quinta-feira, 3 de outubro de 2019

OS REINOS PERDIDOS - (4) - OBSERVADORES CELESTIAIS NA SELVA


Os Reinos Perdidos: (4) Observadores “celestiais” na Selva
Posted by Thoth3126 on 02/10/2019

Livro Os Reinos Perdidos, capítulo IV – Observadores “celestiais” na Selva:
Maias. O nome evoca mistério, enigma, aventura. Uma civilização que viveu e desapareceu, embora seu povo tenha permanecido.
Cidades incríveis foram abandonadas intactas, engolidas pela sel­va verde e luxuriante: pirâmides que iam até o céu, tentando tocar os deuses; monumentos elaboradamente esculpidos e de­corados, com sua história estabelecida em hieróglifos artísticos cujo significado, em sua maior parte, perdeu-se com o tempo.
A mística dos maias despertou a imaginação e a curiosidade dos europeus desde o momento em que os espanhóis pisaram pela primeira vez na península de Yucatán e viram os vestígios das cidades perdidas na selva. 
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Livro, OS REINOS PERDIDOS (The Lost Realms), da série de livros Crônicas da Terra, número IV, de Zecharia Sitchin

Capítulo IV – “OBSERVADORES CELESTIAIS” NA SELVA 

Era algo inacreditável, mas estava ali: pirâmides com degraus, templos em plataformas, palácios decorados, pilares de pedra esculpida. Enquanto admiravam as intrigantes ruínas, os espanhóis ouviam dos nativos histórias incríveis sobre antigos monarcas, cidades-estado e glórias passadas.

Um dos mais notórios sacerdotes espanhóis, que escreveu sobre a península do Yucatán e sobre os maias antes e depois da Con­quista, frei Diego de Landa (Relacion de Las Cosas de Yucatán –“Relação das Coisas do Yucatán”), narra que “existem em Yucatán muitos edifícios de grande beleza, sendo essa a mais sensacional descoberta nas índias; eles são feitos de pedra e finamente de­corados, embora não tenha sido encontrado um instrumento para tal corte.


Com outros interesses na cabeça, como a procura de riquezas e conversão os nativos ao catolicismo romano, os (ignorantes) espanhóis levaram quase dois séculos para mostrar interesse por aquelas ruínas. Em 1785, uma comissão real inspecionou as recém-descobertas ruínas de Palenque. Felizmente, uma cópia do relatório ilustrado chegou a Londres. Sua publicação acabou por atrair a atenção de um nobre abastado, Lorde Kingsborough, que decidiu decifrar o enigma dos maias. Acreditando fervorosamente que os habi­tantes da América Central descendiam das Dez Tribos Perdidas de Israel, ele passou o resto da vida e gastou toda a sua fortuna na exploração e descrição dos antigos monumentos e inscrições mexicanas. Seu livro, Antiquities of México (“Antiguidades do Mé­xico”, 1830 – 1848), ao lado do Relación de Las Cosas de Yucatánn de frei Landa (mais tarde bispo), constituem valiosas fontes de dados sobre o passado dos maias.

Porém, quem ficou popularmente conhecido por divulgar a descoberta arqueológica da civilização maia foi o americano de Nova Jersey John L. Stephens. Enviado dos Estados Unidos para a Federação Centro-Americana, ele visitou as terras dos maias com seu amigo Frederick Catherwood, um artista renomado. Os dois livros que Stephens escreveu, e Catherwood ilustrou, Incidents of Travel in Central America, Chiapas e Yucatán (“Incidentes de uma Viagem à América Central, Chiapas e Yucatán”), e Incidents of Travel in Yucatán (“Incidentes de uma Viagem a Yucatán”) despertaram interesse pelo assunto. Causa espanto a precisão do trabalho artístico, quando se comparam os desenhos de Cat­herwood com fotografias dos sítios arqueológicos, porém é triste constatar a extensão da erosão ocorrida desde então.

Os relatórios são especialmente detalhados em relação aos grandes sítios de Palenque, Uxmal, Chichén Itzá e Copãn (o úl­timo é associado a Stephens, pois para poder investigá-lo sem interferências, ele comprou o local do proprietário por 50 dólares americanos). Ao todo, ele explorou mais de 50 cidades maias. A profusão não apenas estimulava a imaginação, mas também não deixava dúvidas de que a exuberante selva tropical escon­dia não só alguns postos avançados, mas uma civilização in­teira. Grande importância para a compreensão dos fatos foi a data assinalada em alguns monumentos e os hieróglifos es­culpidos, o que possibilitou situar a civilização maia no tempo.

Localização das ruínas da civilização Maia na América Central

Embora a escrita hieroglífica dos maias esteja longe de ser decifrada, os peritos obtiveram sucesso ao comparar as datas inscritas nas pedras com o calendário gregoriano. Com a extensa literatura deixada pelos maias — livros pictóricos feitos com cascas de árvores e laminados com cal, a fim de criar uma base clara para os glifos desenhados com tinta — poderíamos ter reunido maiores informações sobre essa antiga civiliza­ção. Porém, esses livros, às centenas, foram sistematicamente des­truídos pelos sacerdotes católicos, principalmente, pelo bispo Landa, que acabou reunindo tanta informação “pagã” em seus próprios escritos.

Restaram apenas três (se for autêntico, existe um quarto) có­dices, ou livros pictóricos. As partes mais interessantes, segundo os estudiosos, referem-se à astronomia. Dois outros grandes tra­balhos literários foram preservados, seja porque foram reescritos a partir dos livros pictóricos originais, ou porque foram recons­tituídos, porém, em escrita latina, a partir da tradição oral dos nativos.

