu estivera ali, impelido pela curiosidade. Na terceira vez eu me curvara por sobre a saliência de pedra, para tentar encontrar um possível meio de descer mais, quando o enorme bloco de basalto se soltou, caiu, e escapei por pouco de morrer.
A pedra tombou e por vários minutos os ecos de sua queda me alcançaram; minha tocha caíra também e nas profundezas suas faíscas brilharam como vagalumes toda vez que bateram em projeções rochosas, até finalmente desaparecer. Fiquei em completa escuridão, trêmulo de susto, para fazer o caminho de volta para cima e para fora – se pudesse. Se não conseguisse, então era cair e morrer. Mas tive êxito. De então em diante, perdi a curiosidade de explorar o desconhecido inferno. Eu tinha passado muitas vezes através da chaminé vulcânica que conduzia para a extremidade superior da abismal caverna, entre a parte superior da fissura externa no penhasco e a lateral do pico, quinhentos ou seiscentos metros abaixo do topo da montanha, muitas vezes tinha passado pelo ponto onde a pancada incidental com meu bordão revelou o tesouro, mas nunca havia encontrado o precioso veio até ter feito aquele pedido a Incal, impelido pelo peso premente de minhas necessidades. Poderia alguém achar estranho eu sentir uma fé absoluta na crença religiosa de meu povo?
Eu estava no interior da escura chaminé por onde tinha de passar depois de deixar o pico nevado, saindo da luz do Sol e do ar fresco para as densas trevas e a atmosfera ligeiramente sulfurosa-, mas se deixei a luz matutina, também deixei o terrível frio do ar exterior, pois dentro do túnel, embora escuro, havia calor.
Finalmente cheguei ao pequeno recinto no alto da fissura, a mil pés, que me levaria aos declives mais suaves das partes média e inferior da montanha. Ali fiz uma pausa. Deveria voltar e trazer mais uma carga da rocha aurífera? Ou deveria tomar diretamente o caminho de casa? Finalmente voltei sobre meus passos. Ao meio-dia estava outra vez ao lado do meu tesouro. Logo desci de novo com minha segunda carga até o fatigante trabalho estar quase no fim, pois eu estava de pé na entrada da grande caverna, a quatrocentos pés do pequeno recinto no alto da fissura exterior -eram quatrocentos pés {cento e vinte metros} de subida bastante difícil. Após uma pausa retomei a curta mas escarpada subida, e logo me encontrei na pequena caverna, com apenas algumas dezenas de pés, no máximo, entre eu e o ar livre. Tomado como um todo, o longo túnel era sinuoso, mas tinha algumas passagens tão retas como se tivessem sido cortadas com prumo e régua.
Exploradores americanos e franceses fizeram uma descoberta monumental: uma imensa pirâmide de cristal, parcialmente translúcida, que se ergue desde o fundo do mar das Caraíbas – a sua origem, idade e propósito são completamente desconhecidos. Estas estranhas estruturas subaquáticas em forma de pirâmides encontradas a uma profundidade de dois mil pés (610 metros) foram identificadas com a ajuda de um sonar de acordo com o oceanógrafo Dr. Verlag Meyer. Estudos de outras estruturas como às encontradas em Yonaguni no moderno Japão permitiram aos cientistas determinar que as duas pirâmides gigantes, aparentemente feitas de algo como a espessura de um cristal, são realmente impressionantes. FONTE: LINK
Os quatrocentos pés, aproximadamente, que separavam o recinto onde parei um pouco, na entrada, eram um trecho tão reto e talvez por isso tão difícil de atravessar quanto qualquer outra parte de todo o túnel. Seria mesmo impossível a não ser por suas laterais ásperas que ofereciam algum apoio. Se o local fosse claro, ao invés de tão escuro, eu seria capaz de olhar diretamente para a caverna do local onde estava parado. O ar aquecido me convidou a sentar, ou melhor, a me deitar, embora estivesse escuro. Resolvi descansar, portanto; comi um punhado de tâmaras e bebi um pouco de neve derretida do meu cantil de couro. Então me estendi no solo e adormeci no ar tépido.
Não sei por quanto tempo fiquei dormindo, mas ao despertar – ah, o terror que senti! Lufadas explosivas de ar, quentes a ponto de quase queimarem a pele, carregadas de gases sufocantes, seguidas de um rouco murmúrio, afluíam velozmente passagem acima até o pico. Ruídos como uivos e gemidos subiam com o bafo ardente do abismo, misturados com o som de explosões tremendas e ensurdecedoras. Maior que todas as outras causas de terror era um baço brilho vermelho refletido das paredes da caverna, para dentro da qual descobri que podia olhar livremente e em cujas profundezas explodiam raios de luz verde, vermelha, azul e de todas as outras cores e matizes; eram gases vulcânicos em combustão.
