Oscar Luiz Brisolara
O sol da manhã visitava minha janela, quando percebi a troca
de carinhos de um casal de pombos, o augusto e a sônia, segundo minha neta jornalista, alegres, ora sobre os telhados que se
espalham sob minha vista, ora entre as folhagens das diversas árvores que
emergem dos pátios contíguos.
E tanta era a alegria manifesta e tantos os carinhos desses
apaixonados, que os acompanhei por longos minutos de meditação. Que seria
deles? Num lugar tão inóspito aos seres habituados por milênios à natureza dos
bosques, ao repuxar das fontes e ao murmurante choro ou cantar dos regatos,
parecia não haver espaço para eles.
Que será de vossos filhos, perguntava-me eu, por sobre
telhados queimantes nas horas tórridas de verão ou sobre as paisagens geladas,
nos torturantes meses de inverno?
Tendes coragem de gerar uma descendência de infelizes, sob
um céu desfavorável numa época tão desditosa? Nenhum segurança. Nenhuma
perspectiva de um futuro mais promissor. Onde vão morar? Em que vão trabalhar? E
suas casas... e rendas... direitos previdenciários... transportes e garantias
para um futuro sem percalços?
E projetava neles todas as inquietações de homem velho num
universo hostil, desaprendendo já a ter esperanças, perdidas quase todas as
ilusões da infância e os sonhos da juventude.
Deus não seria uma ilusão a mais para mitigar as dores dos
desvalidos? A fé, mais uma manifestação de covardia de quem não tem coragem de
constatar o fracasso da espécie humana? E uma angústia profunda principiou por
subir-me do coração e invadir-me a alma amargurada.
E os pombos, numa fé sem limites, seguiram inconsequentes,
por entre telhados e ramagens, seu bailado gárrulo de seres que vivem cada dia
sem mágoas do passado nem sonhos futuros.
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