Uma dessas obras é o livro de Chilam Balam, que significa “as profecias” ou “narrações” de Balam, o sacerdote. Muitos nativos em Yucatán possuíam cópias desse livro. Um dos mais bem preservados, depois traduzido, é o Book of Chilam Balam of Chumayel (“O Livro de Chilam Balam de Chumayel”). Balam, ao que parece, era uma espécie de “Edgar Cayce” * maia. * Um paranormal famoso por suas previsões e mediunidade. O livro contém infor­mações relativas ao passado mítico, a profecias sobre o futuro, ritos e rituais, astrologia e conselhos médicos. A palavra balam significa “jaguar” na língua nativa. Isso causou surpresa entre os estudiosos por não apresentar, aparentemente, relação com profecias. 

Achamos, no entanto, intrigante o fato de que, no Egito, uma classe de sacerdotes conhecidos como sacerdotes Shem — eles faziam profecias durante certas cerimônias reais, além de recitar fórmulas secretas para “abrir os caminhos”, a fim de que os faraós falecidos pudessem juntar-se aos deuses na Eternidade — usavam peles de leopardo (fig 26a) em suas cerimônias. Foram encontradas representações maias com sacerdotes trajados de forma semelhante (fig. 26b). Como na América não existem leopardos africanos, as peles deviam ser de jaguar, o que poderia explicar o significado “jaguar” de Balam. Mais uma vez, encontramos na América Central a influência ritual egípcia.

Ficamos mais intrigados, ainda, pela semelhança do nome do profeta maia com o do profeta bíblico Balaam. De acordo com a Bíblia, ele foi preso pelo rei de Moab durante o Êxodo por lançar uma maldição sobre os israelitas, mas que teria acabado por se transformar em previsão favorável. Teria sido coincidência? O outro livro maia é o Popol Vuh, o “Livro do Conselho”. Ele relata as origens humanas e divinas, além de descrever as ge­nealogias dos reis.

Sua cosmogonia e tradições da criação são basicamente iguais às dos povos nahuatl, indicando uma fonte comum. Em relação à origem dos maias, o Popol Vuh afirma que seus antepassados vieram “do outro lado do mar”. Landa escre­veu que os nativos “escutaram de seus ancestrais ter sido essa terra ocupada por uma raça de pessoas que veio do Leste, dirigida por deuses, que abriram doze caminhos através do mar”. Tais afirmações estão de acordo com uma lenda maia chamada a Lenda de Votan, relatada por vários cronistas espanhóis, particularmente pelo frei Ramon Ordónez y Aguiar e pelo bispo Nunez de La Vega. Mais tarde, ela foi recolhida de várias fontes pelo abade E. C. Brasseur de Bourbourg (Histoire de nations civilisées du Mexicjue – “História das Nações Civilizadas no México). 

A lenda relata a chegada no Yucatán, por volta de 1000 a.C. segundo os cálculos do cronista, do “primeiro homem a quem Deus mandou para essa região para povoar e dividir a terra que agora é chamada de América”. Seu nome era Votan (significado desconhecido) e seu símbolo, a serpente. “Ele era descendente dos guardiães, da raça de Can. Seu lugar de origem era uma terra chamada Chivim.” Teria feito um total de quatro viagens. A primeira vez que aportou, estabeleceu uma colônia próxima à costa. Depois de algum tempo, avançou para o interior, “construindo no afluente de um grande rio uma cidade que foi o berço dessa civilização”. Chamou a cidade de Nachan, que significa “Lugar das Serpentes”.

Na segunda visita, fez um reconhecimento da terra recém-encontrada, examinando as zonas subterrâneas e passagens embai­xo da terra. Uma dessas passagens passaria através de uma mon­tanha próxima a Nachan. Quando ele voltou à América pela quarta vez, encontrou discórdia e rivalidade entre seu povo. Dividiu, então, o reino em quatro regiões, estabelecendo uma cidade para ser a capital de cada uma. Palenque é tida como uma dessas cidades; outra parece ter sido próxima à costa do Pacífico, As outras são desconhecidas.

O Tzolkin

Nunez de La Vega estava convencido de que o local de onde partira Votan era próximo à Babilônia. Ordónez concluiu que Chivim era a terra dos Hititas, a quem a Bíblia (Gênese 10) chama de filhos de Canaan, primos dos egípcios. Mais recentemente, Zelia Nuttal, escrevendo no Papers of the Peabody Museum, da Universidade de Harvard, ressaltou que a palavra maia para serpente, Can, era similar à Canaan dos hebreus. Se assim for, a lenda maia, contando que Votan era da raça de Can e atribuin­do-lhe como símbolo a serpente, poderia estar usando um jogo de palavras para afirmar que Votan vinha de Canaan. Isso cer­tamente justificaria nossa conjectura sobre Nachan, o “Lugar das Serpentes”, que é virtualmente idêntica à palavra hebraica Na-chash, cujo significado é “serpente”.

Tais lendas reforçam a teoria dos estudiosos que consideram a costa do Golfo como o local onde se iniciou a civilização no Yucatán, não apenas dos maias, mas também dos antigos olmecas. Sob esse ponto de vista é preciso levar em consideração um local pouco conhecido dos visitantes, que pertence aos pri­mórdios da cultura maia “entre 2000 e 1000 a.C, se não antes, de acordo com os escavadores da Universidade de Tulane National Geographic Society. Chamada de Dzibilchaltun, está si­tuada próxima à cidade portuária de Progreso, na costa noroeste do Yucatán.