Por algum tempo o pavor me petrificou; sem poder mover-me continuei a fixar o terrível inferno dos elementos em fogo. Eu sabia que o fogo e o calor, ambos aumentando a cada momento, e os vapores sufocantes, o barulho e o tremor da montanha, prenunciavam uma só coisa: uma erupção vulcânica ativa! finalmente o encantamento que havia me paralisado foi quebrado quando vi um jato de lava derretida subir até a passagem em frente, projetado até ali por uma explosão dentro da caverna. Então me levantei e fugi, correndo pelo chão do pequeno recinto, arrastando-me com insana energia pela entrada horizontal, que nunca me parecera tão baixa até aquele instante!
Leitura adicional:
Eu esquecera que tinha ouro nos bolsos, e só me lembrei disso quando senti o peso das preciosas rochas que me retardavam a fuga. Mas, com o esforço de fugir, veio-me uma relativa calma, e a mente que voltava a funcionar me impediu de atirar fora o tesouro. A reflexão me convenceu de que o perigo, embora iminente, provavelmente não era imediato. Resolvi arrastar-me novamente para dentro da pequena caverna e, pegando um saco que ali havia deixado, coloquei dentro dele todas as rochas auríferas que podia carregar. Tirei um cordão de couro da cintura e, enrolando uma extremidade numa ponta de pedra no lado superior da fissura, baixei o saco até a outra extremidade da corda e desci atrás. Sacudindo o laço frouxo da rocha acima, repeti a mesma coisa várias vezes enquanto descia. Dessa forma cheguei ao fundo da fissura com a maior parte das duas cargas de minério de ouro. Desse ponto em diante, meu caminho seguia ao longo da crista de uma saliência de pedra, não muito larga mas suficiente para formar uma trilha fácil de seguir.
Nem bem tinha começado a andar por essa trilha quando olhei para trás, para o caminho que tinha acabado de percorrer. Naquele momento, houve um tremor de terra que quase me derrubou ao chão, e da pequena caverna onde eu tinha dormido jorrou fumaça seguida de um brilho avermelhado: lava. Ela fluiu para baixo, uma cascata de fogo e uma visão gloriosa na escuridão que se adensava, pois o Sol ainda não tinha se posto de todo. Toda a montanha ficara a oeste da saliência onde eu estava e, como se fazia quase noite, eu me encontrava na obscuridade.
Corri pela rocha, deixando meu saco de ouro e grande parte do que tinha nos bolsos no lugar mais seguro que pude encontrar, bem acima do fundo da ravina pela qual a lava fatalmente escorreria. Quando estava a uma distância segura, parei para descansar e perscrutei a torrente em ebulição saltando pela ravina, a alguma distância à minha direita mas bem visível. “Pelo menos”, pensei, “ainda tenho nos bolsos suficiente minério aurífero -mais metal do que ouro pelo que parece – que tenho condição de carregar, agora que minha força, nascida do medo, desapareceu.
Mesmo que eu não possa reaver o que deixei para trás, ainda tenho uma grande riqueza. Portanto, Incal, honra a Ti!” O quanto as vinte libras de quartzo aurífero, aproximadamente, eram inadequadas para pagar as despesas de sete anos de colégio, o colégio na capital da nação, onde o custo era mais elevado que em qualquer outra parte, minha inexperiência não podia me dizer. Mas que aquele era o maior tesouro que eu já tinha possuído na vida, ou mesmo visto, era um fato inegável; portanto, eu estava contente.
A crença numa Providência poderosa é necessária para a maioria dos homens, melhor dizendo, para todos os seres humanos, sendo a única diferença a de que as pessoas de mais amplo conhecimento requerem uma Divindade de poder mais próximo do infinito do que as de menor experiência; assim, os que apreendem a infinita amplitude da vida reconhecem um Deus cujo conceito se projeta quase à onipotência, em comparação com os conceitos que inundam a mente humana comum. Pouco importa, portanto, que a divindade cultuada seja uma pedra ou um ídolo de madeira, uma figura inanimada qualquer, ou um Espírito Supremo de natureza andrógina.
Os Seres que ordenam o curso dos acontecimentos, usando a lei cármica do Eterno Deus, enxergam a fé no coração dos mortais e não impõem que aquela lei siga seu curso com uma severidade destituída de misericórdia. Se a fé no ídolo, no “deus” animado, ou no Espírito Supremo de Deus, fosse extinguida por causa das destruidoras forças da dor e do desespero, então a bondade humana estremeceria em temor por sua segurança e por sua continuidade.
Uma catástrofe dessa espécie não se harmonizaria com Deus, pois, de acordo com a lei, nunca poderia ser transmitida. Daí minha crença em Incal, uma crença compartilhada por inúmeros compatriotas. Incal era um conceito puramente espiritual, afora a Causa Eterna, da qual nenhuma mente de qualquer era do mundo poderia em sã consciência duvidar, só existia na mente de seus devotos. E essa era uma fé nobre, que tendia para a mais alta moralidade, nutrindo a fé, a esperança e a caridade. Que importância teria então que o Incal-pessoa, simbolizado pelo escudo rutilante do Sol, só existisse na mente dos homens? Nosso conceito poseidano representava o Espírito da Vida, o Pai de tudo e de todos, o que bastava para assegurar a observância dos princípios que supostamente mais O agradavam.
Certamente os anjos do Altíssimo Deus Incriado, ministrando então como agora aos filhos do Pai, viram minha crença, engastada em meu coração e no coração de meus irmãos e irmãs de nação, e disseram enquanto ministravam-, “que recebas de acordo com tua fé”. Os anjos, contemplando minha esperança interior de tornar-me excelente entre os homens, haviam me disciplinado pelo medo quando fugia da montanha em fogo, mas nenhum desastre havia me acontecido. Continuei correndo tão depressa quanto me permitia a natureza do terreno.
Eu tinha a minha vida e o ouro, e por isso louvava Incal enquanto corria. E o Espírito da Vida foi misericordioso, pois eu não saberia o quanto o meu tesouro era insuficiente para minhas necessidades até a ferroada do desapontamento ser removida por eu ter encontrado uma provisão mais abundante. Meu caminho se estendia por várias milhas ao longo da crista de pedra, afiada como uma faca. Em muitos lugares abismos terríveis se abriam ao lado da trilha de pedra, tão próximos que me via obrigado a engatinhar. Por vezes os penhascos se estendiam nos dois lados da trilha, fazendo dela uma passarela estreita.
Eu me sentia grato pelas pequenas bênçãos que recebia e agradecia a Incal porque o deus da montanha não havia demonstrado sua agitação com um terremoto enquanto eu me encontrava naquela perigosa situação. A uma distância de três milhas a contar do seu início, a trilha alcançava a beira de um precipício aterrador, e acima dela erguia-se a parede de um segundo penhasco. Só a luz da montanha incandescente agora iluminava meus passos. Foi naquele ponto que, no momento em que eu descia cautelosamente na direção da pedra basáltica que formava a beira do abismo, um grande tremor me atirou de joelhos no chão e eu quase caí no vazio.
Um instante depois, uma explosão abafada encheu o ar com uma insistente intensidade de som, e olhei para trás, assustado. Uma grande pluma de fumaça avermelhada pelo fogo estava se levantando na direção do céu, misturada com pedras tão grandes que podiam ser vistas de onde eu me encontrava. Abaixo de onde eu estava, ouviam-se terríveis ruídos; a terra tremia convulsivamente e choques repetidos me obrigaram a me agarrar nas rochas, com um medo desesperado de ser jogado para baixo. Na frente, o desfiladeiro que estava aos meus pés havia ladeado outros penhascos e contrafortes. Até poucos instantes antes os penhascos e contrafortes tinham existido – mas não existiam mais!
Contemplei aquela cena de confusa e terrível desordem, iluminada pelo brilho vulcânico apenas o suficiente para ser perceptível. As sólidas rochas e colinas pareciam mover-se, instáveis como as vagas marinhas, subindo e descendo de um modo assustador, rangendo e rugindo num verdadeiro pandemônio. Por sobre tudo isso desciam cinzas vulcânicas numa chuva densa e incessante, enquanto vapores e poeira enchiam o ar e pendiam como uma mortalha por sobre um mundo aparentemente agonizante. Finalmente o louco barulho e o nauseante movimento cessaram; só o brilho constante da lava que continuava a correr e um espasmo ocasional de tremor de terra continuavam sua narrativa plutônica.
Permaneci no meu lugar, sentindo-me fraco e abalado. Gradualmente, a lava parou de correr e ficou tudo escuro; os choques só aconteciam a longos intervalos e uma paz como a da morte desceu sobre a região, enquanto a cinza silenciosa caía, cobrindo a terra ferida. A escuridão passou a reinar. Acho que fiquei inconsciente por algum tempo, pois quando voltei a mim senti uma dor aguda na cabeça; passando a mão por ela senti uma umidade quente escorrendo de um ponto com ferimento que doía ao toque. Tateando a minha volta, encontrei uma pedra áspera e cheia de pontas agudas que tinha caído de algum lugar e me atingido. Fazendo outros movimentos, concluí que o ferimento não era sério e sentei.