As ruínas, estendendo-se por uma área de 50 qui­lômetros quadrados, revelam que a cidade foi ocupada desde tempos remotos até a época dos espanhóis. Seus edifícios foram construídos, reconstruídos, reformados e suas pedras ornamen­tadas foram arrastadas pelos espanhóis para serem utilizadas em construções modernas, próximas e distantes. Além de imen­sos templos e pirâmides, sua característica peculiar é a Grande Estrada Branca, uma pista pavimentada com calcário que se es­tende em linha reta por quase dois quilômetros e meio no eixo leste-oeste da cidade.

Uma corrente de grandes cidades maias é encontrada ao longo da ponta norte da península de Yucatán. Ostentam nomes co­nhecidos não apenas dos arqueólogos, mas também de milhões de visitantes: Uxmal, Izamal, Mayapan, Chichén Itzá, Tulúm, para mencionar apenas as ruínas mais impressionantes. Cada uma delas desempenhou seu papel na história da civilização maia. Mayapan foi o centro de uma aliança de cidades-estado. Chichén Itzá deveu sua grandeza aos imigrantes toltecas. Cada uma delas poderia ter sido a capital da qual um grande chefe maia do Yucatán, segundo o cronista espanhol Diego Garcia de Palácio, se lançou à conquista dos planaltos do sul e construiu Copán, o centro maia meridional. Garcia afirma que tudo estava escrito num livro que os nativos de Copán mostraram a ele, quando visitou o local.


Discordando dessas evidências lendárias e arqueológicas, ou­tra escola de arqueologia acredita que a civilização maia surgiu nos planaltos do sul — atualmente a Guatemala — dali espa­lhando-se para o norte. Estudos da linguagem maia rastrearam suas origens até “uma comunidade proto-maia”, que habitou, tal­vez ao redor de 2600 a.C., a região hoje conhecida como Depar­tamento de Huehuetenango, a noroeste da Guatemala (D. S. Morales, The Maya World – “O Mundo Maia”). Porém, onde e como quer que tenha se desenvolvido a civilização maia, os estudiosos concordam em considerar o segundo milênio a.C. como a fase “Pré-clássica” e o ano 200 d.C como o início do período “Clássico” de maior progresso.

O reino dos maias, em cerca de 900 d.C., estendia-se desde a costa do Pacífico até o Golfo do México e o Caribe. Durante esses séculos, eles construíram várias cidades, cujas pirâmides, templos, palácios, praças, marcos, esculturas, inscrições, decorações provocam admiração em estudiosos e visitantes por sua profusão, variedade e beleza, sem falar nas proporções e criatividade da arquitetura. Com poucas exceções, as cidades maias eram centros destinados ao cerimonial, cercados por uma população de administradores, artesãos, mercadores, apoiados por uma grande população rural. A esses centros, cada governante adicionava novas estruturas, ou aumentava as anti­gas, construindo edifícios maiores sobre os já existentes, como se colocassem mais uma camada sobre uma cebola.

Então, cinco séculos antes da chegada dos espanhóis, por ra­zões desconhecidas, os maias abandonaram suas cidades sagra­das e deixaram que a selva as engolisse.

Palenque, uma das cidades mais recentes dos maias, está si­tuada próxima à fronteira do México com a Guatemala. Ela pode ser alcançada pela cidade moderna de Villahermosa. No século 7 a.C. ela foi o marco oeste da expansão maia. Sua existência é conhecida dos europeus desde 1773, quando suas ruínas — templos e palácios — foram descobertas. A partir de 1920, a rica decoração em gesso e as inscrições hieroglíficas começaram á ser estudadas pelos arqueólogos.

Ainda assim, o interesse por Palenque só foi despertado depois da descoberta, em 1949 (por Alberto Ruiz Lhuillier), de uma escadaria secreta interna, na pirâmide com degraus chamada “O Templo das Inscrições”. Vários anos de escavações e remoção do solo e do entulho, que escondia a estrutura interna, renderam, ao final, uma descoberta excitante: uma câmara mortuária. Ao final da escadaria em curva, um bloco de pedra triangular escondia uma entrada na parede, ainda guardada pelos esqueletos de guerreiros maias. Atrás havia uma cripta em arcada, decorada com pinturas murais. 

No interior, havia um sarcófago coberto por um bloco de pedra, pesando cerca de cinco toneladas e meia e com 3,65 metros de comprimento. Quando essa tampa foi removida, descobriu-se o esqueleto de um homem alto, ainda adornado com pérolas e joias de jade. Seu rosto estava coberto por uma máscara de jade em mosaico; um pequeno pendente de jade com a imagem de uma divindade ligava-se às contas de um colar. 


A descoberta foi considerada sensacional. Até então, nenhuma outra pirâmide ou templo do México havia sido utilizada como tumba. O enigma da tumba e seu ocupante aprofundou-se pela representação gravada na tampa: tratava-se da imagem de um maia descalço sentado sobre um trono flamejante ou cheio de plumas, aparentemente operando dispositivos mecânicos no in­terior de uma câmara elaborada. A Sociedade do Astro­nauta Antigo, e seu patrono, Erich von Daniken, enxergaram nessa representação um astronauta no interior de uma espaçonave direcionada por jatos flamejantes. Eles sugerem que um extraterrestre teria sido enterrado ali. 