A madrugada já se anunciava e eu, fraco de dor, fome e frio, voltei a me estender na pedra, para aguardar o novo dia. (que paisagem diferente os raios de Incal encontraram no lugar que ali existira na manhã anterior! Quando olhei para o majestoso pico, a luz vermelha do Sol me mostrou que metade dele havia sido arrancada e engolira-se numa misteriosa caverna. Sim, é verdade, “as montanhas elevam para o céu suas penhas – dorsos nus e enegrecidos e curvam suas enormes cabeças para a planície perto dali, onde tinham existido outros contrafortes e onde tinha ocorrido o terrível retorcimento dos penhascos, bem a meus olhos, não havia mais pontas de pedra, nem pico, nem penhasco! Em lugar de tudo isso havia um grande lago de água fervente, as suas margens estavam veladas pelas cinzas que ainda pousavam com suavidade e pelas nuvens de vapor condensadas em fina camada pelo ar frio, lágrimas do globo abatido por sua recente agonia!
Leitura adicional:
Todo ruído havia se dispersado e o férvido fluxo da lava também tinha cessado. A parte da saliência onde eu tinha caído tinha escapado da demolição geral, em sua maior parte, embora também tivesse sido atingida, tanto que a trilha em frente, que eu me acostumara a usar em minhas excursões ao pico, tinha sumido; um enorme bloco de pedra, que provavelmente pesaria milhares de toneladas, tinha escorregado para o abismo embaixo, destruindo o caminho em sua passagem. Procurei uma saída e, escalando as pedras na luz mortiça, cheguei a uma parte da saliência que se dirigia para fora do caminho oposto ao do Sol e que não passava de duas estreitas pedras salientes sobre o lago de água fervente, intransponível na parte de cima, quando de repente um pálido raio de luz brilhou em diagonal no meu caminho!
Procurando por sua fonte, vi que a luz irradiava por uma larga fenda no penhasco, acima de mim. A parte inferior da fenda ficava pouco abaixo de onde eu estava e, ao invés de se estreitar, alargava-se formando um soalho tão amplo quanto qualquer parte da fissura, como se acima daquele ponto tivesse sido empurrada para um lado – sem dúvida a única explicação. Baixei o corpo até esse soalho e, verificando que a fissura era suficientemente larga, pisei nela, sem ligar para a possibilidade de que a qualquer momento novas convulsões do vulcão pudessem fechar a abertura e esmagar-me. Pensei nessa possibilidade, mas à maneira poseidana, deixei o medo de lado refletindo que devia confiar em Incal, que faria o que fosse melhor para mim.
O penhasco colapsado mostrava, aqui e ali, veios de quartzo com faixas de pórfiro, formando saliências que corriam ao longo de massas de granito. Perto do topo, a estreita fenda se estendia e, embora tivesse realmente dois ou três pés de largura, sua altura a fazia parecer muito estreita. Quando me detive, deleitado com a ideia de que nos dois lados meus olhos contemplavam rocha virgem que jamais estivera exposta ao olhar de qualquer homem desde o nascimento da Terra, notei algo que fez meu pulso se acelerar de louca alegria. Bem perto de mim, mas um pouco à frente, estava um veio de rocha amarela, de aparência ocre, na qual vi muitas manchas de rocha branca e mais dura, cuja aparência se devia a núcleos de quartzo partidos pelo mesmo choque que havia formado a fenda.
Essas manchas estavam fartamente pontilhadas de pepitas de ouro nativo e de minério de prata. A ductilidade dos preciosos metais se exibia em curiosos efeitos, com o ouro e a prata saindo da superfície fraturada em cordões que em alguns casos mediam várias polegadas. Novamente a fraqueza da fome me abandonou e a dor do ferimento na cabeça foi momentaneamente esquecida, enquanto eu cantava um hino de gratidão ao meu Deus. O majestoso pico havia sido obliterado; destruído fora o único acesso ao elevado topo; mas ali, após terminada a batalha dos fogos subterrâneos, estava um tesouro ainda maior, mais próximo de casa, mais fácil de ser explorado. A excitação do júbilo foi excessiva para os meus nervos já tão enfraquecidos e desmaiei! Entretanto, a juventude é elástica e a saúde dos que não têm vícios, maravilhosa. Logo recobrei a consciência e tive a sabedoria de tomar o caminho de casa sem parar mais e desgastar mais minhas forças, sabendo que meu instinto de alpinista seria um guia infalível num retorno subsequente.