Os arqueólogos e estudiosos (os “eruditos”) ridicularizam a ideia. As inscri­ções nas paredes desse edifício mortuário e nas estruturas adja­centes os convenceram de que a pessoa enterrada ali é o líder Pacal Votan (“Escudo”)/ que reinou em Palenque de 615 a 683 d.C. Al­guns enxergam na cena uma representação do falecido Pacal sen­do conduzido pelo Dragão do Inferno para o reino dos mortos, considerando o fato de que, no solstício de inverno, o sol se põe exatamente atrás do Templo das Inscrições, o que simbolizaria a partida do rei com o Deus Sol no poente.

Outros, levando em conta o fato de que a representação é emoldurada por um Me­ridiano Celeste, urna corrente de glifos que representam corpos celestes e as constelações do Zodíaco, encaram a cena como o rei sendo carregado pela Serpente Celestial para o reino dos deu­ses. O objeto em forma de cruz que o falecido encara, é visto como uma “árvore da vida” estilizada, sugerindo que o rei está sendo transportado para a eternidade.

Na verdade, uma tumba semelhante, conhecida como túmulo 116, foi descoberta na Grande Praça de Tikal, ao pé da maior pirâmide. Enterrado a cerca de seis metros abaixo do chão foi encontrado o esqueleto de um homem alto. Seu corpo estava colocado numa plataforma de alvenaria de pedra, ornado com joias de jade e cercado (como em Palenque) por pérolas, objetos de jade e de cerâmica. Também foram encontradas representações de pessoas carregadas nas presas de ferozes serpentes (que os estudiosos chamam de Deuses Celestes), que aparecem em mui­tos sítios maias, como o de Chichén Itzá.

Considerando tudo, os arqueólogos admitem que “não é possível deixar de fazer comparações com as criptas dos faraós egípcios”. “As semelhanças entre a tumba de Pacal e daqueles que reinaram às margens do Nilo são impressionantes”(H. La Fay, The Maia, Chidren of Time – “Os Maias, Filhos do Tempo” — na revista National Geographic Magazine). De fato, a cena no sarcófago de Pacal repete a mesma imagem do faraó transportado pela Serpente Alada para a vida eterna entre os deuses que vieram do céu. O faraó, que não era astronauta, tornou-se um com sua morte. Esse, sugerimos, seria o significado da cena esculpida para Pacal.

A lápide da tumba de Pacal Votan, claramente um homem pilotando uma espécie de foguete.

Não se descobriram apenas tumbas nas florestas da América Central. Muitas vezes, colinas cobertas de vegetação tropical abrigavam sob a terra uma pirâmide; grupos de pirâmides eram picos de uma cidade perdida. As escavações na localidade de El Mirador, uma área selvagem, próxima à fronteira do México com a Guatemala, começaram em 1978 e revelaram uma grande ci­dade maia. Ela ocupava cerca de 15 quilômetros quadrados e remontava a 400 a.C. Até então, os defensores do sul como ponto de origem dos maias (de acordo com S. G. Morley, The Ancient Maya – “Os Antigos Maias”) acreditavam que Tikal fosse a sua maior e mais antiga cidade.

Situada na parte noroeste da pro­víncia guatemalteca de Petén, Tikal ainda eleva suas pirâmides além da copa das árvores. É tão grande que suas fronteiras pa­recem constantemente expandir-se, à medida que novas ruínas são encontradas. Só o centro cerimonial principal cobria mais de 1,5 quilômetro quadrado. O espaço para sua construção não só foi roubado à floresta tropical, como foi fisicamente criado, atra­vés do achatamento de uma cordilheira, laboriosamente terra­plenada. Os barrancos circundantes foram convertidos em reser­vatórios, ligados por uma série de estradas elevadas.

As pirâmides de Tikal, agrupadas em vários conjuntos, pos­suem linhas belíssimas. Altas e estreitas, são verdadeiros arranha-céus, elevando-se a alturas superiores a 60 metros. Erguen­do-se em degraus íngremes, as pirâmides serviam de suporte para os templos erigidos no topo. Os templos retangulares abri­gavam apenas um par de aposentos estreitos. Estes, por sua, vez eram encimados por sólidas superestruturas decorativas, que aumentavam a altura das pirâmides. O resultado visual dessa arquitetura era suspender o santuário entre a Terra e o Céu, acessível pelos degraus inclinados, verdadeiro simbolismo da Escadaria para o Céu.

No interior de cada templo uma série de portais conduzia ao interior, cada um mais elevado do que o anterior. Os lintéis eram feitos de madeiras raras, exoticamente esculpidas. Como regra geral, havia cinco portais exteriores e sete interiores, num total de doze — um simbolismo numérico cujo significado até então, não havia atraído atenção em particular.

A construção de uma pista de pouso próxima às ruínas de Tikal acelerou sua exploração arqueológica depois de 1950, desenvolvendo-se, desde então, um extenso trabalho de pesquisa, especialmente por equipes do Museu da Universidade da Pensilvânia. Os pesquisadores descobriram que as grandes praças de Tikal serviam como necrópoles, onde eram enterrados governantes e nobres; igualmente, muitas das estruturas menores eram templos funerários, construídos não sobre tumbas, mas próximo a elas, servindo como cenotáfios. Também descobriram 150 mar­cos, blocos de pedra esculpidos, erguidos de forma a ficar com a face voltada para o leste ou para o oeste.

As pirâmides de Tikal, agrupadas em vários conjuntos, pos­suem linhas belíssimas. Altas e estreitas, são verdadeiros arranha-céus, elevando-se a alturas superiores a 60 metros.

Representam, segundo os estudiosos, retratos de reis, ou grandes acontecimentos de suas vidas e de seus reinados. As inscrições hieroglíficas gravadas na superfície da pedra mostram datas precisas, associadas a esses eventos. Davam o nome do rei (por exemplo, “Crânio de Pata de Jaguar, ano de 488”) e identificavam o evento. Os estu­diosos agora têm certeza de que os hieróglifos não eram mera­mente pictóricos ou ideográficos, “mas também escritos foneti­camente em sílabas semelhantes às dos sumérios, babilónios e egípcios” (A. G. Miller, Maya Rulers ofTime – “Os Maias, Senhores do Tempo”). Foi com a ajuda de tais registros que os arqueólogos foram capazes de identificar uma sequência de quatorze reis em Tikal, desde o ano 317 até 869 d.C. Contudo, é certo que Tikal foi um centro real maia muito antes disso: datações feitas pelo método do isótopo de carbono nos restos de algumas tumbas apontaram 600 a.C.

Localizada a 240 quilômetros a sudeste de Tikal está Copán, a cidade que Stephens comprou. Situava-se na periferia sudoeste do reino maia, hoje território de Honduras. Embora não apre­sentasse os característicos degraus inclinados de Tikal, era talvez a mais típica das cidades maias em sua disposição. O vasto centro cerimonial ocupava 30 hectares e consistia de pirâmides-templos agrupadas ao redor de várias praças amplas. As pirâ­mides, de bases largas e com uma média de 20 metros de altura, eram peculiares pelas escadarias monumentais decoradas com esculturas elaboradas e inscrições hieroglíficas. As praças eram dotadas de santuários, altares e — o mais importante para os historiadores — monólitos de pedra esculpida, que representa­vam reis e forneciam datas. Revelavam que a pirâmide principal fora terminada no ano de 756 e que Copán alcançou sua hege­monia no século 9, logo após o colapso da civilização maia.

Porém, à medida que as escavações descobriam novos dados, em locais da Guatemala, de Honduras, de Belize, encontravam-se monumentos e monólitos datados desde 600 a.C., revelando um sistema aperfeiçoado de escrita, que deve ter sido precedido de uma fase de maior desenvolvimento, conforme concordam os especialistas. Copán, como logo veremos, desempenhou um papel especial na vida e na cultura maia. Estudiosos dessa civilização ficaram especialmente impressio­nados pela sua precisão, ingenuidade e diversidade na contagem de tempo, atribuindo o fato à avançada astronomia maia.

Os maias possuíam, na verdade, três calendários. Entretanto, um deles — o mais significativo, em nossa opinião — não se relacionava com a astronomia. E a chamada “contagem longa”. Localiza uma data, contando o número de dias passados a partir de um determinado dia de referência até o dia do evento registrado no monólito ou monumento. Os especialistas concordam em datar o enigmático “primeiro dia” — uma época e um acontecimento que precederam o surgimento da civili­zação maia — como 13 de agosto de 3113 a.C., segundo o atual calendário católico romano


A “contagem longa”, como os outros dois sistemas de contagem de tempo, estava baseada num sistema vigesimal matemático (“ve­zes vinte”) dos maias e, como na antiga Suméria, empregava o conceito de “lugar”, pelo qual 1 na primeira coluna seria 20 na coluna seguinte, depois 400, e assim por diante. O sistema da “contagem longa”, utilizando colunas verticais onde os valores menores eram colocados embaixo, dava nome a esses vários múltiplos e os identificava com glifos. Começando com kin para l, uinal para 20, e assim por diante, os múltiplos alcançam o glifo alau-tun, que corresponde ao fantástico algarismo de 23.040.000.000 dias — um período de 63.080.082 anos! 

Porém, como os monumentos deixados nos mostram, os maias retornaram não para a idade dos dinossauros em busca de um determinado dia, e sim para uma data específica, um evento tão importante para eles como ocorreu com a data do nascimento de Cristo para o calendário cristão. Dessa forma, o monólito 29, em Tikal, que ostenta a data mais antiga já encontrada num monumento ali (292 d.C.), teria, pela “contagem longa”, a data de 8.12.14.8.15, usando bolinhas para o numeral 1 e barras para o 5. 

Dividindo-se os 1.243.615 dias pelo número de dias do ano solar (365,25), a data apontada indica que o evento representado ocorreu 3404 anos e 304 dias depois do misterioso “primeiro dia” — 13 de agosto, 3113 a.C. Portanto, segundo a correlação aceita, a data no monólito 29 corresponde ao ano 292 d. C.(3405 – 3113). Alguns estudiosos opinam que os maias começaram a usar a “contagem longa” na era de Baktun 7, o que equivale ao século 4 a.C. Outros, não descartam a possibilidade de um início mais remoto.

Juntamente com esse calendário contínuo existiam dois calen­dários cíclicos. Um era o Haab, ou ano solar de 365 dias, dividido em 18 meses de 20 dias, mais 5 dias adicionais ao final do ano. O outro era o Tzolkin, ou calendário do Ano Sagrado, no qual os 20 dias básicos eram utilizados 13 vezes, resultando num Ano Sagrado de 260 dias. Os dois calendários cíclicos eram mistu­rados, como se fossem engrenagens, urna impulsionada pela outra, para criar o grande Ciclo Sagrado de 52 anos solares, pois a combinação de 13, 20 e 365 só se repete uma vez em 18.980 dias, o que totaliza 52 anos. Esse ciclo do calendário de 52 anos era considerado sagrado por todos os povos da antiga América Central, que o relacionavam com eventos pas­sados e também futuros — como a expectativa messiânica do retorno de Quetzalcoatl.

O complexo de COPAN

O mais antiga data do Ciclo Sagrado foi encontrada no vale mexicano de Oaxaca e remonta a 500 a.C. Ambos os sistemas de contagem, o contínuo e o Ciclo Sagrado, são muito antigos. Um é histórico, contando a passagem do tempo (dias) de um acontecimento há muito ocorrido, cujo significado e natureza ain­da são um enigma. O outro é cíclico, atrelado a um período de 260 dias. Os especialistas ainda tentam descobrir o que aconteceu no período de 260 dias, para o ciclo ter sido assim estabelecido, se é que algo aconteceu. Alguns acreditam que esse ciclo é puramente matemático: corno cinco ciclos de 52 anos totalizam 260 anos, de alguma forma resolveram ficar com o ciclo mais curto de 260 dias. Porém, essa justificativa apenas transfere a necessidade de explicação para o número 52: por que motivo adotaram o uso de 52?

Outros sugerem que o período de 260 dias estava relacionado à agricultura, mais precisamente à duração da estação chuvosa, ou dos intervalos de seca. Tendo em vista o interesse dos maias pela astronomia, alguns tentaram relacionar esse ciclo com os movimentos de Marte e Vênus. A explicação, a nosso ver correta, de Zelia Nuttal, apresentada no 22° Congresso de Americanistas (Roma/ 1926), não teve o reconhecimento devido. Ela destacou que a forma mais fácil para os povos do Novo Mundo relacionarem os movimentos do Sol à sua própria localidade seria determinar os dias do zênite, quando o Sol passa exatamente sobre uma vertical superior do lugar ao meio-dia. Isso acontece duas vezes por ano, pois o Sol anda para o norte, depois para o sul, passando acima por duas vezes. Os nativos, sugeriu ela, mediam o intervalo entre os dois dias do zênite, e o número resultante, servia de base para o ciclo do calendário.

Esse intervalo corresponde a meio ano solar no Equador e aumenta à medida que nos afastamos para o norte ou para o sul. Aos 15 graus para o norte, por exemplo, corresponde a 263 dias (de 12 de agosto a 1° de maio seguinte). Esta é a estação chuvosa na região até hoje. Os descendentes dos maias, atualmente, começam seus plantios a 3 de maio (convenientemente festejado, no México, como o dia da Cruz Sagrada). O intervalo delimitado por 260 dias corresponde à latitude de 14° 42′ norte — a latitude de Copán.

A exatidão da explicação de Nuttal para a forma como foi fixado o ciclo de 260 dias deriva do fato de que Copán era con­siderada a capital maia da astronomia. Além da orientação celeste dos edifícios, alguns monólitos foram encontrados alinhados, de forma a indicar datas-chaves para os calendários. Um monólito (“A”) que apresenta uma data pela “contagem longa” equivalente a um dia no ano de 733 d.C. traz, também, duas outras datas pela “contagem longa”, uma maior em 200 dias, e outra menor em 60 dias (dividindo o ciclo de 260).

O pesquisador A. Aveni (Skywatchers of Ancient México – “Observadores Celestes do Antigo México”) pre­sume que se tratava de uma tentativa de realinhar a “contagem longa” (que considerava 365,25 dias em um ano) com o calendário cíclico Haab de 365 dias. A necessidade de reajustar ou reformar os calendários pode ter sido o motivo para um conclave de astrônomos ocorrido em Copán em 763 d.C. O evento ficou registrado num monumento sagrado conhecido como Altar Q, no qual aparecem dezesseis astrônomos, alinhados quatro de cada lado. Pode-se notar que um glifo “em forma de gota” à frente dos narizes — como nas representações de Pacal — os identifica como Observadores do Céu. A data esculpida nesse monumento aparece em outras cidades maias, sugerindo que a decisão tomada em Copán foi estendida a todo o reino. 

A reputação dos maias como astrônomos capazes cresceu com a divulgação de vários códices, que contêm secções sobre astro­nomia, tratando de eclipses solares, lunares e do planeta Vênus. Um estudo mais acurado revelou, entretanto, que não se tratava do resultado de observações diretas dos astros, mas de almana­ques com cópias de fontes anteriores, fornecendo dados já re­gistrados com os quais os maias poderiam procurar fenômenos aplicáveis ao ciclo de 260 dias. E. Hadingham (Earty Man and the Cosmos – “O Homem Primitivo e o Cosmos”), afirma que tais almanaques apresentavam “uma curiosa mistura de precisão a longo prazo e imprecisão a curto prazo”.


A principal tarefa dos astrônomos locais parece ter sido a de verificar, ou ajustar, o ano sagrado de 260 dias aos dados mais antigos, que lidavam com os movimentos dos corpos celestes. Na verdade, o mais renomado e ainda ativo observatório no Yucatán, o Caracol, em Chichén Itzá, tem frustrado vários pesquisadores que tentaram, em vão, encontrar em sua orientação e abertura pistas para determinar solstícios ou equinócios. Al­gumas dessas pistas, no entanto, parecem estar relacionadas ao ciclo de Tzolkin (260 dias). Voltamos à questão do número 260. Por que essa escollha? Apenas porque parece igualar o número de dias entre os zênites em Copán? Por que não, digamos, o número 300, se um local próximo aos 20 graus norte foi escolhido, como Teotihuacán?

O número 260 parece ter sido uma escolha arbitrária e deli­berada. A explicação de que resultaria na multiplicação de um número natural, 20 (o número de dedos das mãos e dos pés), por 13 só transfere a pergunta. Por que o 13? A “contagem longa” também contém um número arbitrário, 360: inexplicavelmente ele abandona a progressão vigesimal pura, e depois de kin (1) e uinal (20), introduz o tun (360) ao sistema. O calendário Haab também usa o 360, dividindo esse número em 18 “meses” de 20 dias; depois, arredonda o ano, adicionando 5 “dias ruins” para completar o ciclo solar de 365 dias. Dessa forma, os três calendários usam números não naturais, deliberadamente escolhidos. Demonstraremos que tanto o nú­mero 260 como o 360 chegaram à América Central via Mesopotâmia, passando pelo Egito.

Estamos todos familiarizados com o número 360: é o número de graus num círculo. Mas poucos sabem que esse número foi encontrado pelos sumérios e deriva da base sexagesimal (base 60) do sistema matemático utilizado por eles, O primeiro calen­dário conhecido foi o Nippur, dos sumérios. Ele foi estabelecido dividindo-se o círculo de 360 em 12 partes. Esse número era considerado sagrado, celestial, determinando os 12 meses do ano, as 12 casas do Zodíaco, os 12 deuses do Olimpo, e assim por diante. O problema da sobra de 5,25 dias por ano foi resolvido por intercalação — a adição de um décimo-terceiro, depois da passagem de um certo número de anos.

Embora o sistema aritmético egípcio não fosse sexagesimal, eles adotaram o sistema sumério de 12 x 30 = 360. Porém, inca­pazes de realizar os cálculos complexos envolvidos na interca­lação, simplificaram o assunto arredondando o ano ao adicionar um mês “curto” de cinco dias no final. Esse mesmo sistema foi adotado na América Central. O calendário Haab não era apenas semelhante ao do Egito. Era idêntico. Além do mais, os povos da América Central possuíam um ritual anual relativo à estrela Sírius e à elevação das águas do Nilo,

A influência suméria nos calendários dos egípcios e dos povos centro-americanos não se limitava ao número sexagesimal de 360. Vários estudos, notadamente os de B. P. Reko, nas primeiras edições de El México Antiguo (“O Antigo México”) chamam a atenção para um fato: os treze meses do calendário Tzolkin eram, na verdade, um reflexo do sistema de doze meses do calendário sumério, mais o décimo-terceiro mês intercalado, com a diferença de que no Egito (e portanto na América Central) o décimo-terceiro mês encolheu para 5 dias anuais. O termo tun para 360 significa na linguagem maia “celestial”, uma estrela ou planeta na faixa zodiacal. E interessante observar que um “aglomerado de estre­las” — constelação — era chamado de Mool pelos maias, virtual­mente o mesmo termo MUL que os sumérios usavam para “corpo celeste”.

O observatório astronômico no Yucatán, o Caracol, em Chichén Itzá.

A ligação entre o calendário da América Central com o usado no Velho Mundo fica mais clara quando consideramos o número sagrado, 52, ao qual todos os grandes eventos ocorridos no ter­ritório centro-americano foram associados. As muitas tentativas de explicá-lo (como a afirmação de que se trata de 13 x 4) ignoram sua origem mais óbvia: as 52 semanas do calendário do Oriente Médio (mais tarde do calendário europeu). Esse número de se­manas, entretanto, só pode ser obtido se for adotada uma semana de sete dias. Nem sempre foi assim. A origem da semana de 7 dias foi objeto de estudo por quase dois séculos e a melhor teoria é a que deriva das quatro fases da Lua. O certo é que emergiu como decreto divino nos tempos bíblicos, quando Deus mandou que os israelitas durante o Êxodo do Egito observassem o sétimo dia do Sabbath.

Teria o número 52 sido considerado ciclo sagrado porque era o denominador comum dos calendários centro-americanos, ou teria sido 260 adotado (ao invés de 300, por exemplo) por ser um múltiplo de 52 (52 x 5 = 260)? Embora uma divindade cujo epíteto significava “Sete”, fosse o principal deus sumério, ele era honrado como um local teofânico (por exemplo, Beer-Sheba – “O Poço do Sete”) ou de nomes pessoais (Elisheva – “Meu Deus é Sete”), principalmente na terra de Canaan. O número 7 permeia as histórias da Bíblia, de José a sonhos do faraó e acontecimentos subsequentes no Egito. Como o número 52 deriva do número 7 como base do calendário, demonstraremos que este ciclo, visto como sagrado na América Central, originou-se no Egito.

Mais especificamente: 52 era um número mágico, associado ao deus egípcio Thoth, o deus da ciência, da escrita, da mate­mática e do calendário. Uma antiga lenda egípcia conhecida como “As Aventuras de Satni-Khamois Comas Múmias”, uma história de magia, mistério e aventura que poderia ser comparada a um moderno filme de ação, emprega a associação do número mágico 52 com Thoth e com os segredos do calendário. Esta lenda aparece num papiro (Cairo 30646), descoberto numa tumba em Tebas, datado do sé­culo 3 a.C. Fragmentos de outros papiros com a mesma lenda também foram encontrados, indicando que era um livro conhe­cido na literatura egípcia, pertencendo ao ciclo de histórias sobre deuses e homens.

O herói da história, filho de um faraó, “bem instruído em todas as coisas”, estava habituado a vagar pela necrópole de Mênfis, na época a capital, estudando os escritos sagrados nas paredes dos templos e monólitos e pesquisando antigos livros de magia. Com o tempo ele tornou-se “um mágico sem rival na terra do Egito”. Um dia, um homem misterioso lhe falou sobre uma tumba “onde havia um livro escrito pelo deus Thoth com as próprias mãos”, no qual revelava os mistérios da Terra e do Céu, incluindo a divina sabedoria em relação aos “nasceres do Sol e às aparências da Lua e ao movimento dos deuses (planetas) que estão no ciclo do Sol” — os segredos da astronomia e do calendário.

A tumba era a de Nenoferkheptah, filho de um antigo faraó (segundo os estudiosos, reinou por volta de 1250 a.C.). Quando Satni, conforme o esperado, ficou muito interessado e perguntou a localização da tumba, o velho o avisou de que, apesar de mumificado, Nenoferkheptah não estava morto e poderia atacar qualquer uni que ousasse tirar o livro alojado a seus pés. Sem demonstrar temor, Satni foi procurar a tumba, que não podia ser encontrada pois estava embaixo da terra. Porém, chegando ao local, Satni “recitou uma fórmula sobre ele e uma fresta abriu-se no solo; Satni desceu até o local onde estava o livro”.

No interior da tumba, Satni viu as múmias de Nenoferkheptah, de sua esposa-irmã e do seu filho. O livro estava realmente junto ao faraó e “emitia uma luz como se o sol brilhasse ali”. Quando Satni deu um passo na direção do livro desejado, a múmia da esposa falou, advertindo-o para não avançar mais. Ela contou, então, a Satni as aventuras de Nenoferkheptah quando ele tentou obter o livro: Thoth o escondera num lugar secreto, no interior de uma caixa de ouro, que estava no interior de uma caixa de prata, que estava no interior de uma série de outras caixas, sendo a última feita de ferro e bronze. Ignorando todos os avisos e superando todos os obstáculos, Nenoferkheptah encontrou o li­vro e apossou-se dele; por isso foi condenado por Thoth a um estado de letargia permanente; embora vivos, tinham sido en­terrados e apesar de mumificados podiam ver, ouvir e falar. Ela avisou a Satni que a maldição de Thoth recairia sobre ele, se tocasse o livro.

Porém, tendo ido tão longe, Satni estava determinado a apa­nhar o livro. Quando deu outro passo, a múmia de Nenoferkheptah falou. Havia uma maneira de possuir o livro sem incorrer na ira de Thoth, disse ele. Bastava jogar e ganhar o Jogo do Cinquenta e Dois, o número sagrado de Thoth. Satni prontamente concordou. Perdeu o primeiro jogo e de repente estava meio enterrado no chão. Perdeu o jogo seguinte, e o seguinte, afundando cada vez mais. A forma como Satni conseguiu escapar com o livro, as calamidades que recaíram sobre ele por sua ação e como, finalmente, ele o devolveu ao esconderijo, transformam essa história numa versão antiga do filme Cavaleiros da Arca Perdida.

A Serpente Emplumada, Quetzalcoatl.

A moral da história: nenhum homem, por mais sábio que fosse, poderia aprender os mistérios da Terra, do Sol, da Lua e dos planetas sem permissão divina; sem a autorização de Thoth, o homem não conseguiria ganhar o Jogo do Cinquenta e Dois. E o perderia mesmo se tentasse descobrir os segredos, abrindo as camadas protetoras da Terra de minerais e metais. E nossa convicção de que foi o mesmo Thoth, aliás Quetzalcoatl, quem ofereceu o Calendário do Cinquenta e Dois e toda a sabedoria para os povos da América Central. No Yucatán os maias o chamavam de Kukulcan; na costa do Pacífico, na Guatemala e em El Salvador, ele se chamava Xiuhtecuhtli. Todos os nomes têm o mesmo significado; Serpente Emplu­mada ou Alada.

A arquitetura, as inscrições, a iconografia e os monumentos das cidades perdidas dos maias permitiram aos estudiosos reconstituir não só a história dos governantes, mas também as alterações dos conceitos religiosos. No início, os templos eram elevados — colocados no alto das pirâmides com degraus para adorar o Deus Serpente — e os céus eram observados para encontrar a chave dos ciclos celestiais. Mas chegou uma época em que o deus — ou todos os deuses — partiram. Não sendo mais vistos, os fiéis acreditaram que tivessem sido engolidos pelo se­nhor da noite, o jaguar. A imagem do grande deus foi coberta, então, com uma máscara de jaguar, através da qual as serpentes, símbolos terrestres, ainda emergiam.

Mas Quetzalcoatl não prometera retornar?

Cheios de fervor, os observadores do céu na selva consultavam almanaques antigos. Os sacerdotes chegaram a elaborar a hipó­tese de que as divindades desaparecidas retornariam se lhes oferecessem corações pulsantes de vítimas humanas. Porém, em alguma data crucial, por volta do século 9 d.C, um acontecimento profetizado deixou de ocorrer. Todos os ciclos se juntaram e nada resultou. Assim, os centros cerimoniais e as cidades dedicadas aos deuses foram abandonados e a selva estendeu seu manto verde por sobre o domínio dos Deuses Serpente. Continua…

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