Mais tarde, aconselhado por minha mãe, senti que sua crença de que eu não poderia explorar a mina sozinho era baseada na realidade. Mas em quem poderia confiar para me ajudar e receber uma justa parte da riqueza assim obtida como recompensa? Não bastaria que eu encontrasse a ajuda de que precisava? Certos amigos professos entraram numa sociedade comigo e, pelo privilégio de ficarem com o restante dos lucros, deram-me um terço do apurado, concordando em fazê-lo sem que eu tivesse de trabalhar na mineração e, com certa indecisão, concordando também em que nenhuma parte do veio pertenceria a quem quer que fosse além de mim. Fiz com que assinassem um documento contendo essas regras, lacrando-o com o mais inviolável sinal existente em Poseid, a saber, a assinatura deles com o próprio sangue. Nós três assim fizemos.
Insisti em todas essas formalidades porque não consegui reprimir a suspeita de que eles pudessem alegar que eram os descobridores do tesouro e de que, por consequência, eu não tivesse então nenhum direito ao mesmo. Hoje sei que foi bem esse o caso. Sei que a cláusula do contrato declarando que toda a mina que eles, meus sócios, exploraram naquele ano era propriedade inalienável de Zailm Numinos, foi o que impediu o roubo que eles tencionavam levar a cabo. Essa estipulação não fazia referência ao descobridor da mina, mas declarava em termos inegáveis que o título de propriedade pertencia ao possuidor daquele nome.
No caso de uma disputa entre nós eu não teria necessidade de provar como me tornara dono da mina -, nenhuma afirmação de que outra pessoa além de mim fosse o descobridor serviria aos defraudadores em potencial, pois fosse quem fosse o primeiro a encontrar o veio, permaneceria o fato de ser eu o proprietário, caso em que todas as vantagens da lei estariam do meu lado. Pelo menos, assim acreditei em minha ignorância. Meus associados não eram tão ignorantes quanto eu. Sabiam que o contrato não tinha valor por ter sido executado em violação à lei. Um dia vim a saber de tudo.
Soube posteriormente que as leis de Poseid tornam cada mina pagadora de dízimo ao império e que qualquer mina explorada sem o reconhecimento desse laço legal estava sujeita a confisco. Também era aparente que, se meus sócios não se tivessem deixado levar pela avareza, mantendo em segredo o nosso acordo que os tornava partícipes numa infração da lei, teriam se tornado proprietários legais simplesmente pelo fornecimento de informações sobre meus atos ao agente do governo mais próximo.
Mas eu não sabia dessas coisas na época e os outros dois julgaram melhor guardar silêncio, pela única razão de que nada sabiam a não ser que estavam violando ordens aparentemente sem importância. E assim o segredo foi guardado para uma revelação posterior. Tendo conseguido os meios necessários, o passo seguinte foi minha mudança do campo para a cidade do Rai. Nosso adeus ao antigo lar nas montanhas e nossa instalação na nova residência em Caiphul ficará em branco nestas reminiscências. (Continua…)
{n.t. Nos registros de um antiquíssimo Templo budista em LHASA, no TIBET, há para ser visto uma antiga inscrição caldéia de cerca de 2.000 anos a.C. (ou mais antiga ainda…) onde se pode ler:
“Quando a estrela Baal caiu sobre o lugar onde agora é só mar e céu, as sete cidades com suas portas de ouro e seus templos transparentes tremeram e balançaram como as folhas de uma árvore na tempestade. E eis que um dilúvio de fogo e fumaça surgiu a partir dos palácios, a agonia e os gritos da multidão preencheram o ar. Eles procuraram refúgio em seus templos e cidadelas e o sábio Mu, o hierático sacerdote de Ra-Mu, se levantou e lhes disse:
“Será que eu não previ tudo isso”?
E as mulheres e os homens em suas roupas brilhantes e pedras preciosas se lamentavam:
“Mu, salve-nos.”
E Mu respondeu:
“Vocês morrerão junto com os seus escravos e suas riquezas materiais e de suas cinzas surgirão novas nações. E se eles também se esquecerem que são superiores, não por causa do que eles usam ou possuem, mas do ( bem e a Luz) que eles colocarem para fora de si mesmos, a mesma sorte vai cair sobre eles!”
As chamas e o fumo sufocaram as palavras de Mu. A terra das sete cidades e seus habitantes foram despedaçados e engolidos para as profundezas do oceano revolto em poucos dias”.}
Mais informações sobre ATLÂNTIDA-AGHARTA, leitura adicional:
Permitida a reprodução desde que mantida na formatação original e mencione as fontes